178-Texto Do Artigo-858-2-10-20121127

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UMA ANÁLISE DO ACESSO AO CRÉDITO RURAL PARA AS

UNIDADES PRODUTIVAS AGROPECUÁRIAS DO ESTADO DE SÃO


PAULO: UM ESTUDO A PARTIR DO LUPA*
Gabriela dos Santos Eusébio**
Rudinei Toneto Jr.***

O artigo busca compreender e mensurar as características dos produtores rurais que ampliam a
probabilidade para que estes tenham acesso ao crédito rural. Utiliza-se o modelo de estimação
probit com informações retiradas do Levantamento das Unidades Produtivas Agropecuárias (Lupa)
do Estado de São Paulo (2007/2008), que abrange todas as unidades de produção agropecuária
(UPAs) pertencentes aos 645 municípios do estado. Os resultados mostram que o fato de o
produtor pertencer a alguma cooperativa, associação e sindicato eleva a probabilidade de obter
crédito. Outro resultado importante é o impacto positivo causado na probabilidade de obter
crédito pela unidade possuir escrituração contábil. Além disso, pequenos produtores apresentam
probabilidade menor de obter crédito rural.
Palavras-chave: Microeconometria; Crédito Rural; Probit.

A REVIEW OF THE ACCESS TO RURAL CREDIT FOR AGRICULTURAL


PRODUCTION UNITS OF THE STATE OF SÃO PAULO: A STUDY FROM THE LUPA

This paper aims to understand and measure the characteristics of farmers which enhance their
likelihood of having access to rural credit. We use the probit estimation model with information
from the Survey of Agricultural Production Units (Lupa, in Portuguese) of São Paulo (2007/2008),
which covers all 645 Agricultural Production Units belonging to municipalities in the state. The
results show that producers who belong to a cooperative, association or union are more likely to
obtain credit. Another positive finding is that proper bookkeeping improves a unit’s likelihood of
obtaining credit. Also, small producers are less likely to obtain rural credit.
Key-words: Microeconometrics; Rural Credit; Probit.

UN ANÁLISIS DEL ACCESO AL CRÉDITO RURAL PARA LAS UNIDADES


PRODUCTIVAS AGROPECUARIAS DEL ESTADO DE SÃO PAULO: UN ESTUDIO
DE LA LUPA

El objetivo del artículo es comprender y mensurar las características de los productores rurales
que amplían la probabilidad de que ellos tengan acceso al crédito rural. Se utiliza el modelo de
estimación probit con informaciones del Estudio de las Unidades Productivas Agropecuarias (Lupa,

*
Possíveis erros e omissões são da responsabilidade dos autores. Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo apoio financeiro à pesquisa.
**
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). E-mail: gabyse@fearp.usp.br
***
Professor titular do Departamento de Economia da USP. E-mail: rtoneto@fearp.usp.br
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en portugués) del Estado de São Paulo (2007/2009), que abarca todas las UPAs pertenecientes a
los 645 municipios del estado. Los resultados muestran que el hecho de pertenecer el productor a
alguna cooperativa, asociación o sindicato eleva su probabilidad de obtener crédito. Otro resultado
importante es que la probabilidad de obtener crédito aumenta si la unidad posee teneduría de
libros. Además, pequeños productores presentan menor probabilidad de obtener crédito rural.
Palabras-clave: Microeconometría; Crédito Rural; Probit.

UNE ANALYSE DE L’ACCÈS AU CRÉDIT RURAL POUR LES UNITÉS DE


PRODUCTION AGRICOLE DE L’ÉTAT DE SÃO PAULO: UNE ÉTUDE DE L’LUPA

Cet article vise à comprendre et mesurer les caractéristiques des fermiers qui améliorent leur
probabilité d’avoir accès au crédit rural. Nous avons utilisé le modèle d’estimation probit avec
des informations de la Recherche des Unités de Production Agricole (LUPA, en portugais) de
São Paulo (2007/2008), qui englobe toutes les 645 Unités de Production Agricole appartenant
aux municipalités de l’état. Les résultats montrent que les producteurs qui appartiennent à une
coopérative, association ou syndicat ont de plus fortes chances d’obtenir du crédit. Un autre
résultat positif c’est que les unités qui font la comptabilité ont de plus fortes chances d’obtenir
du crédit rural. En plus, les petits producteurs ont de plus faibles chances d’obtenir du crédit rural.
Mots-clés: Microéconométrie; Crédit Rural; Probit.

1 INTRODUÇÃO
O acesso ao crédito é importante fator para possibilitar o crescimento das em-
presas e melhor gestão dos recursos. Ao longo de muitos anos, um dos grandes
entraves ao desenvolvimento da economia brasileira foi, certamente, a questão
do crédito e do financiamento. O mercado de crédito brasileiro podia ser
caracterizado por sua fragilidade, por apresentar nível de desenvolvimento pouco
elevado e por ser substancialmente reduzido em comparação aos mercados
estrangeiros. Os custos e os prazos dos empréstimos são bastante inadequados,
caracterizando-se por elevadas taxas de juros e concentração de operações no
curto prazo. Note-se que esta situação parece não se adequar ao elevado grau
de sofisticação do sistema financeiro brasileiro, o amplo espectro de instituições
com elevada solidez e rentabilidade.
Esse fato pode ser explicado por um conjunto de fatores macro e microeco-
nômicos. Como fator macroeconômico, pode-se destacar a histórica instabilidade
da economia brasileira, assim como de suas instituições, e as altas taxas de juros
praticadas no país. Já como fator microeconômico, vale ressaltar a fraca estrutu-
ra empresarial brasileira e os incentivos à informalidade, problemas legais e de
enforcement das leis, como a morosidade e a incerteza sobre as decisões judiciais
(PINHEIRO, 2003), a dificuldade de acesso a informações acerca das empresas
e de pessoas físicas – falta de transparência e ausência de sistema de informações
positivas –, entre outros aspectos.
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 135

