Você está na página 1de 24

AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES

_____________________________________________________________________________

APRESENTAÇÃO

Olá turma!

Chegamos à quarta aula deste curso e vamos continuar o estudo sobre as atividades
características dos arquivos permanentes.

Na aula 1 e 2, nos aprofundamos no trabalho de arranjo propriamente dito. Com a aula


3, pudemos compreender melhor a prática de descrição. Agora, para completar o ciclo,
vamos nos debruçar sobre a questão da difusão dos arquivos.

Esta aula visa explorar as boas práticas relacionadas à disseminação da informação


arquivística. Queremos responder à seguinte pergunta: o que o serviço de arquivo
pode fazer para tornar o seu acervo permanente interessante e útil para o máximo
possível de pessoas?

A partir de agora, vamos procurar respostas para essa pergunta.

1. DIFUSÃO: UMA ATIVIDADE DE CONTORNOS SOCIAIS

O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (DBTA) não traz


expressamente o termo “difusão”, mas possui dois verbetes com sentido equivalente:

Disseminação da informação: Fornecimento e difusão de informações


através de canais formais de comunicação.

Divulgação: Conjunto de atividades destinadas a aproximar o público


dos arquivos, por meio de publicações e da promoção de eventos, como
exposições e conferências.

Vamos salientar os principais pontos dessas duas definições para compreender


melhor do que se trata a difusão:

 Fornecer informações;
 Utilizar canais formais de comunicação;
 Aproximar o público dos arquivos;
 Realizar eventos, como exposições e conferências.

Para Bellotto (2007, p. 227), a atividade de difusão é secundária. Porém no que


tange aos arquivos públicos: “é a que melhor pode desenhar seus contornos sociais,
dando-lhe projeção na comunidade, trazendo-lhe necessária dimensão popular e
cultural que reforça e mantém o seu objetivo primeiro”.

Na atividade de arranjo, organizamos e contextualizamos os documentos, na


atividade de descrição, criamos pontes de acesso para a documentação, por meio dos
instrumentos de pesquisa. Com isso, atende-se em bom nível às necessidades
informacionais tanto de historiadores quanto dos profissionais da própria instituição.

1
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

A difusão, valendo-se da estrutura de organização e conhecimento do acervo


propiciada pelo arranjo e pela descrição, avança no sentido de dar conhecimento da
documentação a um espectro ainda maior de usuários. A documentação do arquivo
permanente (o público principalmente) é significativa pois reflete, numa perspectiva
social e histórica, os direitos e deveres dos cidadãos e, também, os compromissos
sociais e institucionais assumidos por um determinado órgão do Estado.

Nesse sentido, o art. 216 da Constituição Federal de 1988 traz uma disposição
interessante. Ele diz que os documentos fazem parte do patrimônio cultural brasileiro,
juntamente com determinadas obras, objetos e edificações. Já o art. 215 reforça a
ideia de que o Estado deve garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional.

Figura 1: Medalha comemorativa da instalação do TST, que estar preservada no acervo do órgão.

Esses dois artigos são acompanhados também pela Lei nº 8.159/1991 que diz
ser dever do Poder Público a proteção especial a documentos de arquivo, por
entender que eles são – além de elementos de prova e informação – instrumentos de
apoio à administração, à cultura e ao desenvolvimento científico. Esses dispositivos
legais reforçam a importância do trabalho de difusão realizado pelos arquivos dos
órgãos públicos.

A literatura arquivística indica normalmente 3 vias básicas para se promover a


difusão:

 Ações culturais;
 Ações educativas; e
 Ações editoriais.

Essas ações evocam uma postura de compartilhamento da memória custodiada


pelos arquivos. Uma memória que nasce originariamente como instrumento para o
desenvolvimento de práticas judiciais e administrativas, mas que com o tempo ganha
valores e usos muito mais amplos.

Segundo Oliveira (2010, p. 41):

2
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Arquivos, bibliotecas e museus são lugares de memória


socialmente instituídos e legitimados para a preservação
de materiais da memória nacional "chaves" da memória
coletiva dos povos. Contudo, esses espaços são
vulneráveis a aspectos econômicos, à racionalidade
administrativa, à inovação tecnológica e a à disputa
ideológica que muitas vezes colocam em risco sua
própria existência.

