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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título

de especialista em Agronegócios – 2023

Impactos do crédito rural investimento no crescimento do agronegócio no


Brasil entre os anos 2017 e 2022

Lucas Mendes da Silva¹*; Marcos Antônio Matos²


¹ Caixa Econômica Federal. Gerente Geral de Rede Digital. Rua dos Andradas, 1000, 6º andar - Centro Histórico;
90020-007 Porto Alegre, RS, Brasil
² Instituto Pecege – ESALQ/USP. Engenheiro Agronômico, Mestre em Agronomia (USP). Av. Pádua Dias, 11 –
Agronomia; 13418-260 Piracicaba, SP, Brasil
*autor correspondente: lucasmends@gmail.com

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título
de especialista em Agronegócios – 2023

Impactos do crédito rural investimento no crescimento do agronegócio no


Brasil entre os anos 2017 e 2022

Resumo

A atividade de inovação é uma atividade tipicamente empreendedora e que busca


transformar a sociedade a partir da criação de novos produtos, serviços, tecnologias e
processos que, juntos, propiciem aumento de renda para o empresário. Essa busca de
aumento da renda do empreendedor passa por meio das possibilidades que o crédito tem de
alavancar a ação empreendedora e se traduz, a nível agregado, em um potencial de maior
produto de uma empresa, setor econômico e até mesmo de um país. Nesse estudo buscou-
se analisar o comportamento da variação do crédito rural do tipo investimento a nível agregado
entre os anos de 2017 a 2022 no Brasil e de forma estatística descritiva analisar a sua relação
com as variações do PIB do setor do agronegócio no Brasil. Verificou-se a existência de
relação positiva demonstrando a importância do crédito rural para o crescimento econômico,
porém com necessidade de maior refinamento da pesquisa por meio de dados adicionais de
estoque de capital fixo e depreciação de forma a se obter números mais exatos da magnitude
desse impacto.
Palavras-chave: inovação; produto; agro; tecnologia; empreendedor.

Introdução

A destruição criadora foi um conceito inicialmente proposto pelo economista Joseph


Schumpeter em seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia.
É um conceito que traz consigo importantes revelações sobre o pensamento do autor
em relação a economia e que traz luz ao seu pensamento sobre inovação como mola
propulsora do capitalismo.
Schumpeter (1961) argumenta que o ponto central do capitalismo é que ele é um
processo evolutivo e, dessa forma, o autor troca a visão de curto prazo e estática da teoria
econômica clássica para um processo evolutivo de vários períodos em que só podem ser
obtidas respostas concretas a partir da análise do todo.
É importante constatar que para o autor não se pode dissociar as pequenas novas
construções individuais das grandes revoluções inovativas, pois estas buscarão nas
pequenas bases um constante desenvolvimento. Dessa forma todo o processo capitalista é
integrado no conceito da Destruição Criadora que irá interligar todos esses pequenos
processos em uma máxima de entrega constantemente mais eficiente no longo prazo mesmo
diante de falhas que possam ser observadas no curto prazo.
Schumpeter (1961) sugere que deva se modificar o foco da simples obtenção de dados
de preços e quantidades como nos neoclássicos para que se possa realmente entender o que
está por trás do pensamento do empreendedor: busca por sobrevivência no longo prazo. Essa
é a razão do empreendedor inovar e, com isso, criar o novo, se adaptar ao novo, replicar o

