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Linguagem Inclusiva

de Gênero
Iran Melo
VIII Seminário Corpo, Gênero e
Sexualidade
IV Seminário Internacional Corpo, Gênero
e Sexualidade
IV Luso-Brasileiro Educação em
Sexualidade, Gênero, Saúde e
Sustentabilidade
Linguagem Inclusiva de Gênero

Centro Latino-Americano de Estudos em Linguagem e Dissidência de Gênero

Rede Internacional de Pesquisa em Linguagem Inclusiva de Gênero

Núcleo de Estudos Queer e Decoloniais – NuQueer

11 projetos de pesquisa sobre, por exemplo:


- Pajubá
- Linguagem Inclusiva de Gênero na LIBRAS
- Pedagogia Queer
- Mulheridades em Livros Didáticos

Observatório Brasileiro da Linguagem Inclusiva de Gênero

Universidades-sede: Parcerias
- Universidade Federal Rural de Pernambuco - Universidade de São Paulo - USP
(UEADTec, Letras, Progel) - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
- Universidade Federal de Pernambuco - Columbia University - EUA
(PPGL, NLGBT) - Universidad de Buenos Aires - Argentina
Linguagem Inclusiva de Gênero

Observatório Brasileiro da Linguagem Inclusiva de Gênero

- Cataloga grupos e eventos acadêmicos, bem como pesquisas e publicações científicas, no Brasil,
sobre a linguagem inclusiva de gênero.
- Inspeciona práticas de proibicionismo do Estado (projetos de lei, decretos e ações de ordem
jurídica) em relação ao uso e à menção à linguagem não-binária de gênero no Brasil.
- Cataloga obras de arte, artistas e produtos do campo do entretenimento que mobilizam
linguagem inclusiva de gênero no Brasil.
- Constrói uma rede de coletivos a(r)tivistas que articulam linguagem inclusiva de gênero no Brasil.a

PESQUISA - Deixe a minha língua lamber o que quiser: linguagem disruptiva de gênero no Brasil

- Cartografia e catalogação de registros de designação disruptiva de gênero no português brasileiro.


- Etnografia sobre a compreensão e apreciação de designações disruptivas de gênero no português
brasileiro por pessoas não binárias.
- Análise da curricularização, em Pernambuco, da pedagogia linguística escolar de designações
disruptivas de gênero do português brasileiro.
- Levantamento e análise de projetos de lei e decretos que proíbem designações não binárias de
gênero do português brasileiro.
Linguagem Inclusiva de Gênero

Alguns registros cartografados


Linguagem Inclusiva de Gênero

Cruzada antigênero no Brasil e no mundo


MATÉRIAS PROIBICIONISTAS À LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA (LNB)
Autoria Argumentos
PL Federal 5248/20 “O aprendizado da língua portuguesa deve ser feito de acordo com a norma culta [...].
Guilherme Derrite (PP/SP) Há uma tentativa forçada de modificação da Língua Portuguesa, com o discurso de
democratização da linguagem.

Portaria – Governo Federal “A linguagem neutra seria uma não-linguagem e estaria destruindo os materiais
Vedação de uso da LNB em em linguísticos necessários para a manutenção e difusão da cultura. O uso de signos
projetos financiados pela lei nº ininteligíveis, cujo objetivo é a mera bandeira ideológica, impede a fruição da cultura
8.313/91(Lei Rouanet). e seus produtos, pois interrompe o processo de comunicação da língua [...]” (fala,
28/10/21 pelo Twitter, de André Porciúncula – Secretário Nacional de Fomento e Incentivo à
Cultura).

Circular do Ministério da
Educação Nacional, Juventude e “A linguagem inclusiva é contraproducente para a luta por igualdade de gênero, pois
Desportos – Governo Francês apaga as marcas de feminino que dão representação à mulher, assim como
Oposição à linguagem inclusiva atrapalha o aprendizado dos alunos e prejudica as pessoas com deficiência mental.”
em textos acadêmicos e oficiais.
Linguagem Inclusiva de Gênero

Linguagem inclusiva de gênero - Linguagem inclusiva / altruísta de gênero (Educação, Direito)


- Linguagem disruptiva de gênero (pesquisas queer / cuir)
Conjunto de mecanismos de - Linguagem neutra (ativistas nb e pessoas em geral)
linguagem que construa sentidos - Linguagem não-binária (ativistas nb e teorias críticas)
de gênero além das dominações - Neolinguagem (ativistas nb)
masculinista e binária.
1. Negação do masculino e do homem como performances universais de gênero
- O masculino gramatical como forma não marcada é uma construção histórica forjada por
uma cultura masculinista:
‘homem’ em vez de ‘ser humano’ / ‘todos’ em vez de ‘todas as pessoas’
bell hooks – Ensinando a Transgredir (capítulo 11) – língua como tecnologia de poder
Grada Kilomba – Memórias da Plantação (capítulo 9) – língua como tecnologia colonial
2. Negação da binariedade como performance universal de gênero
- A binariedade semiótica (na língua e em outros sistemas linguísticos) reflete e refrata nossa
história heteronormativa e duonormativa:
- Heteronormatividade – Michael Warner, 1991
(inspirado em Gayle Rubin, 1975, e Adrienne Rich, 1980)
- Duonormatividade – conceito que desenvolvo no âmbito do Observatório.
Judith Butler – Corpos que Importam – Matriz de Inteligibilidade de Gênero
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Matriz cultural de inteligibilidade de gênero


(‘Corpos do bem, sagrados e normais’)

Sexo biológico / corpo Gênero Orientação sexual Papel sexual

HETERONORMATIVIDADE
Sexo Masculino Gênero Masculino Heterossexualidade Atividade sexual
(cromossomo XY) (Homem cisgênero)

Sexo Feminino Gênero Feminino Heterossexualidade Passividade sexual


(cromossomo XX) (Mulher cisgênera)

Intersexo (cromossomo: XXY, XYY...)

HETEROSSEXUALIDADE CISSEXUALIDADE
COMPULSÓRIA
CISNORMATIVIDADE
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Todas as pessoas que não correspondem à matriz são


dissidentes de gênero e/ou sexualidade
Quem são essas pessoas?
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero (LIG)

DISRUPÇÃO BINÁRIA Início no Brasil – anos 1980 Feminismo CIS Ø Masculino genérico

1. Convencional
“Brasileiros e brasileiras”
TIPO 1:
- DÍADE LEXICAL (Díade):
Bom dia a todos e todas
Bom dia a todas e todos (Tópico Disruptivo)
Onde aparece?
Comum, Educação, Movimentos Sociais, Direitos Humanos. “É redundante”
Como usar?
“Professores e professoras protestam contra precárias condições de escolas” (título de uma notícia).
Correferência:
- “Eles e elas...”
- “o movimento de docentes” (veremos depois que esse modo é não binário também)
- “Iles” (vamos ver depois esse modo)
- Uso pontual no texto (vocativo de um e-mail, fecho de um ofício, cumprimento de uma palestra...)
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero DISRUPÇÃO BINÁRIA

1. Convencional
TIPO 2:
- VISIBILIDADE DA MULHER (Visibilidade): Dilma Rousseff
Palavras que existem ou que criamos no feminino gramatical
Presidenta
Bacharela
Mestra
Onde aparece?
Academia, Movimentos Sociais, Política Cristina Kirchner
Pilar del Río
Como usar?
“Conferimos o título de mestra a Maria José...” (numa ata de defesa de dissertação de mestrado).
- Se você não usar uma palavra reconhecida oficialmente, seu direito de criar (neologismo) é legítimo.
- Informe a criação (nota de rodapé, paráfrase), mas, ao mesmo tempo, não subestime a capacidade
que a outra pessoa tem de inferir seu neologismo.
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero DISRUPÇÃO BINÁRIA As vogais temáticas -o e -a são


nossos estereótipos gramaticais
de gênero na língua portuguesa
2. Não convencional
(formas típicas).
TIPO 1:
- MORFEMA -@ (não-alfabético), forma aglutinadora da dicotomia marcada masculino/feminino.
Menin@
Está em desuso – aparece ocasionalmente como tópico (de formulário, p. ex.). As formas não
Crítica: o símbolo remete a um morfema -o englobando um -a convencionais não
alfabéticas não tem
Como usar?
som linguístico
Prezad@ alun@,... (num e-mail). convencional.
Concordância nominal:
- Continuar usando a forma -@ (primeir@ alun@ matriculad@...);
O uso pontual na sentença se
- Uso pontual na sentença (Os alun@s matriculados...).
assemelha ao uso pontual do
registro da marca de número
O ideal é que possamos fazer um uso da que fazemos em:
LIG com o máximo de passabilidade Os primeiro aluno matriculado.
linguística - reconhecimento dentro da
convenção de nosso sistema linguístico!
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero DISRUPÇÃO BINÁRIA


Diferente da desinência -@, este
recurso pode ser aplicado em
2. Não convencional morfemas fora do padrão -o / -a (de
TIPO 2: troca dicotômica), como no padrão
de acréscimo (cantor / cantora).
- MORFEMA -o/a e a/o (não-alfabético):
Menino/a
Menina/o É possível misturar as duas formas (-a/o e -o/a) no mesmo
texto? Ou ainda as formas dos dois tipos (-@; -a/o e -o/a)
Onde aparece? ou mais no mesmo texto? Uma translinguagem.
Ocasionalmente como tópico. Sim, desde que quem vai ler ou ouvir esteja em ciente: Se
for uma pessoa que conheça a LIG ou se você avisar que
Como usar? vai fizer essa mistura.
Estimado/a professor/a... (num e-mail).
Concordância nominal:
- Continuar usando a forma -o/a ou -a/o (a/o anfitriã/o)
- Uso pontual na sentença
Manu Rodrigues (UNB) usa translinguagem
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA

Ø Masculino genérico
DISRUPÇÃO NÃO BINÁRIA Início no Brasil – anos 1990 Coletivos trans e nb
Ø Duonormatividade
1. Convencional
TIPO 1: Ainda que os usos já incorporados sejam mais passáveis
- NOMES JÁ INCORPORADOS NA LÍNGUA: linguisticamente, quando usados em textos longos, a
Substantivos uniformes disrupção fica perceptível pela ausência da binariedade de
gênero gramatical.
Estudante (nome comum de dois gêneros)
Criança (nome sobrecomum)
Pessoa (hiperônimo)
Usado comumente para ter maior passabilidade linguística.
Muitos