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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

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ÉTICA FUNDAMENTAL (TEORIA ÉTICA)

ÉTICA DA VIRTUDE
Enfatiza o papel do carácter e da virtude
ÉTICA DAS VIRTUDES
•Por vezes, ao decidirmos sobre o que devemos fazer, primeiro consideramos
como devemos ser. Por exemplo, se nos confrontássemos com uma decisão a
tomar, podíamos escolher alguém que admiramos e queremos imitar - Jesus,
Muhammad, Gandhi, Madre Teresa, Nelson Mandela - e depois perguntar-nos
“Como é que Jesus, Muhammad, Gandhi, Madre Teresa, Nelson Mandela faria
nesta situação?”
ÉTICA DAS VIRTUDES
•Enquanto que a deontologia se preocupa com a intenção do agir e o utilitarismo
com as consequências do agir, a Ética das Virtudes se preocupa com nosso
carácter/modo de vida.

•“Carácter” quer dizer o modo “habitual” de agir. Daí que Ética das Virtudes
quer dizer os “hábitos do carácter”. Uma vez formado o carácter, o sujeito age
conforme essas disposições [de carácter] e não pode agir de outro modo.
ÉTICA DAS VIRTUDES
•Por outras palavras, enquanto a deontologia e o consequencialismo se
concentram ambos no fazer, a ética das virtudes concentra-se no ser; concentra-
se no agente em vez de se concentrar simplesmente nas acções do agente.
•Uma acção é correcta se, e somente se, for o que um agente virtuoso faria.
•A ética das virtudes é ética baseada no carácter. O carácter é o modo habitual
de agir em resposta às emoções.
ÉTICA DAS VIRTUDES
•Uma vez que as acções fluem do próprio carácter, a ética das virtudes aspira a
desenvolver o carácter das pessoas.

•Essencialmente, esta teoria difere de todas as outras na medida em que não se


concentra nas consequências, intuições, ou regras, mas sim no desenvolvimento
dentro do ser humano de um carácter moral ou virtuoso capaz de fazer o que uma
pessoa boa ou "virtuosa" faria.
ÉTICA DAS VIRTUDES
•Segundo Driver, (2014) “a ética das virtudes define a acção correcta em termos de
virtude, em vez de definir a virtude em termos de acção correcta ou boa”. Assim,
“Uma acção é correcta se for o que um agente virtuoso faria caracteristicamente nas
circunstâncias.” (ibidem.).

•A Ética da Virtude é assim centrada no agente, porque o que mais conta é o agente da
acção e não a acção do agente. As acções procedem de agentes, não o contrário.

•A boa árvore produz bons frutos; os bons frutos não podem vir de árvores más.
(Prudente, 2018)
ÉTICA DAS VIRTUDES

•Por exemplo, uma acção é correcta se for o que um agente virtuoso faria
caracteristicamente nas circunstâncias ( Driver, 2014).

•Educadores e pais costumam usar a ética das virtudes sempre quando apelam aos
seus alunos/filhos “para serem corajosos”, “para não serem egoístas”, “para
controlarem o seu temperamento”, “para agirem de acordo com a idade”, etc.
DOUTRINA DO MEIO-TERMO OU MÉDIA ÁUREA OU MÉDIA DE OURO
•A virtude é um estado médio ou intermédio entre dois extremos, sendo ambos
vícios: um de excesso (demasiado) e outro de falta (deficiência); virtude é o
que não é demasiado nem em falta.
•Virtude é o meio desejável entre dois extremos, um de excesso e outro de
falta/deficiência.
•Virtude é uma mediania entre dois males (vícios), o mal por excesso e o mal
por falta, pois nos dois males há falta ou excesso daquilo que é conveniente.
•O caminho correto é aquele que alcança um meio-termo. Não se desviar para
um lado nem para o outro, representando antes a moderação, a harmonia, o
equilíbrio e a capacidade de evitar os pontos fracos de ambos os lados.
•A virtude do carácter é um meio-termo, e o meio-termo é o melhor, porque é a
única escolha correcta para cada acto.
DOUTRINA DO MEIO-TERMO OU MÉDIA ÁUREA OU MÉDIA DE OURO
Exemplos:
•A temperança situa-se entre a gula e a abstinência;
•O excesso seriam coisas como gula (comer em excesso) e ninfomania (desejo
sexual excessivo em uma mulher) ou satiromania (desejo sexual excessivo em
um homem);
•A deficiência seria como anorexia (total falta de apetite) e/ou asceticismo
doloroso (extremo auto-negação e austeridade).
•A coragem encontra-se entre a cobardia e a imprudência;
•Um cobarde tem demasiado medo, e deixa-se impedir de agir da forma
necessária durante uma batalha.
•Uma pessoa imprudente tem demasiado pouco medo: assume riscos
desnecessários, e executa acções perigosas.
•Uma pessoa corajosa é alguém que se encontra no meio destes extremos.
DOUTRINA DO MEIO-TERMO OU MÉDIA ÁUREA OU MÉDIA
Excesso DE OURO
Média Deficiência / Falta
(Demasiado) (Meio-virtuoso) (Muito pouco)
Imprudente Corajoso/Coragem Covarde/medroso
Auto-indulgente Moderado Abstinência/continência
Orgulhoso/arrogante Simples Submisso/Passivo
Tímido Modesto Desavergonhado
Mesquinho / Médio Generoso Extravagante/Desperdício
Prepotente Humilde Auto-depreciação/auto-
menosprezo
Assim, coragem é o meio-termo entre um extremo da deficiência (covardia) e o outro
extremo do excesso (imprudência). Um covarde seria um guerreiro que foge do campo
de batalha e um guerreiro imprudente atacaria cinquenta soldados inimigos. A coragem
é uma virtude, mas se levada em excesso se manifestaria como imprudência e, se faltar,
como covardia.
Exemplos de Imprudência, Covardia e Coragem
•Imprudência:
-Beber e conduzir carro.
-Uso de drogas proibidas em área pública.
-Porte de armas sem autorização.
-Dirigir em velocidades altas em bairro residencial ou em zona onde existem
muitos peões.
•Covardia:
-Recusar-se a pedir desculpa a alguém só porque não é suficientemente
corajoso.
-Uma pessoa que vai embora depois de ver outra pessoa que precisa de ajuda.
-Evitar algo que seria bom para si apenas porque tem medo.
Exemplos de Imprudência, Covardia e Coragem

