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Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado (notas para uma investigação)

Louis Althusser (1918/1990)

Formação Sistêmica de
Fracasso: escola

“[...] ensina-se ouvindo, aprende-se falando.”


(CABRAL, BALDINO)
Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado (notas para uma investigação)
Louis Althusser (1918/1990)
Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado (notas para uma investigação)
Louis Althusser (1918/1990)

• Quem diz?

• De onde diz?

• Para quem diz?


Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado (notas para uma investigação)
Louis Althusser (1918/1990)

“Como disse Marx, qualquer criança sabe que uma formação social que não
reproduzisse suas condições de produção ao mesmo tempo que as
produzisse não duraria um ano. A condição suprema da produção, portanto,
é a reprodução das condições de produção. Esta pode ser “simples”
(quando reproduz exatamente as condições de produção anteriores) ou
‘ampliada’ (quando as aumenta).” p. 9

Importante delimitar duas categorias:

1. As forças produtivas;
2. As relações de produção existentes.
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1. Forças Produtivas: meios de produção.

“[...] a cada ano, é necessário prever como repor o que foi usado ou gasto
na produção: matérias primas, instalações fixas (prédios), instrumentos de
produção (máquinas) etc.” p. 13

“[...] sabemos que a reprodução das forças condições materiais não pode
ser pensada no nível da empresa, porque não é aí que ela existe nas
condições reais. O que acontece no nível da empresa é um efeito [...].” p. 14
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1. Forças Produtivas: a força de trabalho.

“[...] o conjunto das faculdades físicas e mentais existentes no corpo e na


personalidade viva do ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que
produz valores-de-uso de qualquer espécie.” (MARX, 1999, p. 197)

Enquanto a reprodução dos meios de produção se dá no âmbito da


empresa, “[...] a reprodução da força de trabalho ocorre essencialmente
fora da empresa.” p. 17
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1. Reprodução da Força de Trabalho.

“Ela [a força de trabalho] é assegurada em se fornecendo à força de


trabalho os meios materiais para sua reprodução: através dos salários. [...]
os salários representam apenas a parcela do valor produzido pelo dispêndio
da força de trabalho, indispensável a sua reprodução [...].” p. 18

“[...] essa quantidade de valor (o salário) necessária à reprodução da força


de trabalho não é determinada apenas pelas necessidades de um ‘biológico’
salário mínimo garantido, mas pelas necessidades de um mínimo histórico
[...].” p. 19 Ressaltando que este mínimo é historicamente ‘reconhecido’
pelos capitalistas ou imposto pela luta de classes proletária.
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2. As Relações de Produção Existentes.

Que é uma sociedade?

“Afirmamos [...] que Marx concebeu a estrutura de cada sociedade como


sendo constituída por ‘níveis’, ou ‘instâncias’, articulados por uma
determinação específica: a infra-estrutura ou base econômica (a ‘unidade’
das forças produtivas e das relações de produção) e a superestrutura, que
por sua vez contém dois ‘níveis’, ou ‘instâncias’: a jurídico-política (o direito
e o Estado) e a ideológica (as diferentes ideologias, religiosa, ética, legal,
política, etc.).” p. 25
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2. As Relações de Produção Existentes: infraestrutura e superestrutura.

Metáfora do edifício: “É fácil ver que essa representação da estrutura de


toda sociedade, como um edifício que contém uma base (infra-estrutura)
sobre a qual se erigem os dois andares da superestrutura, constitui uma
metáfora, ou, para ser exato, uma metáfora espacial: a metáfora de uma
tópica. Como qualquer metáfora, esta sugere algo, torna algo visível. O quê?
Precisamente isto: que os andares superiores não poderiam ‘sustentar-se’
sozinhos (no ar), se não se assentassem sobre sua base.” p. 26

“Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao


contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.” (MARX, 1982, p. 25)
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2. As Relações de Produção Existentes: o Estado.

“A tradição marxista é clara: [...] o Estado é explicitamente concebido como


um aparelho repressor. O Estado é uma ‘máquina’ de repressão que
permite às classes dominantes [...] assegurarem sua dominação sobre a
classe trabalhadora, submetendo estas últimas ao processo de extorsão da
mais-valia (isto é, à exploração capitalista).

