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AIE Indicadores Educacionais No Brasil
AIE Indicadores Educacionais No Brasil
EDUCACIONAIS
RESUMO
Entretanto, avaliar a aprendizagem dos alunos não basta. A educação é um tema extrema-
mente abrangente e complexo, que se articula com um enorme número de variáveis
demográficas, sociais e econômicas, demandando ainda pesados investimentos e um
gerenciamento consciencioso de recursos que, com frequência, se apresentam escassos
ou insuficientes. Nesse sentido, uma visão mais completa e aprofundada da educação
somente é alcançada por meio da obtenção e da análise de uma grande diversidade de
informações, que costumam se apresentar na forma de indicadores educacionais. Esses
indicadores são medidas específicas que têm por objetivo transmitir uma informação
referente a uma dimensão particular e relevante da educação, expressando-se em
números que sintetizam essa dimensão. Por sua vez, os números que expressam os
indicadores são calculados a partir de uma fórmula pré definida, e com base em dados
levantados segundo critérios específicos e rigorosos, como censos e pesquisas sociais,
demográficas, econômicas ou educacionais.
E saber que, digamos, em uma determinada rede de ensino, apenas 12% dos concluintes
do Ensino Médio estão alcançando uma proficiência considerada satisfatória em
Matemática dá-nos uma ideia consideravelmente precisa do desafio que os professores e
gestores educacionais têm diante de si para promoverem uma maior eficácia no
aprendizado de Matemática entre os alunos dessa rede.
Um exemplo pode ilustrar essa distinção de modo mais claro. Algumas questões de grande
interesse para o acompanhamento da eficácia dos sistemas educacionais são: (1) o fluxo
dos alunos ao longo das diversas séries do Ensino Fundamental, associado, naturalmente,
às taxas de aprovação nessas mesmas séries; e (2) o desempenho desses alunos em
disciplinas específicas, como Língua Portuguesa e Matemática. Pois bem, para tratar dessas
diferentes questões, é possível obter indicadores específicos. Nesse caso, o fluxo de alunos,
por exemplo, pode ser expresso por meio de um indicador que é a taxa de aprovação,
digamos, no 5º ano do Ensino Fundamental, numa dada unidade educacional (como uma
escola, um município, um estado ou mesmo o país como um todo). Por sua vez, seria
possível estimar o desempenho desses mesmos alunos por meio de outro indicador, ou,
antes, por dois deles: um poderia ser, digamos, a média de proficiência dos alunos num
teste de Língua Portuguesa, como, por exemplo, na avaliação externa da Prova Brasil, ao
passo que outro indicador poderia ser a média de Matemática desses estudantes obtida na
mesma avaliação.
Pois bem, com base nesses três indicadores – a taxa de aprovação, a média de Língua
Portuguesa e a média de Matemática –, é possível criar um único índice, que é o IDEB, ou
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, cujo cálculo combina, numa fórmula
matemática, os resultados de todos esses indicadores (INEP, 2010). Dessa forma, quanto
maiores forem a taxa de aprovação e as médias nas duas disciplinas mencionadas, maior
também será o IDEB, conforme detalhes de cálculo e de interpretação que serão
devidamente tratados em partes posteriores deste curso. Podemos dizer, portanto, que os
indicadores são medidas mais “puras”, ou unidimensionais, de um aspecto relevante da
educação, ao passo que os índices são medidas “combinadas”, ou multidimensionais,
relacionados a uma abordagem mais abrangente de um determinado tema educacional.
PPGP |4
Por outro lado, um exemplo de tipologia para os indicadores mais adaptada à realidade
brasileira é a que foi proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira – INEP –, do Ministério da Educação do Brasil, no trabalho "Geografia da
Educação Brasileira", publicado pela primeira vez no ano de 2002. Segundo essa tipologia,
os diversos indicadores educacionais puderam ser agrupados nas seis seguintes categorias,
que abrangem (INEP, 2002):
