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M4

Ideias & Imagens Módulo 4 – Leitura de


Ana Lídia Obra
Pinto | Fernanda Meireles
Manuela Cernadas Cambotas
Uma aula sobre pintura flamenga dada no Museu
The National Gallery pelo Professor Barrow,
Mestre em História da Arte.
O professor Barrow é uma personagem ficcional
criada pelo escritor Noah Charney (historiador de
arte e diretor e fundador da Association for
Research into Crime against Art - ARCA), no seu
livro O Ladrão de Arte.  
Charney descreve-o como um homem idoso, de
cabelos brancos e rosto vermelho, docente numa
universidade londrina que, naquela altura, estava
a ser perseguido por três agentes.
Convido-vos a participar nesta sua aula....
“- Senhoras e senhores, vou levá-
los numa visita a National Gallery. Por
favor mostrem espanto, veneração e
subsequente esclarecimento
adequado.
Este é o Contrato de Casamento
de Jan van Eyck […] um pintor, um
intelectual e um agente secreto […].
Um dos primeiros homens do
Renascimento, atrevo-me a dizer.
Embora não tivesse inventado a
pintura a óleo, Jan van Eyck elevou-a
a um nível de perfeição nunca antes
visto e influenciou todos os artistas
que lhe sucederam. […].

Jan Van Eyck, O Casamento dos Arnolfini, 1434,


óleo sobre madeira de carvalho, 82 x 60 cm
Reparem que há alguma coisa
escrita […] no fundo do quadro:
‘Johannes van Eyck me fecit’, […]
que tornou van Eyck tão magnífico
foi a sua precisão, e esta foi
conseguida através do uso de tintas
a óleo. […] Também eram utilizados
pincéis minúsculos, para permitir
pormenores minuciosos. Mas a
sobreposição das tintas é que é o
segredo. […].
Este é o retrato de duas pessoas, o
Sr. e a Sra Giovanni Arnolfini. O
senhor era um comerciante de
tecidos que vivia em Bruges. […]
Está de mão dada com o seu lastro,
que está vestida num verde
sumptuoso debruado a pele,
visivelmente dispendioso. […] A
senhora parece estar grávida, certo?
Errado! […] Juntou o amplo vestido à
sua frente segurando-o com a mão
[…]. A Sra. Arnolfini deve parecer
atraente e fértil.
E há mais. Durante o Renascimento,
no Norte da Europa, os artistas
utilizavam uma técnica com um
nome intrigante simbolismo
disfarçado.
Vou dar-vos exemplos simples. […]
Há uma peça de fruta,
provavelmente uma laranja, em cima
da mesa por baixo da janela à direita
de Giovanni. A fruta simboliza
prosperidade e florescimento
económico e biológico.
Há um cão no chão entre o casal.
[…] O cão é o símbolo disfarçado da
lealdade.
Que mais?
Veem a estátua na parede ao fundo da
sala? É de Santa Margarida, a santa a
quem rezariam se desejassem
engravidar. [...]
Como é que eu sei que não se tratou
de um casamento forçado?
Olhem para o cimo do quadro. Há um
candeeiro com uma vela acesa. […].
Há uma tradição germânica em que
deve ser acesa uma vela durante uma
cerimónia de casamento, e colocada à
porta do quarto conjugal dos recém-
casados. No momento em que o
casamento for consumado, [...] os pais
do casal apagavam a vela. […]
O simbolismo disfarçado permite que
os quadros sejam interpretados, como
os livros, mas primeiro temos de
perceber o código. É um enigma à
espera de ser decifrado. [...]
Porque é que este quadro se intitula
O Contrato de casamento? […]
Para juntar os trapos bastava dar a
mão à namorada e fazer uns votos
em frente a duas testemunhas.
Podemos ver que os Arnolfini estão
de mãos dadas. Também estão
descalços. Significa que estão em
solo consagrado. Mas estão num
quarto. Sim, mas estão no meio de
uma cerimónia de sagrado
matrimónio. […]

Então, onde estão as testemunhas?


[…]. Há um espelho convexo ao
centro da sala. […] Mas o que vemos
nós no espelho? Duas figuras. Uma
de turbante azul, e outra... de
turbante vermelho […].
Jan van Eyck usa um turbante
vermelho no seu [possível]
autorretrato […].
As duas testemunhas refletidas no
espelho significa que estão onde nós
agora estamos, a observar. […]
E, no caso de não terem ficado
totalmente convencidos, mesmo no
centro do quadro há uma assinatura
que diz: ‘Johannes van Eyck esteve
aqui, 1434’.
Assinou este quadro enquanto
testemunha. O quadro é literalmente
um contrato de casamento!
Agora, para a sala seguinte!”

Jan Van Eyck, Homem de Turbante Vermelho, 1433,


óleo sobre madeira, 15,5 x 19 cm
CONCLUSÃO
Esta obra é hoje considerada como uma das
mais notáveis de Van Eyck. É um dos primeiros
retratos de tema não hagiográfico que se
encontram conservados e representa uma cena
do quotidiano ou de género.
A obra foi inovadora para a época em que foi
concebida, exibe diversos conceitos novos
relativamente às perspetivas e à acentuação dos
segundos planos.

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