Você está na página 1de 114

ANÁLISE

MISSIOLÓGICA DE
COSMOVISÕES
CÁCIO SILVA
COSMOVISÃO

O termo “cosmovisão” vem de Immanuel Kant (1724–1804) no


alemão Weltanschauung, que passou a ser utilizado na teologia
alemã, porém, sem receber maior atenção. James Orr (1844–
1913) foi o primeiro a utilizar esse termo para descrever a
totalidade do cristianismo como um sistema e Abraham Kuyper
deu notoriedade ao mesmo se referindo a ele como “sistema de
vida” ou “concepção de vida e mundo” (Kuyper, 2014: 19).
COSMOVISÃO

O conceito de cosmovisão se tornou central no


neocalvinismo holandês, sendo expandido pelos principais
herdeiros de Orr, como os teólogos e filósofos norte-
americanos Gordon Clark (1902–1986) e Carl Henry (1913–
2003), e de Kuyper, como o teólogo e filósofo holandês
Herman Dooyeweerd (1926–1965) e o evangelista e
apologista norte-americano Francis Schaeffer (1912–1984).
COSMOVISÃO
“Todas as pessoas têm seus pressupostos, e elas vão viver do modo
mais coerente possível com esses pressupostos, mais até do que
elas mesmas possam se dar conta. Por pressupostos entendemos a
estrutura básica de como a pessoa encara a vida, a sua cosmovisão
básica, o filtro através do qual ela enxerga o mundo. Os
pressupostos apoiam-se naquilo que a pessoa considera verdade
acerca do que existe [...] Os seus pressupostos fornecem ainda a
base para seus valores e, em consequência, a base para suas
decisões” (Schaeffer, 2003: 11).
COSMOVISÃO

A influência de Schaeffer foi ampla sobre


pensadores contemporâneos da cosmovisão, como
Ronald Nash, Brian Walsh, Richard Middleton,
Nancy Pearcey, David Naugle, James Sire e oferece
uma peculiar contribuição para a missiologia.
COSMOVISÃO

Apesar dos amplos e produtivos estudos de


cosmovisão no meio teológico reformado, tais
estudos chegaram à missiologia por outro
percurso, vindo sim da antropologia cultural.
COSMOVISÃO
O conhecido etnólogo polaco Bronisław Malinowski (1884
– 1942) chega a citar o termo Weltanschauung em uma
das obras mais conhecida:
“O que me interessa realmente no estudo do nativo é sua visão
das coisas, sua Weltanschauung, o sopro de vida e realidade
que ele respira e pelo qual vive” (Malinowski, 1984: 374).
Porém, não foram muitos na antropologia a dar atenção a
estudos de cosmovisão.
COSMOVISÃO

Duas exceções são Robert Redfield (1941, 1952, 1953), que


pesquisou e liderou pesquisas sobre cosmovisão à luz da
antropologia na Universidade de Chicago, numa
perspectiva acentuadamente evolucionista (Redfield, 1953:
110), e Michael Kearney (1975, 1984), que dissertou sobre
cosmovisão numa perspectiva marxista, relacionando a
mesma com ideologia (Kearney, 1984: 9).
COSMOVISÃO – DAVID
HESSELGRAVE
Um dos primeiros a introduzir a ideia de cosmovisão na
missiologia foi o missiológico David Hesselgrave (1995:
219-220) e o faz citando exatamente Redfield e Kearney,
conceituando cosmovisão como “a forma pela qual nos
vemos em relação a tudo o mais. Inversamente, é a forma
pela qual vemos todas as coisas em relação a nós”.
COSMOVISÃO – LLOYD KWAST

Lloyd Kwast, missionário na África e


posteriormente professor de missiologia nos
Estados Unidos, foi também um dos
principais difusores do conceito de
cosmovisão na missiologia, a apresentando
como o núcleo da cultura, sendo esta
concebida como um sistema com quatro
“camadas”.
COSMOVISÃO – PAUL HIEBERT

Por fim, Paul Hiebert, construindo também a partir de


Redfield e Kearney, define “cosmovisão, da perspectiva
antropológica, como as pressuposições e estruturas
cognitivas, afetivas e avaliativas fundamentais que um grupo
adota em relação à natureza da realidade e que utiliza para
organizar sua vida”.
(Hiebert, 2016: 30-31)
COSMOVISÃO – RONALD NASH

