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Trabalho realizado por:

- Margarida Ferreira Nº23 12ºC


- Ester Mora Nº11 12ºC
- Débora Sobreira Nº8 12ºC

O livro do
Desassossego
Fernando Pessoa- Bernardo Soares
Índice:
• Introduçã o;
• O livro do desassossego;
• O semi-heteró nimo Bernardo Soares;
• Apresentaçã o do excerto analisado;
• Aná lise do excerto;
• O imaginá rio urbano;
Introdução:
O livro do desassossego
O livro do desassossego, escrito pelo
semi-heteró nimo Bernardo Soares,
é um livro que trata de uma
autobiografia sem factos, escrito em
forma de fragmentos.
Semi-heterónimo Bernardo Soares

• Por que é que Bernardo Soares é considerado semi-heteró nimo;

• Linguagem, estilo e obra:

• Natureza fragmentá ria da obra;

• Linguagem e estilo.
Fragmento do Livro do Desassossego
Tudo é absurdo. Este empenha a vida em ganhar dinheiro que guarda, e nem tem filhos a quem o deixe nem esperança
que um céu lhe reserve uma transcendência desse dinheiro. Aquele empenha o esforço em ganhar fama, para depois
de morto, e nã o crê naquela sobrevivência que lhe dê o conhecimento da fama. Esse outro gasta-se na procura de
coisas de que realmente nã o gosta. Mais adiante, há um que ◻️₁
Um lê para saber, inutilmente. Outro goza para viver, inutilmente.
Vou num carro elétrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas
que vã o adiante de mim. Para mim os pormenores sã o coisas, vozes, letras. Neste vestido da rapariga que vai em
minha frente decomponho o vestido em o estofo de que se compõ e, o trabalho com que o fizeram – pois que o vejo
vestido e nã o estofo – e o bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retró s de seda, com
que se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro primá rio de economia política,
desdobram-se diante de mim as fá bricas e os trabalhos – a fá brica onde se fez o tecido; a fá brica onde se fez o retró s,
de um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas retorcidas o seu lugar junto ao pescoço; e vejo as secçõ es das
fá bricas, as má quinas, os operários , as costureiras, meus olhos virados para dentro penetram nos escritó rios, vejo os
gerentes procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo; mas nã o é só isto: vejo, para além, as
vidas domésticas dos que vivem a sua vida social nessas fá bricas e nesses escritó rios… Toda a vida social jaz a meus
olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem nã o sei que cara, um orlar
irregular regular verde-escuro sobre um verde-claro de vestido.
Toda a vida social jaz a meus olhos.
Para além disto pressinto os amores, as secrecias₂ [sic] ₃, a alma, de todos quantos trabalharam para que esta mulher
que está diante de mim no elétrico use, em torno do seu pescoço mortal, a banalidade sinuosa de um retró s de seda
verde-escura fazendo inutilidades pela orla de uma fazenda verde menos escura.
Entonteço. Os bancos de elétrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam-me a regiõ es distantes,
multiplicam-se-me em indú strias, operá rios, casas de operá rios, vidas, realidades, tudo.
Saio do carro exausto e sonâ mbulo. Vivi a vida inteira.
Fragmento do Livro do Desassossego

Tudo é absurdo. Este empenha a vida em ganhar


dinheiro que guarda, e nem tem filhos a quem o • Significado da expressã o “Tudo é absurdo”
deixe nem esperança que um céu lhe reserve uma
transcendência desse dinheiro. Aquele empenha o
esforço em ganhar fama, para depois de morto, e • Apresentaçã o do Tema de Reflexã o
nã o crê naquela sobrevivência que lhe dê o
conhecimento da fama. Esse outro gasta-se na
procura de coisas de que realmente nã o gosta. Mais • Neste pará grafo o sujeito demonstra
adiante, há um que ◻️₁
essencialmente…
Um lê para saber, inutilmente. Outro goza para
viver, inutilmente.
• Reflexã o inicial do sujeito desencadeada por
fatores externos e internos;
Fragmento do Livro do Desassossego
Vou num carro elétrico, e estou reparando lentamente, conforme é
meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vã o adiante
de mim. Para mim os pormenores sã o coisas, vozes, letras. Neste • Passagem para a 1ª pessoa
vestido da rapariga que vai em minha frente decomponho o vestido gramatical
em o estofo de que se compõ e, o trabalho com que o fizeram – pois
que o vejo vestido e nã o estofo – e o bordado leve que orla a parte que
contorna o pescoço separa-se-me em retró s de seda, com que se o • Articulaçã o entre o real objetivo e o
bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como imaginá rio
num livro primá rio de economia política, desdobram-se diante de
mim as fá bricas e os trabalhos – a fá brica onde se fez o tecido; a • O sonho ultrapassa a realidade
fá brica onde se fez o retró s, de um tom mais escuro, com que se orla
de coisinhas retorcidas o seu lugar junto ao pescoço; e vejo as secçõ es Dicotomia olhar/sonhar;
das fá bricas, as má quinas, os operá rios , as costureiras, meus olhos
virados para dentro penetram nos escritó rios, vejo os gerentes • Presença da temá tica do quotidiano
procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo;
mas nã o é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos que vivem
a sua vida social nessas fá bricas e nesses escritó rios… Todo o mundo • “Toda a vida social jaz a meus olhos”
se me desenrola aos olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de
um pescoço moreno, que de outro lado tem não sei que cara, um orlar
irregular regular verde-escuro sobre um verde-claro de vestido.
Toda a vida social jaz a meus olhos.
Análise do fragmento - Livro do
Desassossego
Para além disto pressinto os amores, as secrecias₂ [sic] ₃, a alma,
de todos quantos trabalharam para que esta mulher que está
diante de mim no elétrico use, em torno do seu pescoço mortal, a • Nova deambulaçã o dos “bancos de elétrico”:
banalidade sinuosa de um retró s de seda verde-escura fazendo
inutilidades pela orla de uma fazenda verde menos escura. 1. Recursos expressivos
presentes;
Entonteço. Os bancos de elétrico, de um entretecido de palha
2. Efeitos da deambulaçã o no
forte e pequena, levam-me a regiõ es distantes, multiplicam-se-
me em sujeito;
indú strias, operá rios, casas de operá rios, vidas, realidades, tudo.

Saio do carro exausto e sonâ mbulo. Vivi a vida inteira.


O imaginário urbano
• A transfiguraçã o do real e a criaçã o de um “Imaginá rio Urbano” advêm de fatores externos (a
observaçã o das pessoas que o circundam) e de fatores internos ( a tendência em focalizar-se em
pormenores).
• O sujeito cria novas imagens que despertam, em si mesmo, outras sensaçõ es.
• Esta forma de estar conduz a uma nova (re)criaçã o, a qual apresenta uma disposiçã o diferente da
paisagem inicial, e na qual insere elementos provenientes de espaços distintos do urbano e
provenientes do sonho.
• Cria-se, assim, “outra cidade” dimensionada pelo sujeito.
• A deambulaçã o e a observaçã o da cidade conduzem o sujeito a um estado de exaustão, de
entorpecimento: a sensaçã o de ter vivido a “vida inteira” em breves momentos.

Deambulaçã o Física Deambulaçã o Onírica

Interior Exterior
Concreto Abstrato
FIM

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