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HISTÓRIA

DA ARTE
Mônica Cardim

E-book 2
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO����������������������������������������������������������� 3
PRIMÓRDIOS DA ARTE: EXPRESSÕES NA
PRÉ-HISTÓRIA���������������������������������������������������������� 4
Paleolítico: Arte rupestre e esculturas�������������������������������������5
Arquitetura neolítica: Monumentos megalíticos���������������������8
Idade dos metais�����������������������������������������������������������������������9
A estética na antiguidade: A arte grega e o ideal de
beleza e virtude�����������������������������������������������������������������������10
Período helenístico�����������������������������������������������������������������19

CONSIDERAÇÕES FINAIS�����������������������������������38
SÍNTESE��������������������������������������������������������������������39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &
CONSULTADAS������������������������������������������������������ 40

2
INTRODUÇÃO
Neste módulo, estudaremos as produções artísticas
como uma expressão das culturas de sociedades.
Para isso, faremos uma viagem temporal e geográ-
fica, buscando entender as primeiras formas de ex-
pressões na Pré-História, mas também o conceito
de estética na antiguidade e a relação entre o ideal
de beleza e a virtude.

Estudaremos, ainda, o papel da arquitetura monu-


mental no exercício de poder dos faraós egípcios e
dos imperadores romanos.

Por fim, ampliaremos nossos referenciais artísti-


cos a partir da Arte Africana e da Arte Americana
Pré-Colombiana.

3
PRIMÓRDIOS DA
ARTE: EXPRESSÕES NA
PRÉ-HISTÓRIA
Neste item, estudaremos algumas formas de ex-
pressão artística de povos pré-históricos. A fim de
estruturar o estudo, tomaremos como referência o
modo como antropólogos, arqueólogos, paleontólo-
gos e historiadores definem esse período histórico e
classificam os diferentes tempos que o constituem.

A noção de Pré-História é definida por uma perspec-


tiva ocidental como o momento anterior à documen-
tação escrita. Visto que o surgimento da linguagem
escrita varia conforme o povo ou a nação, compreen-
demos que a história de cada um começa em pontos
diferentes do tempo histórico ocidental.
Segundo a classificação de “pré-história”, temos:
● Idade da Pedra: engloba o período Paleolítico (2,5
milhões de anos atrás a 10 mil a.C.) e o Neolítico (10
mil a.C. a 5 mil a.C.).
● Idade dos Metais: engloba as Idades do Cobre, do
Bronze e do Ferro, compreendido pelo período de 5
mil a 3,5 mil a.C.

4
Paleolítico: Arte rupestre
e esculturas

Datam de 40 mil a 10 mil anos a.C. os primeiros


artefatos produzidos pela humanidade (ferramen-
tas e objetos lascados em pedra). Tais objetos eram
úteis para a vida nômade, cujo deslocamento era
constante em busca de alimento, por meio da caça
e da coleta.

Segundo especialistas, a técnica de lascar as pe-


dras e o manuseio do fogo são habilidades técnicas
que possibilitaram aos grupos humanos seus regis-
tros visuais. Além das pedras, eram usados ossos,
sangue, flores, madeira etc. O carvão, resultante da
combinação de fogo com a madeira, foi usado para
realizar desenhos ou preencher formas. Os artefatos
lascados de forma pontiaguda, não só eram instru-
mentos de caça e corte, como faziam a vez de lápis
ou ferramenta para entalhe. O que hoje chamamos
de tinta podiam ser folhas, flores e frutos triturados,
carvão, sangue etc.

Considera-se arte rupestre todo registro visual reali-


zado por mãos humanas nas paredes rochosas de
cavernas localizadas em distintos pontos do Planeta
Terra. Até recentemente, acreditava-se que esse tipo
de produção tivesse início na Europa, pois foram os
primeiros exemplos encontrados. Referimo-nos aqui
à Caverna de Chauvet e Lascaux, na França (Figura 1).

Atualmente, pesquisadores apontam os habitantes


da Indonésia como os precursores da arte nas ca-

5
vernas. A produção artística mais antiga, realizada
há cerca de 40 mil anos, nas cavernas da Indonésia,
parece até não tão distante diante da abrangência
do período Paleolítico, compreendido de 2,5 milhões
de anos atrás a 10 mil a.C.