“Cosmovisão é um esquema conceitual pelo qual,


consciente ou inconscientemente, aplicamos ou adequamos
todas as coisas em que cremos, e interpretamos e julgamos
a realidade” ou, “em termos mais simples, cosmovisão é
um conjunto de crenças sobre as questões mais importantes
na vida.
(Ronald Nash, 2012: 25)
COSMOVISÃO – WALSH &
MIDDLETON

“Cosmovisões são estruturas perceptivas. São


formas de se ver [...] o elemento central que
interliga as partes do quebra-cabeça
tornando-o um todo coerente.”
(Walsh & Middleton, 2010: 16,18).
COSMOVISÃO – NANCY PEARCEY

Para Nancy Pearcey, cosmovisão é “um conjunto de crenças


sobre como a realidade funciona e com deveriam viver [...]
Nossa cosmovisão é o modo como respondemos às
importantes questões da vida com as quais todos temos de
confrontar: Para que estamos aqui? Qual é a verdade
suprema? Há algo pelo qual valha a pena viver?”
(Pearcey, 2017: 26,57).
COSMOVISÃO – JAMES SIRE
“Cosmovisão é um compromisso, uma orientação fundamental
do coração, que pode ser expresso como uma estória ou num
conjunto de pressuposições (suposições que podem ser
verdadeiras, parcialmente verdadeira ou totalmente falsas) que
sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou
inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade, e
que fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e
existimos.” (James Sire, 2012: 179)
MODELO DE ANÁLISE DE SIRE

1) Qual é a realidade primordial – o realmente real?


2) Qual é a natureza da realidade externa, isto é, do mundo à nossa volta?
3) O que é um ser humano?
4) O que acontece a uma pessoa quando ela morre?
5) Por que é possível conhecer de fato alguma coisa?
6) Como sabemos o que é certo e o que é errado?
7) Qual é o significado da história humana?
(James Sire, 2012: 197-198).
MODELO DE ANÁLISE DE NASH

“Que tipos de crenças compõem uma cosmovisão? Uma cosmovisão


equilibrada inclui crenças em pelo menos cinco áreas principais:
1) Deus;
2) Realidade;
3) Conhecimento;
4) Moralidade;
5) Humanidade.” (Ronald Nash, 2012: 38)
MODELO DE ANÁLISE DE WALSH E
MIDDLETON
“Cosmovisões são fundadas em compromissos fundamentais de fé.
O que é um compromisso de fé? É a maneira como respondemos
quatro perguntas básicas que afrontam a todos:
(1) Quem sou eu? Ou, qual é a natureza, a tarefa e o propósito dos
seres humanos? (2) Onde estou? Ou, qual é natureza do mundo e
do universo onde vivo? (3) O que está errado? Ou, qual é o
problema básico ou o obstáculo que me impede de atingir a
satisfação?
(4) Qual é a solução? Ou, como é possível vencer esse
impedimento à minha realização? Em outras palavras, como
MODELO DE ANÁLISE DE PEARCEY

Uma “grade simples” para identificação e análise de “cosmovisões


não-bíblicas”, partindo do pressuposto que “toda filosofia ou
ideologia tem de responder às mesmas perguntas fundamentais”:

1. Criação: Como tudo começou? De onde viemos?


2. Queda: O que deu errado? Qual é a fonte do mal e do
sofrimento?
3. Redenção: O que fazer a esse respeito? Como consertar o
mundo?
MODELO DE ANÁLISE DE HIEBERT

Quatro eixos principais chamados por ele de “temas e


contratemas”: cognitivos, afetivos, avaliadores e metáforas-raiz.

