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A 1ª FASE DE DIFUSÃO DO TURISMO (do século 18 ao início do 20):

- A invenção dos lugares turísticos;


- O papel da revolução industrial;
- A origem do excursionismo de massa.
A 1ª FASE DE DIFUSÃO DO TURISMO: A INVENÇÃO DOS LUGARES TURÍSTICOS

 A difusão do turismo, afirma Boyer (2003, p. 9), se realizou por “capilaridade


social”, em duas fases distintas:
(a) quando o turismo era uma prática elitista (do séc. 18 até o início do séc. 20);
(b) uma segunda a partir do momento que o turismo é apropriado como prática
de lazer para os trabalhadores, de modo especial, após a segunda guerra
mundial, ou seja, quando o turismo se massifica.

 Na 1ª fase (da origem no séc. 18 até o início do séc. 20), os “gate-keepers”,


em geral, artistas, artesãos ou altos cortesãos, inventavam práticas e lugares
para se viajar, que ganhavam reputação com a visita de famílias reais.

 Depois de inventadas, os lugares e as práticas de turismo se difundiram por


“imitação”, feita por membros das classes mais altas da sociedade, como

Figura 1. magistrados, parlamentares, banqueiros e grandes negociantes (figura 1).

Pirâmide de difusão do turismo nos séculos 18, 19 e início do século 20 Fonte: Boyer (2003, p. 35).
A QUESTÃO DA SAÚDE NAS RAÍZES DO TURISMO

 Segundo Boyer (2003, p. 53), as temporadas nas estações termais


e balneárias eram apresentadas como uma questão de saúde
pública nos manuais, guias e relatórios do século 19.

 Estes guias médicos tiveram importante papel na difusão do


turismo que, ao utilizar um discurso higienista, davam valor
científico à escolha das estações (os lugares) e as temporadas. De
acordo com Boyer (2003, p. 50),
 
Os guias cada vez mais numerosos ao longo do século 19,
para incentivar a vinda de turistas e responder às suas
necessidades, anunciavam, desde o título, uma finalidade
terapêutica; eles se denominavam Guia médico; Guia do
Imagem sem referência banhista em...; Informativo topográfico e médico;
Informativo climatoterápico sobre...; Sobre o bom uso do
https://flavia94silva.weebly.com/histoacuteria-do-termalismo.html inverno no Sul da França; Sobre o bom uso das águas
minerais; Termalismo e medicina; Guia prático das águas.
HEALTH PLACES

 De acordo com Boyer (2003, p. 50), desde o século 18, ricos ingleses estavam à
procura de “health places” (lugares de saúde) no continente europeu, pois crescera
muito no período o número de “invalids”, como eram chamadas as pessoas de alta
renda que tinham certo tipo de doença.

 Os médicos recomendavam a mudança de ares, que seria soberana em relação a


todos os males, indicando a viagem para onde o prazer da estadia, por si só, levaria
à cura ou, ao menos, ao alívio.

 O discurso terapêutico era dominante e o conceito de higiene deu valor geral ao


que era apenas uma série de práticas de pessoas originais, como tratamentos
médicos realizados no inverno, em lugares como Nice e Cannes, no sul da França.
Acervo pessoal
Píer de Schevening (Haia, Países Baixos) A PRODUÇÃO DAS PRIMEIRAS INFRAESTRUTURAS TURÍSTICAS

• Em meados da década de 1860, segundo Hobsbawm (2009, p.


286), um boom de férias característico da classe média já
transformava partes da costa britânica, com lugares para
passeios à beira mar, piers e outros embelezamentos,
tornaram possíveis, para proprietários de terras, obterem
lucros “insuspeitados” de faixas de rochedos e de praias antes
sem nenhum valor.

• As estações de águas do continente europeu tinham mais estilo


que as britânicas, com hotéis de luxo e divertimentos
necessários para uma clientela distinta, como cassinos e
bordéis de alta classe, “justificados pela desculpa de beber
alguma água mineral de gosto desagradável ou de mergulhar
em alguma forma líquida, sob controle do benevolente ditador,
o médico” (Hobsbawm, 2009, p. 286).
http://www.toekomstscheveningenbad.com/depier/index.html
1901

https://happyhotelier.com/
OS LUGARES TURÍSTICOS NA PRIMEIRA FASE DE SUA DIFUSÃO
(até o início do século 20)

 Ainda segundo Gemini, as estações intermediárias (outono e


primavera) eram ideais para as estadias nos lagos alpinos e,
sobretudo, em Paris e Londres, onde haviam animadas ocasiões
festivas e sociais, além de viagens em direção as nunca esquecidas
origens da civilização europeia: Grécia clássica e Egito.

 De acordo com Hobsbawm (2009, p. 287), depois da abertura do


Canal de Suez (em 1869) e, principalmente depois da construção
Wikimedia Commons da estrada de ferro ao longo do rio Nilo (na década de 1870), o
Travessia demora de 11 a 16 horas; ao contrário do Canal Egito tornou-se um destino que combinava vantagens climáticas,
do Panamá, o de Suez não tem eclusas
exotismo e monumentos históricos com a dominação europeia.
operamundi.uol.com.br
A IMPORTÂNCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL PARA O
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

 Segundo Hobsbawm (2009, p. 284), o turismo é essencialmente um


produto da estrada de ferro, do barco a vapor e da magnitude e
rapidez das comunicações postais, sistematizadas
internacionalmente com o estabelecimento da “International Post
Union” (1874), que fizeram do cartão postal uma parte essencial do
processo de criação do turismo.