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novo, de forma que seus custos e processos estejam alinhados e possibilitando sua
sobrevivência e isso será a razão do crescimento econômico, da melhoria de qualidade de
vida para as massas e manutenção do capitalismo.
Segundo Seidler e Filho (2016) a inovação tecnologica acontece no processo de
produção ou nos produtos. Pode-se ainda haver inovação organizacional incluindo novas
estruturas organizacionais, novas técnicas de gerenciamento ou orientação estratégica.
Todos os tipos de inovação, contudo, são fundamentais para que haja crescimento
econômico segundo as diversas escolas econômicas.
Segundo Jayme Jr. (2009) se levada em conta a não neutralidade da moeda, variáveis
monetárias podem sim contribuir para a ampliação ou reversão do hiato de desenvolvimento
entre as regiões de um determinado país.
Nesse sentido o autor nos traz para uma discussão acerca da influência do dinheiro
no crescimento econômico dentro de um espaço regional. Aqui é importante ressaltar que tal
associação também poderá ser feita, dentro dos aspectos econômicos, para setores da
economia e com o objetivo de impulsionar o crescimento econômico.
O crédito rural pode ser entendido como moeda corrente diretamente inserida no
contexto economico regional e, nesse sentido, Borges e Parré (2022) nos traz importante
estudo onde por meio do uso de dados estatísticos busca comprovar o impacto do crédito
rural no produto agropecuário.
Segundo Borges e Parré (2022) o crédito rural impacta o produto agropecuário por
meio da ampliação no consumo de insumos e capital, assim como reduzindo os riscos aos
produtores e, em suma, impacta de forma positiva e unidirecional no produto agropecuário do
País.
Gasques et. al. (2012) usa o conceito de produtividade total dos fatores para discorrer
sobre a importância de se observar o efetivo aumento de produtividade no setor agrícola.
Considera dessa forma que para se haver um efetivo aumento de produtividade é necessário
que o aumento da produção seja maior proporcionalmente que o aumento na utilização de
insumos.
Um dos aspectos tratados pelos autores é dos efeitos de políticas sobre a
produtividade e, nesse sentido, Gasques et. al. (2012) afirma que o crédito rural tem efeitos
positivos sobre a produtividade porque o crédito é um fator essencial para a produção e
fundamental também na atividade de modernização e inovação.
Da forma como foi observada na literatura a inovação é um processo dinâmico e
fundamental para o crescimento econômico e o crédito pode ser observado como um fator
exógeno que possibilita impulsionar a inovação por meio de diminuição nos riscos, aumento
de investimento, aumento de produtividade e, por consequência, o crescimento econômico.

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Sendo assim torna-se de grande relevância buscar compreender as raízes do


processo inovativo nas empresas agroindustriais no Brasil derivando no aumento de
produtividade e encontrando a sua correlação com o crédito como fator gerador de processos
inovativos.
Busca-se com esse trabalho especificar os valores dispendidos com crédito rural entre
2017 a 2022 e que sejam aplicados em processos de inovação. A partir desses dados será
feita comparação estatística descritiva no percentual de investimento a partir do crédito e a
real influência no crescimento do PIB Rural do período buscando-se correlação entre as
variáveis. Existe correlação entre investimento a partir de crédito rural e evolução do
crescimento econômico do agronegócio?

Material e Métodos

Como método de estudo e pesquisa foi escolhido o método misto que, segundo Gray
(2011), concilia a perspectiva quantitativa e qualitativa em uma abordagem de pesquisa que
busca encontrar tanto questões objetivas a partir de dados, assim como também manter a
visão construtivista em que a pesquisa serve como ponte para entender o relacionamento de
determinados fatos à condição humana e social.
Nesse sentido o desenho ora proposto é de que sejam utilizados dados capazes de
traduzir a realidade a partir de sua análise e estruturação em modelos objetivos assim como
uma estruturação conceitual capaz de traduzir elementos teóricos em situações práticas que
corroborem o objetivo do trabalho.
Esse trabalho buscou verificar através de comparação estatística os possíveis ganhos
no crescimento econômico em função do crédito rural para atividades de inovação. Dessa
forma foram utilizados dados obtidos a partir do MDCR (Matriz de Dados do Crédito Rural)
disponibilizado pelo Banco Central do Brasil, observatório da agropecuária brasileira, que
também utiliza dados do Banco Central, dados do PIB e PIB Rural disponibilizados pelo IBGE
e CEPEA-Usp/CNA e dados do Ipea/IBGE referente a deflator implícito para o Brasil nos
períodos analisados.
A partir da obtenção dos dados foram feitas análises estatística descritiva de forma a
buscar evidências da correlação entre ambos.
No Brasil o crédito rural é subdividido em quatro tipos de acordo com o Manual de
Crédito Rural (MCR).
No crédito rural tipo custeio o produtor rural toma crédito para desenvolver as diversas
atividades rurais envolvidas no dia a dia de sua produção, algo como o capital de giro do

