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C H Spurgeon - Os 5 Pontos Do Calvinismo
C H Spurgeon - Os 5 Pontos Do Calvinismo
1ª Edição
1 • Depravação Total
(T de TULIP — Total Depravity)
2 • Eleição Incondicional
(U de TULIP — Unconditional Election)
3 • Expiação Limitada
(L de TULIP — Limited Atonement)
4 • Graça Irresistível
(I de TULIP — Irresistible Grace)
5 • Perseverança dos Santos
(P de TULIP — Perseverance of the Saints)
Introdução
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer.” (João
6:44) “Ir a Cristo” é uma frase muito comum na Sagrada Escritura. Ela é
usada para expressar aqueles atos da alma, onde, simultaneamente,
deixando a nossa justiça própria e os nossos pecados, nós fugimos para o
Senhor Jesus Cristo e recebemos a Sua justiça como a nossa veste e Seu
sangue, como a nossa expiação. Ir a Cristo, então, envolve arrependimento,
autonegação e fé no Senhor Jesus Cristo. Isso resume em si todas as coisas
que são os requisitos necessários destas grandes demandas do coração, tais
como a crença nas verdades de Deus, a sinceridade da oração a Deus, a
submissão da alma aos preceitos do Evangelho de Deus e todas aquelas
coisas que acompanham o alvorecer da salvação na alma. Ir a Cristo é
exatamente a única coisa essencial para a salvação do pecador. Aquele que
não vem a Cristo, faça o que fizer ou pense o que pensar, ainda está em “fel
da amargura e nos laços da iniquidade”. 10F[11] Ir a Cristo é o primeiro efeito
da regeneração. Logo que a alma é vivificada, descobre seu estado perdido,
fica aterrorizada com isso, busca por um refúgio e crê que Cristo é um refúgio
adequado, foge para Ele e repousa nEle. Onde não há este ir a Cristo, é certo
que ainda não existe nenhuma vivificação; onde não há vivificação, a alma
está morta em ofensas e pecados, e estando morta, não pode entrar no reino
dos céus. Temos diante de nós agora um anúncio muito surpreendente —
alguns chegam a dizer que é muito desagradável. Ir a Cristo, embora descrito
por algumas pessoas como sendo a coisa mais fácil em todo o mundo, é
declarado em nosso texto como uma coisa total e inteiramente impossível a
qualquer homem, visto que o Pai precisa trazê-lo a Cristo. Então, ser o nosso
trabalho discorrer sobre esta declaração. Não duvidamos que isso sempre
será ofensivo à natureza carnal; todavia, a ofensa da natureza humana é, por
vezes, o primeiro passo para fazê-la prostrar-se diante de Deus. E se este é o
efeito de um processo doloroso, podemos esquecer a dor e regozijar-nos com
as consequências gloriosas!
Eu me esforçarei nesta manhã, antes de tudo, para ressaltar a
incapacidade do homem, no que isso consiste. Em segundo lugar, o
trazer do Pai, o que é e como é exercido sobre a alma. E, então,
concluirei observando um doce consolo que pode ser extraído deste
texto aparentemente árido e terrível.
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do
Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé na verdade; para o que pelo nosso
evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor
Jesus Cristo.” (2 Tessalonicenses 2:13-14) Se não houvesse outro texto na
Palavra Sagrada, exceto este único, eu acho que todos nós deveríamos ser
obrigados a receber e reconhecer a veracidade da grande e gloriosa doutrina
da antiga escolha de Deus de Sua família. Mas parece haver um preconceito
inveterado na mente humana contra essa doutrina, e embora a maioria das
outras doutrinas venha a ser recebida por cristãos professos, algumas com
cautela, outras com prazer, esta parece ser mais frequentemente ignorada e
rejeitada. Em muitos dos nossos púlpitos seria considerado um pecado e alta
traição pregar um sermão sobre a eleição porque eles não poderiam fazer o
que chamam de um discurso “prático”. Eu acredito que eles se desviaram da
verdade. Tudo o que Deus revelou, Ele o fez para um propósito. Não há nada
na Bíblia que não possa, sob a influência do Espírito de Deus, ser
transformado em um discurso prático, pois “toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil” 19F[20] para alguns fins de utilidade espiritual. É verdade, ela não
pode ser transformada em um discurso do livre-arbítrio — o qual bem
conhecemos — mas pode ser transformada em um discurso prático sobre a
livre graça. E a prática da livre graça é a melhor prática quando as
verdadeiras doutrinas do amor imutável de Deus são pregadas aos corações
dos santos e dos pecadores.
