presente (olhando para ele) e do passado (recordando-o). Nas últimas décadas, porém, nasceu a consciência de que a ciência se deve ocupar também do futuro (percebendo-o e preparando-o), o que tem conduzido, sobretudo no Ocidente, ao florescimento dos chamados estudos prospectivos. INTRODUÇÃO É este o contexto do enquadramento da disciplina de “A Humanidade e o Futuro”. Esta disciplina é, assim, guiada por um fio- condutor em duas vertentes: a) A primeira delas é reflectir sobre os grandes temas em que se acredita vir a jogar-se o futuro da humanidade (novas tecnologias, a ecologia, a ética, os direitos humanos, o espírito criativo (poético) do homem, a Globalização, a Nova religiosidade). INTRODUÇÃO b) Estes fenómenos (segunda vertente) relevam uma tentativa de mudança de paradigma nos modos de entender o mundo, o homem e a ciência, procurando superar o paradigma físico-matemático (o fim do programa de Francis Bacon) em favor de uma inteligência da complexidade (Edgar Morin INTRODUÇÃO AO ESTADO ACTUAL DO MUNDO 1.1.COSMOLOGIA
• A introdução de Edgar Morin em “O Desafio do século XXI
reza o seguinte: • “… todas as civilizações, todas as comunidades tiveram uma concepção do mundo e a preocupação de situarem, de inscreverem os seres humanos dentro do cosmos. Ora, há cerca de quarenta anos que estamos perante um mundo singularmente novo…” • “… daí provém esta situação paradoxal que devemos assumir cada vez mais. Somos filhos do cosmos e, ao mesmo tempo, tal como dizia Jacques Monod, nele somos “ciganos”. • Estamos distantes e somos distintos dele pela nossa cultura, pelo nosso espírito, pelo nosso pensamento, pela nossa consciência, e é este distanciamento que nos permite tentarmos conhecê-lo e interrogá-lo. • Falar do “ estado actual do mundo”, é reflectir sobre o interrogativo: “como imaginamos o mundo que nos rodeia actualmente?” Neste particular situa-se o contributo de Jacques Labeyrie. • Apresentemos duas grandes ideias que nos permitem imaginar o cosmos, as quais remontam a um passado muito distante. Citemos duas enormes conquistas científicas: • • PRIMEIR IDEIA: A compreensão de que a terra é redonda, que gira sobre ela mesma todos os dias e que também gira todos os anos em redor do sol (Aristarco de Samos, séc.III a.C., em Alexandria). • Aristarco de Samos foi um astrônomo e matemático grego, sendo o primeiro cientista a propor que a Terra gira em torno do Sol (sistema heliocêntrico) e que a Terra possui movimento de rotação. Por tal afirmação, foi acusado de impiedade por Cleanto, o Estoico. • Apenas uma obra sua é conhecida: sobre os tamanhos e distâncias entre o sol e a lua. Também tentou determinar as distâncias e os tamanho entre o sol e a lua. As suas conclusões sobre a organização do sistema Solar, mesmo sendo simples, são admiradas ainda hoje pela sua coerência. Embora obtivesse muitos erros em seus resultados, o problema estava mais nos instrumentos utilizados por ele do que nos métodos, que eram correctos. • Aristarco tinha bom senso. Para ele, seria mais natural supor que um astro menor girasse em torno de um maior, que era uma opinião diferente da dos seus antecessores. Todavia, a afirmação heliocêntrica não aparece neste trabalho.Na verdade, ela é conhecida através de uma referência feita por Arquimedes no seu Arenário. A teoria heliocêntrica só ganhará reconhecimento e validade mais de 1000 anos depois, com Copérnico. • 2ª Medicão do raio da Terra – e, portanto, a circunferência -, com óptima precisão (Erastóstenes, outro grego do Egipto, séc. II a. C). • Nicolau Copérnico – 17 séculos depois de Aristarco descobre que o sol está no centro do Universo (heliocentrismo). • O alemão Johannes Kepler determina as três leis sobre a revolução dos planetas. • 1ª Lei: Os planetas descrevem órbitas elípticas com o sol num dos focos. Esta lei definiu que as órbitas não eram circunferências, como se supunha até então, mas sim elipses. A distância de um dos focos até ao objecto, mais a distância do objecto até ao outro foco, é sempre igual, não importando a localização do objecto ao longo da elipse. • 2ª Lei: A linha que liga o planeta ao sol descreve áreas iguais em tempos iguais (lei da áreas). Esta lei determina que os planetas se movem com velocidades diferentes, dependendo da distância a que estão do sol. • 3ª Lei: os quadrados dos períodos de revolução (T) são proporcionais aos cubos das distâncias médias (a) do sol aos planetas. Esta lei indica que existe uma relação entre a distância do planeta e o período de translação (tempo que ela demora para completar uma revolução em torno do sol). Portanto, quanto mais distante estiver do sol mais tempo levará para completar sua volta em torno desta estrela. • Galileu Galilei, perto de Florença, observa