Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Artigo_Elementos Finitos vs Multi Camada
Artigo_Elementos Finitos vs Multi Camada
Sérgio Raposo1, Sérgio Oliveira2, Maria da Conceição Azevedo3, Maria da Graça Lopes4
RESUMO
Os pavimentos rodoviários rígidos não armados estruturalmente são dimensionados por metodologias
que combinam a resistência de materiais com o conhecimento empírico obtido em ensaios de carga à
escala real, pelo que são classificados como empíricos/mecanicistas. A necessidade de utilização
destes métodos deriva da influência que a erodibilidade da superfície de apoio da laje de betão possui
na integridade estrutural do pavimento, e da impossibilidade de correlacionar de forma exacta todas
as variáveis com preponderância na erosão resultante do fenómeno da bombagem de finos. Propõe-se
no presente artigo, estabelecer a analogia entre o Método dos Elementos Finitos (MEF) e a teoria da
elasticidade normalmente utilizada na análise das tipologias de pavimentos flexíveis e semi-rígidos,
no sentido de validar os resultados originários da aplicação do MEF ao estudo das variáveis
determinantes no dimensionamento de pavimentos rígidos.
1. INTRODUÇÃO
Esta abordagem, se bem que simplificada, é aceitável para as tipologias flexível e rígida, no
entanto apresenta limitações quando aplicada a pavimentos rígidos, uma vez que não permite
modelar o carregamento e a perda de apoio nas extremidades dos painéis de betão de cimento,
factores que se afiguram como extremamente gravosos para o equilíbrio estrutural do pavimento e
potencialmente como causa suficiente para a diminuição do tempo de vida útil da estrutura ou
para a necessidade de intervenções de beneficiação não programadas [2].
__________________________
1
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Lisboa, Portugal.sfraposo@hotmail.com
2
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento de Barragens de Betão, Lisboa, Portugal. soliveira@lnec.pt
3 CAeMD, Publicações e Projectos de Engenharia, Lda., Lisboa, Portugal. mcazevedo@caemd.pt
4 Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal. glopes@dec.isel.pt
Desenvolvimento de um modelo de EF3D para análise
de pavimentos rodoviários rígidos
x2
x1
x1
x1
a) Carga no bordo b) Carga no canto
carregado Secção modelada
Figura 1. Configuração do rodado de um veículo pesado, impressão do rasto nas possíveis configurações de
carregamento e respectiva modelação.
2. DESCRIÇÃO DO MODELO
Para a geração da malha tridimensional foi utilizado um programa específico criado para o efeito
pelo Núcleo de Modelação Matemática e Física do Departamento de Barragens de Betão do
Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
2
Raposo, Oliveira, Azevedo e Lopes
No sentido de permitir a translação relativa verificada nos planos de contacto entre camadas não
solidárias entre si (betão de cimento/granulares) são introduzidos no modelo elementos finitos tri-
dimensionais de junta [3]. Para estes elementos, admitem-se os valores de rigidez tangencial kt=1000
kN/m e de rigidez normal Kn=3x108 kN/m.
h=30 m
0.25 m 15 m
Para aferir os resultados do modelo com a solução analítica fornecida pelo Elsym5, executaram-se
análises por ambos os métodos de um pavimento de teste com as características descritas na Fig. 4 e
com os resultados evidenciados na Fig. 5.