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produtor podendo ser utilizado os recursos para compra de adubos, tratos culturais assim
como pagamento de serviços inerentes à cultura.
No crédito rural tipo comercialização o produtor rural obtém financiamento para que
possa vender seu produto no mercado. Nessa linha de crédito é possível financiar estocagem
de produtos, proteger a produção a preços justos e garantir preço de venda tendo como
ganhar tempo para melhor momento de venda.
No crédito rural tipo industrialização o produtor rural financia o beneficiamento de sua
produção de acordo com os processos necessários a se ganhar valor agregado e aumentar
a durabilidade da produção como processos de refrigeração, secagem, padronização, dentre
outros.
Por fim, o crédito rural possui o tipo investimento cujo objetivo é financiar investimentos
fixos ou semifixos que se traduzam em aumentar o potencial de produção e a competitividade
do produtor. Aqui estão incluídos investimentos em compra de máquinas e equipamentos,
construções e reformas, sistemas de irrigação e fotovoltaicos dentre diversos outros sistemas
inovativos ligados ao investimento por parte do produtor em melhoria da eficiência e/ou
aumento de capacidade produtiva.
Para os fins de obtenção de dados relativos a crédito rural com objetivo de inovação
esse estudo considerou crédito rural do tipo investimento como sendo o tipo ligado
diretamente à inovação partindo da premissa de que o empreendedor irá sempre buscar em
suas ações a sua sobrevivência no longo prazo, que passa por estar com custos adequados
ao mercado e preços competitivos.
Os dados de valores totais de crédito rural do tipo investimento assim como a variação
anual em relação ao ano anterior foram extraídos no SICOR/Banco Central e agregados pelo
observatório da agropecuária estando disponíveis no sitio eletrônico do mesmo e também
podendo serem obtidos no site do Banco Central.
Os dados comparados e em que obteve-se tanto o valor absoluto do PIB do Brasil, do
PIB do agronegócio brasileiro, assim como suas subdivisões, foram obtidos no site da
CEPEA-Usp em elaboração conjunta com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) e disponíveis no sitio eletrônico do CEPEA-Usp/Esalq.
É importante esclarecer uma questão conceitual em relação aos valores obtidos, pois
o valor disponibilizado pelo Banco Central quanto ao total concedido de crédito rural são
valores absolutos e não sofrem ajuste em relação ao valor real da moeda, sofrendo, portanto,
influência da inflação do período, a qual é necessário tratamento para retirada da mesma.
Para isso foi aplicado o deflator implícito obtido no site do Ipea/IBGE nos dados obtidos
referente a PIB em valor corrente e a crédito rural. Isso foi feito para que dessa forma a

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comparação com os dados obtidos do PIB-renda do Agronegócio já tratados com o deflator


implícito se torne adequada e seja possível um maior entendimento da dinâmica proposta.
Para a comparação proposta foram extraídos os dados referentes ao crédito rural
investimento do ano 2017 ao ano 2022 e comparando-se este com o PIB Rural de 2017 e de
forma subsequente aos demais anos até o PIB Rural de 2022. Tal operação se tornou
necessária para que fosse ajustado o período safra com periodicidade entre julho e junho do
ano safra aglutinando-se assim os dados de forma anual para que seja feita melhor
comparação com o PIB que é calculado anualmente.
Dessa forma considerou-se nesse estudo o crédito para investimento contratado no
ano em si, e não no ano-safra. É esperado que o crédito investimento irá produzir maior efeito
no PIB do ano em que é contratado, todavia com efeito potencializador nos anos
subsequentes, tendo em vista o valor estar sendo acrescentado diretamente no PIB Rural do
ano em que é contratado ao se efetivar os investimentos, com efeito potencializador de
resultado nos anos subsequentes ao passo em que a capacidade produtiva e eficiência são
aumentadas.
Não se levou em conta nesse estudo o estoque total de capital do agronegócio e nem
a necessidade de investimento apenas para manutenção da capacidade produtiva já
instalada, tal conceito pode ser abordado em novo estudo.
As análises foram feitas de forma comparativa descritiva apenas com o aumento ou
diminuição do total de crédito rural do tipo investimento aplicado e o total de aumento ou
diminuição do PIB-renda do agronegócio.

Resultados e Discussão

Os resultados estão divididos em duas subseções. A primeira subseção traz a


construção das tabelas e informações sobre os dados obtidos. A segunda subseção traz
uma análise das informações compiladas.

Tabelas de dados e construção da pesquisa

Inicialmente pegou-se os dados referentes ao deflator implícito do PIB nominal do


Brasil no site do Ipea com dados do IBGE e separou-se os períodos referentes aos anos de
2016 a 2022 na Tabela 1. Nela também foi criado um coeficiente multiplicador a partir do qual
se tornou possível adequar todos os demais dados da pesquisa que foram obtidos e não
estavam ajustados a valor real de Dez/2022.

