forma de fé e devoção ao sagrado. É um sistema de culto que busca aproximar os seres humanos de entidades consideradas possuidoras de poderes sobrenaturais. As pessoas geralmente se engajam em práticas religiosas ou mantêm a fé como meio de superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Além disso, a religião também pode ser vista como um conjunto de princípios, crenças e práticas doutrinárias. Essas são frequentemente baseadas em textos considerados sagrados e servem para unir seus seguidores em uma comunidade moral, muitas vezes referida como Igreja. As religiões variam amplamente em suas fundações e práticas. Algumas podem se basear em análises filosóficas que buscam explicar nossa existência e propósito no mundo. Outras podem enfatizar a fé como um princípio central. Ainda outras podem se concentrar em extensos ensinamentos éticos. Em suma, a religião é uma faceta complexa e multifacetada da experiência humana. A “religião” é geralmente entendida como um sistema organizado de crenças e práticas que um indivíduo segue para expressar sua fé em Deus (ou deuses). Isso pode incluir rituais, textos sagrados, e estruturas comunitárias. Religiosidade Embora os termos “religiosidade” e “religião” possam parecer semelhantes e possam confundir muitas pessoas, eles têm significados distintos no contexto. Por outro lado, a “religiosidade” refere-se à relação pessoal e subjetiva que um indivíduo tem com sua fé. Isso pode envolver uma disposição ou tendência para refletir sobre os aspectos da atividade religiosa, independentemente da religião específica que o indivíduo segue. A religiosidade abrange sentimentos religiosos e a inclinação que o indivíduo tem em relação ao sagrado. Ela representa uma forma de conhecimento que difere do racional, integrando a fé como um valor de verdade. Isso sugere que a religiosidade pode ser vista como uma dimensão mais interna e pessoal da experiência religiosa. Religiosidade e Espiritualidade Embora os termos “religiosidade” e “espiritualidade” possam ser usados de maneira intercambiável em algumas conversas, eles têm nuances distintas. A “religiosidade” refere-se à maneira como um indivíduo reflete sobre a vida religiosa e suas ações. Isso pode envolver a participação em rituais religiosos, a adesão a certos preceitos morais e éticos, e a identificação com uma comunidade de fé específica. Por outro lado, a “espiritualidade” é frequentemente entendida como uma busca pela verdadeira essência da experiência religiosa. Isso pode envolver uma conexão mais profunda com o divino, uma comunhão e partilha com os outros, e uma busca por um sentido transcendental na vida. Em resumo, enquanto a religiosidade pode ser vista como uma expressão externa e comunitária da fé, a espiritualidade é freqüentemente associada a uma jornada interna e pessoal em busca de significado e conexão. Diversidade Religiosa É um termo que se refere à vasta gama e variedade de religiões existentes no mundo. Pode ser observada no cotidiano, quando, em uma mesma região, existem locais de culto e rituais de diferentes tradições religiosas. Além disso, a diversidade religiosa é um reflexo da liberdade religiosa dos indivíduos e da valorização de todas as expressões de fé. Ela reconhece que não existe uma única religião que seja universalmente aceita como verdadeira ou superior às demais. Assim como existem diferentes locais e culturas, existem também diferentes religiões e sistemas de crenças. O conceito de “respeito à diversidade religiosa” surgiu como uma resposta à intolerância entre diferentes grupos religiosos. Isso é particularmente relevante em contextos onde grupos religiosos acreditam em uma única forma de fé e não aceitam ou respeitam outras tradições religiosas. Este princípio de respeito à diversidade religiosa é protegido por lei em muitos países, incluindo o Brasil, com o objetivo de promover o respeito mútuo entre diferentes tradições religiosas, suas práticas e seus seguidores. Diversidade religiosa no Brasil O Brasil é um país conhecido por sua rica diversidade religiosa, resultado de uma ampla miscigenação cultural decorrente dos diversos processos imigratórios que ocorreram ao longo de sua história. As religiões africanas e a chegada dos escravizados As religiões africanas foram introduzidas no Brasil como resultado do tráfico de escravizados vindos do continente africano, que se iniciou no século 16 e se estendeu até o século 19, marcando um período sombrio em nossa história. Assim como as músicas de origem africana, que foram perseguidas no Brasil por muito tempo, as religiões também foram, pois eram consideradas pagãs. Como forma de resistência, as religiões africanas começaram a se