Vale destacar que nos últimos anos verificou-se significativa elevação do cré-
dito no país. A relação crédito/produto interno bruto (PIB) saltou de um valor
em torno de 25% em 2002 para mais de 41% em 2008. Este aumento decorreu
de uma série de fatores: consolidação da estabilidade econômica, tendência de
queda da taxa de juros, mudanças institucionais importantes – crédito consigna-
do, reforma do Sistema Financeiro Imobiliário, entre outros –, retomada do cres-
cimento econômico, e outros aspectos que facilitaram e estimularam a ampliação
do crédito. Apesar disso, a oferta de crédito no país ainda é baixa comparativa-
mente a outros países.
O mercado de crédito apresenta uma série de especificidades que o diferencia
de outros mercados. A principal delas refere-se à existência de informações assi-
métricas entre as partes envolvidas, o que resulta em problemas para o mercado
financeiro, o de seleção adversa e risco moral. Esses problemas prejudicam as tran-
sações financeiras, uma vez que elevam seus custos, inviabilizando alguns tipos de
operações e, consequentemente, gerando racionamento de crédito (STIGLITZ;
WEISS, 1981).
Dessa maneira, pode ser atribuído ao setor financeiro um caráter conserva-
dor, que exclui importantes segmentos que não são capazes de atender aos cri-
térios de garantias, ou que apresentam custos elevados de verificação, como as
microempresas, atividades do setor informal e do setor agrícola.
Para o meio rural, o crédito possibilita o investimento em insumos básicos
da atividade, o acúmulo de capital humano e fixo, a incorporação de novas tecno-
logias, a regularização do seu fluxo de consumo pessoal frente à sazonalidade da
produção rural, entre outros aspectos. Por outro lado, a dificuldade de obtenção
de informações e as características do meio rural dificultam a concessão do crédi-
to, tendo em vista os maiores riscos envolvidos, fazendo que pequena parcela dos
produtores tenha acesso ao financiamento. Compreender as características dos
produtores que conseguem acessar o crédito pode facilitar o desenho de políticas
e instrumentos que ampliem o acesso dos demais produtores, colaborando para a
geração de renda e redução das desigualdades no meio rural.
Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho se concentra em verificar
quais características dos produtores rurais são determinantes ou ampliam a pro-
babilidade para que estes tenham acesso ao crédito rural. O trabalho se baseou
nos indicadores do Lupa do estado de São Paulo, realizado em 2007-2008 pelo
Instituto de Economia Agrícola (IEA).
De acordo com a teoria econômica, variáveis como tamanho da pro-
priedade, transparência na gestão e melhorias em níveis de produtividade im-
pactam de maneira positiva na obtenção de crédito pelas empresas (BECK;
KUNT; MAKSIMOVIC, 2004; SCHIFFER; WEDER, 2001). Porém, quando
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analisamos o mercado de crédito rural, não há estudos empíricos que analisem


a influência das características, seja do produtor, seja da propriedade, na proba-
bilidade de acesso ao crédito rural. Baseado nisso, o trabalho procurou testar o
impacto de algumas variáveis relacionadas a esses fatores no acesso ao crédito,
por parte de produtores agropecuários do estado de São Paulo. Com este intui-
to, foram utilizadas as variáveis estrato de terra, relacionada com o tamanho da
unidade produtiva, a variável possuir escrituração contábil, que está relacionada
com transparência de gestão, a variável ter assistência técnica oficial, que está re-
lacionada com produtividade, e variáveis com informações socioeconômicas dos
proprietários, que estão relacionadas com a sua qualidade de gestão.
Os resultados apresentados neste artigo mostram que a existência de escritu-
ração contábil aumenta a probabilidade de o produtor obter crédito rural, e que
o impacto causado quando um produtor não tem a escrituração e passa a tê-la
é elevado. Além disso, vale ressaltar o fato de que produtores que participam de
associações, cooperativas ou sindicatos apresentam maior probabilidade de obte-
rem crédito rural.
O trabalho se divide em quatro seções além desta introdução. A seção 2
discute a questão do acesso ao crédito no meio rural. Na seção 3 é apresentado
o método de estimação e na 4 é apresentada a base de dados e os resultados das
estimações. Na seção 5 são apresentadas as considerações finais.

2 A QUESTÃO DO ACESSO AO CRÉDITO RURAL


De acordo com Levine (1997), o sistema financeiro afeta o crescimento econômi-
co, uma vez que reduz os custos de transação e informação, além de desempenhar
as funções de levantamento de fundos, amenização de riscos, seleção de clientes
e direcionamento de recursos para projetos mais rentáveis. Ao cumprir essas fun-
ções, este sistema se torna responsável por maior eficiência alocativa, além de
possibilitar acumulação de capital e inovação tecnológica, ao alterar a taxa de
poupança e realocá-la.
Quando falamos do setor rural, os mesmos argumentos encontrados em
Levine (1997), que justificam a visão de que o sistema financeiro tem impactos
positivos sobre o crescimento econômico, são aplicáveis. A acumulação de capital e
a inovação tecnológica são fatores determinantes para o crescimento do setor rural,
e o setor financeiro tem um papel primordial nesse processo, por levantar fundos,
mobilizar poupança, facilitar o planejamento das atividades e permitir o acesso a
melhores tecnologias e aproveitamento de melhores oportunidades econômicas.
Para o setor agrícola, o crédito se torna importante instrumento para o de-
senvolvimento do setor, uma vez que possibilita o investimento em insumos bá-
sicos da atividade, como capital humano e fixo, viabilizando assim o processo de
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 137