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Tabela 1. Deflator Implícito PIB do Brasil 2016-2022 e coeficiente multiplicador


Deflator Anual
Ano (em%) Variação Coeficiente multiplicador
2016 8,1 0,081 1,449644831
2017 3,67 0,0367 1,398326257
2018 4,49 0,0449 1,338239312
2019 4,22 0,0422 1,284052305
2020 6,47 0,0647 1,20602264
2021 11,38 0,1138 1,0828
2022 8,28 0,0828 -
Fonte: Resultados originais da pesquisa

A Tabela 2 trouxe o PIB ajustado com o deflator implícito do PIB considerando como
base o valor de Dezembro de 2022 e foi base para ajuste de dados nas demais tabelas da
pesquisa.

Tabela 2. Variação do PIB do Brasil em % 2016-2022 (em Milhões dez/2022)


Ano PIB Total BR Variação em % do ano anterior
2016 9.088.299 -
2017 9.208.650 1,32%
2018 9.373.217 1,79%
2019 9.488.031 1,22%
2020 9.177.346 -3,27%
2021 9.635.542 4,99%
2022 9.915.317 2,90%
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Para se entender a dinâmica do PIB do Agronegócio foi obtido no site do CEPEA dados
relativos à participação do agronegócio no total do PIB brasileiro e esses dados foram
sintetizados para os anos de 2016 a 2022 na Tabela 3. A Tabela 3 trouxe a variação em % do
PIB do agronegócio e construída com os valores já ajustados pelo deflator implícito
possibilitando a posterior construção da Tabela 4, esta última que foi a base de comparação
principal com o Financiamento Rural do tipo investimento, pois ela trouxe de fato o
crescimento ou decrescimento do PIB do Agronegócio em termos possíveis de serem
comparados e descontando a questão intertemporal por meio do ajuste do deflator implícito.

Tabela 3. PIB do Brasil (em Milhões de dez/2022) e PIB Renda do Agronegócio Brasileiro 2016-2022, em Milhões de dez/2022
Ano PIB BR Insumos Agropecuária Indústria Serviços PIB Renda Total do Agronegócio
2016 9.088.299 81.983 457.745 536.899 931.607 2.008.234
2017 9.208.650 77.953 419.425 517.136 882.065 1.896.580
2018 9.373.217 87.206 402.043 520.726 868.051 1.878.026
2019 9.488.031 92.001 404.972 534.913 900.429 1.932.316
2020 9.177.346 96.817 630.697 567.744 1.067.588 2.362.847
2021 9.635.542 146.859 740.995 578.834 1.097.275 2.563.963
2022 9.915.317 180.801 660.401 571.949 1.042.725 2.455.875
Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Os dados referentes ao financiamento agropecuário entre 2017 e 2022 em valor


corrente e separado por tipo de crédito rural foram obtidos no observatório da agropecuária
brasileira. São dados elaborados em um consórcio coordenado pelo Ministério da Agricultura
e obtidos junto ao Banco Central. Esses dados foram ajustados e incluídos na Tabela 5, esta
que foi a base de comparação do crescimento ou decrescimento do crédito rural do tipo
investimento para a pesquisa.

Tabela 4. Variação Real Anual (em %) de cada segmento do PIB Renda do Agronegócio no Brasil 2016-2022
Ano Insumos Agropecuária Indústria Serviços Agronegócio PIB Total
2016 1,41% 12,36% 3,91% 6,44% -
2017 -4,92% -8,37% -3,68% -5,32% -5,56%
2018 11,87% -4,14% 0,69% -1,59% -0,98%
2019 5,50% 0,73% 2,72% 3,73% 2,89%
2020 5,24% 55,74% 6,14% 18,56% 22,28%
2021 51,69% 17,49% 1,95% 2,78% 8,51%
2022 23,11% -10,88% -1,19% -4,97% -4,22%
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Tabela 5. Financiamento Agropecuário 2017-2022 em Milhões de dez/2022