 Todavia, em meados do século 19, a aristocracia viajava de uma


forma que nada tem em comum com o turismo moderno, pois as
famílias nobres mudavam-se das casas da cidade para as casas de
campo, regularmente nas estações, com um cortejo de empregados
e veículos de carga, como se fossem pequenos exércitos.
AS VIAGENS DE PRAZER DO SÉCULO 19

 Com o capitalismo industrial, conta Hobsbawm (2009, p. 285), se


produziram duas novas formas de viagens de prazer: as viagens
de verão para a burguesia e as pequenas excursões mecanizadas
para as massas (em alguns países, como a Inglaterra).

 Hobsbawm (2009, p. 336) afirma que, economicamente, a


burguesia, em meados do século 19, era composta de
“capitalistas”, isto é, possuidores de capital, recebedores de
renda derivada de tal fonte, empresários em busca de lucro ou
todas essas coisas juntas, sendo que, de fato, o “burguês”
característico ou o membro da classe média desse período incluía
poucas pessoas que não entrassem numa dessas categorias.
http://www.qualviagem.com.br/viagens-sobre-trilhos-as
-rotas-de-trem-classicas-da-gra-bretanha/
SOBRE O CONCEITO DE BURGUESIA NO SÉCULO 19

 De acordo com a nota inserida por Engels na edição


inglesa de 1888 do “Manifesto do Partido Comunista”,
“por burguesia entende-se classe de capitalistas
modernos, proprietários dos meios de produção
social e empregadores de trabalho assalariado”
(Marx e Engels, 1998, p. 68).

 A classe média de então era, segundo Hobsbawm


(2009, p. 337- 338), constituída por negociantes,
proprietários ou “rentiers” (que dirigiam bancos,
estradas de ferro e indústrias), profissionais liberais
(como advogados e médicos) e administradores
públicos profissionais (prefeitos, juízes de campo e
“Les rentiers”
outros magistrados), desde que, todos estes
Laura Sylvia Gosse (1881–1968)
Museums Sheffield indivíduos, fossem abastados e bem estabelecidos.
Progressivamente, conta Clary (1976, p. 129), a pequena burguesia
chega, com gostos e meios diferentes, a integrar a elite que se distingue,
O FENÔMENO TURÍSTICO COMO EXPRESSÃO DA
precisamente, pela “disponibilidade” de tempo e dinheiro.
ECONOMIA LIBERAL

 Para Clary (1976, p. 129), o fenômeno turístico


apareceu como uma expressão perfeita da economia
liberal, pois em sua origem ele foi privilégio de
alguns favorecidos de nascença ou por fortuna.

 Afirma Clary (1976, p. 129) que as transformações


ocorridas no século 19, em decorrência da revolução
industrial, permitiram aos “detentores do poder”
econômico (empreendedores de indústria e
comércio, bem como alguns membros de profissões
liberais) de se beneficiar dos lazeres do mesmo
modo que a aristocracia.
A AGÊNCIA DE VIAGENS DE THOMAS COOK

 De acordo com Urry (1996, p. 43), esta


organização foi fundada em 1841, quando
Thomas Cook fretou um trem de Leicester para
Loughborough, para um encontro sobre
temperança.

 Sua primeira excursão de prazer foi organizada


em 1844, um “pacote” que incluía um guia que
acompanhava o grupo à lojas recomendadas e
para locais de interesse histórico que
mereciam ser “olhados”.

 A agência de viagens de Thomas Cook ainda


existe (http://www.thomascook.com/).
A ORIGEM DO EXCURSIONISMO DE MASSA

 As viagens de um dia para as massas, nasceram na década de


1850, para ser mais preciso, de acordo com Hobsbawm (2009
p. 285), na “grande exibição” de 1851, que atraiu um grande
número de visitantes para Londres, encorajado pelas estradas
de ferro com bilhetes a preços especiais e organizado por
membros de sociedades locais, igrejas e comunidades.

 Segundo Hobsbawm, Thomas Cook (cujo nome iria tornar-se


The Great Exhibition of the Works of Industry of all Nations Hyde Park - 1851.
sinônimo de turismo nos 25 anos seguintes) começou sua
carreira fazendo tais organizações de viagem, um tipo de
negócio que desenvolveu a partir de 1851.
Referências bibliográficas

BOYER, Marc. História do turismo de massa. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2003. 170 p.

CLARY, Daniel. Tourisme et aménagement régional. Annales de Géographie. T. 85. Nº 468. Pais, France : Armand
Colin, 1976. pp. 129-154.

GEMINI, Laura. In viaggio: immaginario, comunicazione e pratiche del turismo contemporâneo. Milano, Italia:
Franco Angeli, 2008. 174 p.

HOBSBAWM, Eric J. A era do capital: 1848-1875. Tradução de Luciano Costa Neto. 14ª edição. São Paulo, SP: Editora
Paz e Terra, 2009. 459 p.

MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. Tradução de Equipe de tradutores das Edições Progresso. Bauru, SP:
EDIPRO, 1998, 112 p.

URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. Tradução de Carlos Eugênio
Marcondes de Moura. São Paulo, SP: Studio Nobel: SESC, 1996. 231 p.

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