Agora, eu confio que nesta manhã alguns de vocês que estão
assustados com o próprio som dessa palavra dirão “eu vou dar-lhe
uma audiência justa. Deixarei de lado meus preconceitos, apenas
ouvirei o que este homem tem a dizer”. Não feche seus ouvidos e
diga imediatamente: “Isso é alta doutrina”. Quem o autorizou a
chamá-la de alta ou baixa? Por que você deve opor-se à doutrina de
Deus? Lembre-se do que aconteceu com as crianças que
encontraram falhas no profeta de Deus e exclamaram: “Sobe,
careca; sobe, careca!”. 20F[21] Não diga nada contra as doutrinas de
Deus, para que nunca ocorra que algum animal vil saia da floresta e
o devore também. Há outras desgraças ao lado deste claro
julgamento do céu — tome cuidado para que elas não caiam sobre
sua cabeça. Deixe de lado seus preconceitos, ouça com calma,
escute imparcialmente, ouça o que a Escritura diz.
E quando você receber a verdade, se aprouver a Deus revelar
e manifestar a verdade à sua alma, não tenha vergonha de
confessá-la. Confessar que você estava errado ontem é apenas
reconhecer que você é um pouco mais sábio hoje. Em vez de ser
uma reflexão sobre si mesmo, é uma honra para o seu julgamento e
mostra que você está crescendo no conhecimento da verdade de
Deus. Não tenha vergonha de aprender e de deixar de lado suas
antigas doutrinas e pontos de vista. Porém, apegue-se ao que você
pode ver mais claramente que está na Palavra de Deus. E se você
não vê que ela está aqui na Bíblia — seja o que for que eu diga, ou
quaisquer autoridades a que possa me referir — eu imploro a você
que, assim como ama a sua alma, o rejeite. E se deste púlpito você
já ouviu coisas contrárias a esta Santa Palavra, lembre-se que a
Bíblia deve ter a primazia e o ministro de Deus deve estar debaixo
dela.
Nós não ficaremos acima da Bíblia para pregar, devemos
pregar com a Bíblia acima de nossas cabeças. Depois de tudo o que
temos pregado, estamos bem conscientes de que a montanha da
verdade é maior do que os nossos olhos podem discernir, nuvens e
escuridão estão ao redor de seu cume e não podemos discernir seu
topo. No entanto, vamos tentar pregá-la tão bem quanto pudermos.
Mas desde que somos mortais e sujeitos a errar, exerça o seu
julgamento, “mas provai se os espíritos são de Deus”, 21F[22] e se em
meio à reflexão ponderada sobre seus joelhos dobrados você for
levado a ignorar a eleição — algo que eu considero ser totalmente
impossível — então a rejeite; não a ouça ser pregada, mas creia e
confesse o que você considera ser o ensino da Palavra de Deus. Eu
não posso dizer mais do que isso a título de introdução.
Agora, primeiramente, falarei um pouco sobre a veracidade
dessa doutrina: “Por vos ter Deus elegido desde o princípio para a
salvação”. Em segundo lugar, tentarei provar que esta eleição é
absoluta: “Deus elegeu desde o princípio para a salvação”, não
devido a santificação, mas “em santificação do Espírito, e fé na
verdade”. Em terceiro lugar, esta eleição é eterna, porque o texto
diz: “Deus elegeu desde o princípio”. Em quarto lugar, é pessoal:
“Por vos ter Deus elegido”. Depois, vamos olhar para os efeitos da
doutrina; vejamos o que ela produz. E, por último, se Deus nos
permitir, vamos buscar olhar para as suas tendências e ver se ela é
realmente uma doutrina terrível e licenciosa. Iremos até a flor e,
como verdadeiras abelhas, veremos se existe algum mel nela, se
qualquer bem pode vir dela, ou se o que nela há é puro mal.
Expiação Limitada
(L de TULIP — Limited Atonement)
“Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20:28)
Quando pela primeira vez foi meu dever ocupar este púlpito e pregar neste
salão, minha congregação assumiu a aparência de uma massa irregular de
pessoas vindas de todas as ruas desta cidade para ouvir a Palavra. Eu era,
na ocasião, simplesmente um evangelista pregando a muitos que não tinham
ouvido o Evangelho antes. Pela graça de Deus, uma mudança muito
abençoada ocorreu e agora em vez de ter um grupo irregular reunido, minha
congregação é tão constante quanto a de qualquer ministro em toda a cidade
de Londres! Posso, a partir deste púlpito, observar os rostos dos meus amigos
que ocuparam os mesmos lugares, tanto quanto possível, nestes muitos
meses. E eu tenho o privilégio e o prazer de saber que uma proporção muito
grande, certamente, três quartos das pessoas que se reúnem aqui não são
pessoas que se encontram aqui devido à curiosidade, mas são meus ouvintes
regulares e constantes. E observo que as minhas características também
mudaram! Antes eu era um evangelista, mas o meu ofício agora é ser o seu
pastor. Vocês uma vez foram um grupo heterogêneo reunido para me ouvir,
mas agora somos unidos pelos laços do amor. Pela associação, temos
crescido em amor e respeito uns para com os outros e agora vocês se
tornaram as ovelhas do meu pasto e os membros do meu rebanho. E agora
tenho o privilégio de assumir a posição de um pastor neste lugar, bem como
na capela onde trabalho à noite. Eu penso que é razoável para o julgamento
de todas as pessoas que, assim como a congregação e o ministro passaram
por mudanças, o próprio ensino deve, em alguma medida, ter sofrido alguma
variação.
