1 Histórico, Objetivos e Objeto Da Psicologia Comunitária

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12/02/2024, 19:03 Histórico, objetivos e objeto da Psicologia Comunitária

Histórico, objetivos e objeto da Psicologia Comunitária


Prof.º Vilson S. Carvalho

Descrição O surgimento da Psicologia Comunitária como uma área da Psicologia Social voltada tanto para o
entendimento das relações dos indivíduos com um local ou uma comunidade no âmbito da
subjetividade quanto para análise e intervenção de questões psicossociais.

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Propósito O estudo da Psicologia Comunitária contribui para a formação de uma consciência crítica da
ética da solidariedade no âmbito comunitário, sendo seu conhecimento essencial para os
profissionais de Psicologia e de outras áreas de atuação social, com base no princípio de que as
relações entre indivíduo e meio social são indissociáveis e construtoras de subjetividade.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

À procura da compreensão da Sistematização teórico-prática da


Psicologia Comunitária Psicologia Comunitária
Identificar os principais conceitos e objetivos da Psicologia Analisar os fatores motivadores do surgimento da Psicologia
Comunitária. Comunitária e seus principais teóricos no Brasil.

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Módulo 3 Módulo 4

Fenômenos sociais da Psicologia Comunidade, cidadania e direitos


Comunitária humanos
Examinar os principais fenômenos psicossociais estudados Refletir sobre o papel da Psicologia Social no âmbito das
pela Psicologia Comunitária. relações entre cidadania, comunidade e direitos humanos.

Introdução
A Psicologia Comunitária é uma área relativamente nova da Psicologia Social que
se efetiva em diferentes esferas de atuação mediante práticas nos diversos
movimentos sociais, nas práticas preventivas e comunitárias da reforma
psiquiátrica, nos movimentos da economia solidária e autogestão comunitária, nas
políticas públicas de enfrentamento da vulnerabilidade social, nos projetos de
desenvolvimento e sustentabilidade comunitária, por exemplo.

Neste conteúdo, refletiremos sobre o que é Psicologia Comunitária. Abordaremos a


importância dessa área de atuação na Psicologia e o quanto ela disponibiliza a
análise e promoção de experiências comunitárias críticas e significativas

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mobilizando dimensões subjetivas do ser humano e da comunidade.


Destacaremos também aspectos essenciais relativos a projetos de transformação
e melhoria social por meio do enfrentamento de problemas sociais crônicos no
âmbito da saúde, segurança pública, sustentabilidade e ética.

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1 - À procura da compreensão da Psicologia Comunitária


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os principais conceitos e objetivos da Psicologia
Comunitária.

A Psicologia Social e suas divisões

A Psicologia Comunitária no âmbito da Psicologia Social

Para início de conversa, é importante entender que a Psicologia Comunitária é uma


área da Psicologia Social. Nesse sentido, é devemos recordar um pouco o que é e
quais são os objetivos da Psicologia Social. Na verdade, não existe uma Psicologia
Social e sim duas, que você pode conferir a seguir:

Psicologia Social Clássica Psicologia Socio-histórica


A Psicologia Social Clássica, também chamada Psicologia Socioexperimental, é de
base mais teórica e fundamenta-se no estudo do pensamento científico sobre como o
ser humano é influenciado pelas interações sociais em sua maneira de ver e pensar o
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mundo. Rompendo com o senso comum, esse âmbito da Psicologia Social buscou
entender os “porquês” de determinados comportamentos sociais, com o uso de
metodologias científicas, duvidando daquilo que era apontado como óbvio em termos
de conduta social.

Por sua vez, a Psicologia Socio-histórica, ou Psicologia Sociológica, surgiu no final dos
anos 1970 como forma de reação à Psicologia Socioexperimental, por entender que
esta não considerava o sujeito como alguém influenciado por sua realidade
sociocultural, atravessado historicamente, sendo impossível estudar o
comportamento social do ser humano sem considerar a cultura onde ele se insere, o
local onde habita e o momento histórico em que vive.

A Psicologia Socio-histórica de natureza


prática e interdisciplinar se preocupava
menos com o estudo do comportamento
socialmente influenciado e mais com a
dimensão subjetiva dos fenômenos
sociais. Além disso, os protagonistas
desse âmbito da Psicologia Social
entendiam que o psicólogo tinha mais a
oferecer do que apenas o estudo teórico
desses fenômenos sociais. Ele poderia
contribuir de forma singular para
mudanças sociais importantes no
enfrentamento de todo tipo de problema

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social e promover mudanças positivas


nas pessoas e no grupo social, na
comunidade.

A Psicologia Socioexperimental visava identificar propriedades universais da natureza


humana que tornam cada pessoa – independentemente da sua cultura, classe social,
local onde habita – suscetível à influência social em termos de pensamento e
comportamento. Já a Psicologia Socio-histórica valorizava justamente a cultura, a
classe social, o local e a história do sujeito como formadores de sua subjetividade e
de sua identidade social. Nela, importa conhecer essas realidades, estudando a
dimensão subjetiva de fenômenos sociais em instituições, movimentos sociais e na
sociedade de uma forma geral.

Diante do exposto, não fica difícil entender onde se situa a Psicologia Comunitária no
âmbito da Psicologia Social: A Psicologia Socio-histórica.

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Ela não apenas integra esse âmbito como também é sua principal vertente. Quando se
pensa em Psicologia Socio-histórica, pensa-se diretamente em Psicologia
Comunitária, uma vez que é nesse âmbito que a Psicologia Social promoverá estudos
sobre as interações indivíduo versus indivíduo, indivíduo versus grupo e grupo versus
grupo em situações específicas mediante estudos comunitários na ótica da pesquisa-
ação e da pesquisa participante.

A comunidade, como um grupo dinâmico histórico, geográfico e culturalmente


constituído, oferecia as condições ideais para que a Psicologia Socio-histórica se
desenvolvesse, pensando a atuação ética social do psicólogo como alguém que
poderia contribuir com essa comunidade a possuir o conhecimento e as
competências necessárias para atender as suas próprias necessidades. Daí o
surgimento da Psicologia Comunitária entendida como uma área voltada para estudar,
entender e intervir nos fenômenos psicossociais comunitários visando contribuir para
a qualidade de vida de seus integrantes.

História da Psicologia Comunitária no Brasil

Considerações sobre a Psicologia Comunitária no Brasil


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A partir do que vimos, como podemos definir, afinal, o que seja a Psicologia
Comunitária? Já vimos que ela é um âmbito de atuação da Psicologia Social e
aprendemos que ela está diretamente associada à vertente da Psicologia Socio-
histórica da Psicologia Social, que é chamada por alguns estudiosos até mesmo de
Psicologia Social Comunitária (CAMPOS, 1996). Mas como isso se deu? Que fatores
contribuíram para o surgimento e estruturação da Psicologia Comunitária no Brasil?

A história da Psicologia Socio-histórica e,


por consequência, da Psicologia
Comunitária, inicia-se no Brasil em
meados dos anos 1970 a partir de
questionamentos sobre o papel da
Psicologia. No Brasil, a Psicologia era
acusada de ser alienada e elitista frente
ao golpe de 1964 e à realidade
sociopolítica que se desenhou a partir
daí.

Nessa época, muitos exigiam que a Psicologia, como uma ciência que estudava a
psique e o comportamento humano, tivesse algo a contribuir para o entendimento e as
possibilidades de intervenção nessa realidade. Entretanto, embora já existisse uma
Psicologia Social, o fato de esta estudar fenômenos sociais universais em laboratório,
de forma neutra, sem qualquer preocupação com a transformação social da realidade,
fez com que se colocasse em xeque a utilidade e validade do que era feito em
Psicologia Social até então, gerando uma crise na área.

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Essa situação foi ficando mais patente com o surgimento de movimento de


antipsiquiatria que promovia a saúde mental a partir de ações preventivas junto à
população mais carente e necessitada, visando superar o caminho já normatizado dos
hospitais psiquiátricos. Nesse período, surge também nos Estados Unidos o termo
“psicologia comunitária” para se referir à atuação de profissionais junto a populações
carentes. Esse uso pioneiro se referia a um tipo de atuação mais assistencialista, mas
que, pelo menos, entendia a necessidade de se fazer algo junto aos necessitados.

Com as primeiras experiências de educação popular de Paulo Freire, voltadas para


uma educação libertária, os psicólogos nos anos 1970 passaram a integrar equipes de
trabalho atuando em comunidades por motivos diversos como curiosidade científica e
filantropia, tendo como meta a conscientização da população, o que já seria uma
atuação pioneira em termos de empoderamento social.