O Estado, portanto, é antes de tudo o que os clássicos marxistas chamaram


de Aparelho de Estado.” p. 31

“Os fundamentos da teoria marxista do Estado” p. 36


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2. As Relações de Produção Existentes: Aparelhos Ideológicos de Estado.

“Daremos o nome de Aparelhos Ideológicos de Estado a um certo número


de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a forma de
instituições distintas e especializadas.” p. 43

Não devem ser confundidos com Aparelho de Estado: “A unidade que


constitui essa pluralidade de AIEs como um corpo – mesmo supondo que
ela exista – não é imediatamente visível. [...] enquanto o Aparelho
(Repressivo) – unificado – de Estado, pertence inteiramente ao domínio
público, a grande maioria dos AIEs [...] pertence, ao contrário, ao domínio
privado. Igrejas, partidos, sindicatos, famílias, algumas escolas [...].” p. 44
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2. A Escola: o Aparelho Ideológico de Estado dominante.

Esta posição era ocupada pelo Aparelho Ideológico Religioso, porém, com a
Revolução Burguesa, iniciada em 1848, introduziu-se a concepção do Estado
Moderno: fundamentalmente liberal e laico.

“Cremos que o Aparelho Ideológico de Estado que se instalou na posição


dominante nas formações sociais capitalistas maduras, em decorrência de
uma violenta luta política e ideológica de classes contra o antigo Aparelho
de Estado dominante, foi o Aparelho Ideológico escolar.” p. 60
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2. A Escola: o Aparelho Ideológico de Estado dominante.

“Ela pega crianças de todas as classes desde a tenra idade escolar e, durante
anos – os anos em que a criança está mais ‘vulnerável’, espremida entre o
Aparelho de Estado familiar e o Aparelho de Estado escolar –, martela em
sua cabeça, quer utilize métodos novos ou antigos, uma certa quantidade
de ‘saberes’ [des savoir faire] embrulhados pela ideologia dominante
(francês, aritmética, história natural, ciências, literatura), ou simplesmente a
ideologia dominante em seu estado puro (ética, orientação cívica, filosofia).
Em algum momento, por volta dos dezesseis anos, uma imensa massa de
crianças é ejetada ‘para a produção’: trata-se dos operários ou dos
pequenos camponeses.” p. 64
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2. A Escola: o Aparelho Ideológico de Estado dominante.

“Outra parcela de jovens academicamente ajustados segue adiante: e, para


o que der e vier, avança um pouco mais, até ficar pelo caminho e ir
preenchendo os postos técnicos pequenos e médios, dos funcionários de
colarinho branco, dos pequenos e médios executivos, de toda sorte de
pequeno-burgueses. Uma última porção chega ao topo, seja para cair no
semi-emprego intelectual, seja para fornecer, além dos ‘intelectuais do
trabalhador coletivo’, os agente da exploração (capitalistas, dirigentes), os
agentes da repressão (soldados, policiais, políticos, administradores etc.) e
os profissionais da ideologia (pregadores de todo o tipo, em sua maioria,
‘leigos’ convictos).” p. 65
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2. A Escola: o Aparelho Ideológico de Estado dominante.

“Cada massa ejetada pelo caminho é provida, na prática, da ideologia que


se ajusta ao papel que lhe compete exercer na sociedade de classes [...].” p.
65

“[...] nenhum outro Aparelho Ideológico de Estado tem a audiência


obrigatória (e gratuita) da totalidade das crianças na formação social
capitalistas, oito horas por dia, durante cinco ou seis dias por semana.” p. 66

“[...] uma ideologia que representa a escola como um ambiente neutro,


desprovido de ideologia (por ser... laico) [...].” p. 67
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Como funciona a ordem escolar?