produção e de inovação do setor. Além desses motivos, o crédito também traz


outros benefícios para o produtor, que não estão diretamente relacionados com
a produção, por exemplo, permitindo a regularização do seu fluxo de consumo
pessoal, por meio da compatibilização de seu fluxo de renda contínuo ou sazonal.
Quando o financiamento é para o setor agrícola, as dificuldades enfrentadas
para se ter acesso ao crédito são ainda mais representativas, uma vez que este setor
apresenta uma série de características que o tornam mais arriscados do ponto de
vista dos emprestadores. Segundo Yaron (1997), os aspectos que dificultam o al-
cance do meio rural pelo sistema financeiro tradicional são: a renda da população
rural tende a ser menor em relação à urbana, operações em baixa escala, a baixa
densidade demográfica, ausência de colateral (garantias de um empréstimo), mer-
cados fragmentados e isolamento, o que cria barreiras às informações e limita a
diversificação de riscos, a sazonalidade e a elevada flutuação da renda.
Spolador (2001) afirma que algumas das características que dificultam o
crédito para a agricultura são: riscos climáticos, custos de transações, volatilidade
nos preços dos produtos agrícolas e assimetria de informações. De acordo com
Acevedo e Delgado (2002), além desses problemas, o mercado financeiro rural
está sujeito a obstáculos, como: riscos elevados e dificuldades para diversificá-los,
altos custos de transação para credores e devedores, dificuldade em diluir os altos
custos fixos da infraestrutura financeira e a falta de produtos financeiros e não
financeiros adequados às necessidades do setor.
Ao tentar minimizar o problema de informações assimétricas, o sistema fi-
nanceiro utiliza mecanismos de seleção e monitoramento dos tomadores, que re-
sultam em contratos complexos e exigências de garantias que acabam aumentan-
do os custos de transação e operacionais, ameaçando a sustentabilidade financeira
de longo prazo das instituições. Esses fatores têm elevado impacto nas decisões de
concessão de crédito e na avaliação dos riscos, aumentando o custo relacionado a
empréstimos de pequena magnitude, principalmente aos requeridos pelos peque-
nos produtores rurais.
Para Khandker e Faruqee (2001), tanto o crédito formal como o informal são
de grande importância para a agricultura, uma vez que capitalizam os agricultores e os
estimulam a investir em novas tecnologias, facilitando o consumo por meio da viabili-
zação do capital de giro e, assim, reduzindo a necessidade de recursos pessoais voltados
para esse propósito. Ao estimarem a efetividade do Agricultural Development Bank of
Pakistan (ADBP) como sistema de distribuição de crédito e utilizando dados das fa-
mílias rurais paquistanesas, os autores mostraram que essa distribuição tinha impacto
positivo para a prosperidade das famílias, e este impacto se mostrou mais elevado para
os pequenos proprietários. Porém o estudo mostra, também, que o maior volume dos
recursos foi repassado para os grandes proprietários.
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Em seu estudo, Assunção e Chein (2007) analisam o comportamento re-


cente do racionamento de crédito rural para a população brasileira. Os autores
relacionam o conceito de racionamento à correlação existente entre riqueza e es-
colhas, ou seja, se a riqueza tem grande influência nas escolhas das famílias, então
o racionamento é ativo. Utilizando dados dos Censos Demográficos 1991 e 2000,
os autores concluem que o racionamento de crédito é ativo em todas as regiões do
país, e que melhorias nas condições de acesso das famílias rurais são necessárias.
Os autores, entretanto, questionam a capacidade de políticas de crédito resol-
verem o problema, uma vez que os resultados de testes empíricos demonstram
que as áreas com maior expansão do crédito bancário foram justamente as que
enfrentaram maior racionamento no período.
Os autores Kroth, Dias e Giannini (2006) sugerem, em seu estudo, que a
busca pelo melhor método para desenvolver um setor que apresenta mais riscos
complexos do que os encontrados em outros setores e que é estratégico para as
metas econômicas do país resulta em debates sobre temas relevantes ao país, como
a necessidade de subsídios para o setor rural, como devem ser geridos os financia-
mentos, se o crédito rural é capaz de sanar os problemas de produção, produtivi-
dade, e se realmente é efetivo em trazer retornos à sociedade.
Na tentativa de resolver os principais pontos do debate sobre a efetividade
do crédito rural, Kumar (2005) argumenta que os governos, em geral, adotam
políticas que combinem direcionamento setorial de crédito (controles de quan-
tidade), taxas de juros abaixo das taxas de mercado e programas governamentais
canalizados por meio de bancos públicos. Em geral, essas políticas aumentam o
volume de recursos destinados ao setor rural, porém essas políticas não possuem
mecanismos visando à recuperação dos empréstimos concedidos, o que afeta ne-
gativamente investimentos de longo prazo no setor.
O montante de recursos direcionados para o financiamento rural tem cres-
cido de forma sistemática no país. Gasques e Spolador (2003) mostram que a
média de recursos aplicados por ano, de 1990 a 1997, foi de R$ 8 bilhões e, entre
1996 a 2001, atingiu R$ 15 bilhões.
Apesar desse aumento da quantidade de recursos para a agricultura por meio do
Sistema Nacional de Crédito Rural, o financiamento continua de acesso restrito e
sendo um forte fator limitativo do desenvolvimento da agricultura no que se refere
ao aumento da produção e às possibilidades de investimentos.
Este valor tem crescido e o estoque de financiamento rural no fim de 2008 já
atingia R$ 106 bilhões, frente a R$ 89 bilhões em 2007; ou seja, aumento líquido
da ordem de R$ 17 bilhões no ano, de acordo com o Boletim do Banco Central
do Brasil (BCB, 2009).
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 139

Apesar do aumento dos recursos destinados ao meio rural, pequeno percen-


tual de produtores utiliza o crédito rural.

