Aulas 3 e 4 Didatica

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DIDÁTICA UNEC

Aula 03
CAPÍTULO II: PARADIGMAS EDUCACIONAIS:
ENSINO TRADICIONAL X ENSINO CONSTRUTIVISTA

Não poderíamos aprofun-


dar nossos estudos em Didática,
sem compreender as tendências
pedagógicas que embasam a prá-
tica educativa e as formas de in-
tervenção em grupos. A visão de
mundo, de sujeito e de sociedade
que cada educador, seja ele em
saúde, na escola ou em uma em-
presa, manifestada no seu fazer
cotidiano, estão relacionados a
aspectos do ENSINO TRADICIO-
NAL OU CONSTRUTIVISTA.
Figura 8- Ensino tradicional e construtivista. disponiveis
Para esse estudo, trabalha- em: http://centrosociala zurva.org/seccao.php?s=creche>
remos com fragmentos do artigo: <http://casanaviagem.com/2013/09/a-revolucao-na-educa-
cao-as-escolas-livres/>
“Paradigmas contemporâneos de
educação: escola tradicional e escola construtivista” (LEÃO, 1999).N
Nas próximas aulas são ressaltadas as principais características dos paradig-
mas de educação da atualidade: Escola Tradicional e a Escola Construtivista, a partir
da análise dos aspectos filosóficos, epistemológicos, teóricos e metodológicos de
cada tipo de escola bem como uma crítica de ambos os paradigmas, considerando os
aspectos mais marcantes do ensino.
Segundo Leão (1999), não é propósito desse estudo analisar as diversas ten-
dências que se opuseram à Escola Tradicional em nosso país, tais como a Escola

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Nova1 e o Tecnicismo2. Essas e outras teorias educacionais tiveram seus momentos


históricos devidamente discutidos pelos pesquisadores e levamos em conta que po-
dem ter trazido certas modificações à estrutura original da escola tradicional. Mas o
que interessa analisar sobre a escola tradicional é que ela continua existindo de modo
semelhante ao que foi no seu início em diversas formas de relação interpessoal.

Afinal, não somos nós mesmos produtos dessa escola tão criticada?
A aprendizagem escolar nessa escola tão tradicional dependeu dos
bons professores ou de nossos interesses pessoais?

2.1 A ESCOLA TRADICIONAL

Não é falso afirmar que o para-


digma de ensino tradicional foi um dos princi-
pais a influenciar a prática educacional for-
mal, bem como o que serviu de referencial
para os modelos que o sucederam através do
tempo. Interessante é perceber que a escola
tradicional continua em evidência até hoje.
Figura 9- Modelo de escola tradicional.
Paradoxo3? É possível, mas é necessário re- Disponível em: http://www.flickr.com /photos/
conhecer que o caráter “tradicional atual da angela_fortini
escola passou por muitas modificações ao longo de sua história”.
É necessário situar no tempo a escola tradicional que interessa a esta discus-
são. Ela surgiu a partir do advento dos sistemas nacionais de ensino, que datam do
século passado, mas que só atingiram maior força e abrangência nas últimas décadas

1
A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na
América e no Brasil, na primeira metade do século XX. Os defensores da Escola Nova acreditam que
a educação é o único meio realmente efetivo para a construção de uma sociedade democrática, que
respeite as características individuais de cada pessoa, inserindo-o em seu grupo social com respeito
à sua unicidade, como parte integrante e participativa de um todo.
2
Refere-se ao abuso da tecnicidade, ou seja, o uso excessivo ou a supervalorização dos aspectos
técnicos de algo, muitas vezes em detrimento do conjunto dos outros aspectos que possam caracte-
rizá-lo. O que é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia, o professor passa
a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possí-
veis e estreitos da técnica utilizada.
3
Paradoxo: que é ou parece contrário ao comum; contra senso, absurdo, disparate.