Os anos seguintes foram marcados por vários encontros e experimentação de


projetos relativos à atuação da Psicologia na comunidade, como o 1º Encontro
Regional de Psicologia na Comunidade, realizado em São Paulo, no ano de 1981, e um

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segundo encontro, ocorrido em 1988, em Belo Horizonte, que ajudou na


sistematização da Psicologia Comunitária reunindo várias experiências e diversos
projetos bem-sucedidos na área.

Também nesse mesmo período temos a criação da Associação Brasileira de


Psicologia Social (ABRAPSO), que faria frente à então Associação Latino-Americana
de Psicologia Social (ALAPSO), devotada à Psicologia Socioexperimental. A ABRAPSO
foi fundamental para a consolidação da Psicologia Comunitária – voltada à
transformação da realidade sociocomunitária – por meio dos eventos que promoveu e
de sua Revista Psicologia e Sociedade.

A professora Silvia Lane foi uma


importante figura no desenvolvimento da
Psicologia Socio-histórica. Sua produção
teórica permitiu a construção de novas
perspectivas e, dentre elas, a da
Psicologia Comunitária. Rompendo com
a tradição mais elitista da Psicologia,
Silvia Lane, que almejava transformar a
Psicologia partir de uma nova concepção
de homem e subjetividade atravessados
pelo contexto socio-histórico e político-
cultural, lançou os alicerces da
Professora Silvia Lane.
Psicologia Social comunitária ao propor
uma nova prática em Psicologia Social.

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Essa prática incorporava a perspectiva do trabalho clínico sem descuidar do exame


das condições de vida e das formas de organização social para superar dificuldades e
o debate dos problemas vividos no cotidiano pelas comunidades. Silvia foi uma das
criadoras da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) e enxergava a
Psicologia Social na construção de condições de vida dignas para a maioria da
população brasileira, sendo a Psicologia Comunitária a prova concreta de que isso era
viável.

O que é e como nasceu a Psicologia


video_library Comunitária?
Neste vídeo, o especialista reflete sobre as características e os objetivos da Psicologia
Comunitária e as suas origens no Brasil e no mundo.

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O que faz um psicólogo comunitário?

A predominância da psicologia clínica

Sejamos realistas: a maioria dos estudantes que escolhem a Psicologia como seu
caminho profissional são atraídos pela área clínica, especialmente pelo trabalho
autônomo e individualizado em um consultório. A predominância dessa preferência se
deve, muitas das vezes, à compreensão limitada do que faz um psicólogo.

Existe uma representação social formada


do que faz um psicólogo que muitas
vezes é reforçada pela grande mídia e
pelo cinema, em que o psicólogo é
apresentado como alguém bem-vestido,
por vezes até de jaleco, com um bloco de
anotação nas mãos e um paciente
deitado em um divã contando seus
problemas.

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Essa não é uma concepção equivocada. De fato, existem profissionais que atuam
assim, mas é uma entre dezenas de outras possibilidades de atuação que, muitas
vezes, só descobrimos na universidade.

A Psicologia Comunitária é uma grande desconhecida de muitos estudantes de


Psicologia e mesmo alguns profissionais da área conhecem muito pouco sobre ela. É
inegável que a área da Psicologia Comunitária precisa ser mais valorizada e divulgada
na Academia como uma importante área de atuação profissional da Psicologia,
comprometida com a construção de uma sociedade mais justa, saudável e
sustentável.

Do mesmo modo, as experiências das


outras áreas como a clínica e as áreas
institucionais são muito bem-vindas à
atuação comunitária, já que uma
comunidade reúne diferentes instituições
e a preocupação com a saúde
psicológica e o empoderamento junto a
grupos, movimentos e lideranças
comunitárias é uma necessidade
constante.

O trabalho do psicólogo comunitário é interdisciplinar, realizado por equipes


multiprofissionais, com formação generalista. Esse é um desafio importante que
também está presente no âmbito institucional em menor grau.

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O psicólogo comunitário nunca está sozinho, ele atua com


assistentes sociais, médicos, administradores, técnicos de várias
áreas e colaboradores que colocam sua experiência a serviço da
qualidade de vida comunitária, dentro e fora da comunidade.

Cabe ao psicólogo comunitário entender que, muitas vezes, sua atuação abrangerá
não apenas os que integram a comunidade em si, mas também a variada gama de
profissionais que nela atuam, dialogando e partilhando algumas informações e
sugestões – desde que não comprometam o sigilo profissional –, contribuindo para a
resolução de problemas da comunidade de forma geral.

Atuações possíveis do psicólogo comunitário

A Psicologia Social Comunitária integra as concepções da Psicologia Social e da


Psicologia Comunitária e fundamenta-se em princípios éticos, políticos e
humanitários, visando ao desenvolvimento de práticas direcionadas para as
comunidades. A seguir, vamos conhecer algumas das suas atuações no campo
profissional:

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Desenvolver atividades de conscientização e empoderamento junto aos


membros de uma comunidade de forma que eles encontrem formas próprias de
resolver problemas e implementar ações de desenvolvimento local.

Favorecer a criação e a estruturação de grupos e organizações da população


local de modo que possam exercer sua cidadania local de modo mais eficaz e
lutar por seus direitos.

Contribuir para a elaboração de programas inovadores de transformação social


baseados em metodologias colaborativas de pesquisa-ação voltadas para a
promoção de mudanças sociais.

Apoiar ações junto a grupos e organizações sociais da comunidade como ONGs,


grupos de trabalhos, associações comunitárias etc., para que funcionem de
modo mais eficaz, contribuindo para o bem-estar e o desenvolvimento integral
da comunidade.

Implementar programas de terapia de grupos que auxiliem os membros da


comunidade a entender melhor como sua psique está associada à comunidade
em que vivem de modo que a implementação de melhorias externas se reflita no
âmbito interno e vice-versa.

O exame dessas possibilidades de atuação demonstra claramente o quanto o papel


do psicólogo comunitário em determinada localidade pode fazer diferença no sentido
de contribuir para o favorecimento de processos psicossociais fundamentais para que
a comunidade se desenvolva a partir do reconhecimento de que seus integrantes são
responsáveis e competentes pela construção de suas vidas.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A Psicologia Comunitária, diferentemente da Psicologia Social Clássica, não


pretende apenas estudar esses processos, e sim realizar intervenções comunitárias
que conscientizem e denunciem os males causados por eles em termos de divisão,
exclusão e retrocesso

A Psicologia Comunitária, diferentemente da Psicologia Social


Clássica, não pretende apenas estudar esses processos, e sim
A realizar intervenções comunitárias que conscientizem e denunciem
os males causados por eles em termos de divisão, exclusão e
retrocesso.

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É no âmbito da Psicologia Socio-histórica que a Psicologia


B Comunitária se insere, uma vez que esta tem uma abordagem mais
neutra e objetiva, pensando o ser humano a partir do estudo de
fenômenos sociais universais.

A Psicologia Comunitária faz parte da Psicologia Socio-histórica,


uma vez que esta considera o ser humano como um ser imerso em
C
um contexto socio-histórico e valoriza a transformação social em
prol da qualidade de vida e da sustentabilidade social.

É no âmbito da Psicologia Social Clássica que a Psicologia


Comunitária se insere, uma vez que este âmbito valoriza o estudo de
D fenômenos sociais de forma positivista e neutra, a partir de
experimentos científicos comprovadamente eficazes para aplicação
comunitária.

A Psicologia Comunitária está associada tanto ao âmbito da


Psicologia Social Clássica quanto ao da Psicologia Socio-histórica,
E
uma vez que ambas estudam a dimensão subjetiva dos fenômenos
sociais e a influência deles na subjetividade humana.

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Parabéns! A alternativa A está correta.

A Psicologia Comunitária faz parte da Psicologia Socio-histórica, uma vez que a


Psicologia Social Clássica não tem a comunidade como objetivo de estudo e não se
preocupa com a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais, assumindo uma
abordagem mais positivista e se dedicando ao estudo experimental de fenômenos
sociais gerais.

Questão 2

Segundo Góis (1990), “a Psicologia Comunitária não é uma extensão da clínica, não
é uma Psicologia na comunidade, bem como também não é uma tecnologia social”.
Seu objeto central seria, então, “o reflexo psíquico da vida comunitária (...) no
psiquismo de seus membros e a potencialização da consciência a partir das
condições de vida da comunidade” (p.100). Diz ainda que a questão central da
Psicologia Comunitária é “o desenvolvimento do indivíduo enquanto sujeito histórico,
social e comunitário (...)”. Assim, de acordo com essa definição, é possível afirmar
com segurança que a Psicologia Comunitária:

Tem uma atuação semelhante à da clínica no que tange ao


atendimento e tratamento de patologias sociais, considerando as
A

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necessidades de cada membro de uma comunidade de forma


individualista.

Possui como foco central a dimensão psíquica da realidade


comunitária e a conscientização geral de seus membros em termos
B
de suas habilidades e competências para transformarem suas
realidades comunitárias.

