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Zodíaco - Da Costa e Silva
Zodíaco - Da Costa e Silva
M. Paulo Nunes
A ESCALADA
HINO AO SOL
HINO AO MAR
HINO À TERRA
ZODÍACO
INVERNO
Troam trovões em trons longos de guerra;
E o soturno rumor,
Ecoando
De vale em vale, serra em serra,
Todas as forças vivas acordando
Em rugidos de amor.
Parece despertar o coração da terra.
PRIMAVERA
Riso do tempo para a vida,
Riso da vida para o amor,
A primavera chega, difundida
Na alma feliz da Natureza em flor.
Os nossos corações
Enchem-se de ilusões e desejos românticos,
Na harmonia dos sons, das cores, dos perfumes.
Que canta, que irradia e se evola dos cânticos
Das fadas e dos numes
Que vivem a sonhar nas flores e botões...
VERÃO
O sol criador
O concavo do céu de luz inunda;
E a terra pródiga e fecunda
Sente-o numa expansão de vida e de calor.
Zine,
Vibrando as asas diáfanas de gaze,
A cigarra estridente uma ária de cristal,
A anunciar, alvissareira, a fase
Em que o sol a vibrar de claridade tine,
Ardente, anímico, vital...
É o verão que nos traz a vertigem da vida,
É o verão que aí vem…
Ao hálito de fogo da canicula,
Arde uma febre de labor, de lida,
Nos campos férteis de trabalho agrícola;
E abrem de par em par os celeiros do Bem.
É o verão, lavrador,
Que vem movimentar a vida satisfeita
Dos engenhos rurais e das fazendas,
Pelo trabalho glorificador,
Na faina intensa e alegre da colheita,
Ao rangido rouquenho das moendas.
E apenas
A áurea estação de Ceres
Surge, surgem também pelos céus em fulgor
Louras manhãs, tardes morenas,
Com a volúpia de fogo das mulheres,
Pela sazão do amor…
OUTONO
O outono...
Em toda a Natureza existe
Um misto de volúpia e de abandono,
Um lascivo torpor
De quem quer descansar, de quem tem sono
E essa alegria resignada e triste
Dos que morrem de amor.
HORAS
MATINAL
A natureza, idílica,
A Flora ergue um altar
Na olímpica basílica,
Aberta à luz solar.
O éter imponderável
Um doce eflúvio tem
À vida tão saudável,
Que a alma se sente bem.
As árvores e o solo,
Na catedral de Pã,
Dão verde culto a Apolo,
À luz desta manhã.
MERIDIONAL
Sol no zenite.
Arde a canícula
- Fonte de luz, força e calor;
E há em cada ser uma partícula
Do seu eflúvio abrasador.
VESPERAL
A concha cérula,
De norte a sul,
Tem tons de pérola
No lindo azul.
É um vitral gótico
O sol a arder
No íris caótico
Do entardecer.
Tomba no Atlântico
O áureo esplendor
Da tarde, ao cântico
Da vaga em flor...
Na etérea acústica,
Vibrando no ar,
Soa a voz rústica
Do velho mar.
No eco nostálgico
Perde-se após
O acento trágico
Da grande voz...
À tarde mística
A sombra traz,
Muda e eucarística,
A unção da paz.
Triste e sonâmbula
A Noite vem,
A erguer uma âmbula
De luz, além…
É Vésper... Vêmo-la,
O aéreo véu
Rompendo... trêmula
Brilhar no céu.
NOTURNAL
SOL NO MAR
Que lindo céu! Que lindo mar! Fulge o sol no zenite, aceso em lausperene
No luminoso altar do espaço amplo e solene,
Que na equórea amplidão se espelha, a cintilar...
SOL NA FLORESTA
LUA NO MAR
RITMOS DA VIDA
A VENTANIA
Dentro da treva,
Os ventos passam como uma leva
Raivosa, ríspida, revel,
De vagabundos, réprobos e párias,
No bárbaro furor das brutas alimárias,
Em temerário, túrbido tropel.