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do século XX. Com o início de uma política estritamente educacional foi possível à
implantação de redes públicas de ensino na Europa e América do Norte (Patto, 1990).
A organização desses sistemas de ensino inspirou-se na emergente sociedade bur-
guesa, a qual apregoava a educação como um direito de todos e dever do Estado.
Assim, a educação escolar teria a função de auxiliar a construção e consolidação de
uma sociedade democrática. O direito à educação decorria do tipo de sociedade cor-
respondente aos interesses da nova classe que se consolidara no poder: a burguesia
(SAVIANI, 1991, P.18).
A organização dessa escola do século passado seguia os passos determinados
por essa teoria pedagógica que permanece atual em seus pontos principais:

Como as iniciativas cabiam ao professor, o essencial era contar


com um professor razoavelmente bem preparado. Assim, as es-
Conheça
colas eram organizadas em forma de classes, cada uma con-
mais...
tando com um professor que expunha as lições que os alunos
seguiam atentamente e aplicava os exercícios que os alunos de-
veriam realizar disciplinadamente. (Saviani, 1991. p.18)

A história da educação mostrou que tudo


não passou de um sonho embora não saibamos
quem realmente o sonhou. A universalização
da educação é uma realidade na maioria dos
países ocidentais; porém, no dizer de Gadotti
(1995), uns receberam mais educação do que
Figura 10- Universalização da Educa-
outros. A igualdade entre os homens perma- ção. Disponível em: <http://falandoeman-
nece um sonho ainda muito distante do nosso dando braza1.blogspot.cOMom.br>
planeta. Apesar de tudo, a escola como institui-
ção destinada a “todos surgiu nessa época e faz parte do nosso cotidiano e das obri-
gações da família e do Estado para com suas crianças e adolescentes”.

2.1.1 Aspectos Filosóficos da Escola Tradicional

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O ensino tradicional fundamentou-se na filosofia da essência, de Rousseau,


passando à pedagogia da essência (Saviani, 1991). Tal pedagogia acredita na
igualdade essencial entre os homens: a de serem livres, e essa igualdade vai servir
de base para estruturar a pedagogia da essência respaldando o surgimento dos
sistemas nacionais de ensino, que, por sua vez,
foram fundamentais para proporcionar a
escolarização para todos.
Sobre o surgimento dos sistemas nacionais
de ensino, Gadotti (1995) segue um pensamento se-
melhante ao de Saviani (1991), quando afirma que
o iluminismo educacional representou o FUNDA-
Figura 11- Escola transmissora e
os processos que nela são segui- MENTO DA PEDAGOGIA BURGUESA4, que até
dos. Disponível em:
hoje insiste predominantemente na transmissão de
http://www.construirnoticias.com.br
conteúdos e na formação social individualista. Estas
questões são percebidas não só na escola como também nas empresas e nas diver-
sas formas de intervenção em saúde. A burguesia percebeu a necessidade de ofere-
cer instrução, mínima, para a massa trabalhadora. Por isso, a educação se dirigiu para
a formação do cidadão disciplinado. O surgimento dos sistemas nacionais de
educação, no século XIX, é o resultado e a expressão que a burguesia, como classe
ascendente, emprestou à educação (Gadotti, 1995. p.90). A universalização da
escola, em grande parte do Ocidente, é uma conquista que não podemos deixar de
reconhecer. Não podemos dizer o mesmo desse sucesso, quando tratamos dessa
igualdade que ela representaria entre os homens, que foi embasamento para a escola
tradicional. Não sabemos por quanto tempo ainda haverá uma educação para os
pobres e outra para os ricos, mas já temos certeza de que a escola, por si só, não é
redentora da humanidade. Acreditamos que vamos entrar no terceiro milênio com uma
escola tradicional nada revolucionária se comparada às suas origens.