Ignora questões de ordem subjetiva na comunidade e no sujeito,


valorizando exclusivamente processos comunitários mais
C
generalizados, sem qualquer tipo de intervenção na dinâmica
comunitária.

É uma espécie de tecnologia social voltada para o estudo do


D comportamento social comunitário de forma neutra, sistemática e
científica, sob o viés positivista.

Ignora qualquer tipo de abordagem clínica e terapêutica em suas


E intervenções ao estudar a vida da comunidade e suas consequências
no psiquismo e na conduta social comunitária.

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Parabéns! A alternativa B está correta.

Como explicitado na definição de Góis (1990), a Psicologia Comunitária tem como


foco central o estudo da dimensão subjetiva da comunidade por meio do reflexo
psíquico de seus integrantes. Apesar de não ser uma extensão da Psicologia Clínica,
ela pode sim buscar entender a expressão subjetiva da dinâmica comunitária
mediante práticas terapêuticas em grupo.

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2 - Sistematização teórico-prática da Psicologia Comunitária


Ao final deste módulo, você será capaz de analisar os fatores motivadores do surgimento da Psicologia
Comunitária e seus principais teóricos no Brasil.

A promoção da saúde pela Psicologia


Comunitária

Desafios da atuação em Psicologia Comunitária


O trabalho em Psicologia Comunitária implica atuar junto a diversos movimentos
sociais, nas práticas preventivas e comunitárias da reforma psiquiátrica, nos
movimentos da economia solidária, nas políticas públicas de enfrentamento da
vulnerabilidade social, na promoção do desenvolvimento comunitário, no
desenvolvimento de projetos voltados para a saúde coletiva e sustentabilidade. Dessa
forma, o psicólogo comunitário se propõe a ser um mediador de experiências
comunitárias que sirvam como espaços de crítica e crescimento da consciência dos

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aspectos que promovem lutas sociais. A execução de tais práticas envolve o


enfrentamento de desafios variados tais como:

Trabalho em equipe expand_more

O psicólogo comunitário, ao desenvolver seu planejamento e suas ações


comunitárias, precisa não apenas levar em consideração que não está sozinho,
como também entender que o sucesso dessa atuação depende do trabalho
coletivo de diferentes profissionais de áreas diversas, como médicos,
enfermeiros, assistentes sociais, sociólogos, técnicos, representantes de
múltiplas associações e lideranças comunitárias, muitas vezes relacionadas a
causas, partidos, ideologias e religiões diversificadas. Trata-se de algo muitas
das vezes diferente do que normalmente o profissional de Psicologia foi
acostumado durante a sua formação.

Diante dessa variabilidade de atores, atuando de forma simultânea, o psicólogo


comunitário precisa mostrar o quanto seu trabalho é importante. Em vários
momentos, ele atua como um facilitador e acelerador de processos
comunitários voltados para a solução de problemas, mobilizando seus
integrantes para um profundo entendimento de que a melhoria da qualidade de
vida comunitária depende da mobilização de toda a comunidade.

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Saber ouvir e dialogar expand_more

Para tal, é preciso não apenas se comunicar de forma clara e didática, mas
principalmente saber ouvir; uma escuta ativa que ouve não apenas o que a
comunidade está falando, mas seus desejos, suas angústias, seus traumas,
suas ideologias, enfim tudo aquilo que ajuda a entender a subjetividade
comunitária, e mesmo as psiquês individuais das principais lideranças. É
preciso ter paciência e saber recomeçar muitas vezes, sem falar nos
acirramentos ideológicos e a luta de ego dentro do ambiente comunitário. Será
preciso levar os integrantes a perceber que seu papel não é o de favorecimento
de outro grupo, corrente, partido ou religião e sim a causa comunitária como
um todo, o que é mais simples falar do que fazer, exigindo tempo.

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Atuação temporária expand_more

O trabalho comunitário não é rápido ou estanque. É preciso um tempo para


ganhar a confiança da comunidade, discutir e elaborar projetos, desenvolvê-los
considerando diferentes etapas e manter o fluxo de trabalho. Como sua
atuação na comunidade é temporária e não se pretende criar uma
dependência, o psicólogo comunitário precisa promover lideranças para dar
continuidade ao trabalho em andamento por meio da avaliação e do
aprimoramento contínuos, mesmo depois da sua saída. Por isso, é difícil fazer
previsões de tempo do quanto irá durar o trabalho na comunidade. O que
muitas vezes serve como balizador é o planejamento, mas que também é
afetado por diferentes fatores que vão desde as condições geográficas e
climáticas até questões mais específicas como o desafio da violência, do
tráfico de drogas, da mudança de prioridade e até da falta de verba para
viabilização dos projetos.

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Promoção da saúde expand_more

Independentemente do campo de atuação, a Psicologia pertence à área da


saúde e a sua promoção é uma das grandes preocupações, não sendo a
Psicologia Comunitária uma exceção. A saúde deve ser entendida tal como
definida pela OMS, como promoção do bem-estar físico, mental e social, e não
apenas ausência de doença. A Psicologia Comunitária é uma grande
promotora de saúde enquanto um processo, um estado de bem-estar que
possui diversos condicionantes sociais, sendo necessário agir não apenas
sobre um corpo adoecido, mas também sobre tais condicionantes. Isso se
operacionaliza ao ajudar a comunidade a confiar mais em si e em sua
capacidade de resolver desafios; a fazer uma catarse de seus problemas e
dificuldades, a se apoiar coletivamente por meio de espaços de discussão,
dinâmica de grupo, terapia coletiva, empoderamento, linhas de inclusão e
cuidado e outras práticas interventivas.

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As mudanças que ocorreram na área da saúde priorizando a saúde comunitária


com a criação, em 1994, do Programa de Saúde da Família (PSF) provocaram
uma reorganização do Sistema Único de Saúde (SUS) em atenção básica,
média e de alta complexidade. Essas mudanças permitiram uma atuação ainda
mais intensa e eficaz do psicólogo comunitário atuando junto aos serviços de
estratégia da saúde da família (ESF), aos Núcleos de Atenção à Saúde da
Família (NASF) e aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) voltados para
as práticas de serviços de saúde mental e cuidado da pessoa em sofrimento.

Ao analisarmos a construção social da doença e a visão de impossibilidade de


mudança de condições sociais de vida opressoras, podemos perceber que o
problema não está somente na relação entre saúde e enfermidade. O problema
da saúde não se situa somente na prevenção da doença e no seu tratamento,
mas na construção da pessoa que se assume responsável por sua história e
pela história da comunidade da qual faz parte e que as constrói mediante sua
atividade prática e coletiva de construção da saúde.

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Pesquisa em Psicologia Comunitária

Metodologias de ação e pesquisa em Psicologia


Comunitária
Desde o surgimento da Psicologia Socio-histórica e da Psicologia Comunitária, a
prática da pesquisa sempre foi um desafio. Os métodos de pesquisa clássicos e
positivistas utilizados pela Psicologia Social tradicional não serviam à Psicologia
Comunitária, mais voltada para a transformação social.

A ideia de uma pesquisa neutra,


cartesiana e distanciada do objeto de
estudo era considerada inapropriada para
uma proposta mais interventiva, em que
o psicólogo comunitário pesquisador não
queria abrir mão de suas implicações
naquilo que estava sendo desenvolvido
na comunidade.

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Foi nesse contexto que começaram a ser experimentadas como metodologias de


ação e pesquisa na comunidade as práticas de pesquisa-ação e pesquisa participante,
o que implicava uma ressignificação política da forma de produção de conhecimento,
que rompia com a neutralidade científica e com o próprio distanciamento entre
conhecimento comum e conhecimento científico. Foi nesse sentido que grandes
nomes da Psicologia Comunitária latino-americana tomaram voz: Orlando Fals Borda
começou a utilizar a investigação-ação-participante, e Maritza Monteiro enfatiza o uso
combinado de métodos quantitativos e qualitativos e o envolvimento necessário com
a comunidade. Atualmente, vemos experiências interessantes de metodologia de
pesquisas originadas da Psicologia Ambiental (SPINK, 2007).

Todas essas propostas se constituem em modelos alternativos de pesquisa com o


objetivo de obter resultados socialmente mais relevantes e caracterizados pelo
envolvimento do pesquisador e do pesquisado. Veja as duas propostas de pesquisa
mais utilizadas em Psicologia Comunitária.

Pesquisa participante

A pesquisa participante é definida por Brandão e Streck (2006, p. 43) como “a


metodologia que procura incentivar o desenvolvimento autônomo (autoconfiante) a
partir das bases e uma relativa independência do exterior”. Na pesquisa participante, o
pesquisador não tem um alvo prévio, todos os integrantes da comunidade participam
da escolha de prioridades e busca de soluções. É a população envolvida que identifica,
analisa seus problemas e busca as soluções adequadas.