1. O contexto sociodemográfico;
2. As condições de oferta;
3. O acesso e a participação na educação;
4. A eficiência e o rendimento escolar;
5. O desempenho escolar;
6. O financiamento e o gasto em educação.
PPGP |5
informação acerca das pessoas entrevistadas: fazendo-as ler e escrever um bilhete simples,
ou simplesmente perguntando-lhes se são capazes de fazer isso? Caso esta última opção
seja a escolhida (e ela costuma sê-lo, dadas as limitações de tempo e de recursos
financeiros nesse tipo de pesquisa), corre-se o risco de superestimar consideravelmente o
número de pessoas alfabetizadas, devido ao fato de que responder "sim" a essa pergunta
é, em termos sociais, altamente desejável, em decorrência do enorme desprestígio de que
historicamente padecem os analfabetos no país. Portanto, indefinições e imprecisões
metodológicas são capazes de produzir vieses consideráveis nas taxas de alfabetização,
podendo levar a grandes inconsistências entre as estimativas dessas taxas ao longo dos
anos, ou entre os resultados obtidos por diferentes instituições. No Brasil, Ribeiro (2010) e
Ferraro (2002) discutiram em maiores detalhes essa questão, em dois artigos de grande
importância para o estudo das taxas de analfabetismo no país.
panorama incompleto dos recursos escolares, visto não bastar que tais recursos existam,
mas também importa que eles sejam utilizados de modo efetivo e eficaz. Não obstante
essa ressalva, cabe reconhecer que, se não é suficiente, é ao menos necessário que tais
recursos sejam, de fato, disponibilizados aos alunos, cabendo às autoridades educacionais
promover levantamentos adicionais com o propósito de verificar a eficiência na utilização
dessas facilidades.
Entretanto, com o tempo, tomaram vulto alguns movimentos voltados para a formação
universitária dos docentes, que fizeram, por exemplo, com que um grande número de
professores que possuíam somente o Ensino Médio ingressassem em cursos de
Licenciatura. Essa tendência resultou numa maior homogeneização da formação docente
atual que se observa no país, pela qual se observa que a grande maioria dos professores,
em todos os níveis, atualmente possui curso superior. Tal fato é ilustrado pelo Gráfico 2,
que apresenta os percentuais de professores com formação superior atuando nos ensinos
Fundamental e Médio no Brasil como um todo, ao longo dos últimos anos. Por ele,
percebe-se que, em 2010, os graduados no Ensino Superior correspondem a mais de 80%
dos profissionais atuantes no Ensino Fundamental, e a mais de 90% daqueles que atuam
no Ensino Médio.
PPGP |8
100
95
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EF
85
EM
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75
70
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Para tratar desse problema sobre a participação do ensino levando-se em conta uma série
específica e o fato de os alunos estarem ou não nela matriculados segundo a idade certa,
há dois indicadores muito utilizados nas análises educacionais, que são as taxas de
escolarização líquida e bruta, sendo que a primeira mensura o percentual de jovens em
idade escolar que estão matriculados nas séries adequadas para a sua respectiva idade, ao
passo que a segunda informa o percentual daqueles que estão matriculados numa
determinada série, independentemente dessa série ser ou não adequada para a sua faixa
etária.
Os gráficos 4 e 5, a seguir, mostram essas duas taxas para o Brasil como um todo, para
cada ano do período compreendido entre 2001 e 2009. Por eles, observa-se que, no Ensino
Fundamental, a taxa de escolarização líquida está se aproximando dos 100%, indicando
que, neste caso, o país está conseguindo fazer com que quase todas as suas crianças
estejam matriculadas nas escolas, e na idade certa para as suas respectivas séries. Ao
mesmo tempo, observa-se que, também no Ensino Fundamental, a taxa de escolarização
bruta manteve-se em cerca de 120% ao longo desses anos, indicando o fato de que existe
ainda um contingente considerável de alunos mais velhos que se encontram retidos no
Ensino Fundamental, estudando, portanto, em séries que, na verdade, já deveriam ter
concluído.
Por outro lado, as taxas líquidas do Ensino Médio, que, somente em 2008 e 2009,
alcançaram o patamar dos 50%, apontam para um problema sério decorrente dos baixos
níveis de aprovação nessa etapa do ensino. E as taxas brutas de escolarização no Ensino
Médio, que oscilam em torno de 90%, indicam a coexistência e um certo equilíbrio entre
dois fenômenos relevantes: de um lado, as baixas taxas de aprovação; de outro, os níveis
consideráveis de evasão, impedindo que as taxas brutas fiquem excessivamente elevadas.
