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AF - Os Jovens e Essas Coisas de Alternancia em Angola - Osvaldo José Prova
AF - Os Jovens e Essas Coisas de Alternancia em Angola - Osvaldo José Prova
Os Jovens e Essas
coisas de Alternância
em Angola
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Repertorio
Luanda 2022
Os Jovens e Essas
coisas de Alternancia
FICHA TÉCNICA em Angola
Copyright©2023 by Osvaldo Sérgio José
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Título: Os Jovens e Essas coisas de Alternancia em Angola
Autor: Osvaldo Sérgio José Repertorio
Contacto do Autor:
Edição e Publicação: Edição do Autor
Revisão:
Capa: Nelson Júlio Pinto
Diagramação e Paginação: Edgar da Conceição
1ª Edição: Luanda, Julho de 2023
Tiragem: 500 exemplares
Depósito Legal nº 11995/2023
ISBN: 978-2-493336-18-7
Todos os direitos reservados
Em memória a
minha filha Giana.
E a minha querida colega
Isabel de Sousa Semedo
Agradecimentos
“A força das instituições democráticas está
assente na sua capacidade de transformar conflitos Sou profundamente grato aos meus exímios Profes-
sociais em regras institucionais” – Touraine
sores Paulo de Carvalho; Orlando Santos; José Octávio Ser-
raVan—dúnen; Narciso Benedito; Cláudio Tomás; Carlos
Lopes, Elizabeth Vera—Cruz; e outros pelas competências
transmitidas no âmbito do curso de Mestrado em Sociologia
da FCS—UAN, e por através dos debates em sala de aula me
inspirarem a escrever este livro.
Agradeço no âmbito da Licenciatura no ISCED de
Luanda aos meus mestres: Kezita Michingi, Manuel Fernan-
do, Adérito Manuel e Pedro de Castro Maria cujas vozes de
orientação continuaram a ecoar nos resultados deste trabalho.
críticas se neste trabalho não reconhecer o apoio que sempre Introdução ................................................................................ 20
dado primeiro pela minha mãe, Adriana César, segundo pelos Capítulo I .................................................................................. 22
meus irmãos Giménia António, José César, Hélder Galvão, Podemos ainda falar em movimento social em sociedades
Caly, terceiro pelos meus primos Maria Helena, Emília que chamaríamos da informação ou da comunicação? ...25
António, Mauro, Zé, Thamer, Yuzi e José Lopes. Capítulo II ................................................................................. 34
Propina not!: uma análise sobre dossier do movimento
Agradeço por fim a todos meus familiares, colegas de
estudantil angolano ................................................................ 34
serviço, de faculdade, estudantes e associados do MESA pelos
Capitulo III ................................................................................ 41
subsídios e experiências que com eles adquiridas ao longo de
O papel dos jovens como parte essencial no processo de
todos estes anos.
mudança social em Angola .................................................... 41
Capitulo IV ................................................................................ 55
Sindicatos em Angola: o recrudescimento de um movimento
amorfo? ..................................................................................... 55
A
Centro de Estudos Africanos do CIS— Instituto Superior de
o convidar-me para prefaciar este livro, o
Ciências Sociais e Relações Internacionais sobre “Os partidos
Osvaldo José fê-lo na sequência de várias
políticos e movimentos sindicalistas na África Subsaariana:
conversas sobre temas da sociologia que,
Matrizes, Transformações e Desafios”. Das 4ªs Jornadas do De-
habitualmente, tínhamos nos corredores de Instituto Superior
partamento de Ciências Sociais do Instituto Superior Politéc-
Politécnico Tocoísta (ISPT). Sua eloquência, argúcia e
nico Tocoísta.
insistência nesses debates, beneficiaram da minha atenção,
É coautor da obra “Da Apatia ao Recrudescimento po- mesmo quando o tempo era escasso.
lítico dos Novos Actores Sociais em Angola” (No prelo).
Durante as conversas, apercebi-me que este jovem
sociólogo produzia diversos textos, fruto de suas reflexões
de base sociológica e de sua actividade como docente de
sociologia. Ademais, soube da sua intenção de reunir esses
textos e publicá-los em forma de livro.
O
presente livro intitulado “Os jovens e essas
coisas de alternância em Angola” aborda
a questão da mudança social em Angola
no seu aspecto político. Inspirado na consulta a diversos
manuais de sociologia, artigos científicos, notícias televisivas
e radiofónicas, e observação nas redes sociais da realidade
Angolana.