a lua pela primeira vez e os maiores satélites do Júpter por meio de um telescópio ; experimenta igualmente a lei da queda dos corpos. • As três leis de Kepler do movimento planetário desafiaram a astronomia e a física de Aristóteles e Ptolomeu. Sua afirmação de que a terra se movia, seu uso de elipses em vez de epiciclos, e sua prova de que as velocidades dos planetas variavam, mudaram a astronomia e a física. • Isaac Newton, em Londres, compreende que a luz branca é composta por luzes coloridas, mas também que a massa atrai a massa, o que é uma ideia extraordinária. Quando ele realizou estudos sobre o movimento que a lua descreve, concluiu que a mesma força que atrai os objectos para a superfície da terra é exercida pela terra sobre a lua, mantendo-a em órbita em torno da terra. • Chamou estas forças de gravitacionais. Para ele, essas forças eram responsáveis por manter os planetas em órbita em volta do sol. • Com base nas leis de Kepler, Newton conseguiu descobrir um resultado que é válido para todo o Universo, constituindo a Lei de Gravitação Universal, enunciadas assim: • Dois pontos materias de massa1 e massa2, atraem-se mutuamente com forças que têm a mesma direcção da recta que os une e cujas intensidades são directamente proporcionais ao produto das suas massas e inversamente proporcionais ao quadrado da distância que os separa. Para compreendermos melhor, vamos estudar de forma resumida as três leis de Newton: • 1ª Chamada Lei de inércia, diz o seguinte: • “Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em sua linha recta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele • A lei da inércia também explica o surgimento das forças inerciais, isto é, as forças que surgem quando os corpos estão sujeitos a alguma força capaz de produzir neles uma aceleração. Por exemplo, ao pisar no acelerador do carro, um motorista pode sentir-se comprimido em seu banco como se houvesse uma força puxando-o para trás. Na verdade, o que ele sente é a expressão de sua inércia, ou seja, a tendência que seu corpo tem de permanecer parado ou em velocidade constante.Além disso, quando maior for a massa de um corpo, maior será sua inércia. • Um corpo permanecerá em repouso ou em movimento rectilínio uniforme, a menos que uma força resultante seja aplicada sobre ele. 0 2ª Também conhecida com lei de superposição de forças ou como Princípio Fundamental da Dinâmica, traduzida de sua forma original, é representada abaixo: “A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida e é produzida na direcção de linha recta na qual aquela força é aplicada”. Esta lei informa que o módulo da aceleração produzida sobre um corpo é directamente proporcional ao módulo da força aplicada e inversamente proporcional à sua massa. • 3ª Também chamada de Acção e Reacção, relaciona as forças de interacção entre dois corpos. Quando um objecto A exerce uma força sobre um outro objecto B, este outro objecto B vai exercer uma força de mesma intensidade, mesma direcção e sentido contrário sobre o objecto A. • Como as forças são aplicadas sobre corpos diferentes, elas não se equilibram. • Exemplos: • Ao disparar um tiro, um atirador é impulsionado em sentido contrário da bala por uma reacção ao disparo. Na colisão entre um carro e um camião, ambos recebem a acção de força de mesma intensidade e sentido contrário. Contudo, verificamos que a acção dessas forças na deformação dos veículos é diferente. • A Terra exerce uma força de atracção sobre todos os corpos próximos à sua superfície. • Olatis Romer, no Observatório de Paris, descobre que a luz tem uma velocidade e consegue medi-la. • O francês Pierre Simon de la Place imagina que o sistema solar é oriundo de uma nuvem de poeira cósmica – HIPÓTESE NEBULAR. Essa teoria foi sugerida pelo filósofo alemão Emmanuel Kant em 1775 e desenvolvida em 1796 pelo matemático francês Pierre Simon Laplace no seu livro Exposition du Sistéme du Monde. Segundo essa teoria, o Sistema Solar teria sido originado há cerca de 4,5 bilhões de anos a partir de uma vasta nuvem de gás e poeira – uma nebulosa. • Esse processo teria evoluido na segunte sequência: • 1. Contracção da nebulosa graças à existência de uma força de atracção gravitacional gerada pelo aumento de massa em sua região central.Esta contracção teria provocado um aumento da velocidade de rotação. O calor gerado no interior dessa nebulosa é tal, que desencadeia reacções químicas e físicas que a fazem brilhar. • Nestas condições de elevada temperatura, a Terra e outros planetas terão sofrido dois fenómenos que contribuíram para a sua configuração actual: a diferenciação e a desgaseificação. • A diferenciação, resultante do movimento dos materiais mais densos para o interior da Terra, por