O trabalho de difusão tem relação direta com aspectos que influenciam


diretamente a constituição da memória e da história de uma determinada
comunidade. Por isso, ele deve ser especialmente planejado e sempre levar em
consideração os contornos políticos, sociais e institucionais vigentes em seu âmbito de
execução.

2. AÇÕES DE DIFUSÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A Justiça do Trabalho (JT) conta com diversas iniciativas de difusão. Essas


iniciativas partem do Tribunal Superior do Trabalho (TST), do Conselho Superior da
Justiça do Trabalho (CSJT) e dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs).

Os órgãos da JT têm no ATO CONJUNTO Nº 11/TST.CSJT.GP, de 3 de maio de


2011, o fundamento normativo para a realização de suas ações de difusão. Esse Ato
dispõe sobre o Programa Nacional de Resgate da Memória da Justiça do Trabalho
(PNRM-JT), que tem por objetivos:

I - consolidar a memória institucional mediante a realização de


inventário dos documentos e das peças de interesse histórico;

II – desenvolver o repositório de Memória da Justiça do


Trabalho;

III – preservar e divulgar o acervo histórico; e

IV – fomentar a pesquisa de temas relacionados à história e à


evolução do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho.

Esses objetivos guardam uma notável correspondência com os pressupostos


básicos do trabalho de difusão, conforme vimos nas definições do DBTA, apresentadas
no tópico 1. Neste momento, é preciso ressaltar que alguns desses objetivos nem
sempre estão na alçada de atuação das unidades de gestão documental ou arquivos
propriamente ditos. Cito o exemplo do inventário de peças históricas e o fomento à
pesquisa de determinados temas relacionados à Justiça do Trabalho.

Na JT, há uma configuração bem variada no que tange às unidades


administrativas com competência para realizar atividades de difusão. Conforme o TRT

3
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

tomado por referência, podemos observar que essas atividades às vezes são realizadas
por arquivos, mas também há modelos em que o órgão titular é um centro de
memória (ou memorial), uma unidade de biblioteca, um cerimonial ou até mesmo uma
escola judicial.

Para Marques (2010, p. 108):

Embora um programa voltado à preservação da informação


histórica e da memória institucional tenha uma inegável
importância para qualquer organização, observa-se que não
existe uma padronização das atividades e dos objetivos das
unidades de informação voltadas para a memória.
Consequentemente, é muito comum encontrar unidades de
informação denominadas Centros de Memória ou memorias
em organizações pertencentes às mais diversas áreas do
conhecimento, atuando como arquivos permanentes ou como
centros de documentação.

Hoje, os centros de memória são uma realidade mais do que consolidada nos
órgãos da JT. Por motivos didáticos, a partir de agora vamos utilizar, sempre que
possível, a expressão “centro de memória” de forma padronizada para significar toda e
qualquer unidade organizacional responsável por ações de difusão. Isso é importante
para que nossa aula não se perca em meio às múltiplas realidades estruturais e
administrativas dos órgãos da JT. Para que se lembrem do uso diferenciado da
expressão, vamos sempre grafá-la em itálico: centro de memória.

O importante a dizer aqui é que não há problema real no fato de que unidades
organizacionais distintas realizem o trabalho de difusão. A questão central desse
debate é que o centro de memória (seja qual unidade for) deve manter estreita
colaboração com seu entorno criativo, que envolve o arquivo, a biblioteca, o
cerimonial, dentre outras unidades organizacionais que possam ser fontes de
documentos e de informações a serem difundidos.

Observando o sentido dado por Totini e Gagete (2004, p. 124, grifo nosso):

Os centros de Documentação e Memória [...]


constituem-se como setores responsáveis pela definição
e aplicação de uma política sistemática de resgate,
avaliação, tratamento técnico e divulgação de acervo e,
principalmente, pelos serviços de disseminação do
conhecimento acumulado pela empresa e de fontes de
interesse histórico [...] além de garantir a manutenção
racional e sucessiva de conhecimento produzido
cotidianamente, sem acúmulo desnecessário, perda ou
dispersão de documentos que expressam a evolução da
empresa e fundamentaram a formação de sua cultura,
seus valores e seu capital intelectual.

4
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Onde os autores citam “empresa” é claro que vamos ler “tribunal”, numa
adaptação da definição à nossa realidade. Feitas essas considerações, podemos
explorar os tipos de ações de difusão.