3 MÉTODO: PROBIT
O modelo probit é um modelo de resposta binária, em que o interesse reside na
probabilidade de resposta
P(y = 1|x) = G(β0 + β1x1 +...+ βkxk)....... (1)
em que x representa o conjunto completo de variáveis explicativas, e G é uma
função de distribuição cumulativa (FDC) normal padrão, assumindo valores es-
tritamente entre zero e um, 0 < G(z) < 1, para todos os números reais de z.
A FDC G é expressa como uma integral dada por
G(z) = ∫z-∞ ( 2π)-1/2exp(-z2/2)dv (2)
O modelo probit é derivado de um modelo de variável latente ou não obser-
vada subjacente. Seja y* uma variável não observada determinada por
y* = β0 + xβ + e, y = 1[y* > 0] (3)
E a função 1[.] é chamada de função indicadora, e assume o valor igual a
um se y* > 0, e igual a zero se y* < 0. Assume-se e independente de x e e apresenta
distribuição normal padrão.
Com base nessas hipóteses, a probabilidade de resposta de y passa a ser
P(y =1| x) = P(y* > 0| x) = G(β0 + xβ) (4)
Essa probabilidade nos dá a direção do efeito de xj sobre E(y*| x). Contudo,
a variável latente y* raramente tem unidade de medida bem definida; assim, as
magnitudes de cada βj não têm interpretação econômica.
Para extrair o efeito parcial das variáveis é preciso calcular as derivadas parciais
δp(x)/δxj = g(β0 + xβ)βj, em que g(z) = dG/dz (z) (5)
No probit, G(.) é uma função de distribuição cumulativa estritamente cres-
cente. O efeito parcial de xj sobre p(x) terá o mesmo sinal de βj.
A estimação do modelo probit é realizada por máxima verossimilhança.
Como essa estimação é baseada na distribuição de y dado x, a heteroscedas-
ticidade em Var(y|x) é automaticamente considerada. Para obter o estimador
de máxima verossimilhança, condicional nas variáveis explicativas, utilizamos a
densidade yi dado xi:
F(y|xi;β) = [G(xiβ)]y[1 - G(xiβ)]1-y, y = 0,1 (6)
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A função log-verossimilhança da observação i é uma função dos parâmetros


e dos dados (xi, yi), e é obtida tomando o log da função anterior, obtendo-se:
li(β) = yilog[G(xiβ)] + (1- yi)log[1 - G(xiβ)] (7)
A função G(.) está estritamente entre zero e um no probit, li(β) é bem de-
finido para todos os valores de β. Em uma amostra de tamanho n, a log-verossi-
milhança é obtida pela soma de todos os li(β). A estimação da máxima verossimi-
lhança de β, representada por β^, que maximiza essa log-verossimilhança, e será
o estimador probit.
Sob condições gerais, a estimação de máxima verossimilhança de amostras
aleatórias é consistente, assimptoticamente normal e assimptoticamente eficiente.
Para estimar quais características dos produtores rurais são determinantes ou
ampliam a probabilidade para que estes tenham acesso ao crédito rural, foram re-
alizadas sete estimações. A primeira estimação foi realizada para os valores médios
das variáveis do modelo.
As demais estimações foram realizadas para determinar os efeitos marginais
para diferentes valores das variáveis independentes. As equações utilizadas foram
as seguintes:
Estimação 1: estrato = 6 nivel_instrucao = 1 cooperado = 1 associado = 1
sindicalizado = 1 escrituracao = 1 renda = 100 at_oficial = 1.
Estimação 2: estrato = 6 nivel_instrucao = 1 cooperado = 1 associado = 0
sindicalizado = 1 escrituracao = 1 renda = 100 at_oficial = 1.
Estimação 3: estrato = 6 nivel_instrucao = 1 cooperado = 0 associado = 0
sindicalizado = 0 escrituracao = 1 renda = 100 at_oficial = 1.
Estimação 4: estrato = 6 nivel_instrucao = 1 cooperado = 0 associado = 0
sindicalizado = 0 escrituracao = 0 renda = 100 at_oficial = 1.
Estimação 5: estrato = 6 nivel_instrucao = 1 cooperado = 0 associado = 0
sindicalizado = 0 escrituracao = 0 renda = 100 at_oficial = 0.
Estimação 6: estrato = 3 nivel_instrucao = 1 cooperado = 0 associado = 0
sindicalizado = 0 escrituracao = 0 renda = 100 at_oficial = 0.
Os resultados das estimações são apresentados logo após a apresentação da
base de dados.