E
Neste contexto, usando a lógica de que não existem tra- ste capítulo integra uma resenha feita a um
balhos perfeitos, o autor lamenta as insuficiências metodo- texto publicado em 2006 pela revista brasileira
lógicas mais salientes da obra justificadas pela natureza dos Sociedade e Estado intitulado “Na fronteira dos
textos que lhe dão corpo. E neste sentido, declara que estão movimentos sociais” da autoria do sociólogo francês Alain
abertas as vias para recolha de todos tipos de contribuições Touraine.
para melhoria deste trabalho mediante o endereço dos seus Alain Touraine é um autor formado pela escola francesa
editores. de sociologia do trabalho. Atento às relações de classe e aos
É deste modo que, com muito carinho e respeito dese- conflitos na sociedade industrial, Touraine é um autor—pon-
ja—se a todos uma boa leitura. te entre aqueles que refletiram sobre os conflitos e o seu modo
de gestão no pós-guerra e aqueles que a contar da segunda
metade dos anos 1960 propõem novos modos de abordar a
acção colectiva (Lallement, sd).
Razão pela qual defende que é preferível substituir a ex- Por outro lado, com esta análise Touraine não deixa de
pressão “movimentos sociais” por “movimentos culturais”, in- caracterizar um dos temas mais fracturantes da política con-
dicando o deslocamento dos conflitos para a ordem simbólica temporânea relacionada com a forma como o exercício da po-
e, ainda mais importante, definindo o que deve ser defendido lítica hoje é afectadas pelo digital. Refereꓽ
e o que deve ser combatido, em termos não mais propriamen- “As forças dominantes se definem não mais por seu con-
te sociais (Ibidem). teúdo ou formas de vida social, mas por uma capacidade
ilimitada de mudança ou de adaptação a um contexto em
Apontada desta maneira, a observação de Touraine constante modificação, e, muitas vezes, imprevisível” (Ibi-
pode ser aplicada a leitura de alguns dos principais eventos da dem: 22).
E
Ou ainda citar os banhos de popularidade de Marcelo ste capítulo apresenta na íntegra a entrevis-
Rebelo de Sousa actual presidente de Portugal. ta concedida ao Jornalista Álvaro Victória do
Novo Jornal, um orgão angolano da comunicão
Como se pode observar, apesar da data de sua publi-
social de propriedade privada, publicada na sua edição 613,
cação este artigo propõem—nos uma viagem analítico—so-
aos 29 de Novembro de 2019.
ciológica para os principais temas da realidade política con-
temporânea. Por este motivo o propusemos como base teórica A mesma foi conduzida pelo referido profissional nas
para interpretação de algumas das principais acções relacio- instalações do Instituto Superior Politécnico Tocoísta.
nadas a mudança social na Angola comtemporanea. Atendendo versão original existente no Jornal, a versão
E para análise deste livro, elegemos as acções prota- aqui replicada exclui os elementos de descrição biográfica e
gonizadas pela juventude, sendo este o conteúdo do próximo frases destacadas pelo facto do livro estar orientado para um
capítulo. objetivo distinto do Jornal e também por o livro já possuir os
dados pessoais do autor.
avançar com a medida. O secretário de Estado para o Ensino didático, o acesso ao ensino a universidade e outras despesas.
Superior apresentou alguns dados, segundo os quais a propos- E acrescentar-se a isso mais a propina outra coisa não se pode
esperar que não mais dificuldades sociais.
ta de propina anual deve ser equivalente a meio salário mí-
nimo nacional obrigatório. A ministra do Ensino Superior fez Mas a questão de fundo— e isso olhando para tabela
referência a um estudo que não foi concluído, e espero que, nos dos valores avançados— é a incapacidade de as famílias
próximos dias, nos apresente as conclusões deste estudo. Porque mais vulneráveis poderem pagar as propinas ou o impacto
nós só vamos ter uma visão objectiva se houver estudos que de- resultante do facto de, durante anos, o estado subsidiar
monstrem as consequências concretas desta medida. vários serviços e, agora, estar a retirar as subvenções?