3
Desenvolvimento de um modelo de EF3D para análise
de pavimentos rodoviários rígidos
x3
x2 x1 m
.2 5
=0
x2 > Eixo da Via .2 ,h
, v =0
Pa
0M
3 50
E=
0 .4
, v=
Pa
3 0M
E=
s 11 - EIXO s 11 - RODADO
1000 500 0 -500 -1000 kPa
1000 500 0 -500 -1000 kPa
0
0
0.05
0.05
0.1 0.1
MEF MEF
0.15 0.15
ELSYM5 ELSYM5
0.2 0.2
0.25 0.25
0.3 0.3
m m
s 22 - EIXO s 22 - RODADO
1000 500 0 -500 -1000 kPa
0 900 400 -100 -600 -1100 kPa
0
0.05
0.05
0.1
0.1
MEF MEF
0.15 0.15
ELSYM5 ELSYM5
0.2 0.2
0.25 0.25
0.3 0.3
m m
s 33 - EIXO s 33 - RODADO
1000 500 0 -500 -1000 kPa 1000 500 0 -500 -1000 kPa
0
0
0.05 0.05
0.1 0.1
MEF MEF
0.15 0.15
ELSYM5 ELSYM5
0.2 0.2
0.25 0.25
0.3 0.3
m m
a) Tensões normais
4
Raposo, Oliveira, Azevedo e Lopes
-1 -25
-1.2 -30
mm kPa
Para fazer coincidir no modelo de Elementos Finitos (EF) os pressupostos base da metodologia do
modelo de Burmister, foi imposta uma rigidez k=1015 kN/m em todas as posições da matriz de
rigidez global correspondentes aos graus de liberdade dos pontos nodais de fronteira de
coordenada igual a zero e aplicou-se uma carga uniformemente distribuída unicamente nos
elementos finitos correspondentes ao rodado mais próximo do centro geométrico em planta. Para
as condições descritas, em função da simetria do modelo, encontra-se reproduzido o carregamento
por ambos os rodados do eixo padrão ao centro de um painel, à semelhança da hipótese de cálculo
do ELSYM5.
Dos resultados destaca-se a convergência obtida entre os dois métodos de análise, com a ressalva
de se verificar um desfasamento entre os deslocamentos obtidos pelo MEF em relação ao
ELSYM5 de aproximadamente 7%.
5
Desenvolvimento de um modelo de EF3D para análise
de pavimentos rodoviários rígidos
geométrico do modelo e do rodado na face superior das camadas contempladas no cálculo, é a que se
ilustra na Fig. 6.
A erosão da superfície de apoio da laje de betão, ocorre junto às extremidades dos painéis do
pavimento onde a descontinuidade da estrutura em conjunto com a infiltração de água e com as
pressões induzidas pela passagem de veículos possibilitam a percolação dos finos das camadas
granulares do pavimento, fenómeno que quando suficientemente reproduzido ao longo do tempo
origina uma perda de material significativa e a consequente erosão. Para efeitos de cálculo elástico,
pode ser criada uma analogia entre a diminuição do módulo de deformabilidade da superfície
subjacente à laje de betão de cimento e a perda de apoio devido à erosão, já que no limite, a ausência
de apoio assemelha-se a uma base de sustentação com módulo de deformabilidade nulo ou muito
reduzido.
x3
x2 x1
5m
x2 > Eixo da Via 0.2
h=
.2,
A
B , v=0
a
GP
35
E=
D .4
=0
l, v
C r iáve
va
E=
TENSÕES s 11 TENSÕES s 22
kPa kPa
-2000 -2000
-1500
PONTO B -1500 PONTO B
-1000 -1000
PONTO A
-500 -500
PONTO A
0 0
500 500
PONTO C
PONTO D
1000 1000
PONTO D
PONTO C
1500 1500
30 50 70 90 110 130 150 30 50 70 90 110 130 150
Ef (MPa) Ef (MPa)
Figura 6. Evolução do estado de tensão para a carga centrada no pavimento e para o aumento do módulo de
deformabilidade da fundação (MEF).
6
Raposo, Oliveira, Azevedo e Lopes
Para simular o carregamento no canto de um pavimento rígido (condição de carregamento (c) da Fig.
1), é necessário retirar a imposição de deslocamento nulo para os graus de liberdade correspondentes
aos pontos nodais de fronteira localizados nos eixos x1 e x2 da laje de betão de cimento, e também
carregar o conjunto de elementos que representam o segundo rodado do eixo padrão, já que na
ausência de simetria, ambos os rodados têm que estar obrigatoriamente representados de forma directa
no modelo.