4 A BASE DE DADOS: O LUPA


Para identificar as características determinantes dos proprietários rurais e de suas
propriedades para a obtenção de crédito, o estudo se baseará em indicadores ex-
traídos do Levantamento de Unidades de Produção Agrícola.
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 141

O Lupa é um censo agropecuário realizado pelo estado de São Paulo, por


meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA). O projeto tem duas
edições: uma realizada em 1995-1996 (PINO et al., 1997 apud IEA) e a segun-
da em 2007-2008 (TORRES et al., 2009 apud IEA), com o trabalho de campo
sendo realizado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), e o
tratamento dos dados sob responsabilidade do Instituto de Economia Agrícola.
A unidade de levantamento é a UPA, que é definida como conjunto de
propriedades agrícolas contíguas e pertencentes ao(s) mesmo(s) proprietário(s),
localizadas inteiramente em um município, com área total igual ou superior a
0,1 hectare (ha), e não destinadas inteiramente a lazer (IEA). Uma UPA se apro-
xima do conceito de imóvel rural, não significando este quando o imóvel rural
se estende por mais de um município. Neste caso, cada parte localizada em um
município é considerada uma UPA diferente, bem como quando não é possível
levantar o imóvel rural como tal, sendo necessário agrupá-lo ou reparti-lo com
outros (IEA). O projeto Lupa abrangeu, em 2007, todas as UPAs pertencentes
aos 645 municípios do estado de São Paulo, cobrindo as explorações vegetais e
animais, mas excluindo as atividades de extrativismo.
O questionário Lupa apresenta dados sobre:
• Ocupação do solo, subdividindo a área total da UPA de acordo com a
área ocupada com cultura perene, cultura temporária, pastagem, reflo-
restamento, vegetação natural, de descanso, vegetação de brejo e várzea,
e complementar.
• Explorações vegetais, com dados sobre área cultivada, produtividade,
número de plantas, irrigação, arrendamento, produção de semente, co-
lheita manual, colheita mecânica, plantio direto, cultivo orgânico ou
transição.
• Mão de obra, classificando-a como familiar, permanente e temporária.
• Animais, máquinas e benfeitorias.
• Proprietário, com questões como: se reside na propriedade, seu nível de
instrução, se é cooperado, associado ou sindicalizado, se o percentual da
sua renda correspondente à participação das atividades agrícolas.
• Administração e assistência técnica, com questões sobre utilização de cré-
dito rural, utilização de seguro rural, disposição de energia elétrica, escri-
turação agrícola, recebimento de assistência técnica privada ou governa-
mental, existência de computadores e possibilidade de acesso à internet.
• Tecnologia em explorações vegetais, como manejo integrado de pra-
gas, hidroponia, sementes melhoradas, mudas legalizadas, adubação
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mineral, orgânica ou verde, práticas de conservação e análise de solo, e


cultivo em estufas.
• Técnicas em pecuária e criações, como utilização de inseminação ar-
tificial, confinamento total ou semiconfinamento de bovinos, pastejo
rotacionado, mineralização do rebanho e vermifugação do rebanho.
• Atividades econômicas não agropecuárias, como esporte e lazer, extra-
ção mineral, hotel fazenda, SPAs, pousadas, agroindústria, pesque-pa-
gue, restaurante, transformação artesanal, turismo rural e ecoturismo.
Entre essas informações disponíveis no questionário do Lupa, destacam-se
as variáveis a serem utilizadas no modelo, em dados agregados.
Analisando os dados agregados do Lupa, observa-se que os tamanhos de
UPAs mais predominantes no estado são aqueles entre 20 e 50 hectares, totalizan-
do 23,95% das UPAs, e aqueles entre 10 e 20 hectares, com 22,55%. O tamanho
da área das UPAs está dividido em 14 estratos. Esses dados são mostrados na
tabela 1.

TABELA 1
Estrutura fundiária do estado de São Paulo – 2007-2008
UPAs Área
Estrato
Número % Hectare %
Área das UPAs com (0,1] ha 4,370 1,35 2,794.10 0,01
Área das UPAs com (1,2] ha 7,565 2,33 12,025.29 0,06
Área das UPAs com (2,5] ha 41,555 12,80 151,661.49 0,74
Área das UPAs com (5,10] ha 47,782 14,72 367,115.02 1,79
Área das UPAs com (10,20] ha 73,207 22,55 1,081,760.38 5,28
Área das UPAs com (20,50] ha 77,758 23,95 2,467,251.29 12,03
Área das UPAs com (50,100] ha 32,932 10,15 2,331,035.23 11,37
Área das UPAs com (100,200] ha 19,741 6,08 2,770,726.07 13,51
Área das UPAs com (200,500] ha 13,564 4,18 4,147,892.78 20,23
Área das UPAs com (500,1 mil] ha 3,983 1,23 2,747,396.32 13,40
Área das UPAs com (1mil,2 mil] ha 1,545 0,48 2,108,621.87 10,28
Área das UPAs com (2 mil,5 mil] ha 510 0,16 1,456,017.60 7,10
Área das UPAs com (5 mil,10 mil] ha 67 0,02 441,774.90 2,15
Área das UPAs acima de 10 mil ha 22 0,01 418,034.30 2,04

Fontes: SAA, Cati, IEA e projeto Lupa.

A ocupação do solo no estado é predominantemente de áreas de pastagens


e de cultura temporária, as quais compreendem as terras ocupadas com lavouras
que completam seu ciclo de vida durante uma única estação, perecendo depois da
colheita, como o milho e a cana-de-açúcar, por exemplo. Vale ressaltar que uma
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 143

UPA pode apresentar mais de uma categoria de ocupação de solo. Assim, o per-
centual de UPAs com cada tipo de ocupação, mostrado na primeira coluna, pode
apresentar soma superior a 100%. O percentual de ocupação do solo, no estado,
é mostrado na tabela 2.