4
Esse Ensino Tradicional que ainda predomina hoje nas escolas se constituiu após a revolução
industrial e se implantou nos chamados sistemas nacionais de ensino, configurando amplas redes
oficiais, criadas a partir de meados do século passado, no momento em que, consolidado o poder
burguês, aciona-se a escola redentora da humanidade, universal, gratuita e obrigatória como um
instrumento de consolidação da ordem democrática. (Saviani, 1991. p.54)

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2.1.2 Aspectos Epistemológicos da Escola Tradicional

A abordagem tradicional do ensino parte do pressuposto de que a inteligência


é uma faculdade que torna o homem capaz de armazenar informações, das mais
simples às mais complexas. Nessa perspectiva é preciso decompor a realidade a ser
estudada com o objetivo de simplificar o patrimônio de conhecimento a ser transmitido
ao aluno que, por sua vez, deve armazenar tão somente os resultados do processo.
Desse modo, “na escola tradicional o conhecimento humano possui um caráter
cumulativo, que deve ser adquirido pelo indivíduo pela transmissão dos
conhecimentos a ser realizada na instituição escolar” (Mizukami,1986). O papel do
indivíduo no processo de aprendizagem é basicamente de passividade, como se
pode ver.
Segundo Mizukami (1986, p. 11), atribui-se ao sujeito um papel irrelevante na
elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está “adquirindo”
conhecimento compete memorizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos
que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema
atomístico.
Acreditamos que a escola tradicional ora se utilizou do inatismo que tem
origem no essencialismo do século XVII e ora do ambientalismo – originado do
fenomenismo do século XVIII para seu suporte epistemológico, não importando,
inclusive, do fato de serem contraditórios. Grosso modo, ou o aluno aprendia os
conteúdos escolares porque era portador de uma inteligência inata, ou sua
aprendizagem estava diretamente relacionada à quantidade ou qualidade da
experiência escolar em determinado conteúdo. Consequentemente, como o
historicismo veio superar essas duas primeiras estratégias, foi a partir dessa epis-
temologia historicista que se originou o construtivismo.

Figura 12- Ensino tradicional, centralizado no professor e os alunos receptores. Disponível em:
<http://blogtresalunas.blogspot.com.br /2011/10/caracteristicas-educacao-traficional.html>

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Aula 04
2.1.3 Aspectos Teóricos da Escola Tradicional

De acordo com Mizukami (1986), na


abordagem tradicional do processo de ensino, a
aprendizagem não se fundamenta em teorias
empiricamente validadas, mas sim numa prática
educativa e na sua transmissão através dos
anos. Dessa forma, os pressupostos teóricos da
escola tradicional partiram de concepções e
Figura 13- Massificação do pensa-
práticas educacionais que prosseguiram no mento. Disponível em: http://aviagem do-
sargonautas.net
tempo sob as mais diferentes formas. As críticas
à escola tradicional marcaram o início do surgimento das novas abordagens de ensino
que tiveram de partir da própria abordagem tradicional como referencial teórico e
prático de ensino.
Saviani (1991) mostra, porém, o caráter científico do ensino tradicional em
suas origens e que
(...) se estruturou através de um método pedagógico, que é o método
expositivo, que todos conhecem, todos passaram por ele, e muitos estão
passando ainda, cuja matriz teórica pode ser identificada nos cinco passos
formais de Herbart. Esses passos, que são o passo da preparação, o da
apresentação, da comparação e assimilação, da generalização e da
aplicação, correspondem ao método científico indutivo, tal como fora
formulado por Bacon, método que podemos esquematizar em três momentos
fundamentais:a observação, a generalização e a confirmação. Trata-se,
portanto, daquele mesmo método formulado no interior do movimento
filosófico do empirismo, que foi a base do desenvolvimento da ciência
moderna. (Saviani, 1991. p.55)

O papel do professor está intimamente ligado à transmissão de certo conteúdo


que é predefinido e que constitui o próprio fim da existência escolar. A didática
tradicional quase que poderia ser resumida, pois, em “dar lição” e “tomar lição”,
onde nesse relacionamento, o professor é o agente e o aluno é o ouvinte, o
assunto tratado é terminado quando o professor conclui a exposição, prolongando-se
apenas através de exercícios de repetição, aplicação e recapitulação. A ênfase do
ensino tradicional, portanto, está na transmissão dos conhecimentos (Saviani, 1991).