Em função da fadiga do betão sob carregamento cíclico, a repetição dos esforços de tracção terá
como consequência a abertura de fendas no pavimento [7].
Figura 7. Mecanismo de rotura nos bordos livres devido à perda de apoio da laje.
Tomando como termo de comparação, os valores das tensões normais ao eixo x2 ao longo dos
alinhamentos definidos pelo eixo geométrico dos rodados do eixo padrão à superfície do pavimento
paralelamente ao eixo da via, é possível quantificar o acréscimo de tensão provocado pela perda de
sustentação da laje de betão de cimento por via da erosão no bordo.
O acréscimo de tensão referido aumenta em módulo, com o incremento da rigidez global da fundação
e consequentemente com o valor absoluto do diferencial entre o módulo de deformabilidade da zona
erodida em relação à restante secção de apoio da laje para a qual se mantêm inalteradas as condições
de apoio.
7
Desenvolvimento de um modelo de EF3D para análise
de pavimentos rodoviários rígidos
ALINHAMENTO 2 ALINHAMENTO 1
b) Deslocamentos
a) Tensão σ22
kPa
ALINHAMENTO 1
2000
1500
1000
SEM EROSÃO Ef=30 MPa
COM EROSÃO Ef=30 MPa
500
COM EROSÃO Ef=300 MPa
-500
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 m
kPa
ALINHAMENTO 2
2000
1500
1000
SEM EROSÃO Ef=30 MPa
COM EROSÃO Ef=30 MPa
500
COM EROSÃO Ef=300 MPa
-500
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 m
Figura 8. a) Deslocamentos na secção erodida e b) tensão σ22 nos alinhamentos 1 e 2 paralelos ao eixo da
via.
Para o pavimento rígido representado na Fig. 6, mas sob acção do eixo padrão junto ao bordo
(configuração de carga (b) na figura 1), verifica-se que as tensões de tracção mais elevadas são
normais ao eixo x2, paralelas ao eixo da via portanto, mas que contrariamente à configuração de
8
Raposo, Oliveira, Azevedo e Lopes
0.25 m
0.075 m
σ22
mm kPa
c)
5. CONCLUSÕES
Os elementos finitos de junta cuja inserção no modelo desenvolvido visa permitir a criação de
superfícies de descontinuidade entre materiais não solidários, são fundamentais para a exactidão
dos resultados obtidos, já que a correcta modelação das condições de apoio para os pavimentos
ensaiados depende da possibilidade de fazer coincidir no mesmo plano nós com graus de liberdade
restringido e não restringidos.
A existência de nós não partilhados na superfície de contacto entre elementos finitos adjacentes, é
a única forma de modelar as condições de apoio divergentes entre a fundação e os painéis do
pavimento, garantindo simultaneamente a imposição de condições de fronteira coerentes com o
caso específico que se pretende estudar e a obtenção de suficiente exactidão nos deslocamentos
obtidos para assegurar a fiabilidade dos estados de tensão e de deformação extrapolados a partir
dos vectores de deslocamentos elementares.
9
Desenvolvimento de um modelo de EF3D para análise
de pavimentos rodoviários rígidos
REFERÊNCIAS
[1] Cachim P., Figueiras J., Pereira P. (1995). Caracterização e Modelação de Pavimentos de
Betão. Relatório Técnico . Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
[2] Silva L., (2009). Pavimentos Aeroportuários : Análise de Soluções Rígidas e de Soluções
Flexíveis. Tese de Mestrado. Universidade de Aveiro.
[4] Branco F., Pereira P., Santos L., (2001). Pavimentos Rodoviários.
[5] Zienkiewicz O., (2000). The Finite Element Method Volume 1: The Basis.
10