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Os participantes são detentores do conhecimento produzido e


colaboradores na pesquisa.

Não há modelo único nem uso normativo


da pesquisa participante, ela é um
instrumento dentro da ação popular, o
mediador deve estar atento às decisões e
às necessidades comunitárias a fim de
disponibilizar para a comunidade
instrumentos do seu saber e de sua
profissão (BRANDÃO; STRECK, 2006).

Pesquisa-ação

A pesquisa-ação, além de instigar a participação e o envolvimento da comunidade,


propõe-se, mais especialmente, à resolução de um problema mais direcionado. As
metas são previamente definidas, e a proposta de pesquisa tem uma atuação mais
determinada, ao contrário da pesquisa participante onde não há uma meta predefinida
e o pesquisador não é pesquisado. É o pesquisador quem se apropria dos dados,
tendo que auxiliar a comunidade de uma forma mais direta na resolução de
problemas.

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Vale ressaltar que tanto a pesquisa


participante quanto a pesquisa-ação
podem se utilizar de outras técnicas,
como entrevistas, observação
sistemática e questionários como meios
de informação complementar para
recolher dados de forma estruturada e
que servirão ao desenvolvimento das
propostas de intervenção.

As principais críticas a essas metodologias dizem respeito ao fato de as amostras de


estudo serem em geral restritas e não representativas, ao pouco ou quase nenhum
controle das variáveis independentes e à dificuldade ou mesmo impossibilidade de
generalização de seus resultados, sendo as descobertas e considerações efetivadas
muito restritas ao ambiente em que a pesquisa foi realizada. Essas são críticas
difíceis de serem respondidas, uma vez que, ao contrário dos resultados generalizados
da pesquisa tradicional, são exigidos na Psicologia Comunitária o conhecimento e a
intervenção da ciência em problemas comunitários específicos e situacionais.

Ceder a uma metodologia de pesquisa mais abrangente implica em correr o risco de


se produzir uma pesquisa que pouco auxilie a comunidade no conhecimento de suas
adversidades, assim como a busca de meios para o enfrentamento delas a partir de
seus potenciais.

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Desenvolvimento comunitário

A busca pelo desenvolvimento comunitário


O termo desenvolvimento está associado à ideia de desembrulhar e assim ampliar
algo. Trata-se de um termo polissêmico, ou seja, com vários sentidos, que se faz
presente em muitas áreas, como Economia, Biologia, Sociologia, Antropologia etc.

No âmbito de uma localidade, dizemos


que um lugar se desenvolveu não apenas
quando cresceu economicamente, mas
quando melhorou sua qualidade de vida
como um todo, ampliando seus serviços
de saúde e seus dispositivos de
segurança pública, tendo maior abertura
política, valorização da diversidade
cultural e da sustentabilidade ambiental.

A estratégia de desenvolvimento de determinada localidade é condicionada por sua


história, em que diferentes fases de transformação socioambiental trazem prioridades

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de desenvolvimento. Por isso, não se deve importar planos de desenvolvimento. Cada


sociedade deve definir em termos de desenvolvimento o que quer ser ou aonde quer
chegar (AMAR, 1994 apud CARVALHO, 2006). E isso não se dá de forma estanque. O
desenvolvimento é um processo que envolve um movimento de passagem de um
estado a outro a partir de uma série sucessiva de mudanças com um ritmo próprio a
ser deflagrado por motivos variados tanto externos quanto internos ao local.

Podemos entender a noção de desenvolvimento comunitário como um processo que


decorre do funcionamento integrado de uma série de práticas, atitudes
interdependentes de diferentes ordens como ações culturais, estratégias de economia
popular, modelos alternativos de desenvolvimento. O desenvolvimento comunitário é
resultado de um conjunto interativo de fatores em constante processo de
reelaboração, exigindo uma grande mobilização de recursos e energias tanto internas
quanto externas à comunidade.

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Afirmar que uma comunidade segue rumo a uma perspectiva de desenvolvimento é


afirmar que as pessoas que a constituem, as interações que a promovem, a cultura
que ela produz, os meios econômicos que dispõe e o meio do qual faz parte
encontram-se em processo de desenvolvimento, o que representa um movimento de
avanço em termos de qualidade de vida comunitária em todos os níveis (ambiental,
cultural, econômico, político, social etc.) sem ignorar sua história.

A Psicologia Comunitária é, sem dúvida, um instrumento de


promoção do desenvolvimento comunitário, estimulando práticas
de empoderamento, autogestão e mobilização das interações
sociais como uma soma de esforços em prol da qualidade de vida
e do bem-estar comunitário.

Por natureza, a Psicologia Comunitária visa resolver problemas sociais em vez dos
problemas particulares de cada indivíduo. Em sua maneira de promover intervenções,
preocupa-se com as implicações psicológicas das estruturas sociais, funcionais ou
não, auxiliando seus membros a terem maior consciência de pertencer a determinada
comunidade.

Essa conscientização acaba contribuindo para uma percepção acentuada da realidade


e maior possibilidade de transformá-la para melhor, mobilizando forças sociais,
preservando a memória e elaborando projetos de forma conjunta em prol do
desenvolvimento local. Como afirma Maritza Montero (2004), a Psicologia
Comunitária é, antes de tudo, uma Psicologia da ação para a mudança, na qual os

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atores principais são as pessoas comuns que possuem uma história e vivem seu
cotidiano. O psicólogo é um facilitador e não o agente dessa mudança.

Mediante uma prática coletiva de


cooperação e após o trabalho de
Psicologia Comunitária, os moradores
passam a ter uma consciência mais
aprofundada de sua realidade histórico-
social e, assim, adotam uma atitude mais
crítica da realidade que se reflete em
diferentes dimensões do
desenvolvimento comunitário.

Suas práticas passam a ter sentido para eles mesmos e para os


demais.

O resultado dessa transformação interna


contagiante é que ela se converte em
uma força mobilizadora de processos de
transformação social voltados para
melhoria e bem-estar em diferentes
níveis (ativos e preventivos) que estão
diretamente associados ao estímulo do
desenvolvimento comunitário.
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A partir daí, é necessário examinar profundamente a realidade que se tem e aonde se


quer chegar; considerar forças (como mobilização social, diversidade cultural,
biodiversidade local etc.) e fraquezas (problemas de saúde, higiene, segurança etc.,
formular estratégias, desenvolver projetos, estabelecer parcerias e criar indicadores
que favoreçam a avaliação contínua dos processos de desenvolvimento.

Como a Psicologia Comunitária auxilia na


video_library promoção do desenvolvimento comunitário
Neste vídeo, o especialista analisa os diversos mecanismos e estratégias usadas pela
Psicologia Comunitária na promoção do desenvolvimento comunitário.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

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Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

No âmbito do desenvolvimento comunitário, não devemos nos importar com planos


de desenvolvimento externos, ainda que tenham sido bem-sucedidos em outras
localidades. Por que isso ocorre?

A estratégia de desenvolvimento de uma localidade é condicionada


A por seu contexto socio-histórico, não sendo compatível a importação
de modelos.

Porque o processo de importação de modelos de desenvolvimento e


B sua adaptação acabam sendo mais demorados e onerosos do que a
criação de modelos próprios de desenvolvimento.

Porque a importação de modelos de desenvolvimento, dependendo


C
da localidade, não é viável do ponto de vista legal, sendo proibitivo.

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A importação de modelos de desenvolvimento implica um processo


de pesquisa-ação muito complexo, ainda que favoreça uma maior
D
mobilização social do que a construção de modelos de
desenvolvimento local.

Não há garantia técnico-científica que a importação de modelos de


E desenvolvimento venha a funcionar, o que acaba gerando
insegurança por parte da comunidade.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A importação de modelos de desenvolvimento é sempre um risco,


independentemente de terem sido ou não bem-sucedidos. Não há impedimentos
legais nesse tipo de importação, nem se pode garantir que a implantação de um
modelo importado será mais onerosa que a elaboração de um modelo de
desenvolvimento local. O desafio envolvido no âmbito da importação é outro. Cada
realidade comunitária é forjada a partir de diferentes e complexas características,
sendo muito improvável que um modelo de desenvolvimento local se adeque a outra
localidade comunitária.

Questão 2

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As metodologias de pesquisa tradicionais não se adequam às motivações da


Psicologia Comunitária comprometida, não apenas com o estudo de determinados
processos comunitários, mas com a realização de intervenções voltadas para o
desenvolvimento e o bem-estar comunitário. Por conta disso, os modelos
alternativos de pesquisa, tais como a pesquisa-ação e a pesquisa participante, são
os mais adotados quando se pensa em pesquisa no âmbito da Psicologia
Comunitária. Sobre esses modelos, é correto afirmar que

apesar do uso de termos diferenciados, não há diferenças entre a


A
pesquisa-ação e a pesquisa-participante.

a pesquisa-ação é mais eficaz em projetos de Psicologia


B
Comunitária do que a pesquisa participante.

a pesquisa-ação envolve o estabelecimento de metas previamente


C determinadas, ao contrário da pesquisa participante, em que tais
metas são elaboradas com a participação de toda a comunidade.

