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ALGUNS ELEMENTOS DA

SOCIOLINGUÍSTICA
- Abordagem variacionista (Labov, Bagno, Scherre) x
abordagem sociointeracionista (Gumperz, Goffman);
- Ideias de mudança e heterogeneidade linguística;
- Existência de tendências evolutivas gerais: “lei do menor esforço
ou economia linguística”, “empréstimos”, “histórias externa e
interna”, influências de outras línguas, fatos históricos, visões e
ideologias acerca da língua e consciência do falante.
POTENCIALIDADES DA SOCIOLINGUÍSTICA
- Compreender funcionamento da língua como sistema, já que reúne a variação e a
mudança com as tendências evolutivas gerais e com as reestruturações funcionais
ocorridas no sistema (consequência: visão de língua como algo plural e que deve ser
aceita como tal de maneira tolerante)
- Naturalidade no processo de transformações linguísticas bem como necessidade de
se evitarem surgir estereótipos como os seguintes: o espanhol é uma língua muito
fácil, homogênea ou existem sotaques ou formas mais puras, belas ou aceitáveis de
falar o português no Brasil, tais como as variantes carioca e paulista
Oposição entre Erros x Variantes
- “Erros” gramaticais:
acesso limitado à “cultura escrita formal” de alguns falantes (“nós vai” x “nós
vamos”)
 processo de formação da língua. (“pobríssimo” x “paupérrimo”)
 regionalismos e contatos linguísticos (português e línguas de imigração, de
matizes africanas, indígenas, etc) (“comboio” (Portugal) x “ônibus” (Brasil); “moço”
(latim) x “guria” (origem indígena)
 compreensão pelo viés comparativo, ao ponto de se poder prever quais são as
estruturas problemáticas comuns: em português, confusão entre “x”, “s”, e “z”:
exame, asa e prazo; em espanhol, a confusão entre “c” e “s”, entre “b” e “v” e “y +
vogal” e “ll + vogal”: “consepto” (concepto), “alluda” (ayuda), “asiendo” (haciendo),
“embase” (envase).
APROXIMAÇÕES: ERROS E VARIANTES DO
ESPANHOL E DO PORTUGUÊS

(In:http
://apiedeaula.blogspot.com/2007/04/ortografa-y-permisivida
APROXIMAÇÕES: ERROS E VARIANTES DO ESPANHOL E DO PORTUGUÊS
SEMELHANÇAS ORTOGRÁFICO-FONÉTICAS E
E DE “ERROS” ENTRE PORTUGUÊS E ESPANHOL:
B x V: ENVASE -EMBASE
C x S: CONCEITO - CONSEITO X CONCEPTO -CONSEPTO
E x I/ LL x Y: ESCOLA - ISCOLA X AYUDA - ALLUDA
H: HOMEM X OMEM X HABLAR - ABLAR
R x S: MESMO X MERMO X MISMO - MIJMO
M x N: ENTREGAR X EMTREGAR X ÁLBUM - ALBUN
R x RR: CARO X CARRO X ROSTIZADO - RROSTIZADO
-D: CIUDAD - CIUDA