Figura 1: Pintura rupestre na Gruta de Lascaux (França).


Fonte: Wikipedia.

A ausência de informações explicativas sobre essas


produções nos impedem de afirmar com precisão as
intenções de seus criadores. Os estudiosos, no en-
tanto, a partir de análises das imagens encontradas,
sugerem algumas interpretações:
● Arte produzida com fins ritualísticos, que influen-
ciaria ou fortaleceria a ação humana diante de mo-
mentos cruciais para sua sobrevivência, como o da
caça.
● Produção artística voltada a documentar o coti-
diano do grupo humano em questão.

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Essas interpretações são plausíveis, porque as pro-
duções são caracterizadas por relacionarem figuras
humanas, empunhando instrumentos de caça às
figuras de animais.

Podcast 1

Outras produções datam entre 40 mil anos a.C. e


10 mil a.C, às quais se atribui a função de arte ritu-
alística, são as esculturas de barro. Especialistas
consideram, por exemplo, as estatuetas de Vênus
(Figura 2), que retratam corpos femininos nus, com
seios e quadris volumosos, como objetos dedicados
à fertilidade.

Figura 2: Deusa-mãe (estatueta de Vênus). Fonte: Wikipedia.

7
Arquitetura neolítica:
Monumentos megalíticos

Em comparação ao Paleolítico e embora compreen-


dido em uma extensão mais curta de tempo, de 10
mil a.C. a 5 mil a.C., o período Neolítico apresenta
transformações significativas na vida cotidiana e,
consequentemente, na arte da Pré-História.

O desenvolvimento das técnicas de cultivo e a do-


mesticação de animais levou o ser humano a um
modo de vida sedentário. Essa permanência prolon-
gada em um mesmo hábitat contribuiu para a criação
de instrumentos de trabalho e produção artística.

Os melhores exemplos dos avanços desse período


estão no uso de grandes blocos de pedra nas cons-
truções arquitetônicas. Conhecidas como monu-
mentos megalíticos, consideram-se essas estruturas
um registro material da manifestação humana de
homenagem aos antepassados. Porém, defende-se
ainda a ideia de que esses monumentos associavam
o estudo da astronomia à experiência religiosa.

É desse modo que se interpreta a função do santuário


de Stonehenge, na Inglaterra (Figura 3), uma vez que
suas pedras foram dispostas de forma a acompanhar
a posição do Sol nos solstícios de inverno e verão.
Além disso, há indícios de que o local era utilizado
para rituais.

8
Figura 3: Santuário de Stonehenge. Fonte: Wikipedia.

Idade dos metais

Como o próprio nome diz, caracteriza-se a Idade dos


Metais pela substituição de pedras, ossos e madeiras
por metais na produção ferramentas e armamentos.
O desenvolvimento das técnicas de manipulação do
cobre, bronze e ferro, por meio da fundição, ocorreu
em períodos diferentes em cada região do planeta.

Segundo Machado (2017), as primeiras ferramentas


fundidas ou forjadas em ferro surgiram na África
Ocidental, por volta de 1200 a.C. O autor informa
ainda que se localiza na Suazilândia, África do Norte,
a mina mais antiga que se tem notícia, datada cerca
de 43 mil anos. Nesse período, uma forma bruta do
ferro, a hematita era usada para fins cosméticos e
ritualísticos.

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Figura 4: Cristal trigonal de Hematita. Fonte: Wikipedia.

A estética na antiguidade: A arte


grega e o ideal de beleza e virtude

Ao partir da análise sobre o termo estética, apro-


fundaremos o que temos estudado sobre arte na
Grécia Antiga e sua influência na arte ocidental. A
arte é o resultado de um fazer criativo em que se
processam a elaboração intelectual e a percepção
humana acerca do mundo. Então surge a pergunta:
o que é a Estética?