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na pesquisa-ação, o pesquisador não tem uma ação destinada à


D resolução de um problema, como se dá no âmbito da pesquisa
participante.

toda pesquisa participante é um tipo de pesquisa-ação, mas nem


E
toda pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Indubitavelmente, existem diferenças entre as duas metodologias que vão muito


além da terminologia. Em geral, toda pesquisa-ação é uma pesquisa participante,
mas não o oposto. Na pesquisa-ação, o pesquisador tem o compromisso com uma
ação determinada voltada para a resolução de uma demanda predeterminada, em
oposição à pesquisa participante, em que não se parte de metas predefinidas e
todas as decisões são tomadas pela comunidade. Não existindo em termos de
eficiência diferenças entre os dois tipos de metodologia, tudo dependerá da
complexidade de fatores e principalmente da mobilização comunitária.

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3 - Fenômenos sociais da Psicologia Comunitária


Ao final deste módulo, você será capaz de examinar os principais fenômenos psicossociais estudados pela
Psicologia Comunitária.

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Representações sociais

A teoria das representações sociais


A teoria das representações sociais foi proposta, na década de 1950, por Serge
Moscovici, psicólogo social romeno radicado na França, com base no conceito de
Representações Coletivas de Émile Durkheim, fundador da Escola Francesa de
Sociologia. As representações coletivas diziam respeito às maneiras de uma
sociedade sentir, pensar e agir coletivamente, em oposição à ideia de representações
individuais.

Moscovici (2004) foi o primeiro a usar o termo “representações sociais”. Segundo ele,
é na interação com os seus pares que os indivíduos promovem suas trocas
simbólicas, influenciando a formação de conhecimentos e práticas partilhadas e
cultivadas: a cultura. Tais conhecimentos e práticas são elaborados e partilhados pela
sociedade por meio das representações de distintos grupos sociais que acabam
sendo considerados de senso comum ou naturais dentro de uma comunidade.

A representação social se relaciona à forma de os sujeitos sociais


avaliarem um objeto e construírem nele um significado.
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Esse significado passa a ser reproduzido e compartilhado pelo grupo, atuando no


senso comum e se tornando uma regra aceita como verdade. Um dos principais
objetivos das representações sociais, podemos conferir a seguir:

(...) tornar familiar algo até então desconhecido, possibilitando a


classificação, categorização e nomeação de ideias e
acontecimentos inéditos, com os quais não havíamos ainda nos
deparado. Tal processo permite a compreensão, manipulação e
interiorização do novo, juntando-o a valores, ideias e teorias já
assimiladas, preexistentes e aceitas pela sociedade.

(MOSCOVICI, 1978 apud MORAES et al., 2014, p. 3)

Com base nessa afirmação, compreende-se que as representações sociais são


construídas a partir de uma interpretação grupal acerca de fenômenos do cotidiano.
São conhecimentos desenvolvidos na tentativa de assimilar o que é estranho e, a
partir disso, construímos mecanismos para entender o que se apresenta. No entanto,
esses conhecimentos são baseados no senso comum.

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Para Moscovici (2004), as representações apresentam duas funções. Veja a seguir:

1. Convencionar objetos, pessoas e acontecimentos, dando-lhes uma forma


aceitável e definitiva, como uma espécie de adequação desses elementos ao
entendível pela comunidade, ainda que tal adequação seja inverídica ou
inadequada; e

2. Prescrever ideias e pensamentos como uma espécie de verdade, muitas vezes


ancorada em uma tradição comunitária.

Moscovici (2004) esclarece ainda que existem dois processos formadores das
representações sociais. Confira:

Ancoragem expand_more

Processo de transformar algo estranho e perturbador em algo comum, familiar,


já que o desconhecido é perturbador. Um exemplo claro foi o que ocorreu com
o advento da AIDS, que, quando surgiu, diante da dificuldade de entendê-la e
classificá-la, foi ancorada pelo senso comum como a “peste gay”, a qual só
aconteceria com eles. Essa foi a maneira encontrada para encaixar, de alguma
forma, o não familiar, dando conta da ameaça que a AIDS trazia.

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Objetivação expand_more

Processo mediante o qual um conceito ou uma noção abstrata ganha forma e


se torna concreta por meio de imagens ou ideias. Um exemplo seria a ideia de
Deus associada objetivamente à ideia de pai. A simples menção dessa
associação permite objetivar de uma forma concreta a ideia de Deus.

A Importância das representações sociais


Para Denise Jodelet (2001), uma das expoentes nos estudos das representações
sociais, a cultura é um elemento fundamental para a construção das representações
sociais, e o modo como elas são elaboradas e partilhadas socialmente favorece a
construção de uma realidade comum.

A importância do conhecimento das representações sociais para a Psicologia


Comunitária é que ele permite entender a subjetividade comunitária a partir de suas
formas de pensar e elaborar a realidade, especialmente o novo e o desconhecido. A
análise das representações sociais de uma comunidade permite ao psicólogo
comunitário entender as diferentes formas de comunicação, desenvolvimento

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comunitário, engajamento social e elaboração cultural, essenciais para o trabalho que


será desenvolvido.

Determinadas representações muitas vezes estão associadas a preconceitos,


estigmas e influências da mídia, sendo extremamente equivocadas e prejudiciais ao
bem-estar comunitário. Ajudar os membros da comunidade a entender esses
processos e os esquemas de ancoragem e objetivação que os criaram é fundamental
para a promoção de transformações sociais.

Estigmas, estereótipos e preconceitos


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Definições importantes

Para pensar o tema do estigma e do preconceito no âmbito comunitário, é necessário


entender primeiro a que esses conceitos se referem. Assim, vamos inicialmente tentar
defini-los, inclusive acrescentando outro termo muito associado a eles, que é o
estereótipo.

O estereótipo diz respeito a crenças


generalizadas a propósito de
características, atributos e
comportamentos dos membros de
determinado grupo. São formas rígidas e
generalizadas de pensar que resultam
em processos de simplificação e
generalização a todos os elementos de
um grupo. Dessa forma, o estereótipo
oferece uma imagem resumida de um
grupo ou de seus integrantes.

Os estereótipos são utilizados como formas de categorização social que permitem


entender rapidamente determinado grupo social. Vejamos alguns exemplos:

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Nerds;

Esportistas

Negros;

Índios;

Socialistas.

Ao nos referirmos a alguma dessas categorias, associamos a elas uma série de


características genéricas e é aí que “mora o problema”.

Assim que pensamos nos índios, por exemplo, imaginamos alguém vestido com
cocares, tangas, penas coloridas e algum tipo de acessório na boca. A questão é que
existem médicos, deputados, engenheiros que também são índios e no dia a dia não
se vestem dessa forma. Assim, ao generalizar, empobrecemos aquele grupo e por
vezes o deturpamos, ignorando as diferenças internas e externas.

Se considerarmos os estudantes, por exemplo, apesar de algumas características


semelhantes, os estudantes de Psicologia são diferentes dos de Matemática, que, por
sua vez, diferem dos de Medicina em termos de rotina, visão de mundo, conversa etc.

O preconceito, por sua vez, distingue-se


do estereótipo porque não se limita a
atribuir características a determinado
grupo, mas envolve uma avaliação
frequentemente negativa. Trata-se de um

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pré-julgamento relativo a grupos ou


pessoas. Os estereótipos podem ser
positivos ou negativos. Veja a seguir dois
exemplos:

Positivo Negativo
Paulistas são trabalhadores, cariocas são Baianos são preguiçosos, mulheres não
divertidos sabem dirigir.

O estigma tem duas interpretações; a primeira diz respeito às consequências do


preconceito, ou seja, as marcas deixadas por esse tipo de pré-julgamento negativo,
que vão da exclusão e cancelamento até a violência física e simbólica.

Outra interpretação diz respeito à ideia de sinais estigmatizantes que levam a


estereótipos e preconceitos. Tais sinais se referem a qualquer tipo de marca
identitária que sinalizaria um tipo de padrão, comportamento ou crença diferente do
normatizado socialmente. Ex.: corte de cabelo punk; uma roupa curta demais para
determinado grupo; tatuagens; comportamento etc.

Esses sinais ou serão utilizados abertamente como forma de enfrentamento e


marcação de espaço, ou serão encobertos para garantia de uma aceitação social. A
estigmatização seria uma desaprovação radical, uma valoração extremamente
negativa dessas características pelo fato de irem contra o “normal” estabelecido.