TABELA 2
Ocupação do solo do estado de São Paulo – 2007-2008
UPAs Área
Tipo
Número % Hectare %
Área com cultura perene 83,971 25,87 1,225,035 5,97
Área com cultura temporária 168,104 51,79 6,737,699 32,86
Área com pastagem 234,148 72,13 8,072,849 39,37
Área com reflorestamento 43,906 13,53 1,023,158 4,99
Área com vegetação natural 155,211 47,82 2,432,912 11,87
Área de vegetação de brejo e várzea 64,242 19,79 294,754 1,44
Área em descanso 25,806 7,95 222,419 1,08
Área complementar 268,485 82,71 495,280 2,42
Área total 324,601 100,00 20,504,107 100,00

Fontes: SAA, Cati, IEA e projeto Lupa.

No estado, cerca de 60% dos proprietários possuem vínculo com alguma


instituição de produtores. Além disso, apenas 15,38% utilizam o crédito rural, e
3% utilizam o seguro rural. Já a assistência técnica governamental fornece aten-
dimento para um pouco mais de 48% das UPAs. Destaca-se, na tabela 3, o pe-
queno percentual de produtores que utiliza o computador ou a internet para fins
agropecuários.

TABELA 3
Proprietários das UPAs do estado de São Paulo – 2007-2008
Número de UPAs %¹
Faz parte de associação de produtores 62,445 19,24
Faz parte de cooperativa de produtores 86,662 26,70
Faz parte de sindicato de produtores 80,702 24,86
Utiliza assistência técnica governamental 155,902 48,03
Utiliza assistência técnica privada 97,099 29,91
Utiliza crédito rural 49,917 15,38
Utiliza seguro rural 10,926 3,37
Utiliza escrituração agrícola 92,997 28,65
Acessa internet para fins na agropecuária 19,361 5,96
Utiliza computador nas atividades agropecuárias 20,610 6,35
Utiliza energia elétrica na atividade agrícola 248,006 76,40

Fontes: SAA, Cati, IEA e projeto Lupa.


Nota: ¹ Calculado sobre a totalidade de UPAs do estado de São Paulo.
144 planejamento e políticas públicas | ppp | n. 38 | jan./jun. 2012

Com base nessas informações, foram escolhidas variáveis relacionadas ao


tamanho das propriedades, ao tipo de cultura e aos proprietários. Para a variável
tamanho de área, foi utilizada a variável dividida em 14 estratos. A variável nível
de instrução está dividida em cinco níveis, sendo que para a estimação foi des-
considerado o nível cinco, uma vez que esse nível traz informações sobre Cadas-
tro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), e não sobre instrução dos proprietários.
A variável renda traz informações sobre a porcentagem da renda do proprietário
que provém da atividade rural. As variáveis sobre uso de solo foram utilizadas
em hectares, e as demais variáveis são dummies. Essas informações são mostradas
na tabela 4.

TABELA 4
Variáveis independentes
Variáveis Descrição Observações Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

estrato Estrato da área da UPA 324601 5.368212 1.839555 1 14


perene Área com cultura perene (ha) 324601 3.773972 41.40339 0 9493.5
cultura_te~a Área com cultura temporária (ha) 324601 20.75687 107.566 0 9313.6
pastagem Área com pastagem (ha) 324601 24.87007 98.88614 0 11443
nivel_inst~o Nível de instrução 324600 2.030481 1.381163 0 5
cooperado Variável dummy: ser cooperado 309983 0.2795702 0.448789 0 1
associado Variável dummy: ser associado 309983 0.2014465 0.401082 0 1
sindicaliz~o Variável dummy: ser sindicalizado 309983 0.2603433 0.438823 0 1
Variável dummy: ter escrituração
escrituração 309983 0.3000068 0.458261 0 1
contábil
Porcentagem da renda proveniente
renda 324601 51.1221 39.8978 0 100
da atividade rural
Variável dummy: ter assistência
at_oficial 309983 0.50293 0.49999 0 1
técnica oficial

Fontes: SAA, Cati, IEA e projeto Lupa.

As variáveis tamanho de área (estrato de terra) e uso predominante do solo


(cultura perene, temporária e pastagem) estão relacionadas com as garantias que
o produtor pode oferecer. As variáveis relacionadas a capital social são: se o pro-
dutor faz parte de alguma cooperativa, associação ou sindicato, o índice de ins-
trução do proprietário e o percentual da sua renda correspondente à participação
das atividades agrícolas. O grupo que traz informações sobre qualidade de gestão
e informações é formado pelas variáveis: assistência técnica governamental e es-
crituração contábil. A escolha dessas variáveis deve-se ao fato de não termos na
teoria econômica nenhum trabalho empírico que demonstre o impacto destas no
acesso ao crédito rural. Apenas encontramos estudos que mostram a relação entre
as variáveis relacionadas ao tamanho, à qualidade de gestão e ao capital social com
acesso ao crédito para empresas, como pode ser visto nos trabalhos de Beck, Kunt,
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 145

Maksimovic (2004) e de Schiffer e Weder (2001). Cabe destacar que não se


levaram em consideração aspectos relacionados aos equipamentos e maquinários
pertencentes a cada proprietário das UPAs. Dessa forma, fazemos ressalva de que
em trabalhos posteriores serão incorporados ao efeito sobre a obtenção de crédito,
as características de maquinário e, portanto, o efeito poderá mostrar-se diferente
segundo os equipamentos pertencentes a cada produtor.

5 RESULTADOS
A estimação do probit visa mensurar a probabilidade de o proprietário rural obter
crédito rural. A primeira estimação foi realizada para os valores médios das vari-
áveis, (estimação 0) resultando em probabilidade de 12,7% do proprietário com
as características médias de ter acesso ao crédito rural. Os resultados são apresen-
tados na tabela 5.