AÇÃO CULTURAL

Para Bellotto (2007) a atividade cultural pode se orientar por duas vias
contrárias de ação. Uma em que a instituição lança elementos para a comunidade
visando atingir potenciais e eventuais clientes. Outra em que ela cria atrativos para
que a comunidade venha ao ambiente do centro de memória.

A autora cita que o mais comum em termos de ação cultural é a realização de


congressos, seminários e palestras. Há também experiências internacionais que
inovam promovendo sessões de comentários sobre documentos de grande interesse
no ambiente dos centros de memória ou mesmo em programas de rádio ou TV. Uma
ação curiosa citada é a contribuição do arquivista para a elaboração de roteiros de
turismo cultural. Temos alguns paralelos dessa experiência no âmbito da JT:

Figura 2: Notícia cita inserção do memorial do TST no roteiro cultural de Brasília.

O TST está oficialmente inserido no roteiro turístico e cultural de Brasília e um


dos espaços privilegiados de visita é o Memorial, que conta com séries documentais,
objetos e obras de arte de valor inestimável para compreensão da evolução da história
e do direito do trabalho.

5
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

A entrada em roteiros turísticos é uma ação que dá grande visibilidade aos


espaços de memória e não pressupõe um planejamento de alta complexidade para sua
implantação. Basta o contato com as autoridades culturais responsáveis e a definição
dos termos em que se dará a cooperação.

A realização de palestras no espaço dos centros de memória também é uma


ação bastante comum nos órgãos da JT. Esse tipo de evento pode ser considerado de
baixo custo e grande benefício. Nesse caso, é importante que a equipe do centro de
memória procure dar visibilidade a documentos e objetos do acervo que possam servir
de fonte complementar, ou até mesmo como ponto de partida, para a argumentação
em volta do tema discutido.

Figura 3: O centro de memória do TRT6 também se utiliza de palestras como ação de difusão.

Outra ação de grande repercussão é a realização de exposições temáticas.


Nesse tipo de proposta, o centro de memória pode atuar de duas maneiras:

 Utilizar documentos e objetos para rememorar questões, fatos e


problemas históricos;

 Identificar documentos e objetos que tenham grande conexão com


temas atuais e expô-los de forma contextualizada;

6
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

No exemplo abaixo, vemos que o TRT9 se utilizou da primeira abordagem


recuperando e dando visibilidade à memória dos trabalhadores agrícolas, por meio da
exibição de autos de ações trabalhistas que foram preservadas.

Figura 4: Questão do trabalhador rural sendo lembrada em uma exposição do TRT9.

Numa abordagem mais próxima da segunda vertente, o TST realizou, em 2014,


a exposição “Futebol é Trabalho” que em sintonia com a Copa do Mundo e com o
“Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho – Trabalho Seguro” expôs
documentos e objetos relativos ao futebol e ao trabalho de construção dos estádios
para a Copa do Mundo no Brasil:

Figura 5: Exposição do TST, em 2014, chamando atenção para a copa do mundo e o trabalho seguro.

As exposições feitas pelos centros de memória têm se desenvolvido sob


diversas configurações, algumas, bem arrojadas, optam, inclusive, pelo modelo
itinerante, permitindo que um único projeto conceitual seja aproveitado em vários
Tribunais.

7
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

No que tange ao conteúdo, é comum que elas se direcionem a uma perspectiva


de discussão e exposição mais centrada sobre temas importantes para a história da
instituição. Observem o nome de alguns eventos que mapeamos em pesquisa rápida à
web:

 Memória do TRT-2: Uma Construção Coletiva (TRT2);


 Cinema em Curitiba de 1940 a 1970: seus trabalhadores e a Justiça do Trabalho (TRT9);
 100 Anos do Ministro Geraldo Bezerra de Menezes e 30 Anos do Coral do TST(TST);
 Exposição Comemorativa dos 10 anos de Instalação do CSJTCSJT);
 Servidores da Justiça do Trabalho Gaúcha: Origem e Trajetória (TRT4);
 Délio Maranhão - 100 anos (TRT1);
 Justiça do Trabalho: 76 anos de História (TRT3).