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As estruturações comunitárias equivocadas

Agora que entendemos cada um desses termos, vejamos como eles se aplicam à
Psicologia Comunitária. Preconceito, estereótipos e estigmas são estudados tanto
pela Psicologia Social Clássica, quanto pela Psicologia Socio-histórica. A diferença é
que a segunda - na qual a Psicologia Comunitária se insere - não se conforma apenas
com a identificação desses processos, mas com a possibilidade de realizar
intervenções comunitárias que denunciem o quanto eles prejudicam a comunidade,
desvalorizando sua diversidade e impedindo que ela se fortaleça incluindo, ao invés de
excluir, pessoas por suas características ou escolhas.

Preconceitos, estigmas e estereótipos são processos que acabam


servindo a uma estruturação comunitária equivocada e
excludente. São inferências arbitrárias, ilógicas, resistentes a
mudança e geradoras de representações sociais negativas.

Eles são combatidos pela Psicologia Comunitária por limitarem a capacidade de


percepção da comunidade e sua riqueza em termos de diversidade; por gerarem
tensões sociais acirradas e desnecessárias; pois ignoram o seu efeito destrutivo nas
vítimas (prejudicando inclusive seu autoconceito) e na própria comunidade (que passa
a excluir ao invés de incluir, que passa a descartar seus valores e sua diversidade ao
invés de valorizá-los e utilizá-los como alavanca para seu desenvolvimento).

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Mediante de dinâmicas comunitárias, oficinas, palestras com as lideranças locais,


discussões em grupo, produções artísticas e outras ferramentas, o psicólogo
comunitário pode ajudar a comunidade a entender os riscos desses processos que
não se resumem a ideias e avaliações, mas a ações excludentes e violentas que só
servem para prejudicar a comunidade.

Autogestão

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Autogestão e Psicologia Comunitária


Para entender a autogestão como um dos principais objetivos da Psicologia
Comunitária, é preciso entender como a comunidade era pensada antes e depois da
atuação da Psicologia Comunitária. Por conceito da Sociologia, a comunidade era
entendida consensualmente como uma associação constituída de sujeitos
relativamente homogêneos que dividiam valores em comum e que, por meio de
diferentes agenciamentos socioculturais, encontrou um lugar de convívio social
entendendo o Estado como provedor maior de suas demandas.

A resolução de problemas e a busca de soluções em termos de mobilização


comunitária se resumiam aos esforços entre povo e autoridade governamental para
melhorar suas condições de vida e favorecer seu desenvolvimento dentro daquela
área geográfica delimitada.

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A partir dos anos 1980, particularmente com o movimento de contestação promovido


pela Psicologia Comunitária, os moradores desses espaços socialmente organizados
passaram a ser considerados agentes ativos de transformação política e social e não
mais sujeitos dependentes que simplesmente se organizavam para apenas cobrar que
uma força externa pudesse resolver seus problemas.

Não é que o Estado não tivesse esse


papel ou que como cidadãos os
moradores não tivessem esse direito,
mas se fazia necessário tomar a
comunidade nas mãos como algo que
pertencia aos seus integrantes, devendo
estes assumir as rédeas do processo de

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transformação ao invés de aguardar que


o governo fizesse algo.

Em outras palavras, a comunidade foi conhecendo melhor sua força política e seu
papel na gestão, ou melhor, na autogestão dos processos e interesses comunitários.
Ela foi descobrindo que nem tudo poderia ser delegado às autoridades
governamentais, sendo fundamental o entendimento de que, independentemente da
atuação estatal, a busca de soluções deveria partir dos próprios membros da
comunidade. Isso é a autogestão.

A Psicologia Comunitária, desde o seu início, sempre entendeu a autogestão como um


dos objetivos centrais a ser alcançado pelas comunidades de forma que os indivíduos
produzam e controlem as mudanças necessárias no seu ambiente (MONTERO, 1996).

A autogestão se dá quando a comunidade se ocupa dos seus


próprios problemas e se organiza para resolvê-los, desenvolvendo
seus próprios recursos e potencialidades e utilizando os alheios.

Essa noção exclui toda ideia de paternalismo, cujos efeitos são contrários ao conceito
de desenvolvimento comunitário. Em outras palavras, a filosofia da autogestão aponta
para a necessidade de que a comunidade deva assumir autodeterminação e ser
autogestora dos processos necessários para a sobrevivência da comunidade (BORDA
apud MONTERO, 2004).

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A comunidade precisa se organizar,


mobilizar-se, entender suas forças e
fraquezas e vencer suas contradições e
conflitos próprios. Promover autogestão
não é uma tarefa fácil. A comunidade,
especialmente suas lideranças, precisa
entender que isso não é apenas possível,
mas necessário para o seu
desenvolvimento como um todo.

Certos tipos de conflito não ativam a produção de diferentes circuitos de efetivação e


elevação da potência da comunidade, mas apenas confirmam e preservam as formas
engessadas que se chocam entre si, encarnadas nas figuras do opressor e do
oprimido. O psicólogo comunitário é um facilitador de processos, auxiliando a
comunidade a lidar com seus próprios conflitos e a reconhecer tudo que pode
atrapalhar o processo autogestionado advindo tanto de agentes internos quanto
externos, como podemos ver nos exemplos a seguir:

Agentes internos Agentes externos

Desesperança e Paternalismo
submissão
Imposição
Preconceitos e falta de
Preconceito
iniciativa
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Relações pessoais Etnocentrismo


conflitivas close
Incapacidade de planejar
futuro

Condições
socioeconômicas
adversas

Autogestão e empoderamento na Psicologia


video_library Comunitária
Neste vídeo, o especialista reflete sobre mecanismos e estratégias usadas pela
Psicologia Comunitária na promoção de autogestão e empoderamento.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Preconceito, estereótipos e estigmas são estudados tanto pela Psicologia Social


Clássica quanto pela Psicologia Socio-histórica, na qual a Psicologia Comunitária se
insere. Mas qual seriam as principais diferenças entre ambas no que diz respeito a
esses processos sociais?

A Psicologia Comunitária, diferentemente da Psicologia Social


Clássica, não pretende apenas estudar esses processos, e sim
A realizar intervenções comunitárias que conscientizem e denunciem
os males causados por eles em termos de divisão, exclusão e
retrocesso.

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A Psicologia Social Clássica, diferentemente da Psicologia


Comunitária, visa não apenas ao estudo ou à pesquisa desses
B processos em laboratório, mas ainda à realização de intervenções
comunitárias capazes de extirpar gradativamente tais processos da
comunidade, buscando entender sua origem e consequências
sociais.

A Psicologia Comunitária identifica tais processos e só faz


intervenções se eles não estiverem integrados na cultura
C comunitária, uma vez que respeita e valoriza tal cultura, enquanto a
Psicologia Social Clássica identifica tais processos, mas em
nenhuma hipótese realiza algum tipo de intervenção.

A Psicologia Comunitária não se preocupa com esses processos


sociais, e sim com suas consequências, visando remediá-las,
D enquanto a Psicologia Social Clássica busca não apenas entender a
origem cognitiva de tais processos, mas também contribuir com
ações práticas para que eles desapareçam gradativamente.

A Psicologia Social Clássica tem ferramentas mais eficazes para o


enfrentamento desses processos sociais negativos do que a
E

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Psicologia Comunitária, que só conta com o diálogo e a psicoterapia


para realizar intervenções comunitárias nesse sentido.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A Psicologia Comunitária visa à realização de intervenções comunitárias capazes de


extirpar gradativamente os processos da comunidade, buscando entender sua
origem e suas consequências sociais. A Psicologia Comunitária tenta – por meio de
práticas como palestras, dinâmicas de grupo, desenvolvimento de projetos, análise
de representações sociais, empoderamento etc. – entender a origem desses
processos no âmbito subjetivo e encontrar formas de enfrentamento deles,
demonstrando o quanto representam um atraso ao desenvolvimento comunitário e
um crime contra a humanidade.

Questão 2

Um dos papéis da Psicologia Comunitária é o empoderamento (empowerment) de


seus integrantes. Seu trabalho contribuiu para mudar a concepção que tínhamos de
uma comunidade e que ela tinha de si mesma, o que foi essencial para a
implementação de processos autogestionários. Dentre as opções a seguir, assinale
aquela que melhor reflete essa mudança de concepção:

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O processo de isolamento da comunidade, pois, uma vez


A
empoderados e conscientes de seu potencial, seus membros
buscavam melhores condições, fechando-se para o diálogo com
outras localidades, o que ajudou na formação de guetos, facilitando
o processo autogestionário.