https://educacao.uol.com.br/album/2014/04/23/confira-erros-absurdos-de-portugues-em-lugares-
publicos.htm
Caracteres da linguagem vulgar nas duas línguas
ELEMENTOS GERAIS DA LÍNGUA COLOQUIAL E DA LÍNGUA VULGAR (MARTÍN, 2012)
DE ORDEM FONÉTICA:
-Relaxamento fonético: perda da dental /d/ na terminación –ado (partido  partío); (fazendo 
fazeno/u)
-Alterações vocálicas: tiniente (teniente), sais (seis), no espanhol, cumprimento (querendo dizendo
comprimento), estrupiado, empancou ....
-Ditongação indevida: tualla (em vez de toalla), analogamente, coié (em vez de colher), môio (em vez
de molho)
-Redução de ditongos: pos (pues), pacencia (paciencia), no espanhol, vô, lôça, no português
-Perda de consoantes: esperdiciar (desperdiciar), acabao (acabado), to (todo), em espanhol, estruir
(destruir), falá (falar), papé (papel), maço (março) em português
-Confusão entre líquidas: puelta (puerta), finar (final), em espanhol, probrema (problema), arma
(alma), em português
DE ORDEM MORFOSSINTÁTICA
-Alteração da ordem ou funcionamento dos pronomes átonos: Se me ha perdido x Mim disse/ Se
vende
-Alterações nas formas verbais:
o Adição de –s a la 2ª persona singular del pretérito: dijistes, no espanhol, tu fostes, no português.
o Restrição ou não atenção às irregularidades: ande (anduve), apreto (aprieto) x quisesse (quiseste)
o Redução da 3ª pessoa plural ou particípio: dijon (dijeron), trajon (trajeron), puson (pusieron) x
falaro (falaram), tinha falo (tinha falado), tinha chego (tinha chegado), escrevido (escrito)
-Caso dos pronomes:
- Laísmo e loísmo: La dije un secreto (em vez de Le dije) x Eu lhe vi ontem, aqui, viu? (em vez de Eu o
vi ..)
Caracteres da linguagem vulgar nas duas
línguas
DE ORDEM LEXICAL
- Vocabulário mais simples e pouco preciso: utilização de
termos como “cosa”, “cacharro” (utensílio), no espanhol e
“troço”, “negoço”, “coisar” no português.
- Deformações de palavras cultas por desconhecimento:
Tomarse unas cláusulas (cápsulas), melecina (medicina), el
garambutano (el gas butano), estógamo (estómago), Vino el
tostón (Vino en auto stop)
DE ORDEM SINTÁTICA
- Problemas com os pronomes relativos:
- “Tengo un amigo que su perro muerde”.
X “Ela é mãe que o filho tá doente”
- Anacoluto: “Ella no le interesa esos negocios”.
X “Ela, você viu? Não tá sabendo de nada”.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A SOCIOLINGUÍSTICA

“As línguas humanas são, sem dúvida, excelentes instrumentos de comunicação, embora mal-
entendidos entre os seres humanos sejam comuns, mesmo quando há domínio de uma mesma
língua, de uma mesma variedade. As línguas humanas são, em verdade, mais do que excelentes
instrumentos de comunicação. São, também, reflexo da cultura de um povo. São, além disso,
parte da cultura de um povo. São ainda mais do que isto: são mecanismos de identidade. Um
povo se individualiza, se afirma e é identificado em função de sua língua”. (p.10) (In
SCHERRE, Maria M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e
preconceito. São Paulo: Parábola, 2005).

“A língua materna de uma comunidade é o seu legado maior. Tenha ou não prestígio, ela tem
de ser respeitada, porque, além de complexa e perfeita do ponto de vista linguístico, faz parte
da identidade da sua comunidade. Não se trata de “esquerdismo de meia-pataca, que idealiza
tudo o que é popular. (…) Trata-se, sim, de respeito por todas as manifestações culturais do ser
humano. Trata-se de exercício da cidadania. Trata-se de exercício de real democracia.”
(op.cit. p.138-139)
PESQUISA EM SOROCABA,
SÃO PAULO, BRASIL

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OBJETIVOS DA PESQUISA

-Averiguar se houve um bilinguismo português-espanhol em Sorocaba


(estado de São Paulo) em meados do século XX e analisar possíveis
características remanescentes na fala atual;
- Caso se averigue a presença do bilinguismo em Sorocaba, definir o
percurso histórico este processo para compreender os possíveis efeitos
do contato na fala atual de Sorocaba.

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QUESTÕES METODOLÓGICAS
- Pontos e fases da pesquisa: bairros “espanhóis” de Sorocaba (Barcelona, Haro, Vila Hortência, B.
Tobias)
- Procedimentos: 1) pesquisa documental + história oral (relato das pessoas e possíveis
transferências/misturas de códigos); 2) etnografia e sociolinguística: análise de falas e usos sobretudo
lexicais
- Elementos gerais e variáveis sociais
Critérios de inclusão: ser descendentes de espanhóis preferencialmente que moram nos bairros espanhóis
Elementos gerais: profissão, geração, se morou em país de língua espanhola, escolaridade
Coleta feita nas casas das pessoas: memórias das pessoas e identificação com a língua/cultura
espanhola, por entrevista gravada em áudio e transcrição, dependendo da necessidade
 Faixas etárias (30-50; 51-65; mais de 65)
 Sexo/Gênero (Masculino/Feminino)
(total de 40)
- Seleção dos participantes: mostra semialeatória (contatos iniciais + busca de pontos)
- Instrumentos: Questionário sociocultural + entrevista (história oral) + questionário linguístico
(ênfase no léxico)