A palavra é originária do termo grego aesthesis, que


significa apreensão de conhecimento por meio de
sentidos, percepção, sensibilidade. Refere-se, por-
tanto, à compreensão do mundo por meio de olfato,
paladar, visão, audição e tato.

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Considera-se a Estética um dos campos de conheci-
mento da Filosofia, voltado ao estudo da percepção
do mundo pelo aspecto sensível. As linguagens e
conceituações da arte, os processos artísticos cria-
tivos, o papel das obras de arte nas relações sociais,
políticas e éticas constituem os temas e linhas de
pesquisa da Estética.

Com vistas a estudar a arte grega, os historiadores di-


videm em três períodos: arcaico, clássico e helênico.

Período arcaico
No período arcaico (600 a 500 a.C.), iniciou-se o
processo de urbanização da Grécia, como uma
consequência do crescimento do comércio. Com
o enriquecimento da aristocracia, promoveu-se o
desenvolvimento da arquitetura e esculturas monu-
mentais, tendo-se o mármore como matéria-prima
e a arte egípcia e oriental como influência.

Na perspectiva de pesquisadores contemporâneos,


o período, compreendido apenas como o que pre-
cede o clássico, é considerado fundamental para o
estabelecimento da cultura e arte grega.

Comandada pelos Tíranos, a sociedade tinha um


sistema de educação e formação ética, o Paideia,
que impactou a produção artística. Com o objetivo
de formar um cidadão completo e perfeito, isto é,
capaz de exercer papel exemplar na sociedade, seja
como líder ou liderado, o sistema envolvia o estudo
de Música, Matemática, Gramática, História, entre
outras disciplinas.

11
Na estátua Kouros Kroisos (Figura 5), esculpida em
mármore e cuja autoria é desconhecida, verifica-
-se uma figura masculina de 1,94m de altura, com
músculos bem desenhados, formas harmoniosas
e simétricas que correspondiam ao ideal de beleza
associado à virtude que aristocratas ou guerreiros
deveriam portar.

Figura 5: Kouros Kroisos (530 a.C.). Fonte: Wikipedia.

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FIQUE ATENTO
A palavra paideia (relacionada a paidos=criança)
significava “criação de meninos”. Como um
sistema de educação e formação ética, estava
associada a um conjunto de conceitos que se
inter-relacionava:
Aretê (excelência, virtude): refere-se ao desenvolvi-
mento da aptidão física, militar e do caráter nobre.
Kalokagathia: designa o ideal de perfeição e equi-
líbrio entre belo e virtuoso, belo e bom.
Sophrosyne: relativo ao ideal de contenção, disci-
plina e autocontrole.

Dado que a arte está intimamente relacionada à so-


ciedade que a criou, os conceitos educativos e éti-
cos da paideia são explorados pelos artistas gregos.
Assim, cabia a artes visuais, artes cênicas, literatura,
poesia, música, teatro e arquitetura transmitir cultura
e os conhecimento apreendido acerca do mundo pela
percepção sensorial.

Na Grécia Antiga, essa percepção sensorial do mun-


do expressa em uma obra de arte deveria propor-
cionar o prazer estético. Cabia à beleza, portanto, a
função de proporcionar esse prazer.

Um objeto como um vaso, por exemplo, verdadeira-


mente belo seria útil duplamente, por poder conter
algo, como vinho e azeite, e, em decorrência de sua
beleza, por elevar o espírito.

13
A Virtude despertaria naqueles que contemplassem
o belo, construído a partir dos ideais de harmonia,
simetria e proporção. Os objetos artísticos, cuja be-
leza atuaria como ideal pedagógico, eram utilizados
com finalidades religiosas, funerárias e domésticas.

Se o Bom e o Belo estavam associados, as cerâmi-


cas, pinturas e esculturas deveriam ser concebidas
buscando a perfeição e, em geral, representavam
ou traziam a figura humana. Tendo em vista que o
corpo humano era valorizado, os artistas criavam
inspirados em modelos vivos. Observe a Figura 6:

Figura 6: Enócoa (jarro de vinho) com Aquiles e Ájax em


jogo de tabuleiro (510 a.C.). Fonte: Wikipedia.

