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A 2ª FASE DE DIFUSÃO DO TURISMO (do início do século 20 aos dias atuais)

- O papel das celebridades;


- A criação de um turismo para trabalhadores;
- O papel do desenvolvimento econômico e da urbanização.
 Para Knafou (1991, p. 13), a maior parte dos primeiros turistas
manteve-se anônima ou pouco conhecida, mas alguns celebridades
passaram para a posteridade em companhia do lugar que eles
contribuíram para lançar ou se popularizar.

 O personagem célebre é útil, continua Knafou, até mesmo necessário,


para o lançamento do lugar turístico, como alguns criados por
celebridades ou outros que se tornaram famosos, graças a um
personagem conhecido, como a atriz de cinema Brigitte Bardot, que
tornou famoso o balneário francês de Saint-Tropez.

Le port 1960 | Saint Tropez, St Tropez France, Street view


Pinterest
 Na segunda fase de difusão do turismo, segundo Boyer, (de 1920 até
2000), a reputação dos lugares e das práticas do turismo passa a ser
dadas por celebridades, notadamente “estrelas” do cinema, teatro, arte
e literatura (figura 2).

 As novidades se difundiam rapidamente e as viagens turísticas da alta


burguesia, de profissionais liberais, de altos funcionários públicos,
industriais e homens de negócios, tornavam-se mais numerosas.

 Uma “barreira cultural permeável” atinge a pequena burguesia, os


funcionários públicos de escalões mais baixos, os professores,
aposentados e os trabalhadores de status mais privilegiados, como
ferroviários e alguns operários, enquanto, uma “barreira cultura muito
forte”, ainda atinge pequenos comerciantes, artesãos, camponeses e a
grande maioria dos operários (Boyer, 2003, p. 36). Figura 2. Pirâmide sociocultural de difusão do turismo entre 1920 e 2000
O TURISMO COMO PARTE DAS CONQUISTAS TRABALHISTAS

 Nessa fase, a difusão do turismo também se insere no contexto das


conquistas alcançadas pelos trabalhadores em lutas travadas, desde
meados do século 19, como a redução da jornada de trabalho.

 De acordo com Ouriques (2005, pp. 13-14), às vésperas da segunda


guerra mundial, surgiu o descanso semanal remunerado e a
disseminação das férias pagas, proporcionando uma maior
disponibilidade de tempo passível de ser usado para fins turísticos.

 Segundo Ouriques, o descanso remunerado torna-se realidade na


Europa, como um “instrumento de propaganda” da ideologia
nacional-socialista (na Alemanha de Adolph Hitler), como
reconhecimento do direito de “existência do trabalhador” (na
França em 1936), e como marca de “cidadania”, um direito ao lazer
https://gamarevista.uol.com.br/semana/como-descansar/li
nha-do-tempo-a-invencao-do-descanso/ (na Grã-Bretanha).
OS TRABALHADORES E A MASSIFICAÇÃO DO TURISMO

 Segundo Becker (1996, p. 182), após a segunda guerra


mundial, estas conquistas trabalhistas marcaram uma
massificação do turismo, com o estabelecimento do estado
de bem-estar social, o “wellfare state”, a regulação e a
limitação do tempo de trabalho, a instituição das férias e das
aposentadorias, numa sociedade de consumo e com
transportes desenvolvidos.

 De acordo com George (1965, p. 73), o reconhecimento do


direito do trabalhador aos lazeres, e o desejo de usufruir
Piquenique em Itanhaém - Comemoração ao 20º aniversário do SENAI
deles, foi um estímulo extraordinário para o consumo. - 1962 - Chegada na Colônia em Itanhaém. 01/9/1962.

http://www.blogcaicara.com/2013/01/fotos-antigas-colonia-de-ferias-em.html
TURISMO COMO UMA NECESSIDADE HUMANA  Prestação social obrigatória (integração social)

RODRIGUES, A. B. Geografia e Turismo - Notas Introdutórias. REVISTA DO


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA, 6, 71-82. SP: Universidade de São Paulo (USP), 2011.
https://doi.org/10.7154/RDG.1992.0006.0006
O CRESCIMENTO ECONÔMICO E O AUMENTO DO PODER AQUISITIVO NOS
ANOS 1960