Um aspecto importante da difusão cultural é que ela não pode ser realizada em
torno de atividades isoladas. Deve haver um planejamento e a previsão de ações
contínuas de discussão e exposição de temas institucionais e sociais relevantes.
Anualmente, o gestor do centro de memória pode, por exemplo, observar o calendário
de datas importantes para o Tribunal e, nas mais apropriadas, prever a realização dos
eventos – planejar e “vender” para a Administração os projetos expositivos.

Esse tipo de planejamento ajuda a mobilizar a instituição no sentido do apoio


para a realização e da disponibilização ordenada de recursos que cubram os custos do
evento. Trabalhando dessa forma é possível dar impulso ao nascimento de uma cultura
expositiva em sua instituição.

AÇÃO EDUCATIVA

A ação educativa tem como direcionamento básico a realização de parcerias


entre o centro de memória e as escolas. Bellotto (2007, p. 230) afirma que:

O desenvolvimento de laços entre os arquivos e a educação


não depende só da compreensão do papel que a educação
deve exercer no mundo contemporâneo; são igualmente
importantes: o reconhecimento do verdadeiro valor dos
arquivos como fonte educativa e a vontade de transformar o
valor educativo potencial dos arquivos em programas
positivos e realistas.

Para a autora, esse tipo de ação tem como foco os alunos de ensino
fundamental e médio, pois no caso dos estudantes de nível superior a cooperação
pode se dar por meio da atuação em laboratórios de pesquisa histórica. No entanto, os
centros de memória – ao contrário de instituições arquivísticas propriamente ditas,
como o Arquivo Nacional, por exemplo – nem sempre possuem estruturas como os
laboratórios de pesquisa histórica citados.

Na maioria dos casos, a contribuição de estudantes universitários se dá por


meio da contratação de estagiários dos cursos de Direito, Arquivologia, Museologia e
História, que vão contribuir nas atividades práticas do centro de memória, ajudando

8
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

nas exposições, organizando, descrevendo e produzindo conhecimento sobre os


documentos e objetos históricos. Por ser uma contribuição remunerada, não parece
possível encaixá-la como resultado de uma ação fundamentalmente de difusão. Talvez
seja possível olhar assim no caso dos alunos que vêm para realizar apenas o estágio
curricular não remunerado no âmbito do centro de memória, mas cabe discussão do
mesmo jeito.

Isso posto, vamos considerar a ação educativa de forma mais ampla que a visão
de Bellotto, abrangendo as ações que atingem egressos da educação básica,
fundamental e superior. Vejam o exemplo do trabalho realizado pelo TRT19 por meio
de visitas guiadas:

Figura 6: Programa de visitas do TRT19.

Esse é um exemplo de ação educativa muito bem articulada. Um texto breve e


direto deixa as estruturas do trabalho bastante claras:

 Público alvo: instituições de ensino público e privado, dos níveis básico e educação
superior;

 Objetivo: divulgar a memória, atuação e funcionamento da Justiça do Trabalho de


Alagoas e a vida e obra do jurista alagoano Pontes de Miranda;

 Metodologia: as visitas duram 30 minutos e compreendem explicações sobre a


memória da JT e sobre o jurista Pontes de Miranda.

9
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Naturalmente, cada TRT que se proponha a esse tipo de trabalho deve definir o
público alvo e o objetivo conforme suas prioridades e recursos. A contribuição
interessante da literatura arquivística para este trabalho está na discussão das
possíveis variações metodológicas do processo.

Indica-se que deve haver uma atuação conjunta entre o responsável pelo
planejamento da ação educativa do centro de memória (arquivista, museólogo, ou
servidor) e os educadores.

A ação educativa deve ser compreendida como uma via de mão dupla. Os
estudantes chegam para compreender aspectos de uma instituição e um campo
temático muitas vezes novo, porém devem receber de volta um complemento aos
temas tratados em sua base curricular.

A questão da colaboração fica mais clara se concebermos um cenário em que a


visita é de uma turma de ensino médio conduzida por seu professor de história. Nesse
caso, o centro de memória e o professor devem procurar uma coordenação entre os
documentos e objetos a serem explorados na visita e os temas discutidos em sala.

Esse entrosamento faz com que a visita não seja apenas um evento aleatório,
mas sim uma atividade realmente pedagógica que permite aos estudantes o acesso a
documentos informações chave para compreensão prática dos conteúdos de seu
currículo escolar.