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2.1.4 Aspectos Metodológicos da Escola Tradicional

Como dito anteriormente, o ensino tradicional estruturou-se através do método


pedagógico expositivo, cuja matriz teórica pode ser identificada nos cinco passos
formais de Herbart. A seguir veremos uma síntese dos métodos de Herbart (1776-
1841) e de Bacon (1561-1626) que transcrevemos de Saviani (1991. p.55):

MÉTODO DE HERBART MÉTODO DE BACON


Observação
Identificar e desta-
Recordação da lição ante- (os três primeiros pas-
1º 1º car o diferente en-
Preparação rior, ou seja, do que já é co- sos de Herbart corres-
PASSO PASSO tre os elementos já
nhecido. pondem ao 1º Passo de
conhecidos.
Bacon)

O aluno é colocado diante Generalização (corres-


2º 2º
de um novo conhecimento ponde ao 4º Passo de Apresentação
PASSO PASSO
que deve assimilar. Herbart)

Se o aluno aplicou
corretamente os
conhecimentos ad-
A assimilação ocorre por Confirmação (corres- quiridos a assimila-
3º Assimilação/ 3º
comparação onde o novo é ponde ao 5o. Passo de ção está confir-
PASSO comparação PASSO
assimilado a partir do velho. Herbart) mada. Pode-se afir-
mar que ao ensino
correspondeu uma
aprendizagem.
O aluno deve ser capaz de
4º identificar todos os fenô-
Generalização
PASSO menos correspondentes ao
conhecimento adquirido.
Verificar, através
5º de exemplos novos, se o
Aplicação
PASSO aluno efetivamente assimi-
lou o que lhe foi ensinado.

Saviani (1991) elabora uma síntese interessante sobre essa estrutura do mé-
todo tradicional, que vale ser lembrada:

Eis, pois, a estrutura do método; na lição seguinte começa-se corrigindo os


exercícios, porque essa correção é o passo da preparação. Se os alunos fi-
zerem corretamente os exercícios, eles assimilaram o conhecimento anterior,
então eu posso passar para o novo. Se eles não fizeram corretamente, então
eu preciso dar novos exercícios, é preciso que a aprendizagem se prolongue
um pouco mais, que o ensino atente para as razões dessa demora, de tal
modo que, finalmente, aquele conhecimento anterior seja de fato assimilado,
o que será a condição para se passar para um novo conhecimento. (p. 56)

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Mizukami (1986) também enfatiza o método expositivo como sendo o que ca-
racteriza, essencialmente, a abordagem do ensino
tradicional. A metodologia expositiva privilegia o pa-
pel do professor como o transmissor dos conheci-
mentos e o ponto fundamental desse processo será
o produto da aprendizagem (a ser alcançado pelo
aluno). Acredita-se que se o aluno5 foi capaz de re-
produzir os conteúdos ensinados, ainda que de Figura 14- Metodologia exposi-
tiva. Disponível em: http://edusocio-
forma automática e invariável, houve aprendizagem. litica.blogs pot. com.br>
Continuando nossas reflexões sobre esta es-
cola, podemos estabelecer (...) outra vertente do ensino tradicional, o chamado en-
sino intuitivo, no qual se pretende provocar certa atividade no aluno. Segundo a au-
tora, esta forma de ensino pode ser caracterizada pelo MÉTODO “MAIÊUTICO”, cujo
aspecto básico é o professor dirigir a classe a um resultado desejado, através de uma
série de perguntas que representam, por sua vez, passos para se chegar ao objetivo
proposto.
Essa metodologia é ainda muito comum atualmente em nossas salas de aula.
Segundo a autora os que defendem tal método acreditam que ele provoca a pesquisa
pessoal no aluno. Quando os alunos conseguem chegar ao objetivo proposto pelo
professor, infere-se que eles compreenderam o conteúdo total proposto.