 O “turismo de massa”, feito para uma grande parte da população, se


desenvolveu na Europa dos anos 1960, ligado ao crescimento econômico do
pós-guerra, quando se aumentou muito o poder de compra, tornando
possíveis as viagens para um maior número de pessoas.
 Quando este veículo surgiu, na década de 40 do século  Segundo Boyer (2003, p. 10), não se deve subestimar o papel dos transportes
passado, a França e meia Europa estavam em uma situação
econômica e industrial lamentável. no advento do turismo de massa, mas é preciso também considerar que eles
 Havia terminado a Segunda Guerra Mundial e alguns países,
como era o caso da França, estavam completamente não eram meios populares.
destruídos.
 Boyer cita como exemplo os “trens”, que possuíam vagões exclusivos para
 Pouco a pouco, começava a reconstrução industrial de
fábricas, que estavam em ruínas depois da guerra. aqueles que estavam a passeio (os turistas), deixando trabalhadores e
 Naquela época, a Renault estava em mãos do Estado
migrantes se apertarem na terceira classe, o mesmo acontecia com os navios.
francês, que pretendia que a marca continuasse fabricando
modelos industriais, como havia sido até aquele momento.
 Todavia, conta Boyer, o “rei” do turismo de massa foi o automóvel popular
 No entanto, o presidente da empresa francesa, Pierre
Lefaucheux, tinha outros planos: produzir em série um carro (Volkswagen, Citroën 2cv, Renault 4cv, etc.) que dominou a cena durante os
pequeno e de baixo custo para motorizar a França e
devolver à Renault o status de fabricante de carros de “Trinta Gloriosos”, como são chamados os trinta anos que sucederam o fim da
passeio. segunda guerra mundial.
https://www.planetcarsz.com/noticias-de-carros/o-emblematico-renault-4cv-celebra-75-anos
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO

 Segundo Thomas (1988, p. 298), na Inglaterra dos inícios do


período moderno, o gosto pelo campo foi intensificado pelo
enorme crescimento de Londres.

“Em meados do século 18, os donos de hospedarias, vendas de


cervejas e estalagens em Hampstead, Chelsea e outras localidades
nos limites de Londres, podiam sustentar um florescente negócio,
fornecendo refeições para os enxames de excursionistas vindos da
cidade nos finais de semana” (Thomas, 1988, p. 296-297). Piccadilly Circus, 1918. 

https://caosplanejado.com/londres-a-historia-econo
mica-de-uma-cidade-duradoura/
A ORIGEM DA IDEIA DE QUE O CAMPO É MELHOR DO QUE A CIDADE

 Conta Thomas que, no século 18, tornara-se lugar comum sustentar


que o campo era mais bonito que a cidade.

 Parte, essa convicção se devia à deterioração do ambiente urbano,


existindo desde então queixas quanto à qualidade do ar londrino,
devido ao uso crescente do carvão para fins industriais e
domésticos, que criara um sério problema de poluição.

 Guglielmo (1968, p. 217) afirma que a intensificação do trabalho, a


degradação das condições de vida urbana, o ritmo trepidante das
cidades provoca um desgaste nervoso, para o qual se procura
compensação em formas de repouso, como na fuga generalizada
em fins de semana e durante o período de férias.
https://www.portaldozacarias.com.br/site/noticia/voca-sabia-que-no-saculo-xix--londres-era-a-capital-do-m
aior-impario-do-mundo-e-a-mais-imunda-de-toda-a-histaria-/
A EVASÃO TEMPORÁRIA DO MUNDO URBANO

 Se referindo as cidades industriais de meados do século 20,


George (1970 A, p. 134) afirma que as paisagens urbanas
invadem, progressivamente, um espaço que outrora se
reputava precioso para a agricultura, bem como aniquilam
florestas e enfeiam irremediavelmente as praias.

“Prisioneiro desse universo ingrato, inquieto ao ver


ensombrecer-se o céu e carregar-se de fuligem e de óleo o ar
que respira, o citadino quer reconquistar a natureza ou o que
lhe dá a ilusão de natureza” (George, 1970 A, p. 134).

 Entre os aspectos da vida social urbana, George (1983, p.


200) inclui a “evasão”, já que, segundo ele, a cidade
aparece como um local repulsivo quanto ao lazer.
A URBANIZAÇÃO FEZ NASCER O TURISMO DE MASSA

 Segundo George (1983, p. 200), o citadino suporta muito mal a obrigação


de viver de maneira constante no interior da cidade, onde os lazeres
dispõem de um mínimo de soluções organizadas: jardins, campos de
entretenimento e estádios para competições e espetáculos.

 “A urbanização fez nascer o turismo de massa”, afirmou George (1983, p.


201), com os automóveis e os ciclomotores permitindo a evasão coletiva
em pistas “enfumaçadas” pelos gases dos motores e pelas longas horas de
espera na estrada.

 Residir nas grandes aglomerações humanas, afirma George (1970 B, p.


231), gera outras necessidades, mas, sobretudo, a necessidade de escapar,
periodicamente, das armações de cimento, da atmosfera do escapamento
de gás, da monotonia de uma paisagem geométrica de detalhes uniformes.
A INTESIFICAÇÃO DO CONSUMO NO PÓS-GUERRA

 Segundo Guglielmo (1968, p. 217), nos anos 1950-1960, o consumo


aumentou em função da pressão exercida pelos produtores e
comerciantes sobre os consumidores, notadamente com o
aperfeiçoamento das técnicas de estudos de mercado e da venda a
crédito, bem como pela evolução dos meios de difusão da publicidade.

 Bens e serviços, antes restritos a minorias, começaram a ser produzidos


para um “mercado de massa”, como o setor de “viagens a praias
ensolaradas”, como explica Hobsbawm (1995, p. 259):

Imagem de turistas no mar e guarda sol nas areias da bela praia.