Total de Variação Investimento Variação Total
Ano Custeio Investimento Comercialização Industrialização Crédito em % do ano anterior de crédito rural
2017 133.631 52.650 38.244 8.891 233.416 - -
2018 130.967 61.436 39.676 9.903 241.982 16,69% 3,67%
2019 128.530 58.819 29.329 12.625 229.302 -4,26% -5,24%
2020 137.200 71.819 26.319 13.401 248.739 22,10% 8,48%
2021 169.060 98.645 35.160 15.520 318.384 37,35% 28,00%
2022 206.769 99.643 32.403 21.904 360.719 1,01% 13,30%
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Análise dos dados

Este trabalho buscou analisar comparativamente por meio de estatística descritiva a


relação entre as variações do investimento no setor do agronegócio por meio de crédito rural
e as variações do PIB do agronegócio nos períodos de 2017 a 2022.
Para efeito de análise deste trabalho foi considerado apenas os dados já ajustados
com deflator implícito de forma a sustentar uma comparação efetiva de valor entre os períodos
analisados.
De acordo com os dados obtidos o crédito rural investimento saiu de 52,65 Bilhões de
reais no ano de 2017 para o patamar de 99,64 Bilhões de reais no ano safra de 2022 com um
PIB do agronegócio saindo de 1.896 Bilhões de reais em 2017 para 2.455 Bilhões de reais
em 2022.

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Aqui é possível observar um aumento de 89,25% no investimento por meio de crédito


rural do tipo investimento e um crescimento de cerca de 29,48% no PIB Rural do período
analisado.
Em 2017 o crédito rural para investimento foi de 2,77% do total do PIB do agronegócio;
a relação do crédito rural para investimento de 2018 com o PIB do agronegócio de 2018 é de
3,27%; a relação do crédito rural para investimento de 2019 com o PIB do agronegócio de
2019 é de 3,04%; a relação do crédito rural para investimento de 2020 com o PIB do
agronegócio de 2020 é de 3,03%; a relação do crédito rural para investimento de 2021 com o
PIB do agronegócio de 2021 é de 3,84% e a relação do crédito rural para investimento de
2022 com o PIB do agronegócio de 2022 é de 4,05%.
Podemos perceber pelos números que em 2018 se dá o início de uma série de
aumentos significativos na participação do crédito rural do tipo investimento como indutor do
aumento de investimento no setor do agronegócio, aumentando sua participação no total do
PIB do agronegócio de 2,77% em 2017 para 4,05% em 2022.
Os dados mostram que o crédito rural para investimento aumenta consideravelmente
a sua participação em relação ao PIB do agronegócio no período demonstrando cada vez
mais a intensidade de capital e a importância do crédito para inovação no setor de
agronegócio brasileiro.
Segundo Souza Junior e Cornélio (2020) na literatura científica para especificação da
composição de qualquer modelo de crescimento é necessário se identificar o estoque de
capital fixo como fator de estimação do produto potencial. É também amplamente descrito na
literatura sobre a necessidade de um nível mínimo de investimento para apenas se repor o
estoque de capital já empregado por conta da depreciação, sendo que o que excede esse
nível mínimo é o responsável por gerar acumulo de ganho potencial e efetivo aumento no PIB
tanto por meio do investimento em si, quanto pelo aumento potencial na produção e eficiência
futuras.
Na economia o crédito rural não é o único recurso utilizado para investimento no
agronegócio e os movimentos de alteração no patamar de capacidade produtiva e de aumento
de eficiência estão atrelados ao investimento total no setor (não apenas pela via do crédito).
Como pode ser observado na Tabela 7 houve decréscimo de -0,98% no total do PIB
do agronegócio em 2018 em relação ao ano anterior. Nesse mesmo ano houve aumento de
16,69% no total de investimento por meio de crédito rural do tipo investimento em relação ao
ano anterior como pode ser observado na Tabela 9. Seguindo a análise por meio das Tabelas
7 e 9 em 2019 essa relação passa a um aumento de 2,89% no PIB do agronegócio e uma
queda de -4,26% no total de crédito para investimento. Em 2020 há um aumento de 22,10%
no total de crédito rural para investimento e um crescimento do PIB do setor do agronegócio