mesclar com outras crenças, como o catolicismo, para continuar sendo praticadas. Matrizes da Religiosidade Brasileira A primeira matriz religiosa do Brasil foi a indígena. Antes da invasão portuguesa em 1500 o Brasil era habitado por mais de mil etnias indígenas, não podemos dizer que havia apenas uma religião indígena, porque os povos originários (indígenas) brasileiros em toda a sua diversidade e riqueza cultural possuíam e possuem uma enorme variedade de religiosidades, visto que são muitos povos com costumes e dialetos diferentes. Todas as religiosidades indígenas tem em comum a ligação com a natureza e a ancestralidade. A segunda matriz religiosa do Brasil foi o cristianismo católico. O catolicismo romano chegou ao Brasil no início da colonização portuguesa, foi difundido por meio das missões jesuíticas, os padres jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 com o objetivo de catequizar os povos indígenas (converter os indígenas ao catolicismo) e ensinar o português. Os portugueses não reconheciam as tradições indígenas como uma religião, os jesuítas vieram ao Brasil para fazer com que os povos originários perdessem seus costumes, dialetos, crenças e seguissem a religião europeia. Os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1759 acusados de insuflar os indígenas contra o domínio de Portugal. A terceira matriz introduzida no Brasil foi a matriz africana. As tradições africanas chegaram ao Brasil por meio do processo de escravização. Diferentes povos africanos foram escravizados e trazidos para o Brasil, como os Bantos e os Nagôs. Além da crueldade com a qual eram tratados, os africanos não podiam praticar suas crenças porque os senhores de engenho demonizavam tudo o que vinha dos negros, assim como aconteceu com os indígenas, os africanos também foram obrigados a deixar suas tradições para seguir a religião católica que era a religião da elite brasileira. A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há 135 anos, não pode ser apagada e suas conseqüências não podem ser ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro. A maior parte dos escravos vindos da África Centro- Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados. A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos – sudaneses muçulmanos e bantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio. Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Contudo, os africanos resistiram nas senzalas e quilombos, a presença de elementos africanos na cultura brasileira é notória nas artes, hábitos, culinária e no sincretismo religioso (é a mistura de uma ou mais crenças religiosas). Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. A população brasileira é predominantemente cristã, com uma grande maioria católica, um legado da colonização portuguesa. De fato, o catolicismo foi a religião oficial do Estado brasileiro até 1890, quando o Decreto nº 119-A estabeleceu a laicidade do Estado, separando assim a religião do Estado Até 1890, outras religiões e crenças podiam existir no Brasil, mas a liberdade de culto era restrita. Isso significa que religiões diferentes do catolicismo não podiam realizar cultos ou rituais públicos. Hoje, o Brasil abriga uma variedade de tradições religiosas, incluindo o espiritismo, o protestantismo, o budismo e as religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda. A Constituição Brasileira (artigo 5º, VI) garante a inviolabilidade da liberdade de consciência e de escolha de religião, bem como a proteção legal dos locais de culto e suas liturgias. O Brasil possui várias tradições religiosas, e é importante lembrar que vivemos em um estado laico, onde todas as religiões devem ser respeitadas. Falar sobre as matrizes da religiosidade brasileira além do conhecimento possibilita o exercício da cidadania e do respeito, como também amplia nossos horizontes como cidadãos conscientes. Em tempos de crises sociais, intolerância e muitos conflitos, o estudo dessas matrizes é um modo de superação do grande desafio da humanidade: vivermos juntos em paz com respeito a diferenças. Existem muitas religiões de matriz afro no Brasil, além do candomblé e da umbanda. Em sua pesquisa de doutorado, o professor Juarez Xavier categorizou essas religiões em três grupos: Afro-brasileiras: São as religiões de matriz africana que sofreram algumas alterações ao chegar ao Brasil. Um exemplo é o candomblé de caboclo, praticado no Recôncavo Baiano. Brasileiras: Foram criadas no Brasil, mas possuem influência afro. A umbanda, que é uma síntese de diversas matrizes (africana, indígena e kardecista), está entre elas. Afrodescendentes: Reivindicam suas raízes afro, pois mantiveram os mesmos processos