Tem sido o meu desejo falar-lhes das verdades simples do
Evangelho. Muito raramente, neste lugar, tenho tentado adentrar às
coisas profundas de Deus. Um texto que pensei ser adequado para
minha congregação para a noite, não faria disso assunto de
discussão neste lugar na parte da manhã. Há muitas doutrinas altas
e misteriosas, com que muitas vezes tenho tido a oportunidade de
lidar em particular, as quais não tomei a liberdade de falar com
vocês como uma reunião de pessoas que casualmente se reuniam
para ouvir a Palavra. Mas agora, uma vez que as circunstâncias
mudaram, o ensino também será mudado. Não vou agora
simplesmente limitar-me à doutrina da fé ou ao ensino do batismo
de crentes. Eu não me deterei sobre questões superficiais, mas
devo ousar, à medida que Deus me guiar, a introduzir aquilo que
está no fundamento da religião, que nós afirmamos com tanto amor.
Não me envergonharei de pregar diante de vocês a doutrina da
soberania divina. Não titubearei em pregar a doutrina da eleição da
maneira mais irrestrita e aberta. Não terei medo de anunciar a
grande verdade da perseverança final dos santos. Não reterei
aquela verdade inquestionável das Escrituras, a saber, o chamado
eficaz dos eleitos de Deus. Conforme Deus me ajudar, tentarei não
omitir nada de vocês que se tornaram o meu rebanho. Visto que
muitos de vocês agora “provaram que o Senhor é bom”, 36F[37]
vamos nos esforçar para expor todo o sistema das doutrinas da
graça, para que os santos sejam edificados e cresçam em sua
santíssima fé!
Começo esta manhã com a doutrina da redenção: “Veio... para
dar a sua vida em resgate de muitos”.
A doutrina da redenção é uma das doutrinas mais importantes
do sistema da fé. Um erro nesse ponto conduzirá inevitavelmente a
um erro por todo o sistema de nossa crença!
Agora, você está ciente de que existem diferentes teorias da
redenção. Todos os cristãos sustentam que Cristo morreu para
redimir, mas nem todos os cristãos ensinam a mesma redenção!
Somos diferentes quanto à natureza e entendimento da expiação.
Por exemplo, o arminiano afirma que Cristo, quando morreu, não
morreu com a intenção de salvar qualquer pessoa em particular. Os
arminianos ensinam também que a morte de Cristo não significa,
por si só, a garantia inquestionável da salvação de qualquer homem
vivo. Eles acreditam que Cristo morreu para tornar possível a
salvação de todos os homens, ou que, por fazer alguma coisa,
qualquer homem que quiser pode alcançar a vida eterna!
Consequentemente, eles são obrigados a afirmar que se a vontade
do homem não ceder e voluntariamente entregar-se à graça divina,
então a expiação de Cristo seria inútil! Eles afirmam que não havia
nenhuma particularidade e especialidade na morte de Cristo.
Segundo eles, Cristo morreu tanto por Judas que já estava no
inferno quanto para Pedro que subiu ao céu! Eles acreditam que
para aqueles que são lançados ao fogo eterno, houve tão
verdadeira e real redenção consumada, quanto para aqueles que
agora estão diante do trono do Altíssimo!
Ora, nós não cremos em tal coisa! Nós afirmamos que Cristo,
quando morreu, tinha um objetivo em vista e que esse objetivo será
cumprido muito seguramente e sem sombra de dúvida! Medimos o
desígnio da morte de Cristo pelo seu efeito. Se alguém nos
perguntar: “O que Cristo designou fazer por meio de Sua morte?”,
nós respondemos fazendo-lhe outra pergunta: “O que Cristo fez, ou
o que Cristo fará por meio de Sua morte?”. Nós declaramos que a
medida do efeito do amor de Cristo é a medida do Seu propósito!
Não podemos assim contrariar a nossa razão ao pensar que a
intenção do Deus todo-poderoso poderia ser frustrada ou que o
propósito de algo tão grande quanto a expiação poderia falhar, de
algum modo. Nós afirmamos — não temos medo de dizer no que
cremos — que Cristo veio a este mundo com a intenção de salvar
“uma multidão, a qual ninguém podia contar”. 37F[38] E acreditamos
que, como resultado disso, cada pessoa por quem Ele morreu deve,
sem sombra de dúvida, ser purificada do pecado e permanecer
lavado em Seu sangue diante do trono do Pai. Nós não cremos que
Cristo fez qualquer expiação eficaz por aqueles que estão
condenados para sempre! Não nos atrevemos a pensar que o
sangue de Cristo foi derramado com a intenção de salvar aqueles a
quem Deus previu que nunca seriam salvos, e alguns dos quais já
estavam no inferno quando Cristo, segundo o relato de alguns
homens, morreu para salvá-los!