1. Temas e contratemas cognitivos


2. Temas e contratemas afetivos
3. Temas e contratemas avaliadores
4. Metáforas-raiz
(Paul Hiebert, 2016: 365)
MODELOS DE ANÁLISE

Para Roland Muller (2013: 118), todo modelo


de cosmovisão é influenciado pela própria
cosmovisão de quem o elabora.
ANÁLISE
MISSIOLÓGICA DE
COSMOVISÕES

CONSTRUINDO UM MODELO
É POSSÍVEL COMPREENDER
COSMOVISÕES
“As relações sociais são a matéria-prima empregada
para a construção de modelos que tornam manifesta
a própria estrutura social, que jamais pode,
portanto, ser reduzida ao conjunto das relações
observáveis em cada sociedade.”
(Claude Levi-Strauss, 1967: 301)
É POSSÍVEL COMPREENDER
COSMOVISÕES
Para Edmund Husserl, “não é da filosofia que deve
partir o impulso da investigação [...] mas sim das
coisas e dos problemas”, acrescentando que “pelo
fato de conceber ideias, o homem se torna um
homem novo, que, vivendo na finitude, se orienta
para o polo do infinito” (Husserl, 1965: 160).
CONSTRUINDO UM MODELO

“Quase toda a soma de nosso conhecimento,


que de fato se deva julgar como verdadeiro e
sólido conhecimento, consta de duas partes: o
conhecimento de Deus e o conhecimento de
nós mesmos.” (João Calvino, 2006: 41)
CONSTRUINDO UM MODELO

Abraham Kuyper propõe que todo “sistema de pensamento”


é resultante da compreensão que se tem das “três relações
fundamentais de toda a vida humana: a saber,
(1)nossa relação com Deus,
(2)nossa relação com o homem, e
(3)nossa relação com o mundo”. (Kuyper, 2014: 28).
CONSTRUINDO UM MODELO

Tríade calvino-kuyperiana:

DEUS – HOMEM – MUNDO


CONSTRUINDO UM MODELO

ESCALA DE VALORES
Milton Rokeach (1973): 36 valores instrumentais
e terminais
Shalom Schwartz (1994): 10 valores universais
Robert Hartman (2005): 18 valores sistemáticos
CONSTRUINDO UM MODELO

ESCALA DE VALORES
=> Valores podem ser mensurados numa variável de
maior a menor importância.
=> E podem ser dispostos em forma binária, de
maneira a serem observados e classificados um em
oposição ao outro.
CONSTRUINDO UM MODELO

ESCALA DE VALORES

+Coletivista +Individualista
5–4–3–2–1 0 1–2–3–4–5

Qual valor é prevalecente?


ANÁLISE
MISSIOLÓGICA DE
COSMOVISÕES

RELAÇÕES COM O MUNDO


RELAÇÕES COM O MUNDO
1. ESPACIALIDADE:

Qual a orientação básica no relacionamento


com o meio ambiente?
+Afetiva ou +Utilitária?
RELAÇÕES COM O MUNDO
1. ESPACIALIDADE: +Afetiva ou +Utilitária?
Sociedades com cosmovisão mais afetiva se sentem parte do todo,
pertencentes ao seu meio, por isso protegem, preservam ou utilizam os
recursos naturais de forma mais responsável, não predatória. Enquanto
cosmovisões mais utilitárias se sentem proprietária dos recursos naturais,
por isso tendem a exaurir seus recursos, lidando com os mesmos de forma
mais pragmática e instrumental. Tal pragmatismo utilitarista pode se
estender às relações com o social e mesmo com o sagrado.
ESTUDO DE CASO

OS HUPDAH
RELAÇÕES COM O MUNDO
2. TEMPORALIDADE:

Qual a orientação em relação à


temporalidade?
+Histórica ou +Presentista?
RELAÇÕES COM O MUNDO
2. TEMPORALIDADE: +Histórica ou +Presentista?

Culturas de cosmovisão que valoriza mais o passado e elabora sua


identidade com base neste, geralmente valorizam também o futuro. Tendem a
ser mais pacientes, perseverantes e resilientes. Valorizando o tempo abstrato,
parece desenvolver uma estrutura emocional mais profunda e sólida. As
cosmovisões que valorizam mais o presente tendem a ser imediatistas, menos
tolerantes ao sofrimento e pouco preocupadas com o futuro distante.
Valorizando o tempo concreto, parece desenvolver uma estrutura emocional
mais superficial e instável.
RELAÇÕES COM O MUNDO
3. COSMOCENTRIA:

Quem está no centro do universo?