14
Esse culto ao corpo, sobretudo o corpo masculino,
manifestava-se nos Jogos Olímpicos. Passaram,
assim, a representar as práticas desportivas e os
atletas em escultura de mármore ou bronze, objetos
de cerâmica, relevos nas paredes e moedas.

Figura 7: Récita poética de jovem acompanhada de músico


(420 a.C.). Fonte: Wikipedia.

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Do Arcaico ao Clássico
Na Figura 8, temos a escultura de um atleta pronto
para o lançamento de um disco. Essa é uma das
estátuas gregas mais conhecidas na atualidade,
Discóbolo, feita pelo escultor Míron (século V a.C.).

Figura 8: Discóbolo, de Míron. Fonte: Wikipedia.

16
Os historiadores da arte grega apontam a obra de
Míron como a pioneira no trato naturalista da anatomia
e da representação da movimentação humana, o que
é visível quando comparada com a rigidez da estátua
Kouros Kroisos. Sua obra também é identificada como
marco da transição do período Arcaico para o Clássico.
Podemos perceber nessa escultura o equilíbrio na
posição das pernas e dos braços, que indicam mo-
vimento; harmonia acentuada pela circularidade das
formas no disco, na linha externa de continuidade dos
braços, na linha externa das coxas para as costas.
O artista enfatiza a verticalidade da figura com um
eixo que parte do pé posto no chão e finaliza na cabe-
ça. Outra linha circular é possível ser notada partindo
do disco, passando pelos dois braços e, após breve
interrupção da mão no joelho, finalizando na perna
em diagonal. Verificamos ainda a simetria na parte
central da imagem, da linha externa das coxas para
as costas com a linha externa do braço abaixado.
O Discóbolo comentado aqui é uma reprodução reduzi-
da e sem a pintura que os gregos costumavam usar para
acentuar a intenção naturalista. De qualquer modo, vale
a pena observar atentamente a obra e buscar identificar
os recursos utilizados pelo artista para representar o
corpo do atleta como ideal de beleza e perfeição.
Vale lembrar, ainda, como o Belo estava associado ao
Bom, e o equilíbrio do corpo físico estava associado
ao da mente ou espírito.

Outra característica marcante da arte grega que envol-


via os elementos figurativos, como animais e pessoas,

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é o aspecto narrativo. No Discóbolo, talvez isso não
seja evidenciado, mas se olharmos para a escultura,
ela nos leva a visualizar o instante anterior à pose (o
de preparo) e o instante em que o disco já foi lançado.
São obras que trazem trechos de um jogo em que
vários personagens estão presentes, como nos vasos
(Figuras 9 e 10) com representação de corrida com
armas e de uma cena de luta.
Nesses exemplos, os corpos são desenhados com
traços mais estilizados. Ainda assim, é possível ob-
servar como as linhas ressaltam a musculatura e a
busca pelo registro da movimentação.

Figura 9: Vaso com representação de corrida com armas


(550 a.C.). Fonte: Wikipedia.

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Figura 10: Vaso com a representação de cena de luta (550
a.C.). Fonte: Wikipedia.

Período helenístico

O Período Helenístico corresponde ao momento de


expansão da civilização grega pelo Oriente Médio e
o Mar Mediterrâneo. Assim, a arquitetura, a escultura,
os grandes monumentos, o mosaico e a pintura são
marcados pela expressão de grandiosidade.

Os artistas demonstravam grande domínio técnico no


uso do mármore, por exemplo, e na construção das
figuras humanas. As cenas representadas possuem
forte carga dramática, como se verifica na Figura
11, que retrata uma escultura de 2,08m por 1,63m,
em que Laocoonte e seus filhos são atacados pelas
serpentes enviadas por Apolo:

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Figura 11: Laocoonte e filhos, atribuído a Agesandro,
Atenodoro e Polidoro (27 a.C. a 68 a.C.). Fonte: Wikipedia.

A busca pelo ideal de beleza manifestava-se também


na arquitetura grega, caracterizada pelo uso de colu-
nas. Na figura 12, temos colunas de ordem clássica,
desenvolvidas entre os séculos 7 a.C. e 335 a.C, que
acabaram por influenciar a arquitetura romana.