Tenho, portanto, apenas declarado a nossa teoria da redenção
e pontuado as diferenças que existem entre duas grandes partes na
igreja professa. Agora, o meu esforço será mostrar a grandeza da
redenção de Cristo Jesus. E ao fazê-lo, espero ser habilitado pelo
Espírito de Deus para anunciar todo o grande sistema da redenção,
de modo que seja compreendido por todos nós, mesmo se todos
nós não pudermos aceitá-lo. Talvez alguns podem estar prontos
para disputar sobre as coisas que eu afirmo, mas vocês devem ter
em mente que isso não é nada para mim. Em todos os momentos
ensinarei as coisas que afirmo serem verdadeiras, sem considerar
quaisquer oposições das reações humanas! Vocês têm a liberdade
de fazer o mesmo em seus próprios lugares e pregar aquilo que
creem em suas próprias assembleias, como eu reivindico o direito
de pregar na minha, plenamente e sem hesitação!
Cristo Jesus “deu a sua vida em resgate de muitos”. E por
esse resgate Ele operou para nós uma grande redenção. Devo me
esforçar para mostrar a grandeza desta redenção, considerando-a
de cinco maneiras diferentes. Em primeiro lugar, observaremos a
sua grandeza a partir da hediondez da nossa própria culpa, da qual
Ele nos libertou. Em segundo lugar, medirei a Sua redenção pela
severidade da justiça divina. Em terceiro lugar, devo considerá-la
pelo preço que Ele pagou: as dores que sofreu. Depois, vamos
procurar ampliar isto, observando a libertação que Ele realmente
consumou. E vamos concluir observando o grande número daqueles
por quem esta redenção foi feita, que em nosso texto são descritos
como “muitos”.
“E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-
lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua
casa.” (Lucas 19:5) Não obstante a nossa firme convicção de que a maioria
de vocês está bem instruída nas doutrinas do Evangelho eterno, somos
constantemente lembrados em nossa conversa com jovens convertidos do
quão absolutamente necessário é repetir nossas lições anteriores e
constantemente afirmar e provar mais e de novo as doutrinas que são o
fundamento da nossa santa religião. Portanto, os nossos amigos para quem
há muitos anos a grande doutrina do chamado eficaz 57F[58] foi ensinada,
crerão que enquanto eu prego de modo muito simples nesta manhã, o sermão
é destinado para aqueles que são jovens no temor do Senhor, para que
possam mais bem e de coração compreender este excelente ponto de partida,
o chamado eficaz de homens pelo Espírito Santo.
Usarei o caso de Zaqueu como uma grande ilustração da
doutrina do chamado eficaz. Vocês se lembram da história. Zaqueu
tinha curiosidade de ver o maravilhoso homem, Jesus Cristo, que
estava virando o mundo de cabeça para baixo e causando uma
imensa comoção na mente dos homens. Frequentemente
encontramos falha na curiosidade e dizemos que é pecaminoso vir à
casa de Deus por esse motivo. Eu não tenho certeza que devemos
nos arriscar a fazer tal afirmação. O motivo não é pecaminoso,
embora certamente não seja virtuoso; no entanto, muitas vezes tem
sido provado que a curiosidade é um dos melhores aliados de
graça. Zaqueu, motivado pela curiosidade, desejava ver Cristo, mas
havia dois obstáculos no caminho: Primeiro, havia uma multidão de
pessoas de modo que ele não conseguiria chegar perto do
Salvador; em segundo lugar, ele era tão baixo que não havia
esperança por olhar por cima das cabeças das pessoas de modo a
ter um vislumbre do Senhor Jesus.
O que ele fez? Fez o que os meninos estavam fazendo —
pois, os meninos dos tempos antigos eram, sem dúvida, assim
como os meninos contemporâneos — eles haviam subido em
galhos das árvores para ver Jesus enquanto passava. Embora
sendo velho, Zaqueu sobe e ali e se senta entre as crianças. Os
meninos ficam com muito medo do publicano velho e severo, que os
seus pais temiam, para empurrá-lo para baixo ou causar-lhe
qualquer inconveniente. Olhem para ele ali. Com que ansiedade ele
está olhando para baixo, para ver quem é o Cristo, pois o Salvador
não tinha nenhuma distinção pomposa. Ninguém está andando
adiante dEle com um cetro de prata. Ele não trazia um bastão
dourado na mão, não tinha vestes pontifícias. Na verdade, Ele
estava vestido como aqueles ao seu redor. Ele tinha uma capa
como a de um camponês comum, feita de uma só peça de alto a
baixo. Zaqueu mal conseguia distingui-lO. No entanto, antes que ele
tivesse uma visão de Cristo, Cristo fixou Seus olhos sobre ele e
estando de pé debaixo da árvore, olha para cima e diz: “Zaqueu,
desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”.