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INSTRUMENTOS
PRIMEIRA PARTE: Questionário sociocultural

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SEGUNDA PARTE: Entrevista e questionário linguístico

QUESTÕES GERAIS– MODALIDADE ENTREVISTA

1. Lembranças sobre os parentes ascendentes espanhóis (costumes e marcas


culturais e linguísticas)
2. História da saída da Espanha e da chegada no Brasil
3. Experiências culturais e sociais
4. Participação em eventos dirigidos à comunidade espanhola
5. Lembranças de usos linguísticos antigos ou atuais
6. Importância da língua e espanhola na vida. Grau de identificação.
7. Viagem a algum país hispano-falante e experiências culturais
8. Grau de contato com a língua espanhola (fala, leitura, escrita, audiovisão...)

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ALGUNS QUANTITATIVOS ÚTEIS
PERGUNTA 10.1 do questionário subdividida em 9 itens
relacionados às interações linguísticas que ocorriam na
família (só em espanhol, só em português ou em ambas e
a proporção de usos quando das duas)
A) interações dos parentes entre si ou se
dirigindo ao falante (itens i a vi):
- Seus pais falavam com você (só
espanhol; só português; ambos/proporção);
- Seus pais falavam entre si (só
espanhol; só português; ambos/proporção);
- Seus avós falavam com você (só
espanhol; só português; ambos/proporção);
-Seus tios, primos falavam com você
(só espanhol; só português;
ambos/proporção);
-Seus tios, primos falavam entre si (só
espanhol; só português; ambos/proporção)
B) interações iniciadas pelo participante em
relação aos pais, avós e tios-primos (itens viii a
ix)
- Você falava com seus pais (só
espanhol; só português; ambos/proporção);
- Você falava com seus avós (só
espanhol; só português; ambos/proporção);
-Você falava com seus tios/primos (só
espanhol; só português; ambos/proporção).
EVOLUÇÃO DO USO DO ESPANHOL NAS FAMÍLIAS EM SOROCABA
Subproduto da
pesquisa ÚTIL
PEDAGOGICAMENTE:
glossário português-
espanhol
a) Casos de abreviações:
GLOSSÁRIO
 adj (adjetivo) f) Mistura de língua e traços dialetais:
 adv. (advérbio)  Atrapallado/a (el/la adj. m/f): fig. bobo (portunhol).
 conj. (conjunção) g) Expressões várias (espontâneas e solicitadas ao longo
das entrevistas e nos questionários linguísticos):
 despec. (despectivo, depreciativo)
 “¡Buenos días/tardes/noches!” (“Bom dia/Boa
 El (artigo masculino singular no espanhol “o”) tarde/noite”)
 F. (feminino) h) Gírias e Palavrões:
 Port-Esp (portunhol)...  “Me cago en diez/ dios/ en el cura/ en la hostia/ en la
b) Substantivos comuns: madre que te parió/ en su puta madre/ en la taza del
 Jaleo (el, subst. m): barulho, agitação. padre/ en ti”: “Cago em/ Que se dane(m)… dez/ Deus/
padre/ hóstia/ mãe que te pariu/ a puta da sua mãe/ taça
 Jamón (el, subst. m.): presunto.
do padre/ ti/tu”.
c) Adjetivos, advérbios, conjunções, contrações, i) Provérbios, rezas e ditos populares:
pronomes, interjeições e verbos:  “Con Dios, me acuesto, con Dios, me levanto, con la
 Acompañar (v. infinitivo): acompanhar. Virgen María y el Espíritu Santo. Dios va conmigo,
 Al (contração a+el): ao. yo voy con él, él delante de mí y yo atrás de él.
 Dañado/a (el/la, adj. m/f.): danificado. Cuatro ribas tiene esta casa, cuatro ángeles me
acompañan, la Virgen María está en el medio
d) Topônimos e nomes de instituições:
diciendo; duermes, reposas, no tengas miedo de
 Abla (subst. próprio): cidade da província ninguna cosa”.
andaluza de Almería de onde saíram “Com Deus, eu durmo, com Deus, me levanto, com a
emigrantes espanhóis ao Brasil. Virgem Maria e o Espírito Santo. Deus está comigo, e
e) Antropônimos (nomes e sobrenomes): eu com Ele, ele na frente de mim e eu atrás dele. Quatro
 Izquierdo/Isquierdo/Esquierdo: (subst. pilastras tem esta casa, quatro anjos me acompanham,
a Virgem Maria está no meio dizendo; dorme, repousa,
próprio e versões abrasileiradas): sobrenome
não tenha medo de nenhuma coisa”.
hispânico.
CONCLUSÕES GERAIS