•Coragem:
-Experimentar um alimento que nunca experimentou antes.
-Envolver-se numa nova aventura.
-Convidar alguém para sair juntos num encontro de namoro.
VIRTUDE SEGUNDO ARISTÓTELES
A média dourada - Equilíbrio certo de virtude
• Equilíbrio certo de virtude? nos perguntamos. Afinal não deveríamos ter
toda a virtude que podemos obter?
•O demasiado de tudo é sempre mau, a virtude incluída...
•Exemplo 1: Jane é uma senhora virtuosa. A sua virtude é cuidar dos outros.
Jane é tão atenciosa que acaba por negligenciar os seus cuidados pessoais.
Pior, ela tem tanto medo de ferir os sentimentos de alguém que nunca os
impede quando lhe fazem coisas más, mesmo quando lhe abusam
fisicamente. Porque esse comportamento de cuidado é excessivo, é mau.
Vida Virtuosa = Vida Ética = Vida Boa
•O que torna a Ética das Virtudes diferente de outras teorias de Ética:
•Os seus conceitos centrais são as excelências de carácter, tais como
justiça, coragem, e auto-controlo;
•O seu foco é como tais excelências nos ajudam a viver bem, a tratar bem
a nós próprios e aos outros, e a participar em comunidades vivas;
•Enfatiza virtudes da mente, carácter e senso de honestidade.
•A ética das virtudes enfatiza SER um certo tipo de pessoa, SER uma pessoa
de virtude: corajosa, modesta, honesta, imparcial, diligente, sábia.
•Para a Ética das Virtudes, o agir segue o ser e toda árvore boa produz frutos
bons, e toda árvore má, produz frutos maus (Agere sequitur esse = A acção
segue-se a ser).
Vida Virtuosa = Vida Ética = Vida Boa
O que distingue a ética das virtudes é o facto de ela tratar a ética como um
assunto a ver com toda a vida da pessoa e não apenas aquelas ocasiões em que
está em jogo algo distintamente "moral".

•Para a ética das virtudes o foco não está tanto no que fazer em casos
moralmente difíceis, mas em como ser (ela enfatiza as qualidades pessoais como
a bondade, coragem, sabedoria, e integridade).

•“A rectidão é sobre o que estamos a fazer enquanto a virtude é sobre a forma
como estamos a viver” (Russell, 2003).
Vida Virtuosa = Vida Ética = Vida Boa
• Muitos estudantes chegam frequentemente à sua primeira aula de ética na
esperança de serem dados uma lista de regras ou um código de conduta
profissional. Esses estudantes ficam desiludidos quando não o fazemos.
Porque é errado abordar a Ética em termos de Regras e Máximas.