Figura 12: Colunas Dórica, Jônica e Coríntia, respectiva-


mente. Fonte: Wikipedia.

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Arquitetura monumental: egípcios e romanos
Neste tópico, estudaremos as construções arqui-
tetônicas monumentais como forma de expressão
artística e recurso de demonstração de poder. Na
Figura 13, temos um complexo arquitetônico constru-
ído pelos egípcios antigos, uma das mais influentes
civilizações do mundo.

Localizadas no Egito, essas são as famosas


Pirâmides de Gizé. Também conhecidas como
Necrópole de Gizé, isto é, a cidade dos mortos dos
Gizé. Segundo a cosmologia egípcia, a preservação
sagrada do corpo físico permitiria que a alma vivesse
eternamente após a morte. Por esse motivo, grande
parte da produção artística egípcia relaciona-se a
ritos religiosos fúnebres dos faraós, reis e rainhas
do Egito Antigo.

Os faraós mortos deveriam ter seus corpos embalsa-


mados, ricamente adornados com joias e preserva-
dos para a vida eterna, em que navegariam ao lado
do Rei Sol. Cada pirâmide corresponde a uma espécie
de templo com a função sagrada de guardar o corpo
do faraó e de seu séquito.

Figura 13: Necrópole de Gizé. Fonte: Wikipedia.

21
Além da preservação do corpo, acreditava-se que
uma escultura que reproduzisse fielmente a cabe-
ça do morto garantiria a vida eterna. O historiador
Gombrich (1999, p. 33) explica que o termo escul-
tor era designado pelos egípcios como “aquele que
mantém vivo”.

Na Figura 14, temos o busto de Nefertiti, icônica re-


presentação de uma mulher do Egito Antigo, cujas
histórias controversas a mantêm viva. Alguns histo-
riadores apontam-na como a consorte (esposa) do
faraó Aquenáton; outros, no entanto, defendem que
ela teria sido faraó, uma descendente diretamente
dos reis egípcios.

REFLITA
Anteriormente, estudamos as cabeças em home-
nagem aos Obas mortos do Benin. Esse pode ser
um tema de pesquisa relevante para os estudos
sobre a relação arte e religião no continente afri-
cano em momentos e países distantes.

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Figura 14: Nefertiti, calcário e estuque (1345 a.C.). Fonte:
Wikipedia.

A organização política do Egito Antigo centralizava-se


na figura divinizada do faraó, por tratar-se de uma so-
ciedade que acreditava na vida após a morte. Assim,

23
além dos objetivos funerários, a arquitetura egípcia
também se constituía pelos monumentos religiosos e
de moradia. Entre as suas características principais,
vale destacar:
● Grandiosidade das dimensões;
● Apresentação densa e pesada;
● Formas simples (triangulares, retangulares, qua-
dradas, trapézios);
● Predomínio de vazio sob as superfícies, policromia.

Roma: arquitetura, pão e circo


O Império Romano foi constituído pela conquista e
ocupação de vários territórios, incluindo a Península
Ibérica, o norte da África e o centro da Ásia. Essa
amplitude territorial reunia sob o domínio de Roma
distintas civilizações.

Se, por um lado, os romanos foram influenciados


pelas culturas desses povos, por outro, buscaram
demonstrar sua grandiosidade por meio do desen-
volvimento da arquitetura pública.

Desse modo, construíram em dimensões monumen-


tais teatros, termas e circos voltados ao lazer do
povo. Lembra da expressão “pão e circo”? Era uma
forma de entretenimento popular promovido pelo
governo. Então saiba que ela foi proferida pela pri-
meira vez pelo poeta romano Décimo Júnio Juvenal.

Com ela, o poeta criticava, em forma de sátira, a polí-


tica dos imperadores romanos de oferecer alimento

24
e diversão ao povo como um modo de mantê-lo na
ignorância.

Podcast 2

Na Figura 15, observamos a célebre arena Coliseu,


onde se realizavam os combates entre gladiadores e
outros eventos públicos. Com capacidade para até 80
mil espectadores, é considerado o maior anfiteatro já
construído. A construção é estruturada por arcadas
romanas em composição com as colunas gregas
dóricas, jônicas e coríntias, diferenciadas por andar.