CONTRASTE GERACIONAL
• os mais velhos: mais lembranças e conexão/identificação com a história
• os de geração intermediária não parecem tão preocupados com a difusão/manutenção da história
• as gerações mais jovens de alguma forma por curiosidade, necessidades econômicas ou influências
outras parecem estar resgatando ou voltando a isto;

FIM DO APOGEU DE USO DA LÍNGUA (obtenção de dados a partir de questionários e relatos)


• Início dos anos 50 e final dos anos 60;

USO DA LÍNGUA
• não existem diálogos de verdade espontâneos, hoje em dia, mas o espanhol persiste a partir de frases
curtas em saudações, adjetivações jocosas ou críticas, palavrões, sobretudo nas famílias que
procuraram manter tradições;
• existiu mais dificuldade em se responder ao primeiro bloco de perguntas lexicais, ou seja, se lembrar
a partir do português, mas o inverso, ou seja, ao ouvir as palavras em espanhol acabaram gerando
bastante associações e lembranças de certas palavras. Cabe acrescentar que algumas 18
das palavras
mais evocadas parecem se associar à personalidade comum de muitos espanhóis: ser agitado, falar
alto, usar palavrões ou gírias não com intenção agressiva em si, mas devido à intimidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (CONT.)
• LIPSKI, John M. Mapping the psycholinguistic boundaries between Spanish and Palenquero Mapeando as
fronteiras psicolinguísticas entre o espanhol e o palenquero. PAPIA, São Paulo, 23(1), p. 7-38, Jan/Jun 2013.
Disponível em: http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/ view/2040/1884. Acesso: julho de 2017.
• LUENGO, José Luis Ramírez. El contacto del español y el portugués en la historia: situaciones y resultados
americanos. In: Revista Letra Viva UFPB, v.10, n.1. João Pessoa: Ideia, 2010. (p.13-48).
• MARTÍN, Eugenio Cascón. La situación lingüística de España. Lengua española y comentario de texto. Madrid:
Editorial Edinumen, 1997. (p.191-204)
• MCWHORTER, J. Identifying the creole prototype: vindicating a typological class. Language, 74, 4. p. 788-818.
Berkeley, University of California, 1998.
• MEGENNEY, William W. El palanquero, un lenguaje post-criollo de Colombia. Instituto Caro y Cuervo, Bogotá.
1986. 277p. Boletín cultural y bibliográfico. N. 9. V. XXIII. Disponível em:
http://web.archive.org/web/20120111054422/http://www.
banrepcultural.org:80/blaavirtual/publicacionesbanrep/boletin/boleti4/bol9/solo.htm.
• MUFWENE, Salikoko. The Ecology of Language Evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
• __________, Salikoko. Language evolution: Contact, competition, and change, Londres/New York: Continuum
Press. 2008.
• PARKVALL, Mikael. Da África para o atlântico. Campinas, SP: Editora da Unicamp. Tradução de Rodolfo Ilari, 2012.
• SAMBUGARO, Adriano & TEIXEIRA, Jerônimo. Letras ao léu. In: Revista Superinteressante. Cultura. 31/10/16.
Disponível em: http://super.abril.com.br/ cultura/letras-ao-leu/ Acesso em: 08/07/2017.
• SCHERRE, Maria M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo:
Parábola, 2005.
• SEIBANE, Sara Gómez. Dificultades morfosintácticas de lusohablantes en el aprendizaje de español: explicaciones
desde la historia de la lengua. In: Revista Letra Viva UFPB, v.10, n.1. João Pessoa: Ideia, 2010. (p.85-108)
• THOMASON, Sara Gray & KAUFMAN, Terrence. Language contact, creolization, and genetic linguistics. Berkeley,
University of California Press. 1988.
• VEIGA, Manuel. O crioulo e o português em Cabo Verde. In: Mapa da língua. 2009. Disponível
em:http://sibila.com.br/mapa-da-lingua/o-crioulo-e-o-portugues-em-cabo-verde/2753. Acesso: julho de 2017.
POTENCIALIDADES DA PSICOLINGUÍSTICA

-Relações entre gerativismo e psicolinguística


- Indagações feitas por psicolinguistas
- Alguns dados complementares

POTENCIALIDADES DA NEUROLINGUISTA
-Mente (software) x Cérebro (hardware)
- Dados complementares

Fontes:

BENTES, A e MUSSALIN, F. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. Editora Cortez,


2004. v. 2. (capítulos de Psicolinguística e Neurolinguística).

KENEDY, Eduardo. A cognição linguística. In: KENEDY, Eduardo. Curso básico de teoria
gerativa. São Paulo: Contexto, 2019. [p. 11-23 (p. 16-23, Psicolinguística; Neurolinguística)].
GENERALIDADES
- Convergência com os estudos gerativistas de Chomsky (interfaces entre linguagem
e cérebro.
- Neurolinguística (“hardware” cérebro) X Psicolinguística (“software” mente)
- Gerativismo com abordagem mais sistemática e independente da sintaxe e
verificação da faculdade inata responsável pela criação e “expansão” da própria
linguagem (criação infinita de estruturas) em oposição ao behaviorismo que
acreditava que, no caso da linguagem, esta seria desenvolvida mediante estímulo-
resposta.
- Linguagem na criança como resposta a estímulos. Problema: não reconhecer
componente mental. E qual a conclusão no gerativismo? Haveria algo de
predisposição para aprender: a faculdade da linguagem.
- Tendência da linguística até Chomsky: aspectos estruturais (forma: fonética,
fonologia e morfologia)
- Gerativismo, Psicolinguística e Neurolinguística: áreas correlatas ao se
tangenciarem em algum momento em seus objetos de estudos e abordagens.
GENERALIDADES
- Neurolinguística se dedica à parte mais física do cérebro em seu sentido físico: partes do
cérebro ativadas para criar/compreender linguagem, o que exige equipamentos específicos para
verificação
- Psicolinguística, com viés mais empírico-laboratorial: testes controlados para verificação de
situações várias relativas ao processamento linguístico (aquisição, reação, dificuldades,
compreensão de estruturas, etc)
- Abordagens mais contemporâneas com viés interdisciplinar entre biologia e psicologia.
- Relação entre o gerativismo e a Psicolinguística:
“Enquanto o gerativismo cumpre a função de formular teorias abstratas sobre a linguagem
como fenômeno cognitivo, a psicolinguística caracteriza-se como uma ciência empírica
cujo objetivo é investigar de que maneira as crianças adquirem uma língua natural e
como os indivíduos adultos produzem e compreendem palavra, frases e discursos no
tempo real da comunicação cotidiana”. (KENEDY,2019, p.19)
- Gerativismo (competência: agramatical x gramatical)
- Psicolinguística (desempenho: falante adquirindo/produzindo/reconhecendo; se se criam,
compreendem determinadas estruturas, o que leem, se sabe pronunciar palavras duma dada
língua)
PSICOLINGUÍSTICA
- Caso de “óia” (como fazer que a partir desta sonoridade se tem que fazer
algo?). Gerativismo (unidade gramatical? É palavra?)
- Como entender que se trata de uma unidade linguística de sua língua? A
psicolinguística pode buscar entender isso…
Hipótese 1: mente reconhece fragmentos ou aspectos da fala (por exemplo:
sequência de vogais e distribuição das sílabas tônicas) e isso aciona o léxico
(repertório) mental do qual se seleciona um similar (olha) que é reconhecido
Hipótese 2: o ouvinte constrói a emissão “óia”e, após compará-la com palavras
armazenadas no léxico, seleciona a mais parecida, no caso, “olha”, que é, então,
identificada.
Hipótese 3: podem ocorrer os dois processos, descritos em (1) e (2). A mente é
orientadas a sempre dar sentido naquilo que é ouvido e que parece ser uma palavra
PSICOLINGUÍSTICA
- Surgimento: anos 1950. Gerativismo e sua busca de relacionar linguística com questões
mais cognitivas e de aquisição da linguagem
- Noção anterior: Psicologia da Linguagem que buscava entender processos comuns tanto
aos estudos da psicologia como da linguística
-Temas: relação entre o cérebro e a linguagem, cujo os fundamentos são biológicos; lesões
relativas à linguagem, unindo neurologia, sociolinguística, além de temas relacionados ao
processo das unidades amplas da linguagem.
- Psicolinguística mais empirista: busca entender os processos da linguagem mediante
aferições mais indiretas por meio de experimentos denominados off-line e on-line, isto é,
baseados em respostas dadas por indivíduos após os mesmos terem lido e ouvido uma frase
ou um texto, isto é, capturam-se reações após a leitura/audição dessa frase ou desse texto.
De modo contrário, os experimentos on-line, como o próprio nome diz, se baseiam em
medidas e reações obtidas no momento em que a leitura/audição está em curso.
- Psicolinguística experimental: descrição e análise mediante questões e aplicações
laboratoriais para entender como o ser humano compreende e produz a linguagem,
identificando fenômenos linguísticos relacionados ao processamento da linguagem em seus
diferentes níveis (fonológico, morfológico, sintático e semântico).
PSICOLINGUÍSTICA
-Outras perguntas feitas pela Psicolinguística
- Como o falante sabe que, numa frase, ele tem que colocar cada palavra em uma determinada
posição? João ama Maria x Maria ama João
- Como o falante sabe o que ele pode dizer ou não em um determinado contexto?
- Como o falante, quando lê uma palavra, sabe como pronunciá-la/escrevê-la?
- Como aprende a escrever?
- Como o ouvinte entende o que o falante está dizendo? Quais são os mecanismos mentais
acionados nesse momento para a compreensão da fala do outro?
- Como lemos as expressões corporais e entendemos ao mesmo tempo a fala de quem está
dizendo?
- Como somos capazes de ler e dar sentido ao que lemos? Qual a relação entre o movimento do
olho na leitura e a compreensão do texto escrito? Como lemos as expressões corporais e
entendemos a fala de quem está dizendo algo?
- Como relacionamos imagens, cores e texto escrito no momento da leitura de um texto?
Olhamos primeiro a imagem e, depois, o texto? Por onde a gente começa? Que chama mais a
atenção?
PSICOLINGUÍSTICA (cont)
- Caso da memória e do processamento textual/informacional.
* Filme “À primeira vista”. Cegueira na infância e esta não era um problema. Vivia
apenas com seu cão-guia. A moça pela qual se apaixona o incentiva a fazer nova
cirurgia e volta a enxergar, mas ele passa por problemas. Dificuldade de se adaptar à
nova realidade: falta de memórias unindo visão e outros sentidos. Mundo em que as
noções de objetos, distâncias e pessoas foram alteradas. Precisava dar novo sentido ao
mundo. Na sua memória, havia um registro, uma forma de enxergar o mundo sem a
visão. Há imensa quantidade nova de imagens que requer adaptações.
- Ver trecho do filme.
NEUROLINGUÍSTICA
- Caplan (1987): Neurolinguística como estudo das relações entre cérebro e linguagem
(patologias cerebrais). Investigação sobre determinadas estruturas do cérebro e distúrbios ou
aspectos específicos da linguagem.
- Menn & Obler (1990): Neurolinguística teoriza sobre processamento da linguagem no cérebro.
- Dificuldades na definição diante de dois realidades e funcionamentos complexos num
entremeio entre abstrato e concreto: a linguagem e o cérebro
- Linguagem e cérebro:
 causa ou consequência? Ex: cérebro com problemas geraria linguagem ou “mente”
defeituosa?
 relação de reciprocidade entre eles (um constitui o outro e vice-versa)?
 conclusão mais certeira: relação estreita entre ambos: relação entre áreas do córtex e
processos e funções cognitivas associadas (memória, linguagem, percepção) atuando para
perceber e interpretar o mundo. Em outros termos, “linguagem e cérebro” como sistema
dinâmico e flexível cujas regularidades não são biologicamente pré-determinadas nem estruturas
autônomas sem receberem influências e padrões de existência.
NEUROLINGUÍSTICA
- Diferença com a psicolinguística: enquanto esta dedica-se ao estudo da mente, ou
seja, das funções cognitivas visíveis no comportamento humano, a neurolinguística
ocupa-se do cérebro, seus neurônios e suas sinapses, ou seja, os sistemas físicos,
químicos e biológicos que dão origem à mente.
- Pesquisa geralmente feita geralmente em laboratório (indivíduo coloca touca na
cabeça, com fios ligados ao computador; verifica-se que região cerebral é ativada a
partir de determinados estímulos)
- Investigações da neurolinguística podem ser as mesmas da psicolinguística (caso do
processo físico de leitura; movimento do olho). Isto é, sondagem do movimento do
olho na leitura (reação cérebro x reação no corpo)
- Interrelação entre as áreas; pesquisas que podem se ajudar. O objeto de estudo é que
muda: na psicolinguística, é a mente (software), e o da neurolinguística é o cérebro
(hardware) e ambas se complementam.
NEUROLINGUÍSTICA
