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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E CONSERVAÇÃO DO

PATRIMÔNIO CULTURAL

As políticas de preservação do patrimônio audiovisual no Brasil


Estudo de Caso: Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte (MIS-BH)

Disciplina: Aspectos Legais da Proteção e Gestão do Patrimônio


Professora: Maria Cristina Rocha Simão
Aluno: Lucas Moraes Costa
INTRODUÇÃO

 O esforço deste estudo será o de tangenciar, nas fronteiras dialógicas existentes entre a
História, Gestão, Conservação e Museologia, como o desenvolvimento do cinema
analisado através do espectro da memória, tem como sua consequência mais imediata, a
formação de um vastíssimo patrimônio de alto valor cultural.
 A partir deste ponto, se aceitamos a conformação de um patrimônio audiovisual, isto
implica que, tanto do ponto de vista histórico quanto museológico, é necessário pensarmos
no estabelecimento de políticas culturais para sua preservação e divulgação.
 Assim, este trabalho interessa-se particularmente por refletir sobre este processo, bem
como sobre elaboração de políticas patrimoniais que visem à preservação da memória
audiovisual.
 Para efeitos de análise, optamos no presente estudo em abordar as políticas de preservação
de acervo do antigo Centro de Referência Audiovisual – CRAV que, após passar por
reformulação de sua estrutura e redirecionamento de suas funções institucionais tornou-se
o atual Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte (MIS-BH).
A constituição de um acervo audiovisual

O entendimento a cerca de um acervo ou documento audiovisual pressupõe a observância daqueles aspectos que o
diferenciam dos demais tipos de suporte.

 Alguns destes aspectos estão ligados à própria produção deste tipo de


documento, suas possibilidades de difusão e compreensão que, diferente
de outras tipologias documentais, necessitam de aparatos técnicos e
tecnológicos para seu devido funcionamento. Assim, o que seria por
definição um documento audiovisual?
 Marco Dreer Buarque, analista de documentação e informação do
CPDOC da Fundação Getúlio Vargas nos oferece esta sucinta, mas precisa
definição,
Os documentos audiovisuais se caracterizam por conter sons e/ou imagens
em movimento dispostos em um suporte (fita cassete, fita Beta, CD, DVD
etc.). Ao contrário de um documento escrito ou fotográfico, os suportes,
para serem gravados, transmitidos e compreendidos, necessitam de um
dispositivo tecnológico.
 No caso específico do Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte (MIS-BH), a
política de acervo institucional devido a transição de Centro de Referência para Museu,
ainda está em processo de definição em relação às normatizações que competem ao MIS–
BH e a constituição das coleções que integram o acervo da instituição.
 Até 2016 o acervo do museu era composto por coleções diversificadas, entre produções
cinematográficas e vídeos, sendo 41.388 películas em diversas bitolas
(8mm,16mm,35mm), a coleção videográfica com 5621 itens, nos formatos analógicos
(VHS, SVHS, U-matic, HI-8, Betacam, Mini-DV, DVD) e digitais. Fonográfico contendo
entre disco de vinil, fita cassete e CD, 661 exemplares. Além disso são preservados e
difundidos uma grande parte do acervo composto por materiais iconográficos, 1700 itens
no total, bibliográficos incluindo livros, catálogos e periódicos somando 1038 itens,
fotográfico totalizando 29.098 registros. O MIS-BH possui entre o seu acervo objetos
tridimensionais (256 bens), projetores, filmadoras, coladeiras, enroladeiras, etc.
Implementação de Políticas de Proteção do Patrimônio Audiovisual

 a despeito da larga produção de filmes no mundo inteiro, a conscientização em relação à


