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#1 Grátis

POESIA DE RESISTÊNCIA
P A L E S T I N I A N A
PERIODICIDADE ANÁRQUICA

Tawfiq Zayyad / Mahmoud Darwish / Salem Jubran / Fadwa Tuqan / Sameeh Al Qassem /
Mosab Abu Toha / Yehuda Amichai / Elana Bell / Naomi Shihab Nye / Mois Benarroch
Poesia de resistência Palestininiana

№1.
Tradução e edição: cobramor
Selecção: Luís Raposo, Ana Guimil, Carlos Ramos e cobramor
Revisão: Carla Moreira
Design: Traça
Colaboração: Luís Raposo; Lia Cachim; Gonçalo Pereira; Cláudia Lucas Chéu; Miguel
Tiago; Alexandre Esgaio; Marta Branco; Ana Guimil; Fernando Machado; Carla Moreira;
Duvall McGregor; Ana Freitas Reis; Carlos Ramos; Ágata Segueira

Inaugura desta forma, o que já estava planeado ser uma publicação regular da
Traça. Infelizmente, a oportunidade é a melhor para celebrar a poesia de
resistência palestiniana, onde também pertencem judeus israelitas.
A arte jamais deve evitar pronunciar-se sobre a realidade onde se insere. O mesmo
é verdade para a poesia. Não se quer egocêntrica, quer-se viva.
Com causas. Pelo menos aquela de que gostamos por aqui.
Poesia de resistência Palestininiana

ÍNDICE

Tawfiq Zayyad - A oliveira..............................................................................................................Pág. 02


Mahmoud Darwish - Amante da Palestina.................................................................................Pág. 03
Salem Jubran - Safad.........................................................................................................................Pág. 06
Fadwa Tuqan - Para Cristo no seu aniversário..........................................................................Pág. 07
Sameeh Al Qassem - Fim de conversa com um carcereiro....................................................Pág. 08
Mosab Abu Toha - Ruas palestinianas.........................................................................................Pág. 09
Mosab Abu Toha - O que é uma casa..........................................................................................Pág. 10
Yehuda Amichai - O diâmetro da bomba...................................................................................Pág. 11
Elana Bell - A tua aldeia...................................................................................................................Pág. 12
Naomi Shihab Nye - Bondade........................................................................................................Pág. 13
Mois Benarroch - Tanques pacifistas...........................................................................................Pág. 14
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

A oliveira
Tawfiq Zayyad

Tawfiq Zyyad foi um político


palestiniano conhecido pela
sua poesia de protesto e que
via os judeus como irmãos.

Esteve preso várias vezes e


foi presidente da Câmara da
Nazaré.

Gravarei o número de série


De cada pedaço de terra roubado
A localização da minha aldeia no mapa
E as casas bombardeadas,
E as árvores arrancadas,
E cada flor esmagada
Porque não teço lã E todos os nomes dos especialistas em tortura
Porque sou sempre caçado Os nomes das prisões.
E a minha casa é sempre invadida.
Porque não posso possuir um bocado de papel, Gravarei dedicações
Gravarei as minhas memórias Às memórias que levam à eternidade
Na oliveira do meu quintal. Ao solo sangrento de Deir Yasin
E Kufur Qassem.
Gravarei amargas reflexões, Gravarei o aceno do sol
Cenas de amor e anseio, E os sussurros da lua
Pelo meu laranjal roubado E o que uma cotovia recorda
E os túmulos perdidos dos meus mortos. Num poço desertado pelo amor.

Gravarei todos os meus esforços Pelo bem da memória,


Pelo bem da memória Continuarei a gravar
Para o tempo em que os afogarei Todos os capítulos da minha tragédia
Na avalanche do triunfo E todas as etapas de Al-Nakbah
Na oliveira do meu quintal!
Traça - editora 02
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Amante da Palestina
Mahmoud Darwish

Darwish é considerado o
poeta nacional da Palestina.
O seu trabalho, que evoca a
dor da deslocação com
paradoxos sufis, foi
traduzido em mais de 20
línguas. Na obra do poeta,
além da angústia do exílio, a
Palestina aparece como
metáfora do "paraíso
perdido", nascimento e
ressurreição.