Zaqueu desce. Cristo vai para sua casa. Zaqueu se torna seguidor
de Cristo e entra no reino dos céus.
VI. Novamente, este não era apenas um chamado afetuoso, mas foi
um chamado permanente. “Hoje me convém pousar em tua casa”.
Um chamado comum é assim: “Hoje eu entrarei em sua casa por
uma porta e sairei pela outra”. O chamado comum que é dado pelo
Evangelho a todos os homens é um chamado que opera sobre eles
por um tempo e depois está tudo acabado, mas o chamado salvífico
é um chamado permanente. Quando Cristo fala, Ele não diz:
“Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém ver a tua casa”.
Não. Ele diz: “me convém pousar em tua casa. Estou indo sentar-
me para comer e beber contigo. Estou indo ter uma refeição contigo.
Hoje me convém pousar em tua casa”.
“Ah”, diz alguém, “você não pode dizer quantas vezes eu
fiquei impressionado, senhor. Muitas vezes tive uma série de
convicções solenes e eu pensei que realmente era salvo, mas tudo
desvaneceu, como um sonho. Quando alguém acorda, tudo com o
que sonhou, desapareceu. Assim foi comigo”. Mas, ah, pobre alma,
não se desespere. Você sente as operações da graça toda-
poderosa dentro do seu coração ordenando que você se arrependa
hoje? Se for assim, será um chamado permanente. Se Jesus está
operando em sua alma, Ele virá e ficará no seu coração e o
consagrará para a Si mesmo para sempre. Ele diz: “Eu irei, e
habitarei com você e o farei para sempre. Eu chegarei e direi: ‘Aqui
Eu farei o meu descanso permanente,
Não mais sairei,
Não mais serei um estranho ou um convidado,
Mas o Mestre desta casa.’”
“Oh”, você diz, “é isso o que eu quero. Eu quero um chamado
permanente, algo que durará. Eu não quero uma religião
passageira, mas uma religião permanente”. Bem, esse é o tipo de
chamado que Cristo faz. Seus ministros não podem fazê-lo, mas
quando Cristo fala, Ele fala com poder e diz: “Zaqueu, desce
depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”.
VII. Há uma coisa, porém, que não posso esquecer, a saber, que
esse era um chamado necessário. Basta lê-lo outra vez: “Zaqueu,
desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”. Não
era uma coisa que Ele poderia fazer ou não, este era um chamado
necessário. A salvação de um pecador é tanto uma questão de
necessidade em relação a Deus, quanto o cumprimento de Seu
pacto de que a chuva não mais inundaria o mundo. A salvação de
cada filho comprado pelo sangue de Deus é uma coisa necessária
por três razões: É necessária porque é o propósito de Deus, é
necessária porque é a compra de Cristo e é necessária porque é a
promessa de Deus. É necessário que o filho de Deus seja recolhido.
Alguns teólogos acham que é muito errado colocar uma ênfase na
palavra “necessário”, especialmente na passagem onde se diz: “E
era-lhe necessário passar por Samaria”. “Ora”, eles dizem, “Ele
precisou passar por Samaria, porque não havia outra maneira que
Ele pudesse ir e, portanto, foi forçado a seguir por esse caminho”.
Nós respondemos, sim, senhores, sem dúvida. Mas, então não
poderia ter havido outra maneira. A providência fez com que Ele
fosse necessário passar por Samaria e que Samaria devesse estar
na rota que Ele escolhera. “Era-Lhe necessário passar por
Samaria”. A providência fez com que o homem construísse Samaria
à beira da estrada e a graça compeliu o Salvador a dirigir-Se
naquela direção. Não foi dito: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje
posso pousar em tua casa”, mas “me convém”. O Salvador sentiu
uma necessidade forte. Isso era tão verdadeiramente necessário
quanto o fato de que o sol deve dar-nos luz durante o dia e a lua de
noite; há exatamente tanta necessidade que cada filho comprado
pelo sangue de Deus seja salvo. “Hoje me convém pousar em tua
casa”.
E oh, quando o Senhor diz isso — que Lhe convém — então,
Ele irá. O que disse, então, o pobre pecador, em outras vezes que
foi chamado: “Devo deixá-lO entrar, afinal? Há um estranho na
porta. Ele está batendo agora, Ele já havia batido antes, eu devo
deixá-lO entrar?”. Mas desta vez é: “Me convém pousar em tua
casa?”. Não houve batidas na porta, mas a porta foi desintegrada
em átomos! E para dentro Ele andou — Eu devo, vou, quero ir — Eu
não Me preocupo em proteger a sua vileza, a sua incredulidade. Eu
devo, Eu vou, Me convém pousar em tua casa”. “Ah”, diz alguém,
“eu não acredito que Deus alguma vez me fará crer no que você
acredita, ou de algum modo me tornará um cristão”. Ah, mas se Ele
apenas disser: “Hoje me convém pousar em tua casa”, não haverá
resistência em você. Há alguns metodistas entres vocês que
desprezam a própria ideia de ser um hipócrita; “O que, senhor?