+Divinocêntrica ou +Antropocêntrica?
RELAÇÕES COM O MUNDO
3. COSMOCENTRIA: +Divinocêntrica ou +Antropocêntrica?

Sociedades de cosmovisão mais divinocêntrica entendem que seu


universo é estruturado por um ente divino, espiritual, do além, que
pode ser Deus ou outro ser. Enquanto cosmovisões mais
antropocêntricas entendem que os humanos são não apenas os
atores do universo, mas o centro da existência. O cosmos é voltado
para o homem e deve ser interpretado em referência aos humanos.
RELAÇÕES COM O MUNDO
4. REALIDADE:

Qual a concepção grupal sobre a verdade?


+Universalista ou +Relativista?
RELAÇÕES COM O MUNDO
4. REALIDADE: +Universalista ou +Relativista?

Cosmovisões mais universalistas reconhecem a existência


de verdades universais, atemporais e supraculturais.
Cosmovisões mais relativistas compreendem que toda
verdade é influenciada e varia de acordo com o tempo e a
cultura, sendo sua concepção particularizada e,
consequentemente, sua aplicação localizada.
RELAÇÕES COM O MUNDO

1. ESPACIALIDADE: +Afetiva ou +Utilitária?


2. TEMPORALIDADE: +Histórica ou +Presentista?

3. COSMOCENTRIA: +Divinocêntrica ou +Antropocêntrica?


4. REALIDADE: +Universalista ou +Relativista?
ESTUDO DE CASO

OS YUHUPDEH
EXERCÍCIO
CULTURA X

Utilitária, histórica, antropocêntrica e


universalista.
- Quais elementos do evangelho demandarão atenção
especial (dificuldade de compreensão)?
- Escolha 2 teologias temáticas com suas ênfases que devem
ser apresentadas a essa cosmovisão?
ANÁLISE
MISSIOLÓGICA DE
COSMOVISÕES

RELAÇÕES COM O HUMANO


RELAÇÕES COM O HUMANO
5. COLETIVIDADE:

Qual a orientação pessoal na relação com


seus iguais?
+Coletivista ou +Individualista?
RELAÇÕES COM O HUMANO
5. COLETIVIDADE: +Coletivista ou +Individualista?
Sociedades de cosmovisão mais coletivista valorizam o grupo mais
do que o indivíduo, consequentemente, há maior facilidade na
busca por interesses comuns e maior probabilidade de se formar
grupos coesos que, ao final, protegerão o indivíduo em troca da sua
lealdade. Já nas cosmovisões mais individualistas, os interesses do
indivíduo prevalecem em relação aos do grupo, o que leva a pessoa
a se preocupar apenas consigo mesma ou no máximo com sua
RELAÇÕES COM O HUMANO
6. AUTORIDADE:

Qual a orientação do grupo em relação a


liderança?
+Hierárquica ou +Igualitária?
RELAÇÕES COM O HUMANO
6. AUTORIDADE: +Hierárquica ou +Igualitária?

Cosmovisões mais hierárquicas terão estruturas e papeis de


liderança mais evidentes, tanto na família quanto no grupo social.
Cosmovisões mais igualitárias tendem a ser refratárias à figura de
liderança forte e papeis de autoridade. Isso terá reflexo nos mais
diferentes níveis de relacionamentos interpessoais, estrutura
familiar e organização sociopolítica, bem como, na religiosidade.
Culturas fortemente igualitárias terão forte afã por autonomia
RELAÇÕES COM O HUMANO
7. DESEJOS:

Qual a referência grupal quanto à realização


pessoal?
+Altruísta ou +Hedonista?
RELAÇÕES COM O HUMANO
7. DESEJOS: +Altruísta ou +Hedonista?
Uma cosmovisão mais altruísta terá como valor moral o
frear seus desejos em benefício do outro ou do meio. Nas
relações sociais e ambientais, a resignação estará presente e
pelo menos em parte norteará suas ações. Já uma
cosmovisãoo mais hedonista terá como valor primário o
satisfazer suas vontades, o autorrealizar-se, a despeito de
eventuais danos sociais, econômicos ou ambientais.
RELAÇÕES COM O HUMANO
8. ELENTICIDADE:

Qual a orientação da consciência?


