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O combate à “herança maldita”

A retomada das políticas socioambientais por parte do governo Lula em meio


ao cenário catastrófico deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
Por Letícia Rivoli

Uma das primeiras notícias divulgadas pouco tempo depois da vitória de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas do dia 30 de outubro do ano passado, foi a de
que representantes da Noruega e da Alemanha retomariam o investimento de
verbas no Fundo Amazônia para o Brasil.
Segundo um relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), mais de R$ 3
bilhões estavam paralisados no fundo que tem como objetivo reunir doações de
outros países para promover a conservação da maior floresta tropical do planeta. No
primeiro dia de governo, o atual presidente assinou um decreto retomando as
atividades do programa. Só que essa não foi a única mudança no cenário das
políticas socioambientais do Brasil.
Depois de quatro anos de desmonte de ações e legislações no âmbito da
proteção ambiental, um dos maiores desafios pós governo Bolsonaro é justamente a
retomada dessas políticas.
Aqui, cabe citar a fala que marcou os quatro anos de diretrizes bolsonaristas
e que está diretamente ligada ao Ministério do Meio Ambiente, na qual o então
ministro Ricardo Salles, em uma das reuniões ministeriais, disse “então pra isso
precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de
tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de Covid e ir
passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas".
Apenas a fala não é suficiente para explicitar o desmantelamento deliberado
e ilegal das políticas públicas, dos espaços de controle e participação social, dos
marcos regulatórios e das instituições públicas que estão diretamente relacionadas
à preservação da biodiversidade, das florestas e da agenda climática e ambiental
brasileira. Além dela, um relatório desenvolvido pelo Gabinete de Transição
Governamental e entregue ao atual presidente no dia 22 de dezembro do ano
passado, apresenta uma lista com nove decretos do governo anterior que deveriam
ser imediatamente revogados na área ambiental.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, ao entregar o documento formalmente,
buscou resumir os problemas diagnosticados ressaltando que “na questão do Meio
Ambiente, tivemos aumento de 59% do desmatamento na Amazônia entre 2019 e
2022. E, nas últimas semanas (30 dias), 1.216% de aumento nas queimadas. Uma
devastação das florestas, não por agricultores, mas por grileiros de terra”.
Todas essas revogações pontuadas neste documento são mais que
necessárias para a retomada dos trabalhos conscientes e responsáveis no quesito
ambiental. No entanto, segundo a avaliação de algumas ONGs que trabalham em
prol da proteção da Amazônia, e que acompanharam de perto os estragos causados
pela gestão anterior, elas não são o bastante para que o Estado consiga fazer frente
ao crime organizado que, ao longo desses quatro anos, dominou inúmeros
territórios do bioma.
Uma das medidas adotadas logo no primeiro dia de atuação do governo Lula
está relacionada às multas ambientais. O decreto que reorganiza as regras de
conversão de multas em serviços ambientais, busca evitar que R$ 18 bilhões em
multas do ICMBio e do Ibama prescrevam, e além disso, põe fim aos “Núcleos de
Conciliação Ambiental”, implantados em 2019, que desmantelavam as regras da
legislação ambiental e por fim garantiam a impunidade dos infratores que fossem
flagrados cometendo esses crimes.
Outro ponto que vale ser ressaltado é a volta da sociedade civil como
participante ativo na composição do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama) que foi criado em 1981. Bolsonaro havia esvaziado o colegiado e
reduzido o número de participantes civis que antes buscavam contribuir diretamente
na definição das políticas públicas ambientais do país.
Outra pauta importante é a de áreas de atuação do garimpo, que segundo
um levantamento do Mapbiomas, cresceu cerca de 495% em terras indígenas e
300% em unidades de conservação entre 2010 e 2020. Diante disso é possível
perceber, antes de mais nada, o cenário catastrófico que o governo atual vem
precisando enfrentar.
Em fevereiro de 2022 ocorreu a criação do chamado “Programa de Apoio ao
Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala” através de um
decreto do ex-presidente. O intuito era usar a “mineração artesanal" e “em pequena
escala” como fachada para fomentar ainda mais atividades que foram se
desenvolvendo até alcançarem escalas industriais com maquinário robusto e
movimentações econômicas milionárias. Foi mediante esse contexto que o
presidente petista deu mais um passo a favor do meio ambiente ao revogar o ato de
Bolsonaro.
Vale, ainda, destacar a retomada do Plano de Ação a Prevenção e Controle
do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) que foi criado pela atual ministra
do meio ambiente, Marina Silva, ainda em sua primeira gestão nesse cargo em
2004. O plano foi mais um alvo de extinção do governo bolsonarista e agora é
retomado, mas ainda carece de um planejamento mais detalhado.
Dentre essas e outras mudanças e avanços podemos listar aqui ainda o
Cadastro Ambiental Rural (CAR) que deixa de fazer parte da pasta do Ministério da
Agricultura sendo agora pertencente à pauta do Ministério do Meio Ambiente e
Mudança do Clima, que inclusive é o novo nome do Ministério que agora incorpora
esse novo termo carregado de simbolismo. Além de todos esses pontos, existe
ainda a volta do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e da Agência Nacional de Águas
e Saneamento Básico (ANA) à estrutura da área ambiental e a tão sonhada criação
do Ministério dos Povos Indígenas.

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