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ERGOPRIORITY O SOFTWARE DE GESTÃO 3M

Symone Antunes Miguez 1, Ergosys Consultoria em Ergonomia, samiguez.cw@mmm.com


Carlos Augusto Callegari 2, 3M do Brasil, cacallegari@mmm.com
Edison da Silva Gonçalves 3, 3M do Brasil, esgoncalves@mmm.com

Palavras-chave: software; ergonomia; gestão; indústria; risco ergonômico


Introdução

Os profissionais que atuam com ergonomia nas empresas realizam ações ergonômicas
que compreendem identificar, analisar, propor soluções, validar estas soluções para eliminar ou
minimizar os riscos ergonômicos. Entretanto, poucos destes ergonomistas tem a oportunidade
de participar ou elaborar programas de ergonomia e, por isso, não conseguem medir ou
gerenciar os resultados ergonômicos da empresa (Karwowski, 2006). Apesar das empresas
parecerem enfrentar problemas similares, o contexto de cada uma é único (Kilbom e Petersson,
2006). Portanto, as experiências adquiridas em uma empresa, podem não ser automaticamente
aplicadas a outra.

Diante deste cenário, no intuito de facilitar o gerenciamento dos resultados obtidos pelas
análises ergonômicas preliminares (AEP) e análises ergonômicas do trabalho (AET) nos quatro
sites Brasil da empresa, bem como contribuir para o fortalecimento do Programa de Ergonomia,
o time 3M de EHS (Environment, Health and Safety) do site de Ribeirão Preto, iniciou em 2021
o desenvolvimento de um software denominado ERGOPriority e em 2022 foi replicado para os
demais sites 3M. Este projeto contou com a parceria entre consultoria externa de ergonomia e
uma equipe multifuncional da empresa para desenvolver um software com o objetivo principal
de priorizar a implementação das melhorias ergonômicas de acordo com a categoria do risco
ergonômico, dando-se ênfase aos riscos altos. Conhecer os riscos ergonômicos de uma atividade
são aspecto vital do estudo e da prevenção de problemas causados à saúde do trabalhador
(Kenny et al., 2012).

Outro objetivo do ERGOPriority é ser um canal de comunicação entre as diversas áreas


da empresa, proporcionado a participação de todos que trabalham na área. Os trabalhadores são
encorajados para mencionar qualquer oportunidade de melhoria para seu posto de trabalho via
sistema de cartões do Lean Manufacturing utilizado para identificação de potencial hazards, e
que posteriormente serão registrados em formato Kaizen (Antes e Depois). Os trabalhadores
em sua percepção podem sugerir melhoria ergonômica em seu posto de trabalho nos cartões de
EHS que são afixados nos painéis da área, validados ou não pela ergonomista e adicionado a
lista de melhorias do ERGOPriority.

Trimestralmente, uma equipe multifuncional julga as indicações dos Kaizens referente


as melhorias ergonômicas, com prêmios para o melhor Kaizen. O colaborador é premiado
recebendo pontos no programa de reconhecimento 3M. Este tipo de abordagem tem
proporcionado um impacto muito positivo nas métricas de ergonomia do site, com um excelente
nível de engajamento na redução de riscos ergonômicos, trazendo os conceitos de ergonomia
para serem considerados na estratégia do negócio da empresa. Segundo Dul e Neumann (2009)
é importante construir uma estratégia para que os conceitos ergonômicos sejam uma
“linguagem” comum usada em toda a empresa, contribuindo para a maturidade ergonômica nos
processos produtivos e consequentemente com a saúde do trabalhador.

O sistema de gestão de riscos ergonômicos da 3M é estruturado com base no programa


corporativo e requisitos locais de cada país, com o escopo de treinamentos, acompanhamento
médico, ferramentas corporativas 3M de avaliação de riscos ergonômicos, onde quem as utiliza
deve passar por uma certificação rigorosa, através de participação de workshop e apresentação
de projetos para aprovação. O ERGOPriority vem ao encontro para suprimir algumas demandas
do programa corporativo, como a gestão mais precisa dos riscos ergonômicos.

Desenvolvimento

O desenvolvimento do software ERGOPriority passou por três grandes etapas.

Etapa 1 – Co - design

Em todo o projeto do ERGOPriority e implementação foi utilizado recursos internos.


Priorizou-se o envolvimento de pessoas com diferentes experiências na empresa, usando
ferramentas criativas em um movimento de Co-design para o desenvolvimento do software.
O software foi desenvolvido em 06 (seis) meses, contemplado reuniões de planejamento,
desenvolvimento com pré-teste e aplicação do questionário de usabilidade. Os custos foram
horas trabalhadas principalmente do estagiário e técnico em segurança do trabalho responsável
pelos parâmetros do app. O custo aproximado, tendo como referencial as horas trabalhadas foi
de R$1.920,00 (mil novecentos e vinte reais). Neste valor não está incluso a consultoria externa
em ergonomia, que gerou o banco de dados para o desenvolvimento do ERGOPriority, durante
dois anos.

Foram utilizadas algumas ferramentas da Microsoft como o Power BI, que é uma
coleção de serviços de software, aplicativos e conectores que trabalham juntos para transformar
suas fontes de dados não relacionadas em informações coerentes, visualmente envolventes e
interativas. Outra ferramenta utilizada foi o Power App, que é um serviço para compilar e usar
aplicativos de negócios personalizados, que se conectam aos seus dados e trabalho por meio da
Web e de dispositivos móveis.