Como uma andorinha as tuas palavras voaram


A minha porta e o limiar invernoso
Seguiram-te por anseio
Os teus olhos são um espinho no meu coração E os nossos espelhos partiram-se
Dilacerantes, mas adoráveis, A mágoa aumentou.
Escudo-os da tempestade Então reunimos as lascas do som,
E perfuro-os profundamente através da noite e da dor, Mas apenas aprendemos a lamentar a pátria!
A ferida ilumina milhares de estrelas Plantá-la-emos juntos
O meu presente faz do seu futuro No coração de uma lira
Mais precioso que o meu ser E no terraço da nossa catástrofe,
E esqueço-me quando os nossos olhos se encontram Tocá-la-emos
Que já fomos dois atrás do portão Para luas e pedras distorcidas
Mas esqueci-me, tu da voz desconhecida
As tuas palavras foram uma canção Foi a tua partida
Que tentei cantar também Que apressou a lira
Mas a agonia cercou os lábios da primavera Ou foi o meu silêncio?

Traça - editora 03
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Amante da Palestina
Mahmoud Darwish
Vi-te ontem no porto Vi-te na entrada da gruta, na caverna,
Uma solitária viajante sem provisões A pendurar os trapos dos teus órfãos no varal.
Corri para ti como um órfão, Nos fogões, nas ruas, eu vi-te.
Pedindo a sabedoria dos nossos antepassados: Nos celeiros e no sangue do sol.
“Porque razão o laranjal - Nas canções dos desamparados e dos desgraçados, eu vi-te.
Arrastado para a prisão ou para um porto Eu vi-te no sal do mar e na areia.
E apesar das suas viagens Tua era a beleza da terra, das crianças e do jasmim Árabe.
Apesar do odor de sal e do anseio
Se mantém verde?” E eu jurei
E escrevi no meu diário; Das pestanas tecer um lenço para ti
Adoro laranjas mas odeio portos. E nele bordar um poema para os teus olhos
Fiquei no porto E um nome, quando regado por um coração
A ver o mundo com os olhos do inverno que se dissolve em cânticos,
Apenas a casca da laranja é nossa Fará crescer os caramanchões silvestres.
E atrás de mim está o deserto. Escreverei uma frase mais preciosa que mel e beijos:
‘Palestina ela foi e ainda é’.
Nas montanhas espinhosas vi-te
Uma pastora sem ovelhas,
Perseguida por entre as ruínas
Numa noite de tempestade, abri a porta e a janela
Eras o meu jardim
Para ver a endurecida lua das nossas noites.
Eu era um estranho
Eu disse à noite: Corre,
Batia à porta, meu coração
Além da escuridão e da parede;
Pois no meu coração estão firmes
Tenho uma promessa a cumprir com palavras e luz.
As porta, as janelas, o cimento e as pedras.
És o meu jardim virgem
Enquanto as nossas músicas
Vi-te em barris de água, em celeiros,
Forem espadas quando as desembainhamos.
Quebrada, vi-te empregada doméstica em bares,
E és tão fiel como grão
Vi-te no brilho das lágrimas e nas feridas.
Desde que as nossas músicas
És o outro pulmão no meu peito;
Mantenham vivo o solo fértil quando as plantamos.
És o som nos meus lábios;
És como uma palmeira na mente:
És água; És fogo.
Nem a tempestade nem o machado do lenhador podem derrubá-la.
As suas tranças sem cortes
Pelas bestas do deserto e da floresta
Mas eu sou o exilado atrás da parede e da porta,
Abriga-me no calor do teu olhar.