necessidade de preservação destes tipos de acervo é relativamente recente.
 A conformação de um pensamento sistematizado acerca de políticas de preservação de
acervos audiovisuais no mundo, remonta à inciativa da UNESCO que, em 1980 aprovou
em sua 21ª Conferência Geral a A Recomendação sobre a Salvaguarda e Conservação das
Imagens em Movimento, documento elaborado pela FIAF (Federação Internacional dos
Arquivos Filmográficos). No ano de 1992 a UNESCO cria o Programa Memória do
Mundo (MOW) e, apesar de não ser especificamente voltado para o patrimônio
audiovisual, o MOW contempla estes acervos. Realizada em Belgrado na Sérvia entre os
dias 23 de setembro a 28 de outubro de 1980.
 De acordo com Carlos Roberto de Souza, no Brasil, as políticas de preservação dos
acervos cinematográficos começam a partir dos anos de 1940 com a criação da
‘’associação privada – Clube de Cinema de São Paulo (1946) –, passou em seguida a
departamento de uma associação privada – Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São
Paulo (1949). Desligada dessa, transformou-se em entidade autônoma – Associação Civil
Cinemateca Brasileira (1956). Para que pudesse assinar um convênio com o governo do
Estado de São Paulo mudou seu estatuto jurídico para o de fundação – Fundação
Cinemateca Brasileira (1961). Como “entidade autônoma” foi incorporada à Fundação
Nacional Pró-Memória do Ministério da Educação e Cultura, mediante salvaguardas que
lhe garantiam autonomia administrativa e de gestão sobre o acervo (1984). Passou, ainda
como vinculada à FNPM, ao âmbito do Ministério da Cultura (1985). Foi vinculada ao
Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (1991) quando da extinção do Ministério da
Cultura e criação da Secretaria de Cultura da Presidência da República. Com a recriação
do Ministério da Cultura, passou a órgão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (1992). Finalmente (2003), tornou-se órgão da administração direta, vinculada à
Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.’’
 Ao falarmos de preservação da memória e do patrimônio audiovisual há que se considerar
que em termos gerais, a história deste patrimônio e deste tipo de acervo no mundo é
marcada por grandes e inestimáveis perdas.
 Só na Cinemateca Brasileira – a maior da América Latina – já ocorreram cinco grandes
incêndios: 1957, 1969, 1982, 2016 e o mais recente em julho de 2021, e em fevereiro de
2020 alagamento danificou acervo em um de seus galpões.
 Questões relativas à segurança das instituições, instalação de brigadas e dispositivos anti-
incêndio, vistorias, perícias e manutenção constante das instalações elétricas das
instituições, preservação de cópias através reformatação de suportes, manuseio e
recipientes adequados para acondicionamento dos rolos e a aclimatação adequada dos
ambientes de armazenamento, estão entre algumas das principais inciativas a serem
implementadas quando se fala de preservação de acervos audiovisuais.
 No sentido de reverter este quadro uma importante inciativa a ser destacada foi a criação
da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) por estudantes e
profissionais da área durante a realização da 3ª Mostra de Cinema de Ouro Preto-MG
(CINEOP), realizada em 2008, e ‘’ a continuidade das discussões e encaminhamento de
ações em encontros e reuniões futuras, sendo a CINEOP, o fórum anual do setor de
preservação. ‘’
 Durante a 11ª edição da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto, em 2016, foi aprovado
em Assembleia Geral da ABPA o Plano Nacional de Preservação Audiovisual (PNPA),
‘’documento que se estabelece como diretriz para as políticas públicas voltadas ao campo
da preservação audiovisual.’’
 O PNPA está dividido em 4 partes:
 (A) Introdução
 (B) Diagnóstico
 (C) Objetivos e ações
 (D) Metas
Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte
(MIS-BH)
 A realidade do MIS-BH não é muito diferente daquela enfrentada por outros tantos museus Brasil
afora. A falta de investimentos, equipe reduzida, falta de materiais para conservação e tratamento do
acervo, limitações do espaço estão entre algumas das dificuldades enfrentadas pela instituição e
apontadas como “pontos fracos” .
 O plano museológico da instituição prevê algumas ações e políticas internas visando sanar alguns
destes problemas. Uma das soluções apontadas para solucionar a questão dos investimentos é o
estabelecimento de convênios e parcerias; políticas de acervo para destinação correta dos materiais
descartados do museu. Desenvolvimento de um Plano de Classificação de documentos e a elaboração
de uma Tabela de Temporalidade e Destinação de Documentos permitiria à instituição, por exemplo,
planejar o descarte (após avaliação prévia) dos materiais que oferecessem risco ao restante do
acervo.
 Exemplificam estes casos as películas “avinagradas”, isto é, em processo de deterioração devido à
acidificação que poderiam contaminar com gases tóxicos as partes saudáveis do acervo, embora o
MIS-BH disponha de uma sala adequada com exaustor para eliminação destes gases. Outro problema
a ser solucionado através da política de acervo e que impacta na preservação seria a eliminação –
após a reformatação de suporte, conservação por migração e/ou criação repositórios digitais – das
películas em nitrato que por serem altamente inflamáveis, aumentam o risco de incêndios.
Considerações finais

 A escolha do MIS como foco inicial da pesquisa se deu a partir do desejo de compreender
a instituição e suas ações e contribuições para a preservação do patrimônio audiovisual.
 Além disso, abordamos o processo de transição do antigo Centro de Referência
Audiovisual de Minas Gerais – CRAV-MG para o atual Museu da Imagem e do Som de
Belo Horizonte – MIS-BH.
 A inciativa, marca uma preocupação inicial por parte do poder público em preservar parte
do acervo audiovisual do estado e o reconhecimento de seu valor enquanto patrimônio
cultural de Minas Gerais, o que em si configura-se com um sinal positivo. Todavia, alguns
processos ainda atravancam algumas atividades da instituição, o que dificulta a realiação
de seus trabalhos.
OBRIGADO!

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