Antes da guerra, não mais de 150 mil norte-americanos viajaram para a América Foto de Ricardo Junior
Central ou o Caribe em um ano, mas entre 1950 e 1970, esse número cresceu de 300
mil para 7 milhões. Os números para a Europa foram, sem surpresa, ainda mais www.guiaviagensbrasil.com
espetaculares. A Espanha, que praticamente não tinha turismo de massa até a
década de 1950, recebia mais de 44 milhões de estrangeiros por ano em fins da
década de 1980, um número ligeiramente superado pelos 45 milhões da Itália.
MAIS DE 1 BILHÃO DE TURISTAS VIAJAM PELO MUNDO TODOS OS ANOS

 Sustentam um setor econômico que em escala mundial gera centenas de milhões de


empregos.

“Atividades Características do Turismo” (ACTs)

 Agenciamento de viagens, transportes, hospedagem, alimentação, cultura e lazer.

 TURISMO FOI A 3ª CATEGORIA DE EXPORTAÇÃO DO MUNDO (UNWTO, 2019)


Receitas advindas de gastos de turistas: acima dos U$ 1,5 trilhões em 2017
 Menores apenas das advindas de produtos químicos e combustíveis (U$ 2 trilhões cada).
 Maiores do que as advindas de produtos automotivos e de alimentos (U$ 1,4 trilhões cada).
Receitas do turismo cresceram proporcionalmente mais do que o PIB mundial nesta década
ECONOMIA DO TURISMO INTERNACIONAL (2017-2018)

World Tourism Organization (2019), International Tourism


Highlights, 2019 Edition, UNWTO, Madrid, DOI: 
https://doi.org/10.18111/9789284421152
ECONOMIA DO TURISMO INTERNACIONAL (2018)

World Tourism Organization (2019), International Tourism Highlights, 2019 Edition, UNWTO,


Madrid, DOI: https://doi.org/10.18111/9789284421152
ECONOMIA DO TURISMO INTERNACIONAL (2018)

Economia global relativamente forte.


Classe média crescente em economias emergentes.
Avanços tecnológicos.
Novos modelos de negócios.
Custos de viagens acessíveis.
Facilitação de vistos.

World Tourism Organization (2019), International Tourism Highlights, 2019 Edition,


UNWTO, Madrid, DOI: https://doi.org/10.18111/9789284421152
Indicação de leitura:
Referências bibliográficas

BECKER, Bertha. Políticas e planejamento do turismo no Brasil. Turismo: espaço, paisagem e cultura. YÁSIGI, E.;
CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C. A. (Orgs). São Paulo, SP: Hucitec, 1996. p. 181-193.

BOYER, Marc. História do turismo de massa. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2003. 170 p.

GEORGE, Pierre. Geografia do consumo. Coleção Saber Atual. Tradução de Djalma Forjaz Neto. São Paulo, SP:
Difusão Européia do Livro, 1965. 119 p.

GEORGE, Pierre. A ação do homem. Tradução de Octavio Mendes Cajado. São Paulo, SP: Difusão Européia do Livro,
1970 A. 214 p.

GEORGE, Pierre. Panorama do mundo atual. Tradução de Pedro de Alcântara Figueira. 3ª edição. São Paulo, SP:
Difusão Européia do Livro, 1970 B. 255 p.

GEORGE, Pierre. Geografia urbana. Tradução de Grupo de Estudos Franceses de Interpretação e Tradução. São Paulo,
SP: DIFEL – Difusão Editorial S. A., 1983, 236 p.

GUGLIELMO, Raymond. Um novo capítulo da Geografia: a Geografia do consumo. A Geografia Ativa. GEORGE,
Pierre; GUGLIELMO, Raymond; LACOSTE, Yves; KAYSER, Bernard (Orgs.). Tradução de Gil Toledo, Manuel Seabra,
Nelson de La Corte e Vincenzo Bochicchio. 2ª edição. São Paulo, SP: Difusão Européia do Livro, 1968. pp. 213-260.

HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2ª edição. Tradução de Marcos Santarrita. São
Paulo, SP: Companhia das Letras, 1995. 598 p.

KNAFOU, Rémy. L’invention du lieu touristique : la passation d’un contrat et le surgissement simultané d’un nouveu
territoire. Revue de Géographie Alpine. Nº 4, 1991. pp. 11-19.
Referências bibliográficas

OURIQUES, Helton Ricardo. A produção do turismo: Fetichismo e dependência. Campinas, SP: Editora Alínea, 2005.
159 p.

RODRIGUES, A. B. Geografia e Turismo - Notas Introdutórias. REVISTA DO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA, 6, 71-


82. SP: Universidade de São Paulo (USP), 2011. https://doi.org/10.7154/RDG.1992.0006.0006

THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-
1800). Tradução de João Roberto Martins Filho. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1988. 454 p.

URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. Tradução de Carlos Eugênio
Marcondes de Moura. São Paulo, SP: Studio Nobel: SESC, 1996. 231 p.

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