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Fernão Lopes

Contextualização
histórico-literária
FERNÃO LOPES – CONTEXTUALIZAÇÃO

ASPETOS DA VIDA E OBRA DE FERNÃO LOPES

Apesar de não ter sido o primeiro historiador


português, Fernão Lopes assume um papel de
grande importância, já que foi ele o primeiro a
construir “uma narrativa” mais completa, ao
contrário dos seus antecessores que escreviam as
crónicas ao estilo de “memoriais” ou “cronicões”.
FERNÃO LOPES – CONTEXTUALIZAÇÃO

ASPETOS DA VIDA E OBRA DE FERNÃO LOPES

A simples anotação do acontecimento, por vezes apenas


conhecido pela tradição oral e registado sem demasiada
preocupação de rigor, dá assim lugar a uma narrativa ordenada
(diacronicamente), de estrutura e apresentação internas mais
complexas e baseada no manuseamento de materiais
informativos muito diversificados.
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ASPETOS DA VIDA E OBRA DE FERNÃO LOPES

O estreito contacto que Fernão Lopes manteve com a Torre do Tombo, da


qual foi conservador durante 36 anos, permitiu-lhe a utilização de uma vasta
gama de documentos.
Desta forma, contribuiu igualmente para o desenvolvimento da
historiografia na Europa.
FERNÃO LOPES – CONTEXTUALIZAÇÃO

Documentos usados por Fernão Lopes

 Fontes narrativas.

 Fontes de natureza diplomática e arquivística.

 Conjunto de outros testemunhos, tais como, memórias dispersas,


informações orais, elementos lendários e tradicionais,
representações artísticas e até epitáfios.
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Fernão Lopes foi um escritor ao serviço do


poder e dele dependeu inteiramente.
Nas suas crónicas, pretendeu, sobretudo,
justificar os acontecimentos verificados em Portugal
em 1383-1385, tanto no plano das suas ocorrências
específicas como no das grandes decisões dali
decorrentes.
Com isso, tentava legitimar o comando político
vigente na primeira metade do século XV.
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CRÓNICA DE D. JOÃO I, DE FERNÃO LOPES

1.a parte – Pré-Aljubarrota 2.a parte – Pós-Aljubarrota

Narração dos acontecimentos Narração dos acontecimentos


desde a morte do rei D. Fernando até ocorridos durante o reinado de D.
à aclamação de D. João como rei. João I.
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Excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I.

“Per que guisa estava a cidade


corregida pera se defender, quando el-
Neste capítulo, Fernão Lopes Rei de Castela pôs cerco sobr’ ela.

começa por referir que vai Nem uũ falamento deve mais vizinho
debruçar-se sobre a situação seer deste capitulo que havees ouvido,
que poermos logo aqui brevemente de
vivida na cidade de Lisboa, que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei
aquando do cerco castelhano, de Castela sobr’ ela; e per que modo
poinha em si guarda o Meestre, e as
e sobre a forma como a gentes que dentro eram, por nom receber
população se organizou. dano de seus emigos; e o esforço e
fouteza que contra eles mostravom, em
quanto assi esteve cercada. “
FERNÃO LOPES – CONTEXTUALIZAÇÃO

“Os muros todos da cidade nom


Nos parágrafos seguintes,
haviam mingua de boom repairamento;
Fernão Lopes enuncia as medidas
e em seteenta e sete torres que ela
tomadas para se precaverem do
teem a redor de si, forom feitos fortes
cerco, como por exemplo as
caramanchões de madeira, os quaes
estratégias delineadas para
eram bem fornecidos d’ escudos e
garantirem a defesa,
lanças e dardos e beestas de torno, e
nomeadamente o sistema de
doutras maneiras com grande
vigilância que montaram.
avondança de muitos viratões. […] “
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Excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I

“Andavom os moços de tres e de


quatro anos pedindo pam pela
cidade por amor de Deos, como lhes
ensinavam suas madres, e muitos
nom tiinham outra cousa que lhe
dar senom lagrimas que com eles
choravom que era triste cousa de
veer; e se lhes davom tamanho pam
come ũa noz, haviam-no por grande
bem. “
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Excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I

Situação dos Caraterização geral da Reação do Ponto de vista


mantimentos na população Mestre do cronista
cidade durante o cerco
• Escassez de bens • Sofredora • Consciente da • Compreende
como trigo, milho, • Forte perante o inimigo gravidade da o desespero do
vinho, carne; os • Solidária no sofrimento situação, mas povo
alimentos que • Crente em Deus ciente de nada • Refere a
existiam eram • Desejosa da morte poder fazer, humanidade
muito caros e • Arrependida da adesão tentava ignorar do Mestre ao
difíceis de obter à causa de D. João I os rumores apontar a sua
dor perante os
lamentos do
povo
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Atores coletivos / Afirmação da consciência coletiva

“E outro processo muito seu é resumir um sentimento coletivo através de um dito,


de uma voz que sai de uma multidão […].”

António José Saraiva, O crepúsculo da Idade Média em Portugal (parte III),


Lisboa, Gradiva, 1996 [1990], pp. 193-195.

“Este historiador é, pois, o intérprete fiel do momento em que Portugal atinge


a idade adulta e se constitui como nação consciente da sua independência
política […]”

Maria Leonor Carvalhão Buescu, Apontamentos de Literatura Portuguesa,


Porto, Porto Editora, 1993, p. 38.

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