Você está na página 1de 2

--------Crónica de D.

João I-------

Crónica
Uma lista ou uma relação de acontecimentos arrumados conforme a
sequência linear do tempo. A crónica limita-se a registar os eventos, sem
aprofundar-lhes as causas ou dar-lhes qualquer interpretação.
O cronista é alguém encarregado e pago por um senhor para ordenar e
compilar factos históricos. O objetivo é o de fazer o elogio do senhor sobre
quem escrevia e que financiava o trabalho.

Afirmação da consciência coletiva e atores individuais e coletivos em


Fernão Lopes
Para certificar que a história que conta não era simples, Fernão Lopes
com a sua extraordinária arte de narrar, incluiu aventuras de personagens e
de grandes agrupamentos espontâneos de pessoas, em cenas de grande
alvoroço. Fê-lo com grande perícia narrativa aliada a uma linguagem viva.
O cronista pressentiu o surgimento de uma consciência coletiva que
exprime os interesses de um povo que vê a sua independência ameaçada
pelos avanços do rei de Castela na crise de sucessão ao trono, devido à morte
de D. Fernando. Através da apresentação dos ambientes e das figuras, mostra-
nos a comunidade e os seus interesses, dando-lhe uma voz coletiva (atores
coletivos). Integram-se nesta categoria os que são designados pela ação,
representando o seu pensamento. Estas são as figuras do povo que
expressam emoções e conflitos.
A cidade de lisboa para além de se constituir como um espaço, ganha a
dimensão de uma personagem coletiva, ao incutir no leitor a ideia de união
entre os habitantes. O narrador identifica a cidade como uma rainha viúva que
não tem rei, mas poderá a vir ter um monarca novo, Mestre de Avis.
O cronista não ignorou os atores individuais, cuja ação é importante no
momento histórico a que a obra nos reporta. Como atores individuais
encontramos:
 D.João I, Mestre de Avis que se assume como líder;
 Álvaro Pais;
 Nuno Alvares Pereira;
 O conde João Fernandes Andeiro;
 A rainha Leonor de Teles (a aleivosa);
 O bispo de Lisboa;
 Entre outros.
O narrador de acordo com o que privilegiar nos diferentes capítulos da
crónica, seleciona a narração ou a descrição. Neste contexto, vemos
clarificada a preocupação de descrever a forma como a cidade de Lisboa
estava preparada para enfrentar o cerco. Descreve as muralhas, as torres, os
mantimentos, o que mostra que o cronista tem um conhecimento rigoroso.
Em certos casos, apesar da narração estar presente, a descrição combina com
ela. A predominação do pretérito imperfeito, característica da descrição, traduz
a intenção de salientar o efeito do sino que está sempre a tocar.
A interrogação retórica e a apóstrofe são processos utilizados pelo
cronista para se dirigir corretamente aos destinatários.
A interrogação retórica serve, por exemplo, para o cronista comover o
leitor. Noutras vezes, serve para que o leitor possa viver e sentir as
emoções, recorrendo ao efeito de visualização da expressão, que ficou
conhecida “Ora esguardai como se fosseis presentes”.

Você também pode gostar