A cavalgada,
Em disparada desenfreada,
Soltas as rédeas, não se detém;
Seguem os ventos nos seus cavalos,
Galgando montes, transpondo valos,
Correndo aqui, voando além....
A NÉVOA
A névoa esparsa
Que, lento e lento,
Aqui se adensa, ali se esgarça,
Dá à paisagem sem movimento
O estranho aspecto pardacento
De indeciso bordado em talagarça.
Há um sentimento
Evocativo de vida extinta
Sob a azulada meia-tinta
Em que se vai, em dúbio delineamento,
Esboçando com a luz, o desenho alvacento
Da cidade indistinta...
A névoa densa,
Aeriforme no céu suspensa,
Velando as cousas a um só momento,
Turvando as formas no próprio acento,
Parece, às vezes, que sonha e pensa
Num instintivo pressentimento…
Fluido elemento
Eterizado, com certeza
A névoa é o sonho da Natureza
Que, entre nuvens de incenso, o pensamento
Eleva, numa prece de incerteza,
Ao firmamento.
A CHUVA
O REDEMOINHO
No espiralado movimento,
Vário, voltivolo e violento
Das correntezas do ar, ao torvelinho
De um pé-de-vento,
Em círculos contínuos no caminho.
Remoinha o redemoinho.
De repente
O redemoinho rápido, revolto
E desenvolto, volteia, envolto
No vórtice envolvente
Do pó que sobe sacudido, solto
No aéreo ambiente.
O redemoinho rodopia
Na confusão das curvas, de carreira,
À revelia
Vertiginosa da ventania,
Túrbido e ténue todavia,
Erguendo ao espaço turbilhões de poeira.
O redemoinho impetuoso,
Pelos caminhos, pelas veredas,
Agita as folhas em repouso
Sonhando à sombra das alamedas,
Num voluptuoso
Rumor de abraços machucando sedas.
Erга,
Leve e ligeiro,
O redemoinho que se desterra,
Levando, como um sonho passageiro,
Em nómade nevoeiro,
O pó que volta ao pó da terra.
Em murmurosa melopéia,
O redemoinho traz à idéia
Uma coréia
De ventos leves, rodando em rondas,
Rolando em ondas
Redondas…
E de surpresa,
Torvo em tumulto,
O redemoinho, tomando vulto,
Parece, às vezes, trazer oculto,
No fluido aéreo da correnteza
O próprio ritmo da Natureza.
É o movimento,
No torvelinho
Vário e violento,
Da força mágica do vento,
Correndo em curvas no caminho,
Em remoinho, o redemoinho…
IMAGENS DA NATUREZA
A ENCHENTE
Arrojam-se da serra
Nos despenhadeiros
Turvos aguaceiros,
Sob o céu sombrio,
Alagando a terra,
Rumo às ribanceiras, represando o rio...
Caudaloso,
Rumuroso,
Sem repouso,
Rolando as águas
Se arrasta o rio, ralando o peito
Nas areias e seixos do seu leito,
Talvez num desabafo insatisfeito
De incontidas paixões e recônditas mágoas...
A impetuosa corrente
Vai aumentando, evolutivamente,
Ao influxo da enchente.
E resvalando convulsamente,
Vence o tumulto da torrente,
Empinando os flancos, no vigor da enchente.
Troncos e raízes,
Ramos e arvoredos, Ilhas e balsedos,
A mercê da correnteza,
Vão ouvindo às águas, no tropel bravio,
Todos os mistérios, todos os segredos
Que a morte diz à vida e a vida a Natureza
Nos ritmos que há na voz profética do rio...
A QUEIMADA
Uma espira
De fumo
No ar gira
Sem rumo...
E o cinéreo troféu
Do fogo, ao sabor do vento,
Vai subindo, leve e lento.
Tisnando a seda do céu.