A adoção de princípios socialistas e abandono radical de práticas


capitalistas que desvalorizavam a cultura local em prol da
B
globalização, o que comprometia sensivelmente o estímulo ao
desenvolvimento comunitário.

O fim da dependência do Estado, uma vez que, como membros de


uma comunidade autogestionária, não havia mais necessidade de
C
cobrar nenhum tipo de direito ou dever, não devendo o Estado se
intrometer na dinâmica comunitária.

O exercício de sua cidadania de uma forma mais equilibrada,


passando de uma atitude neutra de quem nada fazia para uma
D
atitude mais ativa, que passou a cobrar do Estado a resolução de
graves problemas comunitários.

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A concepção de seus integrantes em relação a si mesmos, passando


E de uma concepção passiva de quem pouco se organizava para
cobrar ou cobrava apenas ao Estado transferindo-lhe toda a
responsabilidade pela melhoria comunitária, para um grupo ativo e
comprometido em mudar sua comunidade.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A grande mudança a que a questão se refere diz respeito à nova concepção


assumida que rompe com uma concepção passiva. Assim, o próprio membro da
comunidade busca mudar o seu entorno de forma autogestionária. O
desenvolvimento de processos de empoderamento e autogestão comunitária não
resultam em isolamento, pelo contrário, se bem desenvolvidos, estimulam a
autoconfiança necessária para que os integrantes da comunidade possam se
relacionar com outras comunidades, fazer negócios, dividir sua cultura e fortalecer
seu processo de desenvolvimento.

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4 - Comunidade, cidadania e direitos humanos


Ao final deste módulo, você será capaz de refletir sobre o papel da Psicologia Social no âmbito das relações entre
cidadania, comunidade e direitos humanos

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Comunidade e dinâmica comunitária

Entendendo o conceito de comunidade


“Comunidade” é proveniente da ideia de uma “comum unidade”, ou seja, de um
conjunto de pessoas que tem ideias, práticas e vivências em comum. Podemos
associar a comunidade ainda a um conjunto de grupos e um conjunto de
comunidades a uma sociedade.

Quando o homem abandonou a vida


nômade para junto com outros
semelhantes partilhar uma forma de viver
coletiva, ele desenvolveu métodos e
habilidades que lhe permitiram uma
melhor adaptação ao mundo a sua volta,
passando a ter um maior controle da vida
em geral por meio de atividades
cooperativas e organizadas.

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Nos séculos VI e VII a.C., os gregos já concebiam a polis como uma comunidade, ou
seja, como um âmbito de encontro interpessoal, diálogos e celebrações. A polis não
reunia pessoas apenas pelo nascimento, mas principalmente pelo anseio de uma vida
melhor. Diversos elementos valorizados na polis, como a identidade pessoal e o
interesse coletivo, ainda podem ser encontrados atualmente, nas definições mais
recentes de comunidade.

Mais tarde, a polis foi substituída pela


urbe romana, que tinha características
opostas. Ela era marcada pela identidade
jurídica, levando os cidadãos a não se
reconhecerem mais uns aos outros. As
primeiras cidades medievais surgidas no
século XI seguiram a configuração das
urbes locais de intercâmbio comercial e
interpessoais mais distanciadas.

Com o surgimento das grandes metrópoles e alta concentração de habitantes por


metro quadrado, o ambiente rural passou a ser identificado como um espaço
comunitário. O conceito de comunidade por muito tempo foi associado à ideia de um
grupo de pessoas que reside na mesma área geográfica e compartilha um modo de
vida e uma cultura – em geral vizinhos e familiares.

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Atualmente, o termo comunidade pode representar áreas de


pessoas com vulnerabilidade social, mas também um grupo de
pessoas que compartilham algo em comum, como uma história,
um objetivo, determinada área geográfica ou práticas comuns,
como as comunidades quilombolas, as comunidades virtuais e as
comunidades escolares.

De acordo com renomados sociólogos, os laços que prevalecem em uma comunidade,


além das tradições, são mais de ordem afetiva, emocional e solidária.

Na primeira fase da Revolução Industrial, surge o que o sociólogo Robert Nisbet


(1973) chamava de “Nostalgia de Comunidade”, ou seja, um sentimento associado a
lembranças e desejos de viver em um lugar maravilhoso, tranquilo, de relações mais
simples entre as pessoas e a natureza, que foi perdido com o progresso (NISBET apud
ROCHA, 2012). Para Nisbet, a busca por essa vida comunitária mais simples marca
todo o pensamento do século XIX e boa parte do século XX, quando esse ideal emerge
com a ideia de libertação do homem, relacionada à valorização das suas origens e da
vida em uma comunidade mais igualitária e utópica – inclusive algumas experiências
foram tentadas.

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Qualquer definição mais completa do que seja uma comunidade precisa considerar,
além de seus aspectos territoriais (localidade física), seus diferentes aspectos
psicossociais (sistema de relações, comportamentos, atitudes e hábitos sociais),
políticos (lutas de poder, contradições e conflitos internos), culturais (materiais e não
materiais) e éticos (ideais e valores). Quanto melhor forem estudados esses
elementos no trabalho de campo, mais próxima da realidade será a definição da
comunidade sob investigação.

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Cidadania, conscientização e
empoderamento

O exercício da cidadania na comunidade


A cidadania diz respeito à qualidade de ser cidadão e, consequentemente, sujeito de
direitos e deveres. Entretanto, especialmente no que concerne aos direitos, muitos
deles precisam ser conquistados. Se não lutarmos por nossos direitos, eles não
passarão de um texto da Constituição ou de outras legislações estaduais e municipais
que não saíram do papel. Tão antiga quanto a vida em sociedade é a luta por direitos
que nos permitam viver com outras pessoas com um mínimo de dignidade e
qualidade de vida.

Cidadania e democracia são termos que caminham juntos. Chauí e Santos (2013)
mostram a distância entre a democracia de discurso e a democracia praticada. Na
verdade, a caracterização capitalista do Brasil se mostra pela constituição autoritária e
hierarquizada de nossa sociedade, em que os direitos do homem e do cidadão
simplesmente não existem, pois são dispensados pela elite, já que ela não precisa de
maiores direitos graças aos privilégios que detém.

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A verdade é que o Estado, na figura das


instituições e das pessoas que ocupam o
poder, será efetivamente mobilizado na
direção do aprimoramento da condição
social coletiva, a partir das ações
organizadas dos membros dessa
sociedade. Daí a importância do
processo participativo pelo qual a
cidadania organizada faz prevalecer o
coletivo sobre o individual.

A Psicologia Comunitária emerge de uma psicologia preocupada com a cidadania e


tem se constituído ao longo das últimas décadas a partir de um esforço de
intervenção com os diversos grupos sociais.

A comunidade coloca-se para a Psicologia Comunitária como instância de construção


coletiva e consciente da realidade, em que os indivíduos têm espaço assegurado de
participação e expressão de suas posições. Nesse espaço de intimidade, a pessoa é
reconhecida e confirmada em sua identidade e como pertinente à comunidade, que
garante a “proteção da individualidade frente à natureza e à sociedade” (GÓIS, 2005, p.
61).

Promovendo a conscientização contra a


alienação, o empoderamento e a
mobilização social, a Psicologia

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Comunitária estimula o exercício de uma


cidadania ativa, consciente e crítica que
busca a melhoria das condições
sociocomunitárias para todos os que
dela fazem parte.

De forma autogestora, a comunidade conhece suas forças e fraquezas, reconhece


oportunidades e luta em conjunto para que o acesso a direitos essenciais seja uma
regra e não uma exceção.

A Psicologia Comunitária auxilia em uma compreensão comunitária mais próxima da


realidade, levando em consideração as particularidades de seus integrantes, seus
conflitos, suas inquietações, seus desejos e sonhos que se concretizam no exercício
cidadão. Não existem receitas ou fórmulas prontas, cada comunidade é única, tendo
objetivos próprios e desafios diferenciados (CARVALHO, 2006). A busca da cidadania
é conquista e, como tal, implica participação, processo coletivizante que recebe
múltiplas influências de acordo com cada dinâmica comunitária.

Direitos humanos, direitos individuais e

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coletivos

Direitos humanos na comunidade


A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada em 1948, na
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), uma instituição surgida
em 1945, após os horrores da II Grande Guerra com quatro objetivos principais:
manter a paz e a segurança internacionais, fomentar a amizade e as boas relações
entre as nações, defender a cooperação como solução para os problemas
internacionais e o desenvolvimento dos direitos humanos da população mundial.

O respeito aos direitos humanos deveria


ser algo cultivado em todas as profissões
desde o período inicial de sua formação
profissional até o último dia do exercício
dos profissionais formados. Para a
Psicologia, segundo os princípios do
nosso Código de Ética, esse tema
sempre mereceu grande atenção e
preocupação.

