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A REFORMA PSIQUIÁTRICA QUE

BUSCAMOS: ALGUNS PRINCÍPIOS


O respeito à singularidade

A crítica ao tecnicismo

O rigor do pensamento teórico

A superação do hospital psiquiátrico

A implantação de uma rede de serviços substitutivos

A presença na cultura
A interlocução constante com os movimentos sociais

A defesa do Sistema Único de Saúde

A perspectiva da intersetorialidade

A luta pela transformação social


PROJETOS MUNICIPAIS DE SAÚDE MENTAL:
PRIORIDADES

Reforma Psiquiátrica: é no município que ela acontece.

Seguindo o princípio de descentralização do SUS, cada município


deve ter autonomia para construir seu próprio Projeto de Saúde
Mental, de acordo com as diretrizes preconizadas pelas
Conferências Nacional e Estadual.
PROJETOS MUNICIPAIS DE SAÚDE MENTAL:
PRIORIDADES
Na organização deste Projeto, a clientela prioritária são os
portadores de sofrimento mental grave. As razões são várias:

 Por sua maior vulnerabilidade psíquica e social, foram


duramente penalizados com a segregação imposta pelo modelo
hospitalar.

 Sendo os casos mais graves, constituem, por razões clínicas,


aqueles que requerem maior atenção e cuidado.
PROJETOS MUNICIPAIS DE SAÚDE MENTAL:
PRIORIDADES
Contudo, há outro aspecto a ser levado em conta: com a
psiquiatrização de problemas sociais ocorrida nos anos 70, muitas
pessoas que não apresentam transtornos graves foram
identificadas e tratadas como doentes mentais, com graves danos
para suas vidas.

Portanto, um Projeto de Saúde Mental em sintonia com a


Reforma Psiquiátrica deve:
PROJETOS MUNICIPAIS DE SAÚDE MENTAL:
PRIORIDADES
Organizar suas ações e serviços priorizando o cuidado aos
portadores de sofrimento mental grave, desde o atendimento
intensivo às situações de crise, até as várias etapas de reabilitação
psicossocial.

Ao mesmo tempo, buscar saídas para os pacientes que foram


envolvidos no circuito psiquiátrico sem apresentar transtornos
psíquicos graves.
A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
Diversas parcerias entre estes dois setores são já realizadas com
grande êxito, em vários lugares do Brasil.

O que se espera das equipes de PSF nos Projetos de Saúde Mental?

O atendimento das crises e dos portadores de sofrimento mental


grave, que é prioritário, deve efetuar-se principalmente pelas equipes
de Saúde Mental. Contudo, nesta área, espera-se das equipes do PSF:
A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
 Que incluam todo e qualquer paciente acompanhado pela Saúde
Mental entre os seus demais pacientes, recebendo os cuidados da
unidade (atenção à mulher, atendimento a doenças orgânicas, etc)

 Que sejam capazes de identificar os portadores de sofrimento


mental grave, tomando as primeiras medidas necessárias em caso
de crise.
A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
 Que conheçam os recursos disponíveis em seu município e região
para estes pacientes, efetuando o encaminhamento aos serviços e
equipes de Saúde Mental, de forma responsável.

 Que acompanhem os portadores de sofrimento mental grave já


estabilizados há muitos anos.
A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
O acompanhamento dos pacientes “psiquiatrizados” e outros que não
apresentam transtornos psíquicos graves deve ser assumido pela
Equipe do PSF, através das seguintes medidas, dentre outras:

Vinculação, escuta e responsabilização de cuidados.

Promoção da redução do uso de psicofármacos por estes pacientes.


A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
Construção de atividades de trabalho, cultura, educação e lazer que
lhes permitam romper sua identificação com o rótulo de “doentes
mentais”.

O que é necessário para que as equipes do PSF possam efetuar esta


parceria?

Apoio constante das equipes de Saúde Mental, com discussões de


caso, orientações, interconsultas, sempre quando necessário.
A PARCERIA SAÚDE MENTAL - PSF: REALIZAÇÕES
E EXPECTATIVAS
Acesso aos conhecimentos básicos da Saúde Mental
Responsabilização dos gestores, inclusive da gerência da unidade
básica.

Percepção de que o sofrimento mental é um dos problemas de saúde


mais frequentes da população, sendo atribuição de uma equipe de
generalistas assumir a parte que lhes cabe na abordagem destes
pacientes.
POLÍTICAS LOCAIS DE SAÚDE
MENTAL:
POR UMA REDE DE SERVIÇOS
SUBSTITUTIVOS AO HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO
REDES DE SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS: O QUE
É?

 A Reforma Psiquiátrica propõe que as políticas locais de


Saúde Mental criem redes de serviços substitutivos ao
hospital psiquiátrico.

 Você já ouviu falar em serviços substitutivos?

 Para você, o que significa esta expressão?


INTRODUÇÃO À REDE
 Esta rede deve tratar os portadores de sofrimento mental com
dignidade, respeitando sua cidadania, e buscando propiciar-lhe
o convívio social.

 A rede pode dispor de diversos tipos de serviço, dependendo


das necessidades do seu município ou micro região.

Vamos examinar alguns casos e situações, para ver como isto


funciona?
O CASO DE LÚCIA
Lúcia está muito agitada, não dorme, anda de um lado para o
outro, foge de casa. “Não fala coisa com coisa”: sente-se
perseguida, acha que os outros lêem seus pensamentos, ouve
vozes, suspeita que a mãe pôs veneno na sua comida.

O que você faria para ajudar Lúcia?

Vamos parar agora e ouvir suas propostas!