Figura 15: Coliseu (68 a 79 d.C.). Fonte: Wikipedia.

Segundo Ernest H. Gombrich (1999), em sua maioria,


os artistas atuantes em Roma eram gregos, o que
colaborou para que os monumentos e a estatuária
romanos tivessem a referência da estética prove-
niente da Grécia Antiga.

25
Os arcos no Coliseu são o elemento mais marcan-
te da arquitetura romana. Embora os gregos já os
conhecessem, não o exploraram tanto quanto os
romanos. O domínio da técnica de construção de
arcos permitiu o desenvolvimento de projetos mais
elaborados, como aquedutos e tetos com abóbadas
(Figura 16):

Figura 16: Abóbada do Panteão (parte interna). Fonte:


Wikipedia.

26
Figura 17: Panteão (parte externa). Fonte: Wikipedia.

Arte Africana e Arte Americana Pré-Colombiana


O conhecimento e a compreensão das artes africana
e pré-colombiana valorizam estéticas diferentes. Vale
fazer aqui algumas considerações acerca do terceiro
continente mais extenso do planeta, depois da Ásia e
das Américas, bem como o segundo mais populoso
da Terra, depois da Ásia. Estamos falando da África.

Atualmente, o continente africano conta com 55


países independentes. O termo país passou a ser
adotado após a colonização europeia. Antes disso,
o continente era dividido em reinos. Divisões e redi-
visões territoriais ao longo da história do continente
africano fez com que etnias diferentes fossem distri-
buídas em mais de um país, assim como um mesmo
país pode ter mais de um grupo étnico.

Conforme observa Geledés (2010), os povos ao redor


do Mar Mediterrâneo foram privilegiados pelo Ensino

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da História. Assim, o Egito, embora localizado na
África, era relacionado aos países da região Norte,
denominada África Branca pela perspectiva impe-
rialista ocidental.

Tal denominação ocultava a história dos povos ne-


gros que habitaram as áreas antes que fossem do-
minadas pelos persas, gregos e romanos. Isso faz
com que muitas pessoas, ainda hoje, não saibam que
o Egito é um país africano. Com isso, geógrafos e
historiadores contemporâneos compreendem a divi-
são adequada para a África como África Setentrional,
África Ocidental, África Central, África Oriental e
África Meridional.

Essa abordagem do Ensino da História também se


manifestou no Ensino de História da Arte, o que levou
a não percepção da diversidade da produção artística
dos países africanos e seus distintos grupos étnicos
e linguísticos.

Muitos dos povos tradicionais da África têm, entre


suas produções artísticas, a dança, a música, as en-
cenações, o uso da oralidade, a pintura e a escultura.
Nas artes visuais, a criação de máscaras faciais e
corporais também são recorrentes. Há diferenças
nos usos de materiais, embora haja uma tendên-
cia ao uso de materiais de origem animal e vegetal,
como cabelos/pelos, ossos, folhagens etc. Alguns
grupos étnicos trabalhavam com padrões artísticos
explorados em tecidos, vestimentas, joias, móveis e
moradias.

28
Uma das principais características da arte europeia,
inspirada na arte grega, é o aspecto visual. Na arte
africana, embora a superfície das peças tenha grande
importância, muitos objetos possuem em seu interior
elementos que constituem seu significado. Além
disso, os materiais com que são construídos portam
forças mágicas. Segundo as tradições relacionadas
às visões de mundo africanas, há um poder místico
que emana de barro, folhas, marfim, madeira, ossos,
cabelos etc.

Nas figuras a seguir, podemos verificar certa seme-


lhança temática e o uso de alguns materiais, sobre-
tudo, a madeira. A elaboração das esculturas, no
entanto, diferencia-se na forma.

A estatueta (Figura 18) do grupo étnico Tchokwe,


da Angola, representa a mãe ou esposa de um rei.
Esculpida em madeira sem objetivar a reprodução
mimética da figura humana, ela tem aspectos do cor-
po bem definidos, como pés, musculatura e seios. Os
traços do rosto também são produzidos com linhas
bem marcadas.