De acordo com Saviani (1991), o MÉTODO TRADICIONAL


continua sendo o mais utilizado pelos sistemas de ensino, prin-
cipalmente os destinados aos filhos das classes populares.

No entanto, outras pesquisas apontam que, uma análise da escola privada des-
tinada às classes privilegiadas da sociedade chegaria à conclusão de que o ensino
tradicional continua a ser o mais utilizado. Neste contexto também, as escolas mais
conceituadas do mundo, entre elas, as inglesas e as suíças, são as mais tradicionais
possíveis, até por serem mesmo muito antigas. Em se falando da realidade brasileira,

5
Ou o sujeito de mediação seja ele em uma empresa ou nos grupos escolares de intervenção em sa-
úde.

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certifica-se que esse é o modelo de ensino mais utilizado e até mais desejado pela
sociedade.
Podemos questionar, no entanto, a qualidade do ensino da escola tradicional
na atualidade. Constatamos, informalmente, que ela está empobrecida se comparada
às instituições existentes nas décadas passadas. Os conhecimentos não estão sendo
transmitidos com o mesmo rigor daquela antiga escola tradicional que instruiu nossos
pais e avós. Cremos ter mostrado as características principais do método tradicional
de ensino. O importante é reconhecermos que o suporte teórico da escola tradicional
já atravessou décadas e mais décadas no tempo, o que possibilitou várias modifica-
ções em sua essência original.
Podemos dizer que o MÉTODO EXPOSITIVO atual guarda sensível seme-
lhança com os passos de Herbart, mas, ao mesmo tempo, traz as peculiaridades dos
paradigmas de ensino que vieram posteriormente. É verdadeiro falar até de certa con-
taminação dos outros métodos que tomaram o método tradicional como base (para
criticá-lo e/ou ultrapassá-lo). E talvez não exista, sequer, um método puro.

3.1 CONSTRUTIVISMO

3.1.1 Aspectos Epistemológicos6 do Construtivismo

O conhecimento humano é tema que vem sendo estudado ao longo de toda a


história da humanidade. Várias tentativas têm sido feitas em busca da formulação de
uma teoria, capaz de chegar a uma conclusão ou, ao menos, a uma aproximação
sobre essa capacidade unicamente humana de reter, criar e elaborar conhecimento.

6
Epistemologia ou teoria do conhecimento é a crítica, estudo ou tratado do conhecimento da ciên-
cia, ou ainda, o estudo filosófico da origem, natureza e limites do conhecimento. Pode-se remeter a
origem da "epistemologia" a Platão, ao tratar o conhecimento como "crença verdadeira e justificada".
A expressão "epistemologia" deriva das palavras gregas "episteme", que significa "ciência", e "Lo-
gia" que significa "estudo", podendo ser definida em sua etimologia como "o estudo da ciência”. O
desafio da "epistemologia" é responder "o que é" e "como" alcançamos o conhecimento? Diante des-
sas questões da epistemologia surgem duas posições:
Empirista: que diz que o conhecimento deve ser baseado na experiência, ou seja, no que for apre-
endido pelos sentidos. Como defensores desta posição temos Locke, Berkeley e Hume; e
Racionalista: que prega que as fontes do conhecimento se encontram na razão, e não na experiên-
cia. Como defensores desta posição temos Leibniz e Descartes.
(Disponível em < http://www.euniverso.com.br/Oque/epistemologia.htm> Acesso em 21/03/2013).