Depois de ouvir vocês gostaríamos de dar algumas sugestões.
ALGUMAS MEDIDAS PREJUDICIAIS PARA
LÚCIA
 Querer impor-lhe coisas (afinal, ela já está se sentindo
perseguida!)

 Recorrer à violência.

 Teimar que as coisas que diz não são reais (para ela, são!)

 Ouvir apenas sua família e não a ela. Interná-la em um


hospital psiquiátrico!
ALGUMAS SUGESTÕES PARA AJUDAR LÚCIA
 Converse com ela com paciência!

 Tente convencê-la a se tratar.

 Leve-a de preferência a um CAPS .

 Se não houver um CAPS próximo, leve-a até uma equipe de


Atenção Básica.

 Se não conseguir, solicite a visita domiciliar de um


profissional de Saúde.
ALGUMAS SUGESTÕES PARA AJUDAR LÚCIA
 Se Lúcia não quiser de jeito nenhum aceitar o auxílio
necessário, ela pode ser medicada contra a sua vontade.

 Neste caso, o procedimento deve ser feito sem ferir nem


humilhar a paciente, e registrado claramente em prontuário.
PENSANDO A REDE A PARTIR DO CASO DE
LÚCIA
 Os CAPS são destinados a atender casos de crise aguda como
os de Lúcia. O CAPS de sua cidade cumpre esta função?

 Se sua cidade não conta com um CAPS, cabe às equipes da


Atenção Básica acolher, orientar e encaminhar estes casos para
o CAPS mais próximo.

 Lúcia acabou sendo internada num hospital psiquiátrico,


porque não há CAPS em sua cidade ou micro região?
Então, está passando da hora de criar um CAPS!
O CASO PEDRO
Pedro já teve crises, como Lúcia, mas agora está bem mais
calmo. Entretanto, passa a maior parte do tempo isolado, só em
casa, sem querer conversar.
Parece não ter interesses nem projetos na vida.
A família tem vergonha dele e o esconde dos vizinhos.

O que você faria para ajudar Pedro?

Vamos parar agora e ouvir suas propostas!


Depois de ouvir vocês gostaríamos de dar algumas sugestões.
O QUE VOCÊ PODE FAZER?
 Pedro deve ser acompanhado na Atenção Básica, por um
profissional de Saúde que lhe dê Atenção e crie um vínculo
com ele.

 De preferência, deve ser um profissional de Saúde Mental;


mas, cada dia mais, os generalistas e enfermeiros estão
preparados para isto.

 Seus remédios não devem ser prescritos pela repetição da


receita, mas a partir de uma escuta do paciente.
O QUE VOCÊ PODE FAZER?
 Se tiver apenas uma crise branda, não precisa ir para o CAPS:
pode continuar a ser cuidado na Atenção Básica

 Em cidades maiores, Pedro pode frequentar um tipo de serviço


chamado Centro de Convivência, que ajuda os usuários a
reatar seus laços sociais.
PENSANDO A REDE A PARTIR DO CASO PEDRO
 A Atenção Básica é fundamental para acompanhar os usuários
estabilizados, sobretudo quando recém-saídos de uma crise: eles
devem ter prioridade nas agendas!

 Os Centros de Convivência são serviços que oferecem oficinas de


arte e atividades culturais, favorecendo o convívio, principalmente
em cidades de maior porte.

• A comunidade pode fazer muito por Pedro e sua família: convidá-


los para os encontros, os passeios, as festas!
O CASO MARCELO
Marcelo passou 20 anos internado num hospital psiquiátrico.
Desaprendeu a cuidar de si; já não sabe fazer as pequenas coisas
da vida cotidiana; tornou-se passivo e indiferente. Sua família não
quer mais recebê-lo em casa.

O que você faria para ajudar Marcelo?


ALGUMAS PROPOSTAS PARA MARCELO
 Há um programa do MS, De volta para casa, que oferece, um
auxílio-reabilitação, para ajudar as famílias a receber estas
pessoas de volta.

 Se a família não o aceita agora, pode viver num Serviço


Residencial Terapêutico (moradias protegidas).

 Deve-se propiciar a aproximação de Marcelo com seus


familiares: algo pode mudar entre eles!
ALGUMAS PROPOSTAS PARA MARCELO
 Marcelo deve ser ajudado a readquir as capacidades que perdeu
durante sua longa internação.

 Deve, sobretudo, ter o direito de participar da vida da cidade,


como qualquer cidadão!
PENSANDO A REDE A PARTIR DE MARCELO
O De volta para casa e os Serviços Residenciais são para pessoas
que passaram muitos anos no hospício.

Os moradores destas casas tratam-se nos demais serviços da rede:


vão para o CAPS quando em crise, para a Atenção Básica quando
estão melhor, para o Centro de Convivência, etc.

Os Serviços Residenciais Terapêuticos oferecem a estas pessoas uma


casa no seio da cidade, com direito a escolhas, espaços próprios... e,
sobretudo, a participar e conviver em liberdade!
A PARTIR DE CADA UM, UMA REDE PARA
TODOS
 A discussão destes casos ofereceu noções básicas para pensar os
diferentes serviços substitutivos em sua cidade? Afinal, as cidades
são como as pessoas:

Por um lado, cada uma tem seu jeito próprio - o singular. Por
outro, todos devem ser iguais em seus direitos - o geral.
O QUE NOS MOSTRAM ESTES E OUTROS
CASOS?

Precisamos criar uma rede de serviços substitutivos a nível


local, segundo os princípios da Reforma Psiquiátrica.

Esta rede pode ter diferentes tipos de serviços.


O que mais estes casos nos mostram, em sua opinião?

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