Relatório Expografia I Maria Elisa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS


ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
EXPOGRAFIA I
PROFESSOR(A): Verona Campos Segantini
ALUNA: Maria Elisa Pereira Aguiar

Análise da visita às exposições “Oito Horas não são um dia” e da Bienal “Faz
escuro mas eu canto”

No dia 15 de setembro de 2022, os alunos do curso de museologia fizeram uma


atividade de campo em dois locais voltados à exposição de arte, sendo eles: o Museu Mineiro,
localizado no Circuito Liberdade, e o Palácio das Artes, localizado na Avenida Afonso Pena.
Em ambas as visitas, os estudantes puderam observar uma forma de fazer arte distinta da arte
tradicional, sendo uma tipologia de arte na qual foram utilizados materiais e técnicas
diferenciados. Dentro dessa proposta, o fruto do trabalho desses artistas foi uma arte que
provoca, questiona e leva os observadores à reflexão, visto que as obras possuíam um
significado político intrínseco. Com isso, o museu, dentro da proposta da atividade, foi um
instrumento de construção de pensamento crítico, não objetivando “... a celebração de
personagens ou a classificação enciclopédica da natureza, e sim a reflexão crítica.” (Ramos,
2004, p.1)
No primeiro momento da aula, os estudantes dirigiram-se ao Museu Mineiro para
observar a exposição temporária “Oito Horas não são um dia”, do artista visual Juan
Casemiro. Por meio de uma arte construída a partir de objetos comumente encontrados em
canteiros de obras, como telas de proteção, blocos de concreto, luvas, lixas, arames e outros, o
artista busca causar estranhamento e, consequentemente, a produção de um novo olhar sobre o
que é observado. Neste sentido, a exposição procura trazer ao público, através do emprego
desses materiais na construção de um item artístico, levantar questões sobre a representação
do trabalho dentro da arte. Mas além da representação do trabalho, Casemiro procura mostrar
uma nova noção de arte, feita a partir de objetos que, em um contexto tradicional, poderiam
não ser considerados apropriados ou “artísticos”. Dentro dessa nova noção, é possível levantar
uma série de questionamentos acerca dos objetos expostos, sendo aqueles itens presentes
dentro do cotidiano de trabalhadores braçais uma fonte de reflexão. Com isso, “... qualquer
objeto deve ser tratado como fonte de reflexão, desde o tronco de prender escravos em
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exposição no Museu do Ceará até o copo descartável que faz parte do nosso cotidiano.”
(Ramos, 2004, p. 3).
No segundo momento da aula, os estudantes partiram do Museu Mineiro para o
Palácio das Artes, que estava com a 34ª Bienal de São Paulo, intitulada “Faz escuro, mas eu
canto”. Após a explicação de funcionários do espaço, os visitantes puderam observar diversas
obras de vários artistas contemporâneos, representadas em quadros, esculturas, instalações e
reprodução de conteúdo audiovisual. Entre as obras, uma chamou a atenção: uma escultura de
lama que retratava o tronco e o busto de um homem. Nas mãos, o homem possuía uma enxada
e nas costas, a seguinte frase: Tantas veces apümngeiñ, podendo ser traduzida como “Tantas
vezes fomos aniquilados”. Após a leitura da legenda, é possível compreender que o artista,
através da obra, faz uma crítica aos membros da nação Mapuche que foram executados e
desapareceram durante a ditadura militar chilena. Por meio da obra, é possível perceber que a
arte traz ao público que a observa e interpreta reflexões sobre a história e a forma com a qual
ela impacta o presente. Desse modo, “Fazer relações entre objetos diferentes pode deixar a
reflexão com mais carga de conhecimento histórico”, no qual “a história deixa de ser o
passado morto para emergir como pretérito eivado de presente, pois a questão dos poderes em
conflito também diz respeito ao mundo no qual vivemos.” (Ramos, 2004, p.3).
Após a observação desses artistas, a professora e os estudantes seguiram para outra
sala, que possuía obras de dois artistas indígenas: Daiara Tukano e Jaider Esbell. Por terem
sido companheiros de vida, os trabalhos de ambos foram expostos na mesma sala e próximos
uns aos outros. Na parede, era possível observar a obra de Esbell, que era formada de páginas
de uma enciclopédia pregadas na parede. Mas, ao observar bem, era perceptível que aquelas
páginas não possuíam apenas o conteúdo esperado das enciclopédias, mas frases e desenhos
que criticavam a exploração e a violência contra a população indígena cometidas desde o
período da colonização. Além disso, a obra possuía frases contra a exploração exacerbada de
recursos naturais e questionando a violência, sendo a arte realizada sobre pinturas europeias
presentes na enciclopédia. Assim, o trabalho foi responsável por mostrar uma visão diferente
da história, diferente da história contada pelas enciclopédias e livros de história. Sendo assim,
não era uma tentativa de “... "visitar o passado", e sim de animar estudos sobre o tempo
pretérito, em relação com o que é vivido no presente. Com a excitação para a aventura de
conhecer através de perguntas sobre objetos, abre-se espaço para a percepção mais ampla
diante da exposição museológica. Mais que isso: alarga-se o juízo crítico sobre o mundo que
nos rodeia.” (Ramos, 2004, p.4).
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Ao lado da parede preenchida por Esbell, a obra de Daiara trazia um manto repleto de
penas vermelhas, que iam da cabeça aos pés. Na parte do rosto, havia um pequeno espelho,
que refletia a imagem do visitante dentro da obra. Através da análise, foi possível ver no item
artístico traços de ancestralidade indígena, que, ao lado da obra do companheiro,
representavam mais que somente itens artísticos produzidos por artistas indígenas.
Representavam história, memória e identidade de uma população e, somado a isso, uma luta
por direitos de existir dentro de uma sociedade que não respeita e violenta a sua existência.
No último momento da exposição, todos foram conduzidos a uma sala que possuía
fotografias e um quadro, o maior da sala. O quadro retratava a história da exploração africana
durante o contexto de colonização, e podia ocupar a parede quase completamente. Do outro
lado da parede, havia uma série de fotografias de um homem, Frederick Augustus
Washington, conhecido como o homem mais fotografado dos Estados Unidos. Homem negro,
possuía ideais antirracistas e contra as práticas segregacionistas dos Estados Unidos do século
XIX, sendo um importante nome na luta antirracistas. Ao observar as fotografias e o quadro, é
possível ver, assim como nas obras de Jaider e Daiara, a narração de uma outra história, que
mostra um lado desconhecido por muitos. Nesse caso, o questionamento a respeito da
exploração africana e sobre o racismo são feitos através da arte e dos textos que contam a
história das fotos, sendo possível olhar para o passado e analisar de que forma este causou
impacto no presente. Assim, a história não é vista como apenas uma sucessão aleatória de
acontecimentos, mas uma forma de refletir e pensar o presente.
Diante da visita completa, é correto afirmar que a visita foi capaz de provocar e
estimular a produção do pensamento crítico diante da arte, sendo um instrumento de
aprendizado e reflexão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Guia 34ª Bienal de São Paulo: Faz escuro mas eu canto. Disponível em:
http://www.bienal.org.br/publicacoes/9905. Acesso em: 05/10/2022
RAMOS, FRANCISCO RÉGIS LOPES. A danação do objeto : O museu no ensino de
história. Chapecó (SC): Argos, 2004.

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