29
Figura 18: Estatueta de uma mãe ou esposa de um rei
Tchokwe (Angola). Fonte: Museu Etnológico de Berlim.

A estatueta do grupo étnico Fang-Ngumba, dos


Camarões, também esculpida em madeira, apresenta
mãos, pés e músculos menos enfatizados (Figura

30
19). Há uma certa similaridade na forma marcada
das feições do rosto da estatueta do grupo Tchokwe.

Figura 19: Estatueta (Byeri), séc. 19, Fang-Ngumba, em


madeira, penas, ferro, latão, vidro e casca de árvore. Fonte:
Museu Etnológico de Berlim.

Note que as máscaras são recorrentes em quase


todos os grupos étnicos africanos. Objetos de cárater
ritualístico também são produzidos com materiais
de origem vegetal ou animal portadores de força
mística. São utlizadas em rituais de iniciação, mas

31
também em rituais fúnebres, celebrações, encena-
ções etc.

Figura 20: Máscara facial feminina em madeira, tinta ver-


melha e branca, ráfia tecida, tecido, búzios e contas de vidro.
República Democrática do Congo, Kuba. Fonte: Wikipedia.

Para os Kuba, as máscaras correspondem a espíritos


da natureza (mingesh) que possibilitam a comuni-
cação entre o mundo dos mortais e o ser supremo
(Nyeem).

Na Figura 21, temos um dos 20 tipos de máscaras


que atuam na sociedade com a função de iniciação
dos homens. Trata-se de Woot, o herói fundador, de
quem os Kuba seriam descendentes.

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São máscaras de representação do poder, tendo o
uso reservado ao rei de Kuba ou aos chefes de al-
deias. As máscaras do rei são, em geral, feitas de
pele de leopardo, já as dos chefes de aldeias são
feitas com pele de antílope.

Figura 21: Máscara Mwaash aMbooy, representando Woot,


o mítico herói fundador do Reino Kuba. Fonte: Wikipedia.

SAIBA MAIS
O Museu Afro Brasil tem uma coleção de arte afri-
cana diversificada. Para conhecer um pouco mais
sobre essa coleção, você pode consultar a publi-
cação África em Arte (2015), de Juliana Ribeiro da

33
Silva Bevilacqua e Renato Araújo da Silva, que pode
ser acessado em: www.museuafrobrasil.org.br.

Na arquitetura, além das pirâmides, o continente afri-


cano compreende um conjunto de construções de
ordem monumental bastante originais. Trata-se do
conjunto de 11 templos religiosos (tombados pela
Unesco em 1978) em Lalibela, Etiópia. São igrejas mo-
nolíticas, construídas de cima para baixo (Figura 22).

Ao recorrer a essa técnica, isolava-se um colossal


bloco de pedra no chão por meio de escavação. Em
seguida, a igreja era esculpida na pedra.

Figura 22: Igreja Monolítica de São Jorge, Lalibela (Etiópia).


Fonte: Wikimedia.

34
Arte de povos originários pré-colombianos
Verificaremos a arte de alguns povos originários das
Américas neste tópico, mais especificamente da re-
gião do continente colonizado pelos espanhóis em
1492, sob o comando de Cristovão Colombo. Tal
qual a África, mas em menor proporção, a região
apresentava uma enorme diversidade linguística e
étnica. Arqueólogos apontam indícios da presença
humana nas Américas de cerca de 20 mil anos.

Nessa região, encontram-se as manifestações ar-


tísticas produzidas pelas civilizações antigas mais
desenvolvidas do continente, como os povos astecas,
maias, olmecas e teotihuacanos.

De todas elas, a mais antiga é a civilização maia,


cujo surgimento data por volta de 2600 a.C., na pe-
nínsula de Yucatán (Venezuela), América Central. Em
seguida, o império dos astecas, de 1376 a 1521, em
Tenochtitlán, atual cidade do México. A civilização
Inca, por sua vez, localizava-se no atual território do
Peru, da Bolívia e do Equador, nos Andes, América
do Sul, e ocupava porções do território atualmente
dividido entre Argentina, Chile e Colômbia.