Além das visitas guiadas, há outras opções bastante proveitosas e simples de


ação educativa: aula de História no ambiente do centro de memória, concursos que
incentivem e premiem a produção de textos e estudos sobre os documentos, apoio a
pesquisadores mediante serviço de referência, realização de campanhas para coleta de
documentos valiosos, dentre tantas outras práticas.

AÇÃO EDITORIAL

Um centro de memória não cumpre bem sua função se o único público atingido
por seus produtos é o interno à própria instituição. Nesse contexto, as publicações
permitem que o centro de memória se lance além de suas fronteiras atingindo um
espectro muito maior de potenciais usuários.

10
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Figura 7: Projeto editorial do TRT4 intitulado “Memória em Construção”.

O centro de memória do TRT4, por exemplo, possui uma parceria com a


Secretaria de Comunicação do Tribunal para a publicação do informativo “Memória em
construção”. Atualmente, o informativo não é mais publicado em formato .pdf na
página do memorial, mas sim enviado por e-mail no formato newsletter.

No link http://www.trt4.jus.br/portal/portal/memorial/textos/memoria há 19
edições do informativo disponíveis. Chama atenção o estilo da publicação, que com
textos muito bem construídos dá publicidade a temas sociais, documentais, culturais e
históricos relativos ao acervo e ao campo de atuação do TRT e do centro de memória.

A publicação de livros também se configura como outro caso clássico de ação


editorial que pode ser encampada pelos centros de memória com a colaboração de
outras unidades como as de comunicação social e biblioteca.

11
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

1
Figura 8: Livros publicados pelo TST em 2011 e pelo TRT 23 em 2018 .

Também é altamente recomendável que os instrumentos de pesquisa da


documentação arquivística entrem na política editorial dos centros de memória. Como
vimos na aula 3, a descrição é uma atividade que agrega valor acervos arquivísticos ao
ampliar as possibilidades de compreensão e pesquisa dos conjuntos documentais.
Porém, ela só vai cumprir seu real objetivo quando os usuários tiverem acesso fácil e
rápido aos instrumentos de pesquisa.

Figura 9: Projeto editorial do TRT9 que disponibiliza instrumentos de pesquisa do acervo arquivístico.

1
Essas obras estão disponíveis em: https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/35199 e
http://www.trt23.jus.br/tnt/DOCUMENTOSTRTNOTICIAS/foi_assim_TRT_MT.pdf

12
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Procurando conceder visibilidade ao seu acervo, o TRT9 concebeu um projeto


editorial e publicou o catálogo seletivo de seus autos judiciais na página do centro de
memória. Importante ressaltar que atualmente é imprescindível a utilização das
tecnologias da informação para o desenvolvimento das atividades de difusão.

Com os exemplos que exploramos até agora, é possível dizer que a web é uma
ferramenta privilegiada para prestação de serviços e busca de novos usuários para os
serviços do memorial. Todas as imagens e referências de trabalho que coletamos
tinham sido divulgadas pelos TRTs em suas páginas, ou estavam acessíveis em outros
lugares da rede. Chega, portanto, a hora de explorar as potencialidades do uso da web
para o trabalho de difusão.

3. APOIO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO ÀS ATIVIDADES DE DIFUSÃO

A criação, desenvolvimento e manutenção de um website é atividade


imprescindível para a operacionalização da atividade de difusão nos centros de
memória dos órgãos da Justiça do Trabalho.

O website, se dinâmico e atualizado, maximiza de forma impressionante as


possibilidades de comunicação do centro de memória com seus diferentes tipos de
usuários. A partir dele é possível definir as formas de relacionamento com o público
alvo, atraindo novos frequentadores e fidelizando os consulentes já tradicionais.