Você acha que eu alguma vez me transformaria em um de seus
religiosos”. Não, meu amigo, eu não acho isso; eu tenho certeza. Se
Deus diz “me convém”, não há nenhuma oposição contra isso. Que
Ele diga “necessito”, e isso será feito Vou apenas contar-lhes uma
anedota para provar isso. “Um pai estava prestes a enviar seu filho
para a faculdade, mas como ele conhecia a influência a qual estaria
exposto, ele estava com uma profunda solicitude e preocupado com
o bem-estar espiritual e eterno de seu filho querido. Temendo que os
princípios da fé cristã que ele tinha se esforçado para incutir em sua
mente fossem rudemente removidos, mas confiando na eficácia da
Palavra, que é viva e eficaz, ele comprou, sem que o seu filho
soubesse, uma bela cópia da Bíblia e a depositou no fundo da mala.
O jovem começou a sua carreira universitária. As restrições de uma
educação piedosa logo foram quebradas e ele passou da
especulação para as dúvidas e das dúvidas a uma negação da
veracidade da religião. Depois de ter ficado, em sua própria estima,
mais sábio do que seu pai, descobriu um dia, enquanto vasculhava
a sua mala, com grande surpresa e indignação o depósito sagrado.
Tirou-o e enquanto deliberava sobre o que faria com a Bíblia,
determinou que a usaria como papel para limpar a máquina de
barbear durante o barbear-se. Assim, cada vez que ele fazia barba,
ele arrancava uma folha ou duas do livro santo e, assim, usou-o até
que quase a metade do volume foi destruído. Mas enquanto ele
estava cometendo este ultraje com o livro sagrado, um texto num
momento e depois, alcançou o seu olho e foi como uma flecha
aguda ao seu coração. Por fim, ele ouviu um sermão, que lhe
revelou a sua própria condição e sua exposição à ira de Deus. Ele
voltou o seu pensamento para a impressão que havia recebido da
última folha rasgada do volume bendito, ainda que insultado. Se
mundos estivessem à sua disposição, ele livremente abriria mão
deles, se isso o ajudasse a desfazer o que tinha feito. Finalmente,
encontrou perdão aos pés da cruz. As folhas rasgadas daquele
santo volume trouxeram cura para sua alma, pois o fizeram
repousar na misericórdia de Deus, que é suficiente para o principal
dos pecadores.
Digo-vos que não há um réprobo andando pelas ruas e
contaminando o ar com suas blasfêmias; não há uma criatura
perdida, de modo a ser quase tão maligna quanto o próprio Satanás,
a qual não está ao alcance da misericórdia — se ele é um filho da
vida — se Deus lhe diz: “Hoje me convém pousar em tua casa”,
então Ele certamente o fará.
Agora você sente, meu caro ouvinte, algo em sua mente que
parece dizer que você se posicionou contra o Evangelho por um
longo tempo, mas hoje você não consegue mais manter-se
afastado? Sente que uma mão forte o tem segurado e você ouve
uma voz dizendo: “Pecador, Me convém pousar em tua casa. Você
muitas vezes Me desprezou, muitas vezes riu de Mim, muitas vezes
cuspiu no rosto da misericórdia, muitas vezes Me blasfemou, mas
pecador, Me convém pousar em tua casa. Ontem, você bateu a
porta na cara do missionário. Você queimou o folheto, riu do
ministro, amaldiçoou a casa de Deus, profanou o sabbath, mas
pecador, Me convém pousar em tua casa, e Eu pousarei”? “O quê?
Senhor”, você diz, “pousar em minha casa! Ora, ela está cheia de
iniquidade. Pousar em minha casa! Ora, não há uma cadeira ou
uma mesa que não clamará contra mim. Pousar em minha casa!?
Ora, todas as vigas e pisos se levantariam e diriam que eu não sou
digno de beijar a orla de Tua veste. O que? O Senhor, pousar, em
minha casa!?”, “Sim”, diz Ele, “Me convém. Há uma necessidade
forte, Meu amor poderoso Me constrange e se você quer ou não,
estou determinado a fazer com que esteja disposto e você deve Me
deixar entrar”.
Isso não lhe surpreende, pobre temeroso, você que pensava
que o dia da graça havia desaparecido e que o sino de sua
destruição havia anunciado o seu enterro? Oh, não surpreende você
que Cristo não só lhe pede para vir a Ele, mas convida a Si Mesmo
para a sua mesa, e ainda mais, quando você gostaria de afastá-lO,
Ele gentilmente diz: “Me convém entrar”? Apenas imagine Cristo
indo atrás de um pecador, pleiteando, chamando-o para que Ele o
salve; e isso é exatamente o que Jesus faz com os Seus escolhidos.