Traça - editora 04
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Amante da Palestina
Mahmoud Darwish
Leva-me, onde estiveres,
Leva-me, como estiveres.
Ser restaurado para o calor do rosto e do corpo,
Para a luz do coração e dos olhos,
Para o sal do pão e da canção,
Para o sabor da terra e da pátria.
Abriga-me no calor do teu olhar,
Leva-me, um painel de amendoeira, na cabana das dores,
Leva-me, um verso do livro da minha tragédia,
Leva-me, um brinquedo ou uma pedra da casa,
Para que nossa próxima geração possa recordar
O caminho de retorno à nossa casa.

Palestinianos são os teus olhos e tatuagem,


Palestiniano é o teu nome
Palestinianos são os teus sonhos e preocupações
Palestiniano é o teu lenço, os teus pés, a tua forma,
Palestinianas são as tuas palavras e o teu silêncio
Palestiniana é a tua voz
Palestiniano na vida e na morte,
Carreguei-te nos meus velhos blocos
Fogo dos meus versos
O sustento para as minhas viagens.
No teu nome, a minha voz ressoou nos vales:
Eu vi os cavalos de Bizâncio
Ainda que a batalha seja diferente.
Cuidado, oh, cuidado
O raio atingido pela minha canção no granito.
Sou a flor da juventude e o cavaleiro dos cavaleiros!
Sou o destruidor de ídolos.
Planto as fronteiras do Levante
Com poemas que libertam as águias.
No teu nome gritei ao inimigo:
Vermes, alimentem-se da minha carne se algum dia eu adormecer,
Pois os ovos das formigas não podem chocar águias,
E a casca do ovo da víbora
Segura apenas uma cobra!
Eu vi os cavalos de Bizâncio,
E antes de tudo, eu sei
Que sou a flor da juventude e o cavaleiro dos cavaleiros!

Traça - editora 05
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Safad
Salem Jubran

Salem Jubran foi poeta e


editor do jornal diário
comunista de língua árabe Al
Ittihad (1987-1992) e da
revista literária e cultural
comunista Al Jadid. Também
foi professor sénior no
Centro de Educação
Humanística do Museu do
Holocausto Lohamei
Hagetaot e esteve envolvido
com o centro de paz judaico-
árabe em Givat Haviva.

Sou um estranho, Safad Os teus familiares estiveram aqui


E tu também, Depois foram-se embora
As Casas saúdam-me E ninguém ficou
Mas os habitantes Uma manhã funerária
Ordenam que me vá Repousa nos meus lábios
Porque vagueias pelas ruas, árabe? E nos meus olhos
Porquê? Lá se encontra a humilhação de um leão
Se disseres olá Adeus
Ninguém te responderá Adeus, Safad!

Traça - editora 06
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Para Cristo
no seu aniversário
Fadwa Tuqan
Fadwa Tuqan nasceu em 1917
em Nablus e morreu em
2003. Foi baptizada como
Poeta da Palestina e era bem
conhecida pelas suas
representações de
resistência contra a
ocupação israelita em forma
de poesia.

O mundo inabalável perante a tragédia


A luz extinguiu-se desse implacável mestre perdido
Que não acendeu uma vela
Que não derramou uma lágrima
Para lavar as mágoas de Jerusalém
Foram os vinhateiros que mataram o herdeiro, Oh Senhor
Senhor, glória dos universos E usurparam a vinha, meu Senhor
No teu aniversário este ano Os vinhateiros mataram o herdeiro, Oh Senhor
Todas as alegrias de Jerursalém estão crucificadas Emplumou-se a ave do pecado
Todos os sinos, Oh Senhor Nos pecadores do mundo
Estão silenciosos! E voou para profanar a castidade de Jerusalém
Em dois mil anos, Que maldito diabo é,
Não se silenciaram nos teus aniversários, Odiado mesmo pelo Diabo.
Excepto este ano Ó Senhor, glória de Jerusalém
As cúpulas estão agora de luto Do poço da agonia
O negro envolto em negro Do abismo
Na Via Dolorosa, Dos recantos da noite
Jerusalém é chicoteado Do horror
Sob a cruz O gemido de Jerusalém eleva-se até ti
Sangra Misericórdia, senhor
Às mãos do carrasco. Dispensa-lhe este cálice!