TABELA 5
Modelo Probit: efeitos marginais – valores médios
y = Pr(credito_rural) (predict) = .12838784

Variáveis dy/dx¹ Desvio-padrão Z P>|z| [95% C.I.] X

estrato 0.0081694 0.00045 18.23 0.000 0.007291 0.009048 5.35959

perene 0.0001323 0.00001 8.89 0.000 0.000103 0.000161 3.4858

cultura_te~a -0.000022 0.00001 -3.25 0.001 -0.000036 -0.000009 18.6741

pastagem -0.000092 0.00001 -12.46 0.000 -0.000107 -0.000078 24.8029

nivel_inst~o -0.004535 0.00052 -8.72 0.000 -0.005555 -0.003517 1.95808

cooperado 0.0603606 0.00161 37.58 0.000 0.057212 0.063509 0.275725

associado 0.0651963 0.00175 37.28 0.000 0.061769 0.068624 0.197063

sindicaliz~o 0.0405602 0.00154 26.39 0.000 0.037548 0.043572 0.256651

escrituração 0.0755014 0.00154 49 0.000 0.072482 0.078521 0.292689

renda 0.0014908 0.00002 88.93 0.000 0.001458 0.001524 52.8939

at_oficial 0.0812614 0.00125 64.95 0.000 0.078809 0.083714 0.507624

Fonte: Microdados do Lupa.


Elaboração dos autores.
Nota: ¹ dy/dx é para a mudança discreta da variável dummy de 0-1.

Com base na observação dos dados agregados do Lupa, foi realizada a es-
timação dos efeitos marginais (estimação 1) para os valores predominantes de
estrato de terra, do estrato seis, que compreende áreas de 20 a 50 hectares, e do
nível de instrução dos proprietários – o nível um que representa o primário com-
pleto. Além disso, a estimação foi feita para proprietários que são cooperados,
sindicalizados, associados, que possuem escrituração contábil, com participação
da agropecuária de 100% na renda familiar e que têm acesso à assistência técnica
146 planejamento e políticas públicas | ppp | n. 38 | jan./jun. 2012

oficial. O resultado é mostrado na tabela 6. Para esse proprietário, a probabili-


dade de obter crédito aumenta para 59,2%. Além disso, destaca-se o efeito da
assistência técnica oficial, que aumenta em 15% a probabilidade de obter crédito.
Destaca-se, também, o efeito de possuir escrituração contábil, que aumenta a
probabilidade de obter crédito em 13%, e de ser associado ou cooperado, que
aumenta a probabilidade em 11% e 10%, respectivamente.

TABELA 6
Modelo Probit: efeitos marginais – para estimação 1
y = Pr(credito_rural) (predict) = .59165814
Variáveis dy/dx¹ Desvio-padrão z P>|z| [95% C.I.] X

estrato 0.015213 0.00084 18.18 0.000 0.013573 0.016853 6


perene 0.000246 0.00003 8.89 0.000 0.000192 0.000301 3.4858
cultura_te~a -0.000042 0.00001 -3.25 0.001 -6.7E-05 -0.000017 18.6741
pastagem -0.000172 0.00001 -12.46 0.000 -0.0002 -0.000145 24.8029
nivel_inst~o -0.008447 0.00096 -8.77 0.000 -0.01034 -0.006558 1
cooperado 0.10711 0.00268 39.94 0.000 0.101853 0.112366 1
associado 0.112642 0.00276 40.84 0.000 0.107237 0.118048 1
sindicaliz~o 0.072966 0.00264 27.66 0.000 0.067795 0.078137 1
escrituração 0.132833 0.00251 52.93 0.000 0.127914 0.137751 1
renda 0.002776 0.00003 88.01 0.000 0.002714 0.002838 100
at_oficial 0.154679 0.00239 64.68 0.000 0.149992 0.159366 1

Fonte: Microdados do Lupa.


Elaboração dos autores.
Nota: ¹ dy/dx é para a mudança discreta da variável dummy de 0-1.

A partir desse resultado, foram realizadas estimações retirando-se, uma por


vez, as características do produtor. Essas estimações são mostradas na tabela 7. Ao
se estimar o modelo com as mesmas características, porém, para o produtor que
não é associado (estimação 2), a probabilidade de obter crédito cai para 48%.
Quando se estima o modelo para o produtor que não é associado, não é sindicali-
zado, nem participa de cooperativa (estimação 3), a probabilidade cai ainda mais:
passa para 30%.
Ao se estimar o modelo para o proprietário que também não possui es-
crituração contábil, além de não apresentar vínculo com nenhuma instituição
(estimação 4), essa probabilidade cai para 20%. E quando o proprietário não
apresenta também, além dessas características, o acesso à assistência técnica oficial
(estimação 5), a probabilidade de ter acesso ao crédito diminui para 10%.
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 147

TABELA 7
Estimações: probabilidades
escrituração Probabilidade
estrato nível-instrução cooperado associado sindicalizado renda at_oficial
contábil (%)

Estimação 1 6 1 1 1.000 1 1 100 1 59,2


Estimação 2 6 1 1 0.000 1 1 100 1 48
Estimação 3 6 1 0 0.000 0 1 100 1 30
Estimação 4 6 1 0 0.000 0 0 100 1 20
Estimação 5 6 1 0 0.000 0 0 100 0 10,9
Estimação 6 3 1 0 0.000 0 0 100 0 8,8

Fonte: Microdados do Lupa.


Elaboração dos autores.

Quando estimamos o modelo para um pequeno proprietário rural (estima-


ção 6), que apresenta uma unidade produtiva entre dois e cinco hectares, com
apenas o primário completo, e que não é associado, cooperado, sindicalizado,
não possui escrituração contábil, não tem assistência técnica oficial e toda a renda
familiar provém da atividade agropecuária, a probabilidade de obter crédito rural
cai para 8,8%. Esse resultado pode ser visto na tabela 8.