No ERGOPriority todos os riscos ergonômicos são pontuados de acordo com o número


de funcionários expostos, número de casos de reclamações de funcionários, número de dias
perdidos relacionados a casos de distúrbios osteomusculares, frequência de exposição, alta
rotatividade e seleção formal de funcionários. Com base nesses dados, temos uma pontuação
final apresentada em modelo de ranking, onde podemos priorizar as atividades com maior fator
de risco caracterizado pelas variáveis do ERGOPriority, permitindo que o site gerencie itens de
ação que serão implementados por área/supervisor de turno. O time saúde, segurança do
trabalho e ergonomia, realizam reuniões mensais com os supervisores de turno da manufatura,
sendo as ações registradas no EHS360 (banco de dados 3M), com o objetivo de acompanhar as
recomendações ergonômicas até a conclusão. Todos os supervisores de turno têm acesso às
avaliações, podendo consultá-las a qualquer momento e verificar as oportunidades de melhoria
sugeridas nas análise ergonômicas.

Etapa 2 - Questionário de usabilidade

Nesta segunda etapa, aplicou-se um questionário via google forms, para verificar a
interação dos usuários com o software ERGOPriority. O questionário de usabilidade sobre o
ERGOPriority, tinha 03 (três) perguntas e foi respondido por 05 (cinco) usuários dos diferentes
sites da empresa. Os resultados do questionário estão descritos a seguir.
Questão 1

Questão 2

Questão 3
Etapa 3 - Auditoria Internacional

O ERGOPriority foi submetido a sua primeira auditoria internacional no site de Ribeirão


Preto, sendo reconhecido como Best Practice na auditoria internacional de EHS e no 3M
Applied Ergonomics Innovation Awards, como Best Ergonomics Program Element em 2021.

Discussão

O ERGOPriority não teve seu desenvolvimento baseado em técnicas e métodos


comumente usados no desenvolvimento de softwares, pois foi elaborado para atender a uma
demanda prática de gestão dos riscos ergonômicos na empresa e porque não dizer contando
com uma abordagem de compartilhamento de conhecimento e tomada de decisão em uma
mentalidade de Co- design, onde a abordagem participativa foi uma constante.

O questionário de usabilidade pontuou a necessidade de aprimorarmos o ERGOPriority,


de acordo com a resposta da pergunta 2 (dois), mas também demonstrou que a versão atual está
contribuindo para a gestão de forma dinâmica dos riscos ergonômicos, conforme a aceitação do
usuário relatada nas questões 1 e 2.

Limitações e pontos fortes

Uma possível limitação do ERGOPriority é o tamanho relativamente pequeno da


amostra de usuários (5 pessoas), no entanto, foi considerado adequado para o objeto desta fase
inicial de desenvolvimento, onde recebemos as sugestões de aprimoramento do software, o que
viabilizará centrarmos mais no usuário.

Em relação aos pontos fortes, destaco que a idealização do ERGOPriority contou desde
o início com um time de profissionais multifuncionais da empresa e a consultoria de uma
ergonomista sênior certificada ABERGO, sendo que todo o software foi desenvolvido
internamente na empresa, demonstrando que barreiras financeiras para a ergonomia podem ser
transpostas por uma equipe comprometida e apaixonada por ergonomia e tecnologia.
Conclusões
A tecnologia está na saúde, no lazer, no nosso trabalho, reestruturando a maneira como
agimos, pensamos ou vivemos.

O ERGOPriority ainda tem oportunidades para melhorar sua interface com o usuário e
proporcionar novas funcionalidades.

Esta primeira versão demonstrou que ergonomia somada a tecnologia pode contribuir
para aprimorar e padronizar o gerenciamento das melhorias ergonômicas na empresa e ser um
canal de fácil comunicação entre os diferentes níveis hierárquicos da corporação.

De forma qualitativa, sem entrar na complexidade de análise, podemos afirmar que o


custo-benefício do desenvolvimento do ERGOPriority foi extremamente vantajoso, uma vez
que o aplicativo demonstra o risco ergonômico e contribui para a gestão de toda a cadeia de
implementação das melhorias ergonômicas.

Agradecimentos
A todo o time de EHS dos quatro sites, medicina ocupacional e ao nosso desenvolvedor
do software. Nosso agradecimento também aos seguintes profissionais: Carla Garcia; Daniel
Astun Cirino; Danilo Camargo e Wilson Holiguti, que em diferentes momentos tiveram sua
participação e que juntos sonharam conosco nos apoiando na idealização e desenvolvimento do
ERGOPriority.

Referências bibliográficas

DUL, Jan; NEUMANN, W. Patrick. Ergonomics contributions to company strategies. Applied


ergonomics, v. 40, n. 4, p. 745-752, 2009.
KARWOWSKI, Waldemar. Success Factors for Industrial Ergonomics Programs.
In: Interventions, Controls, and Applications in Occupational Ergonomics. CRC Press, 2006.
p. 27-40.
KENNY, Vélez V. Martha; VERÓNICA, Nolivos; FABRICIO, Alegría. Ergonomic and
individual risk evaluation. Work, v. 41, n. Supplement 1, p. 1900-1903, 2012.
KILBOM, A.; PETERSSON, N. F. Elements of the ergonomic process. Interventions, controls,
and applications in occupational ergonomics, p. 1-1, 200

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