Esfuma-se a paisagem…
E pelos campos se manifesta
De súbito um rubor no verde da folhagem,
Que agosto amarelece e a canícula cresta,
Como se, na explosão da ignívoma voragem,
Rebentasse um vulcão no seio da floresta.
Pulam as chamas,
Num repuxo de cores,
Como línguas, como serpes, como flamas,
Fulvas, rubras, azuis, lambendo as ramas
Das árvores que, em bruscos estertores,
Se despojam de folhas e de flores.
A floresta, alarmada,
Vai sucumbindo, torturada,
Na inquisição selvagem da queimada.
Em holocausto elevada,
A alma da selva ascende aos céus, em cada
Folha que ao vento arroja a fúria da queimada.
O braseiro violento
Crepita, a arder, sem intervalos,
Como para agravar o sofrimento
Da floresta que, em intimos abalos,
Tenta em vão traduzir o seu tormento
Em estrondos, estrépitos e estralos...
Desolada,
Estática e calada,
Chora sobre os escombros da queimada.
Nada a conforta,
Pois do seu verde templo nada resta!
Em místico silêncio, em vão exorta,
Que o fogo destruidor da queimada funesta!
É o Moloch da floresta!
- Como é triste, meu Deus, uma floresta morta!
A DERRUBADA
Reboa o machado,
No seio umbroso da floresta,
Num assíduo fragor monótono, vibrado
Pela força brutal do homem rústico e bronco;
E, pancada a pancada, a lâmina funesta
Golpeia o rijo tronco
De uma árvore copada.
É a derrubada!
Tomba cortada,
Desarvorada
Aos embates da derrubada.
Morre...
E o homem que, sem piedade, a desmorona,
Certo não vê no caule o sangue que lhe escorre
Em resina aromal sobre a nodosa tona
Da planta maternal, que produzira outrora
Flores para adornar a cabeça de Flora
E frutos para encher o colo de Pomona.
O machado reboa... E pancada a pancada,
Prossegue, mata adentro, a derrubada.
Nos ímpetos selvagens
Da sua faina bárbara e nefasta,
O destruidor devasta
Os arbustos do campo, os altos arvoredos,
Extinguindo com o exício das folhagens
Os aspectos, encantos e segredos
Do doce bucolismo das paisagens.
Rasgam-se clareiras
Na cerrada espessura
Da mata, agora exposta aos inclementes
Rigores das soalheiras,
Enquanto sob a verdura
Enganosa da alfombra
Os mananciais circunjacentes
Vão-se esgotando, à míngua da frescura
Benéfica da sombra…
E vão secando fontes e correntes…
Vão-se exaurindo os veios transparentes
Da água límpida e pura.
E a mater-Natureza, amargurada,
Dos espaços chora sobre a derrubada..
Cai a chuva fecundante...
E a terra adusta, calcinada,
Torna-se, por encanto, verdejante:
Os troncos brotam, reverdecem; tudo
Germina em festões verdes de esperança,
Como para mostrar ao homem bárbaro e rudo,
Em cada broto, em cada folha, em cada frança
Que, como Deus, ressurge a floresta sagrada!
AS ÁRVORES
SUB TEGMINE
I
A sombra tutelar destas árvores, nesta
Estância verde e calma, eu vim buscar mais vida
Com que rejuvenesça a vida que me resta:
- Sarar o corpo doente e a alma desiludida.
O IPÊ
O FLAMBOYANT
O CARANGUEJO
O CARAMUJO
O SAPO
O MORCEGO
O BESOURO
O VAGA-LUME
AMARANTE
A BALSA
A CANTIGA
NATUREZA HARMONIOSA
NATUREZA EMOTIVA
NATUREZA MISTERIOSA
NATUREZA HARMONIOSA
Pego de um búzio, levo-o aos meus ouvidos
E ponho-me a escutar, ouvido atento,
Nele os sons que murmuram confundidos
Como idéias ainda em pensamento.
Osorio Borba
Jornal do Recife
1917