O pecador foge dEle, mas a livre graça o persegue e diz:
“Pecador, venha a Cristo”. E se nossos corações estão fechados,
Cristo põe a mão pela porta e se não o abrirmos, mas apenas o
repelirmos friamente, Ele diz: “Me convém entrar”. Ele chora por nós
até que as Suas lágrimas nos conquistam. Ele clama por nós até
que os Seus gritos prevaleçam, e finalmente, em Sua própria hora
bem determinada, Ele entra em nosso coração e ali habita. “Me
convém pousar em tua casa”, disse Jesus.
VIII. E agora, por fim, este chamado foi eficaz, pois vemos os seus
frutos. A porta de Zaqueu foi aberta, a sua mesa colocada, o seu
coração foi generoso, a sua consciência foi aliviada, a sua alma
ficou alegre. “Senhor”, ele diz, “eis que eu dou aos pobres metade
dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o
restituo quadruplicado”. 71F[72] Assim se foi uma parte de seus bens.
Ah, Zaqueu, você irá para a cama hoje à noite bem mais pobre do
que quando se levantou nesta manhã, porém infinitamente mais rico
também! Pobre, muito pobre, em bens deste mundo, em
comparação com o que era quando subiu aquela figueira. Porém,
mais rico, infinitamente mais rico em tesouro celeste. Pecador,
saberemos se Deus o chamou por isso: Se Ele chamou, este será
um chamado eficaz, não um chamado que você ouve e depois
esquece, mas um chamado que produz boas obras. Se Deus o
chamou nesta manhã, esse copo de embriaguez será abaixado, e
orações serão erguidas. Se Deus o chamou nesta manhã, não
haverá uma porta aberta sua loja, e você terá posto um aviso: “Esta
loja está fechada no sabbath, o dia do Senhor, e não será mais
aberta neste dia”.
Amanhã haverá tais e tais divertimentos mundanos, mas se
Deus o chamou, você não irá. E se você tiver roubado alguém (e
quem sabe pode haver um ladrão aqui), se Deus o chamar, haverá
uma restituição do que você roubou, você desistirá de tudo o que
tem, de modo que seguirá a Deus com todo seu coração. Não
acreditamos que um homem seja convertido a menos que renuncie
ao erro de seus caminhos e, na prática, seja levado a conhecer que
o próprio Cristo é o Mestre de sua consciência e que a dEle lei é o
seu prazer.
“Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em
tua casa”. E, ele apressou-se, desceu e recebeu Jesus com alegria.
“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou
aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus:
Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de
Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se
havia perdido”. 72F[73]
Agora, uma ou duas lições. A lição para os soberbos. Desce,
coração orgulhoso, desce! A misericórdia corre nos vales, mas não
vai ao topo da montanha. Desce, desce, espírito exaltado! A cidade
elevada, Ele a rebaixa até ao chão e depois a edifica. Há também
uma lição para a pobre alma desesperada: eu estou contente de vê-
la na casa de Deus, nesta manhã; é um bom sinal. Não me importa
o motivo pelo qual você veio. Talvez, você soube que havia um
estranho tipo de homem que pregava aqui. Não se preocupe com
isso. Você é tão estranho quanto ele é. É necessário que haja
homens estranhos para se reunirem com outros homens estranhos.
Ora, eu tenho muitas pessoas aqui. E se eu pudesse usar
uma figura, deveria compará-los a um grande montão de cinzas,
misturado com um pouco de pó de ferro. Agora, meu sermão, se for
ajudado com graça divina, será uma espécie de ímã, não atrairá
qualquer partícula de pó das cinzas, elas permanecerão exatamente
onde estão; mas atrairá o pó de ferro. Tenho um Zaqueu ali. Há uma
Maria lá em cima. Um João lá em baixo, uma Sara, ou um William,
ou um Tomé ali — os escolhidos de Deus — eles são pó de ferro na
congregação de cinzas e meu Evangelho, o Evangelho do Deus
bendito, como um grande ímã, os atrai para fora do montão. Ali vêm
eles. Por quê? Porque houve uma força magnética entre o
Evangelho e os seus corações.
Ah, pobre pecador, venha a Jesus, creia em Seu amor, confie
em Sua misericórdia. Se você tem o desejo de vir, se você está
forçando o seu caminho em meio às cinzas para chegar a Cristo,
então é porque Cristo está chamando você. Oh, todos vocês que se
reconhecem como pecadores — cada homem, mulher e criança
dentre vocês — sim, vocês crianças pequenas (pois, Deus me deu
alguns de vocês para que sejam o meu galardão), vocês se sentem
pecadores? Então, creiam em Jesus e sejam salvos. Muitos de
vocês vieram aqui por curiosidade. Oh, que vocês possam ser
encontrados e salvos. Estou angustiado por vocês, para que não
afundem no inferno. Oh, ouçam a Cristo, enquanto fala com vocês.