TABELA 8
Modelo Probit: efeitos marginais – para a estimação 6
y = Pr(credito_rural) (predict) = .08870796
Variáveis dy/dx¹ Desvio-padrão z P>|z| [95% C.I.] X

estrato 0.0062973 0.00031 20.25 0.000 0.005688 0.006907 3


perene 0.000102 0.00001 8.78 0.000 0.000079 0.000125 3.4858
cultura_te~a -0.0000174 0.00001 -3.28 0.001 -0.000028 -7.00E-06 18.6741
Pastagem -0.000071 0.00001 -12.84 0.000 -0.000082 -0.00006 24.8029
nivel_inst~o -0.0034965 0.0004 -8.68 0.000 -0.004286 -0.002707 1
cooperado 0.0517813 0.00155 33.44 0.000 0.048746 0.054816 0
associado 0.0549013 0.00162 33.91 0.000 0.051728 0.058075 0
sindicaliz~o 0.0335573 0.00136 24.61 0.000 0.030885 0.036229 0
escrituração 0.0667063 0.00158 42.13 0.000 0.063603 0.069809 0
renda 0.0011492 0.00002 52.64 0.000 0.001106 0.001192 100
at_oficial 0.0802566 0.00135 59.39 0.000 0.077608 0.082905 0

Fonte: Microdados do Lupa.


Elaboração dos autores.
Nota: ¹ dy/dx é para a mudança discreta da variável dummy de 0-1.
148 planejamento e políticas públicas | ppp | n. 38 | jan./jun. 2012

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O acesso ao crédito é importante instrumento para possibilitar crescimento para
os diferentes setores. No meio rural, o crédito possibilita investimento em insu-
mos básicos da atividade, o acúmulo de capital humano e fixo, a incorporação
de novas tecnologias, a regularização do seu fluxo de consumo pessoal frente à
sazonalidade da produção rural, entre outros aspectos. Porém, este setor apresenta
uma série de características que dificultam a concessão de crédito, como alta sazo-
nalidade, informações assimétricas, riscos climáticos, entre outros. Com isso, os
produtores rurais se deparam com um mercado de crédito racionado.
Para entender o porquê de alguns produtores terem maior possibilidade de
obter crédito, foi estimado o modelo probit para produtores agropecuários do
estado de São Paulo. Para tanto, foram utilizados microdados do Lupa do estado
de São Paulo.
Os resultados mostram que os produtores que são proprietários de unidades
produtivas entre 20 e 50 hectares, são associados, cooperados ou sindicalizados,
apresentam escrituração contábil, têm acesso à assistência técnica oficial e nível
de instrução com até o primário completo apresentam uma probabilidade muito
mais elevada de obter crédito do que um produtor que apresenta os valores mé-
dios dessas características, 59,2% contra 12,7%, respectivamente.
Ao se repetir a estimação para produtores com esse nível de instrução e
tamanho de propriedade, mas para produtores que não são associados, a probabi-
lidade de obter crédito se tornou menor. E assim, foram repetidas as estimações
para produtores que não eram cooperados ou sindicalizados, que não possuíam
escrituração contábil e, finalmente, que não possuíam assistência técnica oficial.
Em cada uma das estimações, a probabilidade de obter crédito foi diminuindo,
chegando a apenas 10,9%.
Com esses resultados, destaca-se o importante papel exercido por essas ins-
tituições. Para o estado de São Paulo, os produtores que fazem parte de alguma
cooperativa, associação e sindicato são aqueles que apresentam maior possibilida-
de de conseguir crédito rural.
O impacto positivo da existência de escrituração contábil para a obtenção de
crédito por parte dos produtores também foi significativo. Este impacto pode ser
explicado pelo fato de que a escrituração contábil permite maior transparência da
propriedade, diminuindo o problema de assimetria de informações.
Além disso, a estimação realizada para pequenos produtores, com unidades
produtivas de dois a cinco hectares, com apenas o primário completo, e que
não é associado, cooperado ou sindicalizado, não possui escrituração contábil,
não tem assistência técnica oficial e toda a renda familiar provém da atividade
Uma Análise do Acesso ao Crédito Rural para as Unidades Produtivas Agropecuárias do Estado de São Paulo... 149

agropecuária, mostra que a sua probabilidade de obter crédito é de apenas 8,8%.


Esse resultado nos mostra as dificuldades enfrentadas pelo pequeno produtor
rural, quando necessita do mercado de crédito.
Vale ressaltar que os resultados obtidos neste trabalho evidenciam a necessi-
dade de ampliar a transparência, a disseminação de melhores práticas de gestão e
o acesso dos produtores à assistência técnica, para que número maior de unidades
produtivas possa obter financiamento.
Os resultados apresentados pelas estimações apontam, inicialmente, para a
importância das variáveis analisadas para o aumento da probabilidade de acesso
ao crédito rural, por parte dos produtores agropecuários do estado de São Paulo.
O estudo constitui um esforço inicial em mostrar, empiricamente, as di-
ficuldades de acesso ao crédito para produtores agropecuários do estado de São
Paulo, uma vez que compreender as características que levam esses produtores
a terem dificuldades em acessar crédito pode facilitar o desenho de políticas e
instrumentos que ampliem o acesso dos demais produtores, colaborando para a
geração de renda e redução das desigualdades no meio rural.

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Originais submetidos em março de 2011. Última versão recebida em outubro


2011. Aprovado em outubro de 2011.

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