+Culpa ou +Vergonha?
RELAÇÕES COM O HUMANO
8. ELENTICIDADE: +Culpa ou +Vergonha?
As culturas de cosmovisão da culpa se orientam por critérios
internos, recebidos da sociedade mas internalizados. Frente a
culpa, buscam inocência. Já as cosmovisões da vergonha
tendem a se orientar por critérios externos, buscando e
reagindo às aprovações ou reprovações das pessoas. Frente à
vergonha, buscam a honra ou a evidência.
RELAÇÕES COM O MUNDO

1. ESPACIALIDADE: +Afetiva ou +Utilitária?


2. TEMPORALIDADE: +Histórica ou +Presentista?

3. COSMOCENTRIA: +Divinocêntrica ou +Antropocêntrica?


4. REALIDADE: +Universalista ou +Relativista?
RELAÇÕES COM O HUMANO

5. COLETIVIDADE: +Coletivista ou +Individualista?

6. AUTORIDADE: +Hierárquica ou +Igualitária?

7. DESEJOS: +Altruísta ou +Hedonista?


8. ELENTICIDADE: +Culpa ou +Vergonha?
ESTUDO DE CASO

OS YANOMAMI
OS HUPDAH
OS PÓS-MODERNOS
EXERCÍCIO
CULTURA Y

Afetiva, presentista, dinocêntrica, relativista,


coletivista, hierárquica, hedonista e da vergonha.
- Quais elementos do evangelho demandarão atenção
especial (dificuldades de compreensão)?
- Quais as principais teologias temáticas com suas ênfases
devem ser apresentadas a essa cultura?
ANÁLISE
MISSIOLÓGICA DE
COSMOVISÕES

RELAÇÕES COM O DIVINO


RELAÇÕES COM O DIVINO
9. RELIGIOSIDADE:

Qual o método de relacionamento com o


divino?
+Adoração ou +Manipulação?
RELAÇÕES COM O DIVINO
9. RELIGIOSIDADE: +Adoração ou +Manipulação?

Culturas de cosmovisão mais de adoração desenvolvem


relações pessoais com os seres do além, geralmente
envolvendo submissão, invocação, reverência, afeto,
enquanto culturas mais de manipulação desenvolvem
relações utilitárias, instrumentais, pragmáticas sejam
com forças ou seres do além.
RELAÇÕES COM O DIVINO
10. SACRALIDADE:

Qual a concepção da realidade fundamental?


+Pessoal ou +Impessoal?
RELAÇÕES COM O DIVINO
10. SACRALIDADE: +Pessoal ou +Impessoal?
Cosmovisões que concebem seu sagrado como mais
pessoal tendem a desenvolver relacionamento afetivo com
o mesmo, enquanto cosmovisões que concebem seu
sagrado como mais impessoal, tendem a manipula-lo de
forma instrumental, como um químico manipula forças
físicas de maneira técnica e utilitária.
RELAÇÕES COM O DIVINO

9. RELIGIOSIDADE: +Adoração ou +Manipulação?

10. SACRALIDADE: +Pessoal ou +Impessoal?


RELAÇÕES COM O DIVINO
PROFANO E SAGRADO:

Sagrado: o incomum, pode ser divino ou não-


divino, tudo o que tem valor religioso, tudo o que
não é profano.

Profano: o comum, o que não possui qualquer


virtude especial, tudo o que não é sagrado.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANIFESTAÇÕES DO SAGRADO:

Teofania: em forma humana

Hierofania: em objetos
RELAÇÕES COM O DIVINO
O CONCEITO DE “FORÇAS”:

“Força” é um agente com capacidade de


desencadear ações ou efeitos de forma
autônoma.
RELAÇÕES COM O DIVINO
O CONCEITO DE “FORÇAS”:
SER/FORÇA Ser Pessoal Força Impessoal
 
Natural
Homem
  Gravidade
 
Místico/a
Deus
 
?
RELAÇÕES COM O DIVINO
POSSÍVEIS CATEGORIAS DO DIVINO:
1. Forças Pessoais
1.1. Ser supremo
1.2. Deuses inferiores
1.3. Espíritos
Éticos ou aéticos
Ancestrais
Categorias
Cristã/ Yuhupdeh/
Ocidental Tradicional