Traça - editora 07
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Fim de conversa
com um carcereiro
Samih AI-Qassem
Samih AI-Qassem (1939 - 19
de agosto de 2014) foi um
poeta palestiniano com
cidadania israelita cujo
trabalho é bem conhecido
em todo o mundo árabe.
Nasceu na Transjordânia e
mais tarde viveu na
Palestina e em Israel. Antes
da Guerra dos Seis Dias, em
1967, foi influenciado
principalmente pelo
nacionalismo árabe; depois
da guerra, juntou-se ao
Partido Comunista Israelita.

Da janela estreita da minha pequena cela,


Vejo árvores que me sorriem
E telhados preenchidos pela minha família.
E janelas que choram e rezam por mim.
Da janela estreita da minha pequena cela -
Consigo ver a tua enorme cela!

Traça - editora 08
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Ruas palestinianas
Mosab Abu Toha

Mosab Abu Toha é um poeta,


escritor e ensaísta
palestiniano de Gaza. Abu
Toha é o autor de Things You
May Find Hidden in My Ear:
Poems from Gaza (2022, City
Lights), que ganhou o
Palestine Book Award em
2022. Abu Toha é o fundador
da Biblioteca Edward Said e,
de 2019 a 2020, foi poeta
visitante e bibliotecário
residente na Universidade
de Harvard.

As ruas da minha cidade não têm nome.


Se um palestiniano for morto por um franco-atirador ou por um drone,
damos o nome dele à rua.
As crianças aprendem melhor os números
quando conseguem contar quantas casas ou escolas
foram destruídas, quantas mães e pais
foram feridos ou atirados para a prisão.
Os adultos na Palestina apenas usam o seu cartão do cidadão
para não esquecer
quem são.

Traça - editora 09
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

O que é uma casa


Mosab Abu Toha

Mosab Abu Toha é um poeta,


escritor e ensaísta
palestiniano de Gaza. Abu
Toha é o autor de Things You
May Find Hidden in My Ear:
Poems from Gaza (2022, City
Lights), que ganhou o
Palestine Book Award em
2022. Abu Toha é o fundador
da Biblioteca Edward Said e,
de 2019 a 2020, foi poeta
visitante e bibliotecário
residente na Universidade
de Harvard.

O que é uma casa:


é a sombra das árvores a caminho da escola antes de terem sido arrancadas.
É a fotografia a preto e branco do casamento dos meus avós antes das paredes colapsarem.
É o tapete de oração do meu tio, onde dúzias de formigas dormiram nas noites de inverno,
antes de ser saqueado e colocado num museu.
É o forno onde a minha mãe cozia pão e assava galinha antes de uma bomba reduzir a nossa
casa a cinzas.
É o café onde vi e joguei futebol—

O meu filho faz-me parar: pode uma palavra de quatro letras conter tudo isto?

Traça - editora 10
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

O diâmetro da bomba
Yehuda Amichai

Yehuda Amichai foi um


poeta e autor israelita multi-
galardoado e indicado várias
vezes para o Nobel da
Literatura.

​ sua poesia condena a


A
violência e qualquer um que
acredite que a guerra é
justificada em nome da paz,
que sempre defendeu,
espelhando o sofrimento
humano de ambos os lados
do conflito.

O diâmetro da bomba era de trinta centímetros


e o diâmetro do seu alcance efectivo cerca de sete metros,
com quatro mortos e onze feridos.
E em torno destes, num círculo maior
de dor e tempo, dois hospitais estão espalhados
e um cemitério. Mas a jovem
que foi enterrada na cidade de onde veio,
a uma distância de mais de cem quilômetros,
amplia consideravelmente o círculo,
e o homem solitário que lamenta a sua morte
nas margens distantes de um país distante para além do mar
inclui o mundo inteiro no círculo.
E nem vou mencionar o choro dos órfãos
que se prolonga até ao trono de Deus e
para além, criando um círculo sem fim e sem Deus.