Cristo diz: “Desce”. Nesta manhã, vão para casa e humilhem-se
diante de Deus. Vão e confessem as suas iniquidades, confessem
que pecaram contra Ele. Vão para casa e digam a Ele que vocês
estão destraçados, arruinados sem a Sua graça soberana. Depois,
olhem para Ele, com a certeza de que Ele olhou primeiro para
vocês.
Vocês dizem: “Senhor, oh, eu estou disposto suficiente a ser
salvo, mas estou com medo que Ele não esteja disposto”. Parem!
Parem! Não falem mais disso! Vocês sabem que isso é, em parte,
uma blasfêmia? Não como um todo. Se vocês não fossem
ignorantes, eu lhes diria que era uma blasfêmia completa. Vocês
não podem olhar para Cristo antes que Ele tenha olhado para
vocês. Se estão dispostos a serem salvos, Ele vos concedeu essa
vontade. Creia no Senhor Jesus Cristo e seja batizado e você será
salvo. Espero que o Espírito Santo esteja chamando você.
Jovem lá em cima, jovem na janela, desça depressa! Homem
velho, sentado nestes bancos, desça! Comerciante no corredor, se
apresse. A idosa e a jovem, que não conhecem a Cristo, oh, que Ele
olhe para vocês! Velha avó, ouça o chamado gracioso. E você,
jovem rapaz, Cristo pode estar olhando para você; eu confio que Ele
está, e diz-lhe: “Desce depressa, porque hoje me convém pousar
em tua casa”.
5
Perseverança dos Santos
(P de TULIP — Perseverance of the Saints)
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa
obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.” (Filipenses 1:6) Os
perigos que acompanham a vida espiritual são do tipo mais terrível; a vida de
um cristão é uma sequência de milagres. Veja uma faísca permanecer no
meio do oceano, veja uma pedra suspensa no ar, veja a saúde florescer em
uma colônia de leprosos e o cisne branco em rios sujos, e você vê um retrato
da vida cristã. A nova natureza é mantida viva entre as garras da morte,
conservada pelo poder divino contra a destruição instantânea, pois não
poderia continuar por meio de nenhum poder menor do que o divino. Quando
o cristão instruído olha em seu redor, ele se vê como uma pomba indefesa
voando para o seu ninho, enquanto contra ela dezenas de milhares de flechas
são atiradas. A vida cristã é como o voo frenético daquela pomba, enquanto
segue em seu caminho entre as flechas mortais do inimigo e, por um milagre
permanente, escapa ilesa.
O cristão iluminado vê a si mesmo como sendo um viajante de
pé no caminho estreito de um cume elevado, à direita e à esquerda
há abismos insondáveis que podem destruí-lo; se não fosse pela
graça divina — que faz seus pés como os pés da corça, de modo
que ele é capaz de saltar sobre os montes — há muito tempo ele
teria caído para a sua perdição eterna.
Infelizmente, meus irmãos e irmãs, temos visto muitos que
professavam crer em Cristo caírem assim! É o grande e permanente
sofrimento da igreja cristã que muitos no meio dela se tornam
apóstatas; é verdade que eles não pertencem verdadeiramente a
ela, embora antes que isso acontecessem não fosse possível saber
disso. Não poucas de suas estrelas mais brilhantes foram engolidas
pela noite. Aqueles que pareciam mui prováveis de serem árvores
frutíferas na vinha de Cristo acabaram por ser obstáculos no solo ou
como árvores venenosas, pingando veneno em torno de si mesmas.
O jovem cristão, portanto, se é observador, teme após afivelar
o seu cinto em meio às felicitações de amigos, pois ele pode
retornar da batalha vergonhosamente derrotado. Ele não se orgulha
porque, como um cavaleiro galante, ele coloca seu cinto reluzente,
mas enquanto afivela seu capacete e toma a sua espada, teme
voltar para o acampamento com seu escudo danificado e seu elmo
arrastado no pó. Para tal pessoa consciente dos perigos espirituais
e com receio de que não seja derrotado por eles, a doutrina do texto
produzirá um grande e valioso encorajamento.
Se formos ajudados a expor a doutrina da perseverança final
dos santos, de modo a recomendar esta verdade de Deus aos seus
entendimentos e confirmá-la em suas almas, teremos o maior prazer
no coração, porque a verdade fará vocês felizes, fortes e gratos!
Sem mais prefácio, vamos expor as palavras do apóstolo, a fim de
mostrar detalhadamente a razão de sua confiança; depois, em
segundo lugar, apoiaremos essa confiança por novos argumentos;
e, em terceiro lugar, procuraremos extrair determinadas aplicações
excelentes a partir da doutrina que o texto indubitavelmente ensina.