PPGP | 11
140
120
100
80 Líquida
60 Bruta
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20
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
100
90
80
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60
Líquida
50
Bruta
40
30
20
10
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
alunos matriculados numa determinada série e que se encontram, não obstante, com
idade superior àquela recomendada para frequentarem essa mesma etapa.
2. Por outro lado, também se observa, com o passar dos anos, uma nítida tendência de alta
das taxas de aprovação em todas as séries, cuja causa está associada às políticas de
aceleração da aprendizagem que começaram a ser implementadas nos últimos anos do
século 20. De fato, as baixas taxas de aprovação no Ensino Fundamental que
anteriormente se verificavam eram vistas como um obstáculo extremamente sério ao
progresso da educação brasileira, o que explica os esforços que se vêm fazendo, nos
últimos anos, para combater esse problema. Os indicadores mostram que tais esforços
vêm sendo relativamente bem-sucedidos no Ensino Fundamental, visto que se observa, nos
anos mais recentes, elevadas taxas de aprovação em todas as séries, inclusive naquelas
mais suscetíveis a esse problema, como a 1ª e a 5ª séries do Ensino Fundamental, que, em
2010, atingiram os valores de 88,9% e 77,7% de aprovação, respectivamente.
% de aprovação na 5ª série EF
85
80
75
70
65
60
55
50
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
A distorção idade-série, por sua vez, possui, naturalmente, uma estreita relação com as
taxas de aprovação. O Gráfico 7 apresenta a evolução dessas taxas ao longo dos últimos
anos, tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Médio. Conforme já se
comentou anteriormente, os problemas de distorção idade-série são ainda maiores no
Ensino Médio, quando comparados com o Ensino Fundamental (algo que ficou evidente
quando se mencionaram as taxas de escolarização líquida, que são maiores no Ensino
Fundamental, quando comparadas com as do Ensino Médio). Dessa forma, percebe-se
também nitidamente a superioridade das taxas de defasagem do Ensino Médio, ao mesmo
tempo em que, entretanto, também seja possível observar uma consistente queda dessas
taxas para ambos os tipos de ensino, ao longo dos últimos anos.
60
50
40
EF
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EM
20
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0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
essas avaliações são agentes externos à própria escola, muitas vezes representados por
centros de avaliação contratados pela administração de sistemas educacionais de nível
nacional, estadual ou municipal. Dessa forma, os agentes avaliadores não possuem, em
geral, uma vinculação direta com as escolas que avaliam, e tal fato garante, ao menos em
tese, um saudável distanciamento e independência dos avaliadores em relação às
instituições avaliadas.
Por sua vez, a expressão “larga escala”, ou, como querem alguns, “grande escala”, refere-se
ao fato de que, nesses exames, um número normalmente expressivo de alunos e/ou
escolas é envolvido no processo de avaliação, seja por meio da realização de exames
censitários – que cobrem todas as instituições ou indivíduos que são alvo do processo
avaliativo –, seja por meio da adoção de procedimentos de amostragem capazes de fazer
com que um conjunto mais restrito de resultados obtidos representem, com margens de
erro aceitáveis, toda uma população, a qual pode abranger contextos muito amplos,
chegando eventualmente a níveis nacionais e internacionais.
Por outro lado, os defensores das avaliações externas argumentam sobre a capacidade
que estas têm de permitirem um olhar mais crítico e preciso da realidade educacional, pelo
qual as escolas deixam de ser uma "caixa preta" para os gestores educacionais e para o
público em geral, passando, dessa forma, a ter que prestar contas do desempenho de seus
alunos e, por conseguinte, do seu próprio desempenho, perante o governo e o povo que a
financiam. Outro aspecto importante – argumenta esse grupo – é o fato de que, com os
resultados, é possível, tanto para os gestores dos sistemas educacionais quanto para os
profissionais mais diretamente envolvidos no dia a dia escolar, diagnosticar os pontos
fracos e fortes da aprendizagem dos alunos, para, assim, conceber e implementar
estratégias de aprimoramento educacional que visem corrigir os pontos fracos, e reforçar
ou disseminar os pontos fortes. Naturalmente, para que tais objetivos sejam alcançados, é
preciso conceber e implementar sistemas avaliativos capazes de fazer com que seus
respectivos instrumentos possuam um grau, no mínimo, razoável, de eficácia e eficiência, o
que implica a resolução apropriada de uma série de problemas conceituais, relacionados à
elaboração das provas; e logísticos, associados à sua respectiva aplicação.