Espiritual Força impessoal


Humano Heróis míticos
Animal Seres místicos
Vegetal Humanos
Mineral Mineral
Virtual Vegetal
RELAÇÕES COM O DIVINO
O CONCEITO DE “FORÇAS”:
SER/FORÇA Ser Pessoal Força Impessoal
 
Natural
Homem
  Gravidade
 
Místico/a
Deus
 
?
RELAÇÕES COM O DIVINO
O CONCEITO DE “FORÇAS”:
SER/FORÇA Ser Pessoal Força Impessoal
 
Natural
Homem
  Gravidade
 
Místico/a
Deus
 
“Mana”
RELAÇÕES COM O DIVINO
RELIGIÕES DA IMPESSOALIDADE:
Compreendendo os conceitos de
ÞMana
ÞTotemismo
ÞMagia
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA

“Mana”
Força mística impessoal,
poderosa, que envolve, dá vida e
conecta o universo.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA

“Mana” Robert Codrington, The Melanesians, 1891.

= “orenda” dos Iroqueses


= “wakan” dos Sioux
= “dääwä-wág” dos Yuhupdeh
= “ib-wag” dos Hupd’äh
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
“Os indivíduos morrem; as gerações passam e são substituídas por
outras; mas essa força continua sempre atual, viva e semelhante a si
mesma. Ela anima as gerações de hoje assim como animava as de
ontem, bem como animará as de amanhã.”
Durkheim, As formas elementares de vida religiosa, 2008, p.240.

“nós, humanos, morremos, mas a ‘vida-cósmica’ jamais acaba”


RELAÇÕES COM O DIVINO
O CONCEITO DE “FORÇAS”:
SER/FORÇA Ser Pessoal Força Impessoal
 
Natural
Homem
  Gravidade
humanismo naturalismo
 
Místico/a
Deus
 
“Mana”
teísmo totemismo
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
Émile Durkheim, As formas elementares
“Totemismo” de vida religiosa, 1912 [Paulus, 2008]

1. Crença numa força mística poderosa que


envolve, dá vida e conecta o universo.

2. Crença de que tal força é distribuída de forma


binária relacional.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
James George Frazer,
“Magia” O Ramo de Ouro, 1915
[Círculo do Livro, 1978]

Prática religiosa baseada na manipulação


de forças impessoais para obtenção do que
se necessita ou deseja.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA

James George Frazer, O Ramo de Ouro, 1915


[Círculo do Livro, 1978]

Marcel Mauss, Esboço de uma teoria geral da magia, 1904 [in:


Sociologia e Antropologia, Cosacnaify, 2003]

Paula Monteiro, Magia e Pensamento Mágico, Ática, 1986.


RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
Leis da Simpatia (=afinidade)
1. Lei da Contiguidade:

Coisas que estiveram em contato continuam


unidas, isto é, mesmo a distância, continuam a agir
umas sobre a outras.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
Leis da Simpatia (=afinidade)
1. Lei da Contiguidade
2. Lei da Similaridade:

O semelhante produz o semelhante, isto é, o efeito


se parece com a causa que o produziu.
RELAÇÕES COM O DIVINO
MANA, TOTEMISMO E MAGIA
Leis da Simpatia (=afinidade)
1. Lei da Contiguidade
2. Lei da Similaridade
3. Lei da Contrariedade:
O contrário age sobre o seu contrário, isto é, o
semelhante faz partir o semelhante para suscitar um
contrário.
Força Impessoal
Na fala dos Yuhupdeh
Däwä-Wág: Lit. “vida do cosmos”
Força Impessoal

“A Força é um campo de energia


criado por todas as coisas vivas:
ela nos cerca, nos penetra; ela
mantém a galáxia coesa; Ela
provém de tudo; Ela é tudo. A
Força é vida, e vida é Força”

Obi-Wan Kenobi 
Jedi de Star Wars
Força Impessoal

“A Força é um campo de energia


criado por todas as coisas vivas:
ela nos cerca, nos penetra; ela
mantém a galáxia coesa; Ela
provém de tudo; Ela é tudo. A
Força é vida, e vida é Força”

