Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os sentimentos desta “gente” são ainda realçados através das falas transcritas (discurso
direto), que conferem uma tonalidade realista e expressiva a todo o episódio. Estas falas
servem, também, para denegrir a imagem de Leonor Teles (repare-se nos comentários que
são feitos sobre ela) e para fazer a apologia do futuro monarca (veja-se como sai ilibado de
ter morto o conde – “Oh que mal fez! Pois que matou o tredor do conde, que nom matou
logo a aleivosa com ele!” – ll. 58-59).
Fernão Lopes, oscila, assim, entre uma visão global da personagem coletiva e a focalização
nos pormenores, na sua aproximação à realidade, nas várias partes que compõem o todo.
Por exemplo, na linha 33, registamos os “braados de desvairadas maneiras” que se
ouviam, seguindo-se uma especificação, demonstrando que a personagem coletiva é
observada de perto: ouvem-se os que garantem que o Mestre já tinha sido morto,
querendo arrombar as portas para entrar no palácio; outros gritavam por lenha para o
incendiarem e matar Leonor Teles e o Conde; gritavam outros por escadas; uns vinham
com lenha e ramos para deitar fogo ao «paço», muitos insultavam a Rainha.
Atores/Personagens Intervenientes e Técnicas Narrativas (cont.)
Convocação
Movimentação
Concentração
Aclamação
O Cronista-repórter e a classificação do narrador
Como referimos no início desta apresentação, o cronista assume um estatuto semelhante ao de
um repórter, apresentando uma multiplicidade de intervenientes, selecionando a informação e
oscilando entre diferentes perspetivas e registos.
Recorrendo ao dinamismo e ao visualismo, o narrador coloca-se e coloca o leitor no local,
apelando às sensações que nos permitem ouvir e ver os acontecimentos como se, consigo, o
presenciássemos.
Na última parte, esta característica da escrita de Fernão Lopes revela-se em algumas passagens:
- «que era maravilha de ver» (l. 70),
- «mal podendo ser ouvido» (l. 73),
- «saíam todas às janelas com prazer, dizendo altas vozes».
Há, com esta característica, uma aproximação ao leitor, facto que proporciona uma melhor
compreensão e maior identificação com as personagens (facto que não é alheio à oscilação entre
objetividade e subjetividade).
Em conclusão, o narrador é omnisciente mostrando as intenções e as emoções das
personagens.
O estilo de Fernão Lopes
Em síntese, podemos destacar, desde já, alguns aspetos característicos do estilo de Fernão
Lopes que justificam a sua inclusão nos programas de literatura (e não apenas destaque no
contexto da historiografia):
• Realismo dos pormenores descritivos e informativos/visualismo descritivo;
• Conjugação de planos de pormenor e de conjunto;
• Sequencialização de episódios/construção de quadros vivos;
• Uso de recursos expressivos;
• Apelos ao leitor e discurso emotivo;
• Discurso dialógico e oralizante com marcas de coloquialidade;
• Análise psicológica das personagens (individuais e coletiva) - posição central da
componente humana.
Ora vamos lá refletir…
Fernão Lopes é hoje considerado o “pai” da historiografia portuguesa, destacando-se,
neste âmbito, os seguintes aspetos (alguns afirmados pelo próprio no Prólogo):
- Narrativa ordenada diacronicamente;
- Estrutura e apresentação intensa e complexa;
-Registo de informação a partir de fontes documentais:
velhas scrituras, desvairados autores;
-Confronto de fontes documentais: púbricas escrituras de muitos
cartarios, de volumes de livros, de desvairadas linguageẽs;
-Registo da clara certidom da verdade, verdade sem outra mestura,
simprez verdade.
De acordo com o que observámos, conseguirá o Cronista despir-se da
mundanal afeiçom e assumir a objetividade, a imparcialidade e o realismo na
sua narração dos factos como afirmara?
Discute estas questões com os teus colegas e professora.