Para identificar alguns dos sites dos centros de memória da Justiça do Trabalho,
fizemos uma pesquisa no google com os termos “centro de memória TRT n°” e
“memorial TRT n°”. Numa primeira, tentativa recuperamos facilmente os seguintes
ambientes virtuais, já na primeira página de resultados:

TRT ENDEREÇO ELETRÔNICO


1 http://www.trt1.jus.br/apresentacao-memorial

3 https://www.trt3.jus.br/escola/institucional/memoria/apresentacao.htm

4 https://www.trt4.jus.br/portal/portal/memorial

5 https://www.trt5.jus.br/memorial

6 http://www.trt6.jus.br/portal/conteudo/memorial

7 http://www.trt7.jus.br/memorial/

8 http://www2.trt8.jus.br/museuvirtual/

9 http://www.trt9.jus.br/portal/pagina.xhtml?secao=32&pagina=INICIAL

11 https://memorial.trt11.jus.br/

12 http://www.trt12.jus.br/portal/areas/sedoc/extranet/

15 http://portal.trt15.jus.br/web/centro-de-memoria

17 http://www.trtes.jus.br/portais/memoria/

18 http://www.trt18.jus.br/portal/institucional/justica-do-trabalho/centro-de-memoria-da-justica-do-trabalho/

19 http://www.trt19.jus.br/portalTRT19/conteudo/46

24 http://www.trt24.jus.br/centro_memoria/

Quadro 1: Websites de centros de memória facilmente recuperados pelo google.

13
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Lembramos que o objetivo dessa investigação foi saber quais centros de


memória são identificáveis pelo google a partir de uma única consulta. Ou seja, há
TRTs não indicados no quadro que efetivamente podem ter websites. Num segundo
momento, vamos fazer a investigação in loco na página de cada Tribunal, mas para os
objetivos da nossa aula, por enquanto, bastam os identificados no quadro acima.

O Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) possui um trabalho técnico


intitulado Diretrizes Gerais para a Construção de Websites de Instituições
Arquivísticas2, o qual vamos utilizar para analisar alguns dos sítios identificados em
nossa pesquisa.

Segundo as Diretrizes para website, esses ambientes devem prever sua


concepção áreas relacionadas a:

 Atendimento ao cidadão;
 Educação;
 Pesquisa cientifica;
 Atendimento ao governo.

No portal do Arquivo Nacional, por exemplo, conseguimos identificar


claramente a existência dessas áreas:

Figura 10: Portal do Arquivo Nacional.

Notamos, inclusive, a presença de uma guia específica sobre difusão no menu


do lado esquerdo. Ao clicar nela, acessamos a seguinte página:

2
Disponível em: http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/images/publicacoes_textos/Diretrizes_Construcao_websites.pdf

14
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Figura 11: Portal do Arquivo Nacional apresenta seus trabalhos de difusão arquivística.

Observamos que o site do Arquivo Nacional, em compasso com o que indica a


literatura arquivística, funciona não como um mero folhetim da instituição, mas sim
como um ambiente privilegiado de prestação de serviços.

Vamos verificar agora em que dimensão os sites dos centros de memória da


Justiça do Trabalho acompanham essa visão voltada para a prestação de serviços.

3.1. ASPECTOS FORMAIS E DE CONTEÚDO DOS WEBSITES

A qualidade de um website depende em grande parte da forma como estão


articulados a sua estrutura, o seu design e o seu conteúdo propriamente dito.

Figura 12: Comparação entre os websites do IBGE e da AGU:

A título de exercício, façamos uma breve compração das páginas iniciais dos
sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Advocacia-Geral da
União (AGU). Os dois sites são governamentais e por isso têm extensão .gov, mas
obsevamos uma diferença bastante acentuada na forma como as informações são
estruturadas e apresentadas em cada um deles.

O IBGE em sua estrutura com 3 colunas apresenta uma paleta de cores mais
variada, oferece links para portais e redes sociais com informações congêneres,
notícias relativas à atuação do órgão e também algumas informaçoes estatísticas bem

15
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

específicas, mais ao canto direito. Há também um carrossel de imagens que dá


destaque às notícias mais importantes.

Já a AGU aposta em duas colunas bem definidas, a primeira com grandes


tópicos para orientação e a segunda com a apresentação das informações
propriamente ditas. Há um claro predomínio das cores branca e azul que dão um ar de
sobriedade à página.

A grande questão é: em qual dos sites há maior possibilidade de um cidadão


encontrar uma informação ou um serviço específico? Esse é o questionamento básico
a ser levado em conta na concepção e desenvolvimento dos sites dos centros de
memória.

Por serem unidades especializadas no compartilhamento da informação, os


centros de memória devem ter uma preocupação ainda maior em relação à forma de
disponibilização de conteúdos. A preocupação com a lógica, estrutura, apresentação e
qualidade dos dados publicados na rede deve ser uma questão central do trabalho.
Uma boa página tem as mesmas características que um bom texto: simplicidade,
clareza, concisão e coerência.