Traça - editora 11
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

A tua aldeia
Elana Bell

Elana Bell é uma poeta e


educadora americana,
vencedora do prémio Walt
Whitman 2011 da Academia
de Poetas Americanos.
Bell foi finalista do prémio
Freedom Plough de Poesia e
Activismo de Split This Rock,
que reconhece e homenageia
trabalho inovador e
transformador na
intersecção da poesia e da
mudança social.

Uma vez numa aldeia que arde


porque há sempre uma aldeia a arder

E se não olhares porque não é a tua aldeia


é ainda assim a tua aldeia

Nessa aldeia há uma criança oca


Que afogas quando olha para ti com os seus negros negros olhos

E se não choras porque não é o teu filho


É ainda assim o teu filho

Todos os animais que poderiam fugir, fugiram


Os encurralados fazem uma orquestra da sua fome

As casas são ruínas Nada cresce no jardim


O túmulo do avô está lá Uma pequena pedra

sob a sombra de um carvalho carbonizado Quem afastará as mortas


folhas Quem chamará o seu nome para a oração matinal

Onde irão eles — os que dormiram nesta casa e comeram desta sujidade —?
Traça - editora 12
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Bondade
Naomi Shihab Nye

Naomi Shihab é uma poeta


premiada, filha de pai
palestino e mãe americana.
Dá voz à sua experiência
como árabe-americana
através de poemas sobre a
herança e a paz que
transbordam de espírito
humanitário.

Antes de saberes o que a bondade realmente é Antes que conheças a bondade como a coisa mais profunda no interior,
tens que perder coisas, deves conhecer a tristeza como a outra coisa mais profunda.
sentir o futuro dissolver-se num momento Deves acordar com tristeza.
como sal num caldo debilitado. Deves falar com ela até que a tua voz
O que seguraste na tua mão, apanhe o fio de todas as tristezas
o que contaste e guardaste cuidadosamente, e vejas o tamanho do pano.
tudo isso deve desaparecer para saberes Então apenas a gentileza fará sentido,
quão desolada a paisagem pode ser apenas a gentileza ata os teus sapatos
entre as regiões da bondade. e te envia para o dia onde contemplas o pão,
Como andas e andas apenas a bondade que ergue a sua cabeça
a pensar que o autocarro nunca vai parar, da multidão do mundo para dizer
os passageiros comem milho e frango Foste tu quem procurei,
olharão pela janela para sempre. e depois vai contigo para todos os lugares
como uma sombra ou um amigo.
Antes de aprenderes a terna gravidade da bondade
deves viajar para onde o Índio de poncho branco
jaz morto à beira da estrada.
Tens de perceber como poderias ser tu,
como também ele era alguém
que viajou pela noite com planos
e a simples respiração que o manteve vivo.

Traça - editora 13
POESIA DE RESISTÊNCIA PALESTINIANA

Tanques pacifistas
Mois Benarroch

Mois Benarroch nasceu em


Tetuan, Marrocos, em 1959 e
foi para Israel (“outro
planeta”, diz ele) com os pais
em 1972. Fluente em inglês,
espanhol e hebraico, e em
parte auto-publicado, ainda
se sente um estranho, mas é
aceite pela comunidade
poética israelense como um
membro interno. Participa
em festivais de poesia
nacionais e internacionais e
em 2009 ganhou o Prémio de
Literatura do Primeiro
Ministro de Israel.

Carmela
não é que aqueles tanques se estão
a tornar
pacifistas
e querem convencer-me
Carmela
que é melhor ir com eles
estes vou
perder o que tenho
apagá-los com borrachas
que qualquer guerra é boa
e assustá-los com pistolas de água
dizem-me para quê, dizem-me
com vassouras
o que mais te interessa
com disfarces
dizem-te que tudo é relativo
pós-modernista até que me mostrem o

que não há nenhuma razão caminho do


para ficares assim,

não

Traça - editora 14
Traça
traca.edicoes@gmail.com
traca.site

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