Apresentamos, a seguir, uma ilustração dessa classe de indicadores com o Gráfico 8, que
detalha os resultados de Língua Portuguesa, mensurados pelos percentuais de avaliados
que tiveram suas respectivas proficiências situadas em três diferentes níveis, conforme a
localização de seus resultados na escala de avaliação.
Ultimamente, os resultados fornecidos pelas avaliações em larga escala têm servido para
propósitos que vão além da informação e divulgação de resultados, práticas essas
conhecidas em inglês como “low-stakes”, ou seja, aquelas para as quais as consequências
são baixas, ou relativamente pouco importantes, quando comparadas com outras
consequências mais elevadas (“high-stakes”), que podem funcionar como estímulos tanto
positivos (como, por exemplo, a concessão de bônus na remuneração dos profissionais das
escolas, atrelada aos resultados educacionais), quanto negativos (como a intervenção
externa no gerenciamento da escola, ou mesmo o seu eventual fechamento). Essas
possibilidades serão discutidas mais detalhadamente em etapas posteriores deste curso,
quando será abordado o tema da responsabilização educacional, cujo debate vem se
intensificando cada vez mais, nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto em diversas
outras partes do mundo.
Portanto, os gastos com a educação tanto podem ser expressos em valores brutos, como
os que se mensuram em reais, dólares, ou outras unidades monetárias, como também em
termos percentuais do PIB ou de outra referência relevante. Naturalmente, as medidas
brutas e as percentuais não necessariamente andam juntas. Por exemplo, observa-se que,
em geral, os estados do Nordeste brasileiro, quando comparados aos demais, possuem
maiores gastos percentuais com a educação em relação a seus respectivos Produtos
Internos Brutos. Por outro lado, em relação aos valores absolutos desses gastos, medidos
em reais, os estados mais populosos e economicamente desenvolvidos da Região Sudeste,
com São Paulo na ponta, são aqueles que apresentam os maiores valores gastos com a
educação.
Além disso, também é possível calcular, por exemplo, os gastos per capita em educação, ou
seja: pode-se dividir a quantidade de gastos despendidos pelo número de estudantes
atendidos pelo investimento. Em termos das três principais etapas de escolarização –
Fundamental, Média e Superior –, os números em geral mostram que os gastos per capita
aumentam com os níveis, o que é previsível, visto que, quanto mais avançada for a etapa,
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mais qualificação se exige do corpo docente, e maior costuma também ser a necessidade
de equipamentos e infraestrutura próprios de cada nível. Além disso, os gastos com o
pessoal docente tendem a ser o fator de maior peso no financiamento da educação, de
modo que isso também explica, em boa parte, os maiores gastos verificados no Ensino
Superior, no qual a remuneração dos professores é, via de regra, consideravelmente maior
que a dos níveis mais baixos de escolaridade.
No exemplo a seguir, o Gráfico 9 informa quanto valem os gastos por estudante no Ensino
Superior em diversos países, quando comparados com o que se gasta em média e per
capita no seu respectivo Ensino Fundamental:
GRÁFICO 9: Gastos com instituições por estudante em diversos níveis de educação, para
todos os serviços, em relação ao ciclo inicial do Ensino Fundamental (EF1)
Pelo gráfico, é possível ver, por exemplo, que o Brasil vive, no Ensino Superior, uma situação
sui generis, pela qual proporcionalmente se gasta, por aluno, muito mais do que nos países
da OCDE. Tal situação, portanto, pode suscitar críticas baseadas também no fato de que a
educação superior é, no Brasil, financiada principalmente com o dinheiro público, e de
principalmente direcionar-se, pela sua própria natureza seletiva, às camadas mais
favorecidas da população.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda assim, há muitos e grandes problemas que restam por serem solucionados. Um dos
mais relevantes diz respeito à qualidade da educação oferecida, e que é um assunto
constantemente tratado pelos indicadores de desempenho que se vêm produzindo
regularmente no país nos últimos anos, por meio da implementação e do desenvolvimento
de diversos sistemas de avaliação em grande escala, dos quais trataremos mais
detalhadamente em partes posteriores deste curso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS