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Sandplay (jogo de areia)

Disciplina: Teorias e Técnicas Profº: Dr. Raul Alves Barreto Lima


Psicoterápicas Analíticas raul.lima@mackenzie.br
=> Dora Kalff: iniciou sua prática com o sandplay junto a crianças. Baseou-se nas hipóteses de
Jung de que “há na psique humana um impulso fundamental em direção à totalidade e à cura”
(WEINRIB, 1993).

=> Para que a cura pudesse ocorrer, decidiu dar a pessoa um “espaço livre”, aceitá-lo incondicionalmente,
observar sem emitir juízos e ser orientado somente pelas suas próprias observações.

=> Desde o início, os pacientes/clientes de Kalff fizeram rápidos e significativos progressos, somente
com o manuseio da areia e das miniaturas, sem a necessidade de verbalizações ou interpretações do(a)
terapeuta.

=> Kalff começou, mais adiante, a manter contato com Neumann, também terapeuta junguiano, dedicado
aos estudos do desenvolvimento infantil. Começou a realizar terapia na caixa de areia também com
adultos. Descobriu que ocorria um processo de desenvolvimento semelhante ao das crianças, indicando
que essa terapia operava em um nível bem mais primitivo do inconsciente. Reavivamento de experiências
mais primitivos por envolvem um material mais desestruturado e sensorial.
•=> Aspecto central da terapia na caixa de areia: a possibilidade de oferecer um espaço livre,
mas também protegido, que tem dimensões tanto físicas quanto psicológicas. A fantasia do(a)
paciente/cliente é estimulada, mas mantida em limites seguros.

=> A meta é também reproduzir um espaço materno ou “útero psicológico” transitório. Neste espaço seguro
pode ocorrer a cura da ferida psicológica interna, o self pode ser constelado e a criança interna redescoberta,
com toda a sua potencialidade de criatividade e renovação.

=> As imagens construídas geram um contínuo diálogo entre consciente e inconsciente na psique da(o)
paciente, ativando o desenvolvimento da personalidade.

=> O uso do sandplay “relativiza o ego”, nas palavras de Kalff, ou seja, faz com que o ego reconsidere sua
dominação ilusória na psique e restabeleça uma ligação e um relacionamento entre consciente e inconsciente.

=> Espera-se, com o emprego continuado da técnica, uma nova atitude do ego com relação à vida
transpessoal e cotidiana.
=> Os elementos da caixa de areia, para Kalff, também agem como uma metáfora para o corpo.
Encontrou confirmação para essa hipótese quando clientes fisicamente doentes faziam
inconscientemente na areia representações dos órgãos afetados cujo formato não lhes era
previamente conhecido, por exemplo.

=> Outra hipótese é de que a técnica, por ser não-verbal, aciona dinamismos arcaicos da psique, vivências
mais primitivas da pessoa, bem como camadas mais profundas do inconsciente coletivo presentes em todos
nós.

=> A caixa de areia pode ser pensada igualmente como semelhante ao conceito de “objeto transicional”,
conforme proposto por Winnicott (1975): “uma área experimental intermediária”.

=> A terapia de sandplay permite acesso ao mundo interior pessoal dos impulsos e dos sentimentos. Permite
também acesso ao mundo lúdico da pessoa.

=> Também representa uma oportunidade para os(as) clientes com dificuldades de expressão saírem de seu
isolamento por meio da comunicação não-verbal.
=> O procedimento criado por Kalff consiste na utilização de:
- 2 caixas preenchidas com areia, uma seca, a outra úmida;
- 1 ampla coleção de miniaturas (animais, pessoas, moradias, meios de transportes, vegetação,
figuras mitológicas, religiosas etc.).

=> A caixa retangular é revestida com uma chapa de metal ou plástico rígido e cor azul-claro.

=> Dimensões da caixa: 72 X 50 X 7,5. É preenchida com areia até a metade Corresponde ao campo de visão de
uma pessoa sentada na frente da caixa (AMMANN, 1991).

=> Emprego das miniaturas: pretende possibilitar que a pessoa construa cenários diversificados, “objetos
simbólicos com os quais se pode criar um mundo” (WEINRIB, 1993).

=> O/A psicoterapeuta observa e anota a sequência da criação da(o) cliente, mas não intervirá – com
comentários ou interpretações. Kalff (1980) julgava ser importante adiar, no processo de execução, as
interpretações dos cenários.
=> O cenário permanece montado na caixa e é fotografado pelo psicoterapeuta depois da
sessão, sem a presença do cliente, mas com seu conhecimento prévio desta conduta. A cena é
registrada por diferentes ângulos.

=> Após uma sequência de cenários construídos, cliente e terapeuta observarão juntos a série de fotografias
correspondentes.

Variante da técnica:
1) Sugerir para a(o) cliente um tema para a cena. Ex.: construir um cenário que retrate certa situação de vida,
um estado emocional, etc.
2) Solicitar um título para a cena elaborada.
3) Realizada inquérito, visando esclarecer aspectos relativos à cena, mas só depois que esta for construída: “o
que estava acontecendo antes dessa cena? E depois, o que vai ocorrer?”.
Estágios do emprego da caixa de areia:
1) Os primeiros cenários do processo são geralmente realistas e, como em sonhos iniciais,
podem dar indicações dos problemas e de suas possíveis soluções.
2) Contato com níveis mais profundos da personalidade. Os cenários podem ser mais caóticos
ou sombrios.
3) Surgem tentativas de resolução de questões conflitivas.
4) Contato mais frequente com imagens de “centralização”, equilíbrio, união dos opostos
(anima/animus) ou símbolos francamente religiosos (Cristo, Buda, mandalas, etc.).

Análise da cena:
1) Avaliar a cena como um todo (se há harmonia ou não; se há concentração de figuras / cenas em certo
quadrante da caixa ou não, etc.).
2) Avaliar a cena mais minuciosamente: há o emprego de miniaturas de um certo tipo predominantemente
(mais vegetais? Mais animais? Existem figuras humanas ou não? De que tipo? Prevalecem só construções?
Elementos abstratos?).
3) Usou-se a caixa com areia seca? Areia úmida? Ambas?
4) Postura / atitude da(o) cliente ao elaborar a cena.
Título: Fragmentado

T. começa explicando que essa representação é sobre tudo que ela já passou na vida, ou seja,
os vários momentos de sua vida desde o nascimento onde seus pais eram casados até os abusos que
sofria pelo padrasto que é representado pelo dinossauro ao lado da cama, a qual relata que quando
deitada tinha um monstro ao seu lado.
Fala também que todas as baianas é ela representada em diversas fases. O que se encontra ao centro
são seus medos e tudo que sente de ruim hoje e já sentiu, esses medos a atacam, ao redor existem várias
bonecas que são suas diferentes emoções e personalidade e por fim, um índio que é seu namorado
tentando a defender de certa forma, mostrando que é uma relação segura e saudável, mas é algo que ela
tem que lutar/ enfrentar sozinha.
Também diz que a cobra está a atacando por trás, como se fosse o ataque de seu padrasto sendo que
está encurralada e traída pelas costas. Relata que a criança no escorregador está tentando se matar e isso
está presente em sua vida inteira, o fato de não querer viver.
Diz que do lado de fora da cerca está tudo que ela pode conquistar na vida e tem a capacidade,
mas também existem monstros que estão por trás, tudo que sente de ruim também é demonstrado do
lado de fora. Existem os astronautas que são seus alunos e um anjo que seria ela, além disso fala sobre
conquistas, viagens e a lâmpada mágica que são seus desejos.
Quando a estagiária pergunta onde ela está hoje, diz que está no meio da representação (baiana
vestida de vermelho e o diabo a atacando). Fala que tem medo de não olhar o que está acontecendo fora
do muro e se matar.
Após isso fala que no começo ia desenhar sua casa ideal, mas depois pensou e achou melhor
desenhar algo que a representasse mais. Quando a estagiária pergunta como seria sua casa ideal, começa
a se emocionar e ela diz que teria muita comida nos armários e estariam cheio de coisas, além disso seu
guarda roupa teria vários looks para se vestir de acordo com as ocasiões Diz que quando era menor não
tinha água quente e que na casa ideal teria água quente e um banheiro lindo também.
Título: Transformação

• Primeiro: seus medos e sentimentos ruins, acompanhados de sua mãe que é a figura do vilão e ao lado
está um cachorrinho pequeno que representa seu irmão. Existe uma cerca para separar esse ambiente
dos outros, mas ainda tem pessoas tentando atacar. Este cenário/sua mãe está o mais longe possível dela
e de sua irmã.
• Segundo: sua casa, cercada de coisas boas, como presentes e ouro. De acordo com ela, está
encontrando esse ouro e coisas boas estão por vir. Os astronautas representam suas colegas de quarto.
Além disso, ela está representada como a baiana ao meio do quarto.
• Terceiro: a casa de sua irmão que é representada por outra baiana
• Quarto: três homens procurando seu pai que está enterrado e é representado por uma figura
assombrada. Ela diz que não sabe se quer descobrir o que está enterrado.
• Quinto: um casal que representa ela e seu namorado cercado de uma cobra branca. De acordo com ela,
acha que seu namorado está tendo inveja e insegurança, pois ela está conquistando algo maior e ele
ainda é estagiário, não tendo condições de morarem juntos, pois ele ganha menos. Além disso, sente
uma pressão por parte dele e está inseguro.
Sonho 1 (no dia do sandplay): o sonho ocorreu em sua casa antiga. Sonhou que estava tendo relações
com uma pessoa que não sabia quem era. Quando percebeu era seu padrasto e não queria mais fazer
nada, porém ele a forçava a fazer a relação.

Sonho: Sonha com o padrasto em que ele está com uma criança – é uma criança da escola em que a
paciente trabalha. Ela devia decidir se o padrasto poderia levar ou não a criança para o quarto. Ela
decide que sim e ele leva a criança para o quarto. Depois várias pessoas invadem a casa e a julgam
pela decisão.
Obs: duas oportunidades em que a paciente confessou seu histórico de abusos sofridos pelo
padrasto para uma colega do trabalho. A paciente foi julgada pois, se não denunciasse, era como se
consentisse com o abuso sofrido e tivesse compaixão para com o padrasto.
=> Reforço de um sentimento internalizado de culpa pela violência sofrida.

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