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Um mundo de imagens:

Notas sobre comunicação e imagem.

Prof. Dr. Wilson de Oliveira Neto


wilson.o@univille.br
1. As imagens e nós.

“As imagens pertencem ao universo dos


vestígios mais antigos da vida humana
que chegaram até nós” (KNAUSS, 2006,
p. 98).

Detalhe das pinturas rupestres existentes no complexo de


cavernas em Lascaux, França. © Wikimedia Commons.
“[...] diante dos usos públicos da História, a imagem é um componente de grande
destaque, mesmo que nem sempre seja valorizada como fonte de pesquisa pelos próprios
profissionais da História. A imagem condensa a visão comum que se tem do passado”
(KNAUSS, 2006, p. 99).

© Freepik.

Ex-enfermeiras do Serviço de Saúde


da Força Expedicionária Brasileira –
FEB. Rio de Janeiro, RJ. Sine die.
Coleção do autor.
• Pergunta que não quer calar: a partir das imagens no slide anterior,
qual “visão comum” sobre o passado é possível ter?
E a escrita?
1. “É preciso atentar ainda para o fato de que, desde os tempos em
que se fixou a palavra escrita, o novo código não veio substituir a
imagem” (KNAUSS, 2006, p. 99);
2. “[...] a história da imagem se confunde com um capítulo da história
da escrita e que seu distanciamento pode significar um prejuízo
para o entendimento de ambas. [...]. [...] imagem e escrita sempre
conviveram” (KNAUSS, 2006, p. 99).
1.1 A força da imagem.

“[...] a imagem possui um registro abrangente, baseado em um dos sentidos que


caracterizam a condição humana [a visão]” (KNAUSS, 2006, p. 99).

© Portal R7.
• “[...] a imagem pode ser caracterizada • “A imagem é capaz de atingir todas
como expressão da diversidade as camadas sociais ao ultrapassar as
social, exibindo a pluralidade diversas fronteiras sociais pelo
humana” (KNAUSS, 2006, p. 99). alcance do sentido humano da visão”
(KNAUSS, 2006, p. 99).
Em resumo:
“[...] desprezar as imagens como fontes da História pode conduzir a
deixar de lado não apenas um registro abundante, e mais antigo do que
a escrita, como pode significar também não reconhecer as várias
dimensões da experiência social e a multiplicidade dos grupos sociais e
seus modos de vida. O estudo das imagens serve, assim, para
estabelecer um contraponto a uma teoria social que reduz o processo
histórico à ação de um sujeito social exclusivo e define a dinâmica
social por uma direção única” (KNAUSS, 2006, p. 99 – 100).
2. Imagem e comunicação.

• Como é possível constatar nos estudos produzidos pela História e


demais Ciências Humanas, os processos sociais são dinâmicos,
envolvem diversos sujeitos e são expressos de diversas maneiras.

• A produção de sentidos e significados é uma dessas expressões.


Pois, eles orientam a vida em sociedade, sendo o resultado de
construções coletivas que ocorrem ao longo do tempo.
A criação e a circulação de imagens contribuem com essa produção.
Especialmente, se levarmos em consideração Vilém Flusser (2017),
para o qual toda imagem constitui uma mensagem. Ou seja, através de
um texto não escrito, as imagens têm algo a dizer. Emprestando uma
expressão da Comunicação, elas são “atos comunicacionais” que,
segundo Flusser (2017), elas emanam de um emissor em busca de um
receptor.
• Na óptica flusseriana, o ato comunicacional que envolve as imagens
se dá por meio de “superfícies” e “corpos”.
1. Superfície: é o aspecto visível da imagem com o qual o receptor
entra inicialmente em contato.
2. Corpo: é o suporte sobre o qual a imagem é produzida e colocada
em circulação.
Um exemplo de “superfície” e “corpo”: os
braços e o tronco tatuados de um
condenado russo. Os “desenhos” são o
aspecto visível, uma “superfície”, sendo o
próprio corpo do condenado o suporte
sobre o qual as imagens foram tatuados,
isto é, o “corpo”.

© Vice.

© Fuel Design.
• Com o desenvolvimento técnico da reprodução mecânica e digital da
imagem, seu transporte se tornou muito mais eficaz, alcançando
receptores onde quer que eles estejam.
Em outras palavras:
• “[...] as imagens se tornaram casa vez mais transportáveis, e os
receptores cada vez mais imóveis, isto é, o espaço político se torna
cada vez mais supérfluo” (FLUSSER, 2017, p. 150).
“Essa tendência apresentada é característica, sobretudo, da revolução
cultural dos tempos atuais. Todas as mensagens (informações) podem
ser copiadas e transmitidas para receptores imóveis. Trata-se, na
verdade, de uma revolução cultural, e não apenas de uma nova técnica.
Quando, por exemplo, o receptor não precisa distanciar-se de seu
espaço privado para ser informado, isso quer dizer que o espaço
público (a política), se tornou superficial” (FLUSSER, 2017, p. 150).
Considerações finais.

• O indivíduo, quando entra em contato com uma imagem, inicia uma


operação mental de crítica da imagem observada, que consiste no
cruzamento dos seus conteúdos com as informações por ele
acumuladas, o que Flusser (2017) chamou de “informações
históricas”. Quanto mais original uma imagem, mais difícil será esse
processo ou mesmo “desconfortável”. Por outro lado, quanto mais
familiar a imagem, mais rápido e “confortável” o mesmo processo
será.
• O conceito de imagem varia no tempo e no espaço. Ele responde
aos contextos históricos específicos e à regimes de olhares próprios
de suas respectivas épocas.
Referências

1. FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do Design e da


Comunicação. São Paulo: Ubu Editora, 2017.
2. KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual.
ArtCultura, Uberlândia, v. 8, n. 12, p. 97 – 115, jan. – jun. 2006.

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