Tal qual no Egito Antigo, as estruturas piramidais


predominavam na arquitetura das civilizações meso-
americanas antigas. Na Figura 23, temos em primeiro
plano a Pirâmide do Sol e, ao fundo, a Pirâmide da
Lua, construídas pelos astecas, no México.

Um aspecto importante a se observar que tem simi-


laridade com outras pirâmides estudadas e com os

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megalíticos da Inglaterra é a relação com a astrono-
mia. No caso da Pirâmide do Sol, ela foi projetada de
forma que o Sol se ponha em sua frente no solstício
de verão.

O uso das pirâmides relacionava-se às crenças mi-


tológicas dos povos. Serviam como locais sagrados
para sacrifícios, oferendas, rituais religiosos e à pre-
servação dos mortos.

Figura 23: Pirâmide do Sol (à frente) e Pirâmide da Lua (ao


fundo), nas ruínas de Teotihuacán (México). Fonte: Wikipedia.

No Mural da Grande Deusa de Teotihuacán (Figura


24), podemos observar que a morte era cultuada
pelos astecas. Sua representação associa-se aos
poderes e mistérios da escuridão, morte e criação,
por meio do uso de animais como corujas, onças e
aranhas:

36
Figura 24: Mural da Grande Deusa de Teotihuacán. Fonte:
Wikipedia.

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre os conceitos de História e
História da Arte de povos não ocidentais a par-
tir de uma análise crítica de Ariano Suassuna em
História da Arte no Brasil: Uma História de Cinco
Séculos?, disponível em: www.youtube.com.

37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, apresentamos o desenvolvimento das
manifestações artísticas em distintas civilizações.
Com isso, buscamos demonstrar de que maneira o
desenvolvimento, a percepção de mundo de cada
povo e suas formas de governo impactaram a sua
produção artística.

Se, na Pré-História, a arte teve uma função de poder


mágico ou de narrativa do cotidiano, na Grécia Antiga,
verificamos a associação da beleza à virtude, com
uma função educativa.

Verificamos também a arquitetura monumental no


exercício de poder — explorada principalmente com
fins funerários para os faraós egípcios — e de con-
trole político pelos imperadores romanos.

Estudando a Arte Africana e a Arte Americana Pré-


Colombiana, finalizamos este módulo com uma am-
pliação do olhar acerca das produções artísticas não
ocidentais, que se assemelham às artes ocidentais
e se distanciam delas em alguns aspectos.

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SÍNTESE

HISTÓRIA DA ARTE
ARTES COMO EXPRESSÃO DAS
CULTURAS DE SOCIEDADES
Neste módulo, nosso foco foi o estudo das produções artísticas enquanto uma forma de
expressar a cultura de determinadas sociedades� Isso nos levou a realizar uma volta no
tempo e ao mundo, pois abordamos questões históricas e geográficas, com o intuito de
entender as primeiras formas de expressões na Pré-História, mas também o conceito de
estética na antiguidade e a relação entre o ideal de beleza e a virtude�

Se, na Pré-História, a arte teve uma função de poder mágico ou de narrativa do cotidiano, na
Grécia Antiga, verificamos a associação da beleza à virtude, com uma função educativa�

Em seguida, estudamos o papel da arquitetura monumental no exercício de poder dos


faraós egípcios e dos imperadores romanos� Verificamos, assim, que a arquitetura
monumental no exercício de poder — explorada principalmente com fins funerários para os
faraós egípcios — e de controle político pelos imperadores romanos�

Por fim, ampliamos nossos referenciais artísticos a partir da Arte Africana e da Arte
Americana Pré-Colombiana� Ao fazê-lo, pudemos perceber que a Arte Africana e a Arte
Americana Pré-Colombiana são diferentes umas das outras�

Finalizamos o módulo com uma ampliação do nosso entender sobre as produções artísticas
não ocidentais, que se assemelham às artes ocidentais e se distanciam delas em alguns
aspectos�
Referências Bibliográficas
& Consultadas
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