E
sta palestra foi proferida na sede do Partido
de Renovação Social, em Viana (Luanda) no
dia 12 de agosto de 2020, perante um público
não especializado e muito heterogêneo. Embora o presente
texto tivesse sofrido alterações como a exclusão do seu debate
subsequente, por motivos metodológicos decidimos manter
a sua carga de oralidade original e a organização textual
do esboço que lhe deu origem, procurando neste processo
apenas acrescentar as referências bibliográficas contidas no
final do livro.
E
nquanto actores sociais, a relação entre os mo-
vimentos sociais e os sindicatos é íntima. É,
Pelo facto dos mesmos desempenharem um
papel preponderante na democratização das instituições e na
consciencialização do espírito de cidadania. Além disso, são
forças que procuram em uníssono resguardar o interesse dos
cidadãos. Elemento unificador entre os dois actores sociais
(Movimentos Sociais e Sindicatos). No entanto, a sua forma
de actuação na esfera social é a componente divergente entre
eles.
Dentro desta abordagem essencialmente marxista, o ção e da habitação por parte dos trabalhadores.
movimento sindical é um movimento de classe. Nos termos Afinal o que é um sindicato? Segundo Guimarães
desta abordagem, os movimentos sindicais tendem a apresen- (2009), um sindicato é definido como um agregado de indiví-
tar um padrão de acção colectiva de cariz institucional ou re- duos pertencente a uma classe de trabalhadores que exercem
volucionário. A acção colectiva é entendida como o conjunto um tipo de profissão partilhando um espaço comum e reú-
de actividades através das quais um grupo procura agir sobre
uma organização social e promover a reivindicação de que é 5 O nome do movimento deriva do seu criador NeddLudd, o primeiro
operário que teve iniciativa de destruir as máquinas do patrão. Movimen-
portador (Étienne, 2008). Acção colectiva institucional signi- to composto por trabalhadores qualificados de diversas profissões como
fica que o mesmo utiliza os canais de representação e partici- tecelões, operários agrícolas e fabris que reunidos em pequenas oficinas
criam e fornecem ideias aos outros movimentos operários. Em 1817, de-
pação política já instituído. sencadeiam agitações radicais nas ruas de Londres, provocaram diversos
protestos e motins nas vias públicas com objectivo de melhorar a sorte dos
trabalhadores (Campenhoudt 2012).
Contudo duas questões adicionais se impõem a princi- se apresentar amorfas. No período colonial apatia das forças
pal, a primeira, como é possível demonstrar sociologicamente sindicais pode ser associada ao próprio carácter do sistema
a apatia dos sindicatos em Angola? E a segunda, que elemen- Colonial português. A caracterização feita por Davidson (Cit.
tos servem para sustentação empírica da tese do recrudesci- Pain & Reis, 2006:50) do regime português mostra o quão sis-
mento do movimento sindical? Como é evidente o esclareci- témico foi a sua repressão, concedendo poucos direitos cívicos
mento destas questões requer um recurso a história. aos seus próprios cidadãos. Fica difícil falar em participação
da sociedade civil no contexto da época colonial. Manifesta-
3.2 — OS RASTOS SOCIOLÓGICOS DA APATIA
ções ou greves dos trabalhadores fizeram-se presentes, mas só
DOS SINDICATOS
através dos movimentos de libertação nacional.
Como referimos a análise do reavivamento do sindi-
Segundo Venâncio (2000) diferente das colónias
calismo em Angola só é possível com base na compreensão
anglófonas e francófonas, o movimento sindical na África
do processo sociopolítico nos diferentes contextos da história
lusófona se não foi totalmente inexistente não teve qualquer
angolana. De acordo com Maria (s/d) a história de Angola
modo de expressividade. Tal facto, deveu-se a vigência
pode ser distinguida em dois períodos: O período colonial e o
de uma ditadura que impedia a formação de sindicatos
período pós-colonial6.
independentes não só nas colónias, como também em
Portugal. A única estrutura sindical criada pelos movimentos
⁶ O primeiro período tem sido considerado por historiadores como sendo
equivalente a cinco séculos de exploração portuguesa. O segundo período de libertação no exílio como a Liga Geral dos Trabalhadores
que é o pós—colonial pode ser dividido em três etapas: a primeira que vai
de Angola criada em 1961 em Leopoldville (Kinshasa) filiada
de da proclamação da independência em 1975 até 1991. Esta é a etapa em
que vigorou o sistema político de partido único. A segunda etapa vai de na Conferederation Internacional dês SyndicatesChrétiens e
1991 com o inicio da implantação de um sistema multipartidário até 04
de Abril de 2002 com a assinatura do memorando do Lwena, marco que da responsabilidade da União dos Povos de Angola e outras
viria a instaurar uma paz duradoira no país, apôs 27 anos de guerra civil iniciativas que pouco ou nenhum impacto tiveram junto das
isto é desde a instauração da independência. A terceira etapa estende—se
de 2002 aos nossos dias (Maria, s/d: 4). massas trabalhadoras.