de organização das religiões da África. Incluem a tradição iorubá (ketu e nagô), a tradição bantu (bate folha) e a jejê (terreiro do Bogum). Religiões Africanas A maioria dos africanos é adepta do cristianismo ou do islamismo. Os povos africanos, muitas vezes, combinam a prática de sua crença tradicional com a prática de religiões abraâmicas, nome dado para as religiões monoteístas, que são difundidas por toda a África. Em 2002, os cristãos formavam 40% da população do continente africano, com os muçulmanos somando 45%. Muitos povos africanos têm hoje um patrimônio religioso misto, a fim de tentar conciliar as religiões tradicionais do continente com religiões abraâmicas. os missionários que foram pregar o Cristianismo para os africanos tinham bastante medo do sincretismo e fizeram de tudo para tentar manter o cristianismo “puro”, mas a mistura de crenças acabou sendo inevitável. Alguns estudiosos de religiões, firmam que o sincretismo africano se originou devido um mal-entendido na capacidade das populações locais de formar suas próprias ortodoxias e também por causa de confusão sobre as definições de cultura e religião. Outros afirmam que o termo sincretismo é vago e que pode ser usado para se referir a substituição ou modificação dos elementos centrais do cristianismo ou do islamismo com crenças ou práticas de algum outro lugar. Independente de qual afirmação esteja correta, religião e cultura sempre andaram juntas. As crenças de um povo são parte importante de sua cultura e devem ser respeitadas. Por mais que as religiões africanas sejam frutos de uma mistura, elas possuem características únicas, que marcam as pessoas de cada região. A cultura e as religiões brasileiras tem influência da África, principalmente por conta da vinda de escravos para cá em séculos passados. A cultura de um povo é tão viva quanto ele e, por isso, essas misturas são tão comuns. Nas senzalas, os escravizados mantinham, sempre que possível e de maneira secreta, a realização de seus rituais nos terreiros (templos). As religiões afro-brasileiras são diversas, com algumas mantendo-se mais próximas às raízes africanas, como o Candomblé, enquanto outras, como a Umbanda, se fundiram a outras crenças. A liberdade de expressão e de culto são direitos fundamentais garantidos tanto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos quanto pela Constituição Federal do Brasil. No entanto, entre 2011 e 2015, o Brasil registrou 697 denúncias de intolerância religiosa, sendo as religiões afro-brasileiras o principal alvo dessas queixas, como Mãe Gilda. Ialorixá do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador. Em meio a uma indiferença e desrespeito generalizados, particularmente em relação às religiões africanas, o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa” foi instituído em 21 de janeiro de 2007, oficializado pela Lei nº 11.635/2007. A data homenageia a sacerdotisa Gildásia dos Santos e Santos, conhecida Mãe Gilda faleceu de enfarte após ver sua foto publicada em um jornal de uma igreja evangélica, acompanhada de um texto depreciativo. Semanas antes, o terreiro de Mãe Gilda havia sido invadido por evangélicos. Esta rica tapeçaria de tradições religiosas reflete a complexidade e a resiliência da cultura afro-brasileira. Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de intolerância no Brasil? (BBC Brasil, 21/01/2016) Dados compilados pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) mostram que mais de 70% de 1.014 casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados no Estado entre 2012 e 2015 são contra praticantes de religiões de matrizes africanas. A BBC Brasil teve acesso ao relatório da CCIR e ouviu especialistas sobre as razões da hostilidade contra as religiões de origem africana e o que pode ser feito. Para eles, há duas explicações. Por um lado o racismo e a discriminação que remontam à escravidão e que desde o Brasil colônia rotulam tais religiões pelo simples fato de serem de origem africana, e, pelo outro, a ação de alguns movimentos neo-pentecostais que nos últimos anos teriam se valido de mitos e preconceitos para “demonizar” e insuflar a perseguição a umbandistas e candomblecistas. Como podemos invocar o nome de Deus, Javé, Eloim, Allah, Braman, Olorum, Oxalá, Tupã, Mawu, Zambi, Jahbulon, Akazarus, entre tantos outros nomes nas diversas religiões, quando desrespeitamos a religião do outro? O Artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 afirma que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, com destaque para o Inciso VI, que declara inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Portanto, fica a reflexão: cada um respeitando o Sagrado do outro.