Vejamos a seguir como está escrito no Código de Ética:

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Primeiro princípio Segundo princípio

“O psicólogo baseará o seu “O psicólogo trabalhará


trabalho no respeito e na visando promover a saúde e a
promoção da liberdade, da qualidade de vida das pessoas
dignidade, da igualdade e da e das coletividades e
integridade do ser humano, arrow_forward contribuirá para a eliminação
apoiado nos valores que de quaisquer formas de
embasam a Declaração negligência, discriminação,
Universal dos Direitos exploração, violência,
Humanos”. crueldade e opressão”.

Note como esses princípios estão afinados a promoção, defesa e exercício dos
direitos humanos. Não é sem motivo que a formação do psicólogo é atravessada
constantemente por esse tema.

A Psicologia Comunitária, por sua vocação de auxiliar a comunidade em processos de


empoderamento, autogestão, conscientização, desenvolvimento, sustentabilidade e
mobilização, sempre se preocupou com os direitos humanos e sua aplicação no
âmbito comunitário, inclusive esclarecendo as tensões entre direito individual e
coletivo.

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A Declaração Universal dos Direitos do Homem enxerga apenas


dois sujeitos de direito: o indivíduo e o Estado. Os grupos e povos
que têm uma identificação coletiva, embora não formalmente
como Estado, não foram contemplados pelos direitos humanos na
sua definição prevalecente.

A classificação sobre quais eram os sujeitos de direito foi revista a partir das pressões
de movimentos sociais ao trazerem o debate em torno dos direitos coletivos. Como
esclarecem Chauí e Santos (2003), certas opressões, que não podiam ser entendidas
a partir do cânone do sujeito individual diante do Estado, só foram reconhecidas
tardiamente – questão de gênero, raça etc. Um exemplo disso é a autodeterminação
dos povos indígenas ser reconhecida pela ONU apenas em 2007, com a Declaração
das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

O universalismo dos direitos humanos


está fundamentado no princípio de
igualdade que está limitada à esfera
jurídico-política. Esse paradigma da
igualdade foi contestado pelos grupos
sociais minoritários ao afirmarem as
diferenças como também detentoras do
direito de existirem como grupos
possuidores de dignidade.

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Assim, foi ganhando força a luta pelo reconhecimento da diferença, do respeito às


manifestações culturais e histórico-sociais que estavam à parte do padrão dominante
presente nas comunidades, sem que fossem assimiladas por ela, o que acabou por
promover as políticas de ações afirmativas, ou seja, políticas que visavam à igualdade
e justiça social, valorizando tratamento desigual aos desiguais e denunciando as
falhas na legislação de orientação universalista.

Cada comunidade é ímpar e deve ser valorizada sob vários vieses: cultural, social,
político, econômico, sustentável etc. mediante políticas que contemplem essas
diferenças. Os direitos individuais e coletivos devem dialogar considerando a realidade
comunitária e suas dimensões, algo que o psicólogo comunitário pode contribuir
sensivelmente oferecendo oportunidades psicossociais de troca e mobilização social
para que isso aconteça.

Qual seria a importância da comunidade


video_library para a Psicologia Comunitária?
Neste vídeo, o especialista reflete sobre a importância da comunidade para a
Psicologia Comunitária.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Em função de sua própria natureza, a Psicologia Comunitária sempre se preocupou


com os direitos humanos e garantia deles no âmbito comunitário. Entretanto, existe
uma contestação importante feita pela Psicologia Comunitária a eles no que
concerne à luta por direitos individuais e coletivos. A que essa contestação se
refere?

À realidade de que poucas lideranças e membros de uma


comunidade se sentem mobilizados a participar de causas
A
relacionadas aos direitos humanos, uma vez que entendem que eles
não se aplicam à dinâmica comunitária.

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B À ausência dos direitos comunitários na lista de direitos humanos,


sendo a comunidade uma completa esquecida na luta por eles.

Ao fato de a realidade comunitária ser carente demais para que o


alcance de boa parte dos direitos humanos seja possível nela, sendo
C
a luta por esses direitos uma grande perda de tempo movida por
uma utopia.

Ao fato de que a luta pelos direitos humanos está ultrapassada, pois


grande parte dos direitos a ela associados já foram obtidos,
D
enquanto os novos direitos, como o acesso às informações no
mundo digital, não fazem parte deles.

Ao paradigma da igualdade associado ao universalismo dos direitos


humanos, uma vez que este não se coaduna com os direitos
E
específicos de cada comunidade e suas características particulares,
correndo o risco de atendimento a generalizações.

Parabéns! A alternativa E está correta.

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A contestação se refere ao respeito ao universalismo dos direitos humanos


fundamentado no paradigma da igualdade, o qual foi contestado por grupos sociais
minoritários e associações comunitárias. Progressivamente, foi ganhando força a
luta pelo reconhecimento da diferença, do respeito às manifestações culturais e
sociais que estavam à parte do padrão dominante presente nas comunidades.
Assim, cada realidade comunitária é ímpar e suas diferentes características e
dimensões devem ser levadas em consideração.

Questão 2

Na primeira fase da Revolução Industrial surge o que o sociólogo Robert Nisbet


(1973) chamava de “Nostalgia de Comunidade”. A que esse importante conceito se
refere?

À realidade de uma comunidade que vive um sentimento de


A saudosismo do passado em função das muitas transformações que
ela teria sofrido em seu processo de desenvolvimento.

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À mágoa de grande parte dos membros da comunidade por esta não


ter cultivado suas tradições, importando toda sorte de elementos
B
culturais externos que alteraram a dinâmica sociocomunitária,
dificultando a criação de novos vínculos sociais com ela.

Ao ideal que emerge da ideia de libertação do homem relacionada à


valorização das suas origens e vida em uma comunidade mais
C
simples, igualitária e utópica, onde seus membros teriam relações
mais próximas e sua sustentação seria autogestionada.

À saudade e ao desejo de retorno de muitos membros de uma


comunidade em relação à sua comunidade de origem, uma vez que
D
muitas comunidades são formadas de integrantes oriundos de locais
bem distantes de suas moradias.

Ao desejo da polis grega substituída pela urbs romana, uma vez que
as relações na polis eram mais próximas e a vida mais farta, não
E
havendo nenhum tipo de conflito interno significativo e a paz era
dominante.

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Parabéns! A alternativa C está correta.

O conceito a que o sociólogo Robert Nisbet se refere diz respeito a um sentimento


associado a lembranças e desejos de viver em um lugar maravilhoso, tranquilo, de
relações mais simples entre as pessoas e a natureza, que foi perdido com o
progresso. Trata-se de um ideal que emerge com a ideia de libertação do homem
relacionada à valorização das suas origens e vida em uma comunidade mais
igualitária e utópica – inclusive algumas experiências foram tentadas no século XX.

Considerações finais
Como vimos, a Psicologia Comunitária é uma área relativamente nova de atuação da
Psicologia na área de Psicologia Social, nascida da necessidade de promover uma
relação mais próxima, afetiva e efetiva de contato entre a Psicologia e as carências da
população comunitária, não apenas por estudos teóricos distanciados sobre
processos generalistas, mas por meio de intervenções diretas, auxiliando os membros

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de uma comunidade a enxergarem melhor seus valores e o valor da localidade que


escolheram para viver.

Conhecendo melhor a subjetividade humana do que outros profissionais e entendendo


que ela é afetada diretamente pelas relações socioambientais, o psicólogo
comunitário se propõe a contribuir para o desenvolvimento da comunidade, ouvindo e
respeitando-a, compartilhando saberes e estimulando-a a descobrir seus potenciais e
suas fraquezas e a assumir de forma autogestionada a resolução de problemas e
desafios do cotidiano.

headset Podcast
O especialista reflete sobre a Psicologia Comunitária, sua importância, assim como
sobre os desafios do psicólogo comunitário no âmbito da saúde, do desenvolvimento,
da sustentabilidade e da cidadania comunitária.

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Assista ao documentário Noivas do Cordeiro, disponível no YouTube, e entenda
melhor o que é uma comunidade e a força dela na construção de práticas de
resistência e sobrevivência que levaram as mulheres (de maioria absoluta) a
romper o preconceito e o isolamento e conquistarem um novo patamar social na
zona rural de Minas Gerais.

Conheça o papel da Psicologia Comunitária na promoção do desenvolvimento


sustentável e na solução de problemas urbanos lendo o artigo A importância da
psicologia social comunitária para o desenvolvimento sustentável (2015), das
professoras Tania Maciel e Monalisa Barbosa.

Conheça diferentes formas de pesquisa em Psicologia Comunitária pela leitura e


reflexão do artigo Perspectivas da pesquisa comunitária: comunidade como
práxis e seus diálogos com as histórias orais de vida (2007), da pesquisadora
Lúcia Ozório.

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