O “primeiro sinal de regeneração dos sindicatos” vai Fica evidente que nem o sistema multipartidário e
aparecer com a consagração formal, em 1991, do sistema com ele a lei sindical resolveram o problema da apatia destes
multipartidário, que da liberdade de imprensa e de associa- organismos no período em referência. Entre os factores desta
ção, vai alargar o espaço de intervenção destes novos actores situação podemos deduzir a inexistência de uma cultura
sociais e estimular o seu crescimento (Pestana, Idem). reivindicativa e o carácter autocrático do próprio sistema.
O surgimento do multipartidarismo, em 1991, e com ele Acompanhando este raciocínio, podemos constatar
a Lei nº 21—D/92 de 28 de Agosto, tornou-se possível a cria- que apatia das forças sindicais é uma característica presen-
ção de sindicatos independentes. Tendo entre outros surgido te em todo período da colonização, comandada pelo Estado
o sindicato dos jornalistas (SJA), em 28 de Março de 1992, e colonial português, e posteriormente será continuada pelo
mais tarde o SIMPROF o 1º sindicato legalizado pelo Ministé- governo de Partido Único de orientação marxista—leninista.
3.4 – CARACTERIZAÇÃO DAS FORÇAS SINDICAIS política e a economia de mercado no sistema de organização
A Força Sindical é a terceira no panorama dos sindi- a 2019 uma sequência de acções reivindicativas dos sindicatos
catos em Angola. Foi criada em 2004. Segundo Trigueiros apôs um longo período de hibernação. Para além da regula-
(2011), a mesma surge praticamente pelos mesmos motivos ridade que é um dos aspectos marcante, o conteúdo destas
que a CGSILA. Houve uma cisão na CGSILA, e um grupo de assumiu um tom mais activo em relação a reivindicação dos
antigos sindicalistas optou por edificar uma outra central. problemas sociais e políticos.
3.5 — O RECRUDESCIMENTO DO MOVIMENTO De acordo com a nossa pesquisa, foi possível registar
7. Greve do Sindicato dos Trabalhadores calistas está associado a nova conjuntura sociopolítica an-
Marítimos, Portuários, Ferroviários e golana e é baseado em três dispositivos legais importantes
Afins de Luanda (1 de Outubro) e
na Constituição da República de Angola, Lei da greve e o
8. Greve do Sindicato dos Médicos de
Angola (20 de Novembro). manifesto eleitoral do partido governante apresentado nas
1. Greve da Sociedade Mineira das Lumi- últimas elDDDDD eições. O último dispositivo sugere o
22019 nas –Cuango (16 de Fevereiro);
recrudescimento dos sindicatos como produto da materiali-
2. Greve dos trabalhadores dos Caminhos 3
de Ferro de Luanda (14 de Abril); zação do programa do novo executivo sobre a proposta de um
3. Greve dos trabalhadores da EPAL diálogo entre o Estado, as organizações patronais e as associa-
filiados na central sindical SGSILA (28 ções sindicais (Manifesto Eleitoral do MPLA de 2017—2022,
de Março deste ano).
TOTAL 14 política nº4). Enquanto o conteúdo da constituição e da lei
Quadro de distribuição das greves registadas do sindical é usado pelos sindicatos e pelos responsáveis das em-
período de 2017 à 2019 presas lesadas para justificação de suas acções.
[2017]. “Novos actores políticos, novas oposições?” In [S/d]. “O amanhã da Democracia em Angola à Luz das
Revista África 21, Nº 117, pp. 30—33. Quartas eleições gerais: Imagens, Percepções e Expectativas
HONWANA, Alcinda. de Jovens em Luanda” Artigo não Publicado.
[2013]. Sociologia Geral, 13a Edicao, Sao Paulo, Editora [2008]. As dinâmicas das sociedades civis em Angola.
Atlas S.A Lisboa: CEA.
VENÂNCIO, J. C.