“No ETV, a aula começa quando o professor põe sobre a mesa sua insígnia,
o S1, em geral sob a forma de uma pasta; os alunos sentam-se em forma
matricial, em reverência de reconhecimento. Nesse momento inicial
evidencia-se o sujeito suposto saber e instala-se a relação de transferência
pedagógica (Cabral, 1998) sob a demanda dos alunos e da instituição é o
discurso do mestre. Em seguida, os alunos tentam convencer o professor de
que este tem o conhecimento que lhes falta e o professor tenta convencer
os alunos de que, dando vazão a sua pulsão vocálica, a substância cognitiva
que vieram buscar lhes será entregue. Essa tapeação amorosa tem efeitos
bem conhecidos. É o discurso universitário. Depois os alunos devem
‘estudar a matéria’ e ‘fazer os exercícios’, sem saber bem por que [...]”
(CABRAL; BALDINO, 2010, p. 629)
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“Autores e debatedores parecem pensar que a seleção


social é uma conseqüência natural dos vários processos
de avaliação existentes na sociedade e que uma
avaliação confiável poderia assegurar uma sociedade
justa. Uma ideologia de justiça e uma validação
implícita de objetivos instrucionais é por aí introduzida
na base da maioria das pesquisas sobre avaliação.”
(BALDINO, 1998, p. 01)
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Avaliação e negociação:
“[...] é o aparelho escolar vigente que
precisa ‘inventar’ um conhecimento
(‘mínimo necessário’, etc.) para que o
aluno exerça a aprendizagem das técnicas
de passar de ano.” (BALDINO, 1998, p. 04)
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Avaliação e negociação:
• Por que os interesses de professor e alunos divergem,
e se torna necessário negociar?

• Por que esses interesses convergem, e a existência da


negociação é escamoteada?
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Potenciação da força de trabalho


“Diremos que, nas práticas sociais que ocorrem na
escola, alunos, professores e funcionários participam
da transformação da força de trabalho dos estudantes,
inicialmente simples e sem qualificação, numa
mercadoria de maior valor, vendida por um preço que,
espera-se, será maior no futuro: um salário em nível de
gerência.” (BALDINO, 1998, p. 07, grifos do autor)
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Louis Althusser (1918/1990)

• 1 – A força de trabalho potenciada é consignada;

• Não pode ser vendida enquanto se estuda

• 2 – Rígido controle de tempo julgado necessário para se


formar;

• 3 – “A formatura é o ritual de reapropriação da mercadoria


consignada, já valorizada; o cabelo raspado na entrada é
devolvido, simbolizado por roupagens e penachos...” (p. 08)
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“O valor de uso é o "know-how", a soma das habilidades


adquiridas pelo formando no exercício da futura profissão.” (idem)

“O valor de troca é o tempo de trabalho humano simples ou


potenciado, que foi empregado em sua formação, trabalho seu,
dos professores e, indiretamente, dos funcionários.” (idem)

“O valor signo é a importância atribuída pela sociedade ao tipo de


diploma obtido e ao particular sistema escolar, ou universitário
que o concede. Todos os alunos trabalham para aumentar esse
valor.” (p. 09)
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Louis Althusser (1918/1990)

A produção de valor dos estudantes


• E quem abandona o curso, mesmo no último ano?

• E quem se forma?
...se apropria da força de trabalho dos outros!

• Então, por que o aparelho escolar se tornou o "Aparelho Ideológico


de Estado dominante"?
...porque, nele, o estudante aprende a ser operário e capitalista!
Aprende, acima de tudo, a participar do processo de produção e
extração de mais-valia.
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Louis Althusser (1918/1990)

Referências:

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado (notas para uma investigação). In: ŽIŽEK, Slavoj. et. al.
(org.). Um Mapa da Ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 105-142.

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. Lisboa: Presença, 1980.

BALDINO, Roberto R. Assimilação Solidária: escola, mais-valia e consciência cínica. Rio Claro - SP, 1998. Disponível em:
<http://sbem.bruc.com.br/XIENEM/pdf/1589_1027_ID.pdf>. Acesso em: 10 out. de 2015.

COHEN, Ruth Helena Pinto Cohen. Uma questão entre Psicanálise e Educação – sobre a etiologia do fracasso escolar.
2004. 223 f. Tese (Doutorado) Pós-graduação em Psicologia – Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://migre.me/n5jxR>. Acesso em: 10 out. 2015.

MARX, Karl. O Capital: crítica de economia política - Livro primeiro: o processo de produção do capital. 17. Ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. v. 1

______. Para a Crítica da Economia Política; Salário, Preço e Lucro; O Rendimento e Suas Fontes. São Paulo: Abril
Cultural, coleção “Os Economistas”, 1982.

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