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Ao analisar o problema da fundamentação teórica das ciências humanas, Domingues


(1991, p.48) descreve as três diferentes estratégias da Episteme moderna:

1. ESSENCIALISTA: (Século XVII); voltada para o modus essendi das coisas, seu
elemento próprio é o ser (essência) e as qualidades do ser (acidentes, atributos, mo-
dos, etc.); toma a verdade como essência a desvelar;
2. FENOMENISTA: (Século XVIII); voltada para o modus operandi dos fenôme-
nos como notas da observação e da experiência, isto é, não como essências a desvelar,
mas fatos a descrever; seu elemento próprio é o fenômeno e as correlações dos fenô-
menos;
3. HISTORICISTA: (Século XIX); voltada para o modus faciendi das coisas, seu
elemento próprio é o dever e as correlações do dever.

Para os empiristas, inspirados pela estratégia Fenomenista, o conhecimento


tem origem e evolui a partir da experiência acumulada pelo indivíduo. É o chamado
determinismo ambiental: o homem é produto do ambiente. Por sua vez, para os
inatistas, influenciados pela estratégia essencialista, o conhecimento é pré-formado;
já nascemos com as estruturas do conhecimento, que se atualizam à medida que nos
desenvolvemos. Finalmente, o construtivismo, que se baseou na estratégia histori-
cista, veio superar essas duas visões ao afirmar que o conhecimento resulta da inte-
ração do indivíduo com o ambiente:

As estruturas do pensamento, do julgamento e da argumentação dos sujeitos


não são impostas às crianças, de fora, como acontece no behaviorismo (...)
também não são consideradas inatas como se fosse uma dádiva da natureza.
A concepção defendida por Piaget e pelos pós- piagetianos é que essas es-
truturas são o resultado de uma construção realizada por parte da criança em
longas etapas de reflexão, de remanejamento. (Freitag, 1993. p.27)

A mesma autora considera que os pressupostos epistemológicos do construti-


vismo se fundamentam na ideia de que o pensamento não tem fronteiras: ele se
constrói, se destrói, se reconstrói. Um dos pontos principais da visão construtivista
de ensino é que a aprendizagem é uma construção da própria criança, em que ela é
o centro no processo, e não o professor.

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QUER
QUER SABER
SABER +?+?
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para a sua própria produção ou a sua construção.

Paulo Freire”
Observe a imagem apresentada abaixo:
Observe a imagem apresentada abaixo:

Figura 15- Another Brick In The Wall. Disponível em: <http://vimeo.com/9000691>

Leia, a seguir, a letra da música de Pink Floyd. Nela estão materializados as-
pectos e características da Escola Tradicional.

Another Brick In The Wall


Outro Tijolo Na Parede (tradução)

Papai voou do oceano Professores deixem as crianças em paz


Deixando só uma memória Hey professores! Deixem as crianças em paz
Uma foto no álbum de família De qualquer maneira você era só mais um tijolo
Papai o que mais você deixou pra mim? na parede
Papai o que você deixou lá trás pra mim? De qualquer maneira você é só mais um tijolo na
De qualquer maneira era só um tijolo na parede parede
De qualquer maneira tudo era só tijolos na
parede Nós não precisamos de educação
Nós não precisamos de controle de pensamento
Nós não precisamos de educação Sem sarcasmo sombrio na sala de aula
Nós não precisamos de controle de pensamento Professores deixem as crianças em paz
Sem sarcasmo sombrio na sala de aula Hey professores! Deixem as crianças em paz

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De qualquer maneira você era só um tijolo na De qualquer maneira eram só mais tijolos na
parede parede
De qualquer maneira você é só outro tijolo na
parede Adeus mundo cruel
Estou te deixando hoje
Não preciso de braços ao meu redor Adeus, adeus, adeus
Não preciso de drogas pra me acalmar
Eu vi as escrituras na parede Adeus todas as pessoas
Não acho que eu preciso de algo Não há nada que você possa dizer
Não, não acho que eu preciso de de algo Para me fazer mudar de ideia
De qualquer maneira eram só mais tijolos na Adeus
parede

Solte o PLAY...
Estudo Errado
Gabriel, o pensador.
Ouça: https://www.you-
tube.com/watch?v=l540Ho2qSAk

Assim podemos perceber, explicitamente, aspectos relaciona-


dos às questões referentes ao ensino tradicional.