• A regra prevalece sobre raciocínio; onde existe regras já não há que pensar,
mas cumprir com o estabelecido.
• Onde há regras, não há argumentos. Por exemplo: se uma regra proíbe X,
então X está excluído. Ponto final!
• Uma das principais razões pelas quais a ética das virtudes é melhor é a sua
ênfase no carácter da pessoa em vez de consequências ou deveres/regras pré-
estabelecidos, como no utilitarismo e a deontologia.
O OBJECTO DA ÉTICA DAS VIRTUDES
•Segundo Aristóteles, a função principal da Ética das Virtudes consiste em
estabelecer qual é a “melhor espécie de vida” para um ser humano e indicar as
“condições necessárias” para atingir esse fim.
•A eudaimonía, ou Bem supremo, é um princípio normativo que orienta a Ética
das Virtudes. Eudaimonia significa alcançar as melhores condições possíveis
para um ser humano, em todos os seus sentidos e não apenas a felicidade, mas
também a virtude, a moralidade e uma vida significativa.
•Aristóteles argumentou que com muito trabalho e cultivando as devidas
virtudes era possível atingir a Eudaimonia. Para Aristóteles, não estudamos
apenas para saber o que é a virtude do carácter, mas para nos tornarmos bons,
pessoas boas, pois, do contrário, o nosso estudo seria inútil.
O OBJECTO DA ÉTICA DAS VIRTUDES
• Para alcançar a verdadeira eudaimonia, é preciso focar em ser uma pessoa
virtuosa, controlar as emoções e exercitar a razão. Porque, argumentou
Aristóteles, essas são as habilidades mais avançadas e exclusivamente humanas.
• Muito se confunde a eudaimonia com "felicidade”. Porém, felicidade é uma
emoção, enquanto eudaimonia é um estado de ser muito mais abrangente.
• Felicidade é algo que uma pessoa pode criar ou perder a qualquer momento,
enquanto Eudaimonia leva muito tempo para construir e tem poder de
permanência.
• A felicidade, para algumas pessoas, pode ser obtida através de prazeres simples,
como comer, ou por meios imorais, como roubar. Enquanto eudaimonia provem
de ser uma boa pessoa.
• Então, em vez de felicidade, Eudaimonia poderia ser traduzida como:
realização, viver uma boa vida, prosperidade humana e sucesso moral ou
espiritual. Por isso, a eduaimonia é a verdadeira finalidade da vida humana.
O OBJECTO DA ÉTICA DAS VIRTUDES
•Tudo que fazemos na vida visa a algum bem (verdadeiro ou aparente); por
isso, devemos descrever o bem como aquilo a que todas as coisas tendem.
•Agir, portanto, consiste em desejar um “fim” que o agente considera um
“bem” (verdadeiro ou aparente) a ser atingido por seu “acto”. Por isso, toda a
acção humana é “teleológica” (isto é, é finalista; tende a algum fim).
•O mais elevado desses “fins”, que é “desejado por si mesmo”, deve ser
considerado como o “Bem” Supremo, ou seja, a eudaimonía.

•A Ética das Virtudes, portanto, é a Ciência Prática que tem no Bem Supremo
(eudaimonia) para os seres humanos o seu principal objecto de estudo.
• "Não existe tal coisa como ética empresarial; existe apenas ética. Erradamente, as
pessoas tentam usar um determinado tipo de ética para a sua vida profissional, outro
para a sua vida espiritual, e ainda outro em casa com a sua família. Isso arranja-lhes
problemas. Ética é ética. Se desejas ser ético, viva segundo um único padrão
transversal". (Maxwell, 2003)
• Muitas pessoas acreditam que abraçar a ética limitaria as suas opções, as suas
oportunidades, a sua própria capacidade de sucesso nos negócios. É a velha teoria de
que os bons acabam por ser os últimos.
• A ética nunca foi uma questão profissional ou social ou uma questão política. Ética
sempre foi uma questão pessoal.
• As pessoas dizem que querem integridade. Mas, ao mesmo tempo, ironicamente, a
maioria das pessoas nem sempre actua com o tipo de integridade que exige dos outros.
• A mesma pessoa que faz cábula nos exames ou rouba material de escritório quer
honestidade e integridade do seu chefe, do político em quem vota, e do cliente com
quem lida no seu próprio negócio.
• As empresas que se dedicam a fazer a coisa certa, e têm um
compromisso claro com a responsabilidade social, e agem de acordo
com esse compromisso são mais lucrativas do que as que não o são.
(Maxwell, 2002)
• Os atalhos nunca compensam a longo prazo. Pode ser possível enganar
as pessoas durante uma época, mas a longo prazo, as suas acções irão
atingi-los porque a verdade acaba por se revelar.
• A curto prazo, comportar-se eticamente pode parecer uma perda (tal
como se pode parecer que se ganha temporariamente por ser não
ético). No entanto, a longo prazo, as pessoas perdem sempre quando
vivem sem ética.
Não há realmente uma maneira certa de fazer a
coisa errada!
• "Passamos as nossas vidas a sofrer os efeitos dessas palavras. Os
executivos empresariais de empresas multimilionárias que outrora
fizeram salários multimilionários estão na prisão por causa dessas
palavras. Os magnatas de Hollywood e políticos poderosos foram
afastados por causa dessas palavras. Os líderes espirituais têm sido
descontinuados, por ignorar essas palavras. Médicos, advogados,
contabilistas, engenheiros, educadores, líderes comunitários, estrelas do
desporto e do entretenimento, você, eu, os nossos filhos - ninguém escapa
essas palavras. Elas são simples. São imprescindíveis. São a qualidade
que nós fazemos das nossas vidas. E, são necessárias agora, mais do que
nunca". (Christopher Gilbert).
OBRIGADO!
Questões para reflexão:

1. Qual é o princípio da Ética das Virtudes?

2. O que significa virtude e quando é que podemos dizer que somos virtuosos?

3. O que Aristóteles quer significar/dizer quando diz que “aprendemos a


virtude não para termos conhecimento, mas para aprendermos a ser virtuosos”?
Comente este pensamento.

4. O objecto de estudo da ética das virtudes é a Eudaimonia. O que significa


Eudaimonia?

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