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de 22,28%. Em 2021 houve um aumento de 37,35% do crédito rural para investimento e um


aumento de 8,51% no PIB do agronegócio. Por fim em 2022 houve um aumento de 1,01% no
crédito rural para investimento e uma queda de -4,22% no PIB do agronegócio.
Em 2018 apesar do aumento significativo do total de investimento por meio de crédito
rural não houve crescimento econômico do setor de agronegócio. Em 2019 já é sentido um
aumento no PIB do agronegócio diante de uma queda no crédito para investimento o que
pode indicar possíveis efeitos no aumento potencial da economia pelo aumento do
investimento realizado no ano anterior.
Em 2020 é possível perceber um aumento do PIB do agronegócio na mesma
magnitude do aumento do investimento por meio de crédito rural. Em 2021 houve novamente
um ano de grande aumento no crédito rural para investimento com aumento também do PIB
do agronegócio, mas em uma magnitude bem inferior. Em 2022 existe uma relativa
manutenção no total de crédito rural para investimento e uma queda não muito grande no PIB
total do agronegócio.
Da forma como é observado o comportamento do crédito rural para investimento e o
PIB total do agronegócio parecem andar relativamente na mesma direção, seja por efeito
multiplicador da aplicação do crédito na economia com resultados no mesmo ano, seja por
efeito em ano posterior com aumento potencial de resultado do estoque total de capital.
Segundo Pintor (2015) a agricultura cresce no Brasil pela abertura de novas áreas de
plantio, assim como pela aplicação de capital em processos intensivos em tecnologia como a
agricultura de precisão, a biotecnologia dentre outros processos produtivos modernos que
necessitam de capital e tecnologia diretamente aplicada ao agronegócio.
Ainda segundo Pintor et al. (2015) o crédito é fator primordial para o crescimento do
setor agrícola e, nesse sentido, o autor contextualiza a Revolução Verde no Brasil da década
de 1960 e 1970 a um grande movimento de investimento em tecnologia no setor do
agronegócio com a criação de empresas públicas de pesquisa, adoção de processos
automatizados no campo e, principalmente, a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural
em 1965 que vai trazer recursos para as mãos do empreendedor de Schumpeter conforme já
descrito na introdução desse trabalho.
Em linha com estudos já realizados de crescimento econômico baseado em estoque
de capital fixo e impacto do crédito rural na economia do agronegócio observou-se nesse
estudo correlação positiva entre o crescimento do crédito do tipo investimento com o
crescimento do PIB do agronegócio brasileiro.
Foi observado ainda como resultado preliminar a possibilidade de se expandir essa
pesquisa com dados do estoque total de capital no agronegócio brasileiro e a depreciação

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média do setor de forma a complementar e corroborar a relação positiva entre o aumento do


crédito rural para investimento e aumento do PIB do agronegócio.
Novos dados de investimento total no agronegócio podem ser agregados ao estudo
de forma a possibilitar a decomposição dos valores e identificar o real impacto do crédito rural
no aumento do PIB do agronegócio nos períodos analisados.
Até o presente no estudo proposto foi possível identificar que existe um aumento
significativo na participação do crédito rural do tipo investimento no PIB do agronegócio sendo
possível entender esse movimento como criador de um aumento significativo no valor
agregado da indústria rural no Brasil e trazendo benefícios a longo prazo para a economia.

Considerações Finais

O objetivo inicial proposto por este trabalho foi de buscar o impacto do crédito rural do
tipo investimento na inovação e consequente crescimento do agronegócio no Brasil entre os
anos de 2017 a 2022.
Foram levantados os dados referentes ao total de crédito rural no Brasil para o período,
dados referente à produção brasileira agregada total e agregada para o setor do agronegócio
além de dados referentes ao deflator implícito do PIB, necessário para ajuste intertemporal da
análise.
As análises realizadas por meio de estatística descritiva apontaram para uma
correlação positiva entre o crescimento do crédito rural do tipo investimento e o crescimento
do PIB do agronegócio no Brasil para o período analisado.
Foi ainda identificado a necessidade de evolução da pesquisa para um maior
aprofundamento quanto ao total de estoque de capital fixo no agronegócio, depreciação média
do setor e busca do real impacto residual do aumento encontrado de participação do crédito
rural do tipo investimento no total do PIB do agronegócio que saiu de de 2,77% em 2017 para
4,05% em 2022, mas sem dados efetivos do total de investimento do setor.
De forma geral o estudo trouxe o contexto e corroborou com dados a importância do
crédito rural para a atividade inovativa, e, a partir da inovação e da ação do empreendedor o
resultado esperado de crescimento econômico.

Referências

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