Obi-Wan Kenobi 
Jedi de Star Wars
Força impessoal no cinema
Força
impessoal
no cinema
Força impessoal no cinema
Força impessoal no
cinema
Força impessoal no
cinema
Força impessoal no cinema
Magia em desenhos
animados
Magia em
desenhos
animados
Magia em desenhos animados
Magia em desenhos animados
Magia em
desenhos
animados
Magia em
desenhos
animados
Magia em
desenhos
animados
Magia em
desenhos
animados
Magia em desenhos animados

Amuleto
de Avalor

Cedric, o feiticeiro
Magia em desenhos animados
Magia em desenhos animados
Magia em desenhos animados
NÃO SÓ NA FICÇÃO!
Sorte-Azar
“Isola”
Horóscopo
Darwinismo > Big Bang > Forças Fundamentais
Teoria Gaia > Ambientalismo > Feminismo > LGBT
“Pantudismo”
“Lagoa de Leite” > “Lagoa Morna”
RELAÇÕES COM O DIVINO

9. RELIGIOSIDADE: +Adoração ou +Manipulação?

10. SACRALIDADE: +Pessoal ou +Impessoal?


RELAÇÕES COM O DIVINO
Cosmovisões
+Adoração x +Manipulação
Centrada na relação Centrada na relação com
com seres espirituais, forças impessoais,
desenvolvendo padrões desenvolvendo padrões de
de afeição, como manipulação para obter-se o
adoração, submissão e desejado.
culto.
RELAÇÕES COM O DIVINO
Cosmovisões
+Adoração x +Manipulação

- Exclusividade de Deus - Pessoalidade de Deus


- Cuidado com a - Senhorio de Cristo
mensagem sobre
- Cuidado com objetos!
o Espírito Santo!
Possíveis desdobramentos da crença em
forças impessoais:

1. Manipulaçao -> magia


2. Relativismo -> liberalismo
3. Antropocentrismo -> individualismo
4. Presentismo -> imediatismo
5. Igualitarismo -> horizontalização
6. Utilitarismo -> consumismo
7. Hedonismo -> libertinagem
8. Vergonha -> honra, evidência
Grandes padrões de pensamento
 
Teísta Totemista Naturalista
Forças místicas Forças místicas Forças naturais
crença pessoais impessoais impessoais

método Relacionamento Experimento (empirismo)

base Afetividade Conhecimento (razão, lógica)

Forças ordenadas, invariáveis, passíveis


pressuposto Forças imprevisíveis
de se manipular

atos Adoração Manipulação

Coletivismo,
prováveis Individualismo, igualitarismo, relativismo,
hierarquia, eticismo,
hedonismo, fatalismo, indiferença,
resultados altruísmo, esperança,
imediatismo, utilitarismo, consumismo...
consciência...
RELAÇÕES MATRIZ CULTURAL
Com o +Teísta ou +Totêmica

Divino +Adoração ou +Manipulação

+Culpa ou +Vergonha

Com o +Altruísta ou +Hedonista

Humano +Hierárquica ou +Igualitária

+Coletivista ou +Individualista

+Universalista ou +Relativista
Com o +Teocêntrica ou +Antropocêntrica

Mundo +Histórica ou +Presentista


+Afetiva ou +Utilitária
RELAÇÕES MATRIZ CULTURAL
Com o +Teísta
+Totêmica
Divino +Manipulação
+Adoração
+Culpa+Vergonha

Com o +Altruísta ou +Hedonista

Humano +Igualitária
+Hierárquica
+Coletivista e +Individualista

+Universalista/+Relativista
Com o +Antropocêntrica
+Teocêntrica
Mundo +Histórica ou +Presentista
+Afetiva e/ou +Utilitária
EXERCÍCIO
CULTURA Z

Utilitária, presentista, dinocêntrica,


universalista, coletivista, hierárquica, altruísta,
da vergonha, manipulação e adoração.
- Quais elementos do evangelho demandarão atenção
especial (dificuldades de compreensão)?
- Quais as principais teologias temáticas com suas ênfases
devem ser apresentadas a essa cosmovisão?

Você também pode gostar