3.1.1. ASPECTOS GERAIS DE CONTEÚDO

No nível mais geral de conteúdo, o website deve oferecer dados sobre a


natureza e funcionamento do centro de memória e sobre a própria razão de ser do
site. A diretriz do CONARQ recomenda que o site apresente, dentre outros:

 informações sobre a instituição: histórico, competências, estrutura organizacional,


programas de trabalho, quadros diretores (e-mails e telefones), endereço físico da
instituição e formas de acesso;

 informações sobre os serviços prestados via web, por correspondência ou no local;

 informações sobre os objetivos do website;

 informações sobre o responsável pelo conteúdo da página (incluindo seu e-mail);

 adequação da linguagem utilizada, evitando-se termos técnicos pouco conhecidos;

 informações sobre material protegido por copyright.

Há uma preocupação em esclarecer o que é o memorial (histórico, competências,


projetos, serviços) e quais princípios norteiam o desenvolvimento e a manutenção do
website (objetivos, estilo de linguagem, atualização, respeito a direitos autorais).

16
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Figura 13: TRT3 fala sobre a história e as competências de seu centro de memória.

Figura 14: O centro de memória do TRT15 apresenta um catálogo de serviços em seu website.

Nas figuras 13 e 14, observamos as páginas dos centros de memória do TRT3 e


TRT15 contemplam de forma apropriada vários requisitos relativos ao conteúdo mais
geral de um website, conforme comparação com as disposições do CONARQ.

17
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

3.1.2. ASPECTOS ARQUIVÍSTICOS DO CONTEÚDO

O centro de memória deve apresentar informações específicas sobre o seu


acervo. O grande potencial da web para disseminação rápida e multidirecional da
informação não poderia ser deixado de lado na hora de divulgar documentos e objetos
que são a matéria-prima do trabalho de difusão.

Segundo o CONARQ o conteúdo arquivístico do site deve contemplar:

 O acervo (características gerais, datas-limites, quantidade, tipologia


etc.);

Figura 15: Guia do acervo disponibilizado pelo TRT7.

O TRT7 resolve a questão da informação sobre o acervo a partir de um texto


objetivo publicado no site e da disponibilização de guia do acervo, com esse
instrumento o pesquisador poderá conhecer com maior profundidade a
documentação.

 instrumentos de pesquisa (instrumentos de pesquisa on-line,


instrumento de pesquisa on-line em base de dados, instrumentos de
pesquisa não disponíveis on-line, outras bases de dados);

18
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Figura 16: Página da Arquivoteca Digital do TST.

No TST, a experiência que supre essa recomendação é o projeto da Arquivoteca


Digital. Um ambiente de compartilhamento de descrições arquivísticas e instrumentos
de pesquisa construído sobre a arquitetura do software livre chamado Access to
Memory (Atom). Esse instrumento de pesquisa on-line é disponibilizado a toda
sociedade através da página do TST na web. O link para acesso é o
http://arquivoteca.tst.jus.br/.

 estrutura de funcionamento do atendimento ao usuário: horário de


funcionamento, formas de atendimento;

Figura 17: Informações básicas sobre o funcionamento do centro de memória do TRT6.

Observem o TRT6 indo direto ao “x” da questão logo na página de


apresentação do centro de memória.

19
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

 perguntas e respostas (FAQ – Frequently Asked Questions) sobre


temas arquivísticos;

Figura 18: Serviço “fale com o arquivista” mantido pelo CSJT.

Nesse sentido o CSJT desenvolve o projeto do “fale com o arquivista”, que


contempla uma wiki com questões frequentemente respondidas e um canal direto
para o usuário do site fazer questionamentos à equipe do CSJT. Conforme a
complexidade da questão apresentada, a resposta pode vir por um mero texto
informativo ou por um detalhado parecer técnico.

 publicações arquivísticas (possibilitando o download, conforme


critérios da instituição).

20
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Figura 19: Publicações disponibilizadas pelo centro de memória do TRT4.

O memorial do TRT4 possui expertise na publicação de material sobre arquivos,


memória e história da Justiça do Trabalho. No site do centro de memória temos um
menu inteiro só com publicações feitas no contexto do trabalho de difusão.