Para ASSISTIR...

“Sociedade dos poetas mortos”:


O filme exalta a importância do papel do professor diante
de seus alunos, na tarefa de formar indivíduos críticos, cri-
ativos e pensadores, contribuindo para que o aluno se torne
capaz de fazer suas próprias reflexões sobre a realidade.
Figura 16- Sociedade
Mostra uma nova maneira de ensinar, mas que não foi bem dos poetas mortos.
Disponível em:
aceita pelos administradores da escola tradicional e pelos pais que tinham ideias con-
http://ww w.teko-
servadoras que impediam seus filhos de tomarem suas próprias decisões. Retrata a are.com.br/7-filmes-
que-todo-lider-deveria-
dificuldade em romper paradigmas cristalizados.

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1) Sobre o surgimento da Escola Tradicional formalizada, é correto afirmar que:


a) Esta escola veio satisfazer o ideal de democratização do ensino.
b) Surgiu no século XVI, para atender às classes sociais emergentes.
c) A Escola Tradicional carrega desde sua implantação, um estigma negativo, por
seu discurso antidemocrático.
d) Ela surgiu a partir do advento dos sistemas nacionais de ensino, que datam do
século passado, mas que só atingiram maior força e abrangência nas últimas
décadas do século XX.

2) Podemos dizer que na Escola Tradicional, o conhecimento humano:


a) É construído em interação do sujeito com o meio e objeto de aprendizagem.
b) É adquirido quando o sujeito está pronto, maduro e aprende tudo que o professor
ensina.
c) Possui um caráter cumulativo, que deve ser adquirido pelo indivíduo pela
transmissão dos conhecimentos a ser realizada na instituição escolar.
d) Acontece quando o professor transmite uma quantidade significativa de informa-
ções para o aluno e ele responde prontamente.

3) As características da didática na Escola Tradicional pode ser resumida correta-


mente, da seguinte forma como:
a) Preparação, recordação, sistematização e avaliação.
b) Problematização, generalização, síntese e avaliação.
c) Interação entre aluno-aluno-professor, pesquisa, estudo e avaliação.
d) O professor apresenta-se como agente e o aluno como receptor da lição.

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4) Marque a alternativa correta em relação a características do ensino intuitivo:


a) O aluno tem liberdade de expressão e sua opinião é valorizada.
b) O professor não é o centro desta metodologia, é o aluno quem realiza todo o
processo.
c) Conduz o aluno a respostas positivas sobre o que foi ensinado, oferecendo listas
de atividades de fixação.
d) Pode ser caracterizados pelo método maiêutico, cujo aspecto básico é o profes-
sor dirigir a classe a um resultado desejado, através de uma série de perguntas
que representam, por sua vez, passos para se chegar ao objetivo proposto.

5) Relacione os conceitos apresentados a cada uma das teorias relacionadas


abaixo:
( )(Século XVII); voltada para o
modus essendi das coisas, seu
elemento próprio é o ser (essên-
cia) e as qualidades do ser (aci-
dentes, atributos, modos, etc.);
toma a verdade como essência a
desvelar.
01- ESSENCIALISTA
( ) (Século XVIII); voltada para o
02- FENOMENISTA: modus operandi dos fenômenos
03- HISTORICISTA: como notas da observação e da
experiência, isto é, não como es-
sências a desvelar, mas fatos a
descrever; seu elemento próprio é
o fenômeno e as correlações dos
fenômenos.
( )(Século XIX); voltada para o
modus faciendi das coisas, seu
elemento próprio é o dever e as
correlações do dever.
Assinale a opção que apresenta a relação correta.
a) 1, 2 e 3.
b) 1, 3 e 2.
c) 2, 1 e 3.
d) 3, 2 e 1.

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