acção da força de gravidade. • A desgaseificação, libertação de grandes quantidades de vapor de água e outros gases do seu interior. • Evidências: • Os planetas mais próximos do sol são essencialmente constituídos por materiais mais densos e com pontos de fusão mais altos (silicatos, ferro e níquel), enquanto os mais afastados são ricos em elementos gasosos (hidrogénio e hélio). • 2.Achatamento até à forma de disco, com uma massa densa e luminosa de gás em posição central, o proto-sol , correspondente a 99% da massa da nebulosa; • 3. Durante o arrefecimento do disco nebular em torno do proto-sol houve condensação dos materiais da nébula em grão sólidos. As regiões situadas na periferia arrefeceriam mais rapidamente que as próximas da estrela em formação. • Uma vez que a cada temperatura corresponde à condensação de um tipo de material com determinada composição química , teria acontecido uma separação mineralógica de acordo com a distância do sol; • 4. Em cada uma das zonas do disco assim formadas, a força de gravidade provocaria a aglutinação de poeiras, que formariam pequenos corpos chamados planetesimais • A principal contribuição moderna à hipótese nebular diz respeito principalmente à formação dos planetas a partir do gás existente no disco nebular e é de autoria do físico alemão Carl Friedrich von Weizsäcker.(1912- 2007). • Portanto, foram estes gigantes do pensamento científico que construíram a nossa concepção actual do cosmos. Mais próximos do nosso tempo sublinha-se:
• Edwin Hubble, americano (1930) que
demonstra que o vermelho do espectro das estrelas é proporcional à sua distância. Donde se depreende que o universo ou está em expansão, e portanto, foi mais condensado ou que uma interacção ainda desconhecida afecta, com o passar do tempo, a energia dos raios luminosos. Os interrogantes que daí advêm explicam a teoria do Big Bang. • O químico John Dalton (1776-1844), em Manchester, reinventa a teoria atómica, doravante baseada em medidas reais.As diversas substâncias conhecidas vêm das diversas combinações dos átomos. • Ernest Rutherford (1871-1937), ainda em Manchester, descobre o núcleo do átomo e a maneira como se pode transformá-lo, ou seja como se faz a sua síntese. • O uso das sondas espaciais para o conhecimento da superfície dos planetas, desembarcando na Lua, em Marte e em Vênus; no total, uma dúzia de homens pôs os pés na Lua. Sabe-se que a Lua, Marte e os meteoritos têm a mesma idade que a Terra: 4,5 mil milhões de anos ( e há quase a certeza de que isto se aplica a todos os outros planetas e ao próprio sol). • Antoine Henri Becquerel, físico francês (1852-1908), no Museu de História Natural de Paris, descobre a radioactividade da matéria, o que também permitiu compreender de onde vem o calor das estrelas e a produção de ergs/segundo pelo sol e a quantidade que queima ao mesmo tempo. Os átomos mais pesados surgem na fase final da vida das estrelas mais pesadas, numa explosão cintilante; a síntese se produz num instante e, em seguida, serão projectados em poeira no espaço. • Portanto, o estudo do cosmos distante permitiu observar factos que modificaram, fortemente, a nossa visão do mundo, mesmo se temos dificuldade em compreender bem determinados fenómenos que estão muito além daquilo que se pode realizar nos laboratórios. Mas também temos o impacto provocado pela da teoria da relatividade geral de Albert Einstein, físico teórico alemão, um dos pilares da física moderna, ao lado da mecânica quântica. • 1. PRIMEIRO POSTULADO (princípio da relatividade): • As leis que governam as mudanças de estado em quaisquer sistemas físicos tomam a mesma forma em quaisquer sistemas de coordenadas inerciais.Por outras palavras, as leis da física são as mesmas para todos os observadores em qualquer sistema de referenciais, isto é, independentemente do referencial adoptado, as leis da natureza terão a mesma forma. • 2. SEGUNDO POSTULADO (invariância da velocidade da luz ) • A luz tem velocidade invariante igual a c em relação a qualquer sistema de coordenadas inercial. A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores em referenciais inerciais e não depende da velocidade da fonte que está emitindo a luz, tampouco do observador que a está medindo. Isto é, a velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor para todos os observadores independentemente do seu momento ou do movimento da sua fonte. • Desde o início deste século que a Física é tão dominada pelo estudo das partículas elementares de matéria (os átomos e os electrões, em primeiro lugar) como das de luz (os fotões). • Uma das consequências mais evidentes destes estudos novos é a do mundo dos semicondutores e do desenvolvimento quase imediato da informática que se seguiu.