3. 2. ASPECTOS RELATIVOS AO DESENHO

Esse tópico citado pelas recomendações para criação de websites concebidas


pelo CONARQ possui vários dispositivos de natureza bastante técnica que abordam
aspectos específicos da configuração e arquitetura dos websites. Vejam alguns dos
dispositivos:

 mecanismo de busca do website;


 contador de acessos ao website;
 mudanças na URL do website;
 utilização, opcional, de outro idioma;
 utilização de leiautes de fundo simples;
 garantias de segurança no acesso quando da transmissão de dados,
especialmente os de caráter sigiloso ou aqueles relativos à privacidade
do usuário.

Observamos que a maioria desses aspectos dependem da atuação das equipes


de tecnologia da informação (TI) responsáveis pela configuração dos ambientes
tecnológicos. Dessa forma, a equipe responsável pelo desenvolvimento do trabalho de
difusão deve atuar no sentido de orientar as unidades de TI a realizar melhorias
estruturais e de desempenho do website.

21
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Essa ação pode ser levada à frente mediante projetos colaborativos com a TI e
nos quais, com base em estudos sobre os usuários do site, sejam previstas ações de
melhoria de layout, atualização de informações, aumento de funcionalidades e
desenvolvimento de ferramentas de acessibilidade e segurança do website.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta aula vimos que o trabalho de difusão é uma das atividades mais nobres e
sensíveis desenvolvidas pelas unidades que lidam diretamente com informações e
documentos históricos.

A atividade de difusão deve estar alinhada com uma série de expectativas


institucionais, pois é um trabalho que envolve diretamente não só história como
também a imagem da instituição.

Há, no contexto da Justiça do Trabalho, diversas unidades organizacionais que


se incumbem do trabalho de difusão, citamos como as mais comuns os arquivos, as
bibliotecas, os centros de memória, os cerimonias e as escolas judiciais.

Essas unidades, em dimensão maior ou menor, levam à frente atividades


culturais (exposições, homenagens), educativas (visitas, congressos) e editoriais
(publicação de livros e estudos sobre a instituição e o acervo).

Essas atividades objetivam conceder visibilidade ao acervo da instituição e


chamar a comunidade a usufruir de documentos, livros, obras de arte e demais objetos
que compõem um todo chamado patrimônio cultural brasileiro.

Figura 20: Visão da estrutura física do centro de memória do TRT 7.

A difusão é um trabalho abrangente e que deve promover a valorização do


acervo histórico como um todo. Vislumbrar o centro de memória como um espaço
para divulgação de curiosidades e raridades é um erro crasso.

22
AULA 4 – COMO DAR PUBLICIDADE A DOCUMENTOS DE ARQUIVO PERMANENTES
_____________________________________________________________________________

Ações culturais, educativas e editoriais devem estar circunscritas num plano


que esteja alinhado com os objetivos institucionais do órgão. Deve-se pensar numa
linha de (re)construção gradativa da memória, no ambiente do centro de memória.

Figura 21: Memorial do Tribunal Superior do Trabalho.

Para isso é preciso enxergar a difusão como uma ação participativa que tem um
agente condutor principal, porém que não pode ser desenvolvida sem a colaboração
de diversas unidades organizacionais como o arquivo, a biblioteca, a comunicação
social, a tecnologia da informação e as unidades que lidam diretamente com a
atividade-fim do órgão.

Esperamos que essa aula tenha gerado boas ideias a serem desenvolvidas no
ambiente do centro de memória do seu TRT. Se você ainda não tem um centro de
memória tomara que no decorrer do curso tenha se desenhado pelo menos uma ideia
geral para a proposição de um projeto de criação. Por que não? Agora para fixar bem o
conteúdo, vamos responder a mais um controle de leitura.

5. BIBLIOGRAFIA

BELLOTTO. Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de


Janeiro. Ed. FGV, 2007.

MARQUES, Otacílio Guedes. Informação histórica: recuperação e divulgação da


memória do Poder Judiciário brasileiro. In: Imagem, memória e informação. Ed. Ícone.
Brasília, 2010.

TOTINI, Beth; GAGETE, Elida. Memória empresaria: uma análise da sua evolução. IN.
NASSAR, Paulo (Org.) Memória de empresa: história comunicação de mãos dadas a
construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004.

23

Você também pode gostar