- Neurolinguística, pois, campo de estudo das relações entre linguagem e cérebro e
cujo objeto faz parte tanto das ciências humanas como das neurociências.
- Início dos estudos: antes reflexões sobre corpo-mente na tradição científico-
filosófica, mas a ideia de cérebro-linguagem, apenas, depois (início do século XIX).
Chamava-se “Frenologia” e pouco a pouco incluindo outros aspectos como questões
anátomo-fisiológicos da linguagem e distúrbios.
- Atribuição do início em 1939 com o livro “Le syndrome de désintégration
phonétique”, de Alajouanine.
- Consideração, também, que Neurolinguística seria ramo (Luria, 1981) ou
subconjunto (Hécaen,1972) da Neuropsicologia, isto é, um campo de estudo das
perturbações verbais decorrentes de lesões cerebrais.
NEUROLINGUÍSTICA
- Avanço biotecnológico permitiu perceber diferenças entre distúrbios de memória e da
gestualidade em relação a lesões específicas em diferentes partes do cérebro.
- Caso de compreensão da memória, e não só linguagem, como processo cognitivo altamente
complexo que age em várias zonas cerebrais e põe em jogo diversos fatores em nas atividades
simbólicas humanas.
- Antes, compreensão de que certos fenômenos de compreensão e memória como mera
capacidade intelectiva do homem sem relação com linguagem propriamente dita, como a
percepção, a memória, o raciocínio; para os antigos, a linguagem como espécie de “dom divino”
dado ao homem (inata, essencial, verdadeira, lógica e transparente), sem ser confundida com a
realização humana (a fala), que a deformava, mas com a mente (o espírito), que a continha.
- Na época do iluminismo, interesse pela cognição aparece, quando a psique se torna um
atributo propriamente humano (e não mais divino, como o era para os antigos). Para este
momento, apenas algumas faculdades mentais (razão, memória ou senso comum) teriam uma
realidade cerebral mais ou menos circunscrita a determinadas regiões: questões de dificuldade de
linguagem apresentava evidências de sequelas de distúrbios cerebrais) simplesmente porque não
existia para os estudiosos (Marx, 1966). Era invisível porque não se considerava até então que
estava localizada no cérebro.
NEUROLINGUÍSTICA
- Só a partir do momento em que passa a situar-se preferencialmente na Linguística, a antiga
Afasiologia — agora denominada Neurolinguística —projeta antigas indagações filosóficas
sobre sentido, representação, conhecimento, relação entre patologia e normalidade etc.
- Os primeiros a diagnosticar e classificar as afasias foram os próprios médicos e
neuropatológicos que as descreveram a partir do que exibiam seus pacientes.
-Primeira metade do século XX: linguistas passaram a estudar as afasias com o intuito de testar
ou comprovar suas teorias  Afasiologia torna-se fonte de dados para o desenvolvimento da
teoria linguística.
- Apenas recentemente: linguistas se interessam por análise mais abrangente do fenômeno
afásico pois, antes, se enxergava a linguagem em abordagem mais gramatical e com modelos
redutores. Casos de afasias: fluentes, não fluentes e anteriores x posteriores, motoras e
sensoriais. Isto é, a primeira classificação envolve vários tipos que incluem desde alterações
fonético-fonológicas a falas telegráficas, agramatismo, alteração da iniciativa verbal, etc (lesão
na parte anterior do córtex cerebral), e a segunda inclui problemas de compreensão, dificuldade
de selecionar palavras (lesão na parte posterior do córtex), por exemplo.
- Contribuição de Jakobson: primeiro linguista a dedicar-se sistematicamente ao estudo das
afasias. Estudou atentamente as afasias do ponto de vista linguístico. Preocupação: construir
uma teoria geral da linguagem, que explicasse no seu todo: aquisição, funcionamento, estrutura,
alterações etc. Em realidade, acabou ampliando, ideias de Saussure: estabeleceu dois grandes
eixos de relações (simbólicas) projetados um sobre o outro, duas formas de organização da
linguagem, sintagmático/metonímico (responsável pela combinação de unidades) e
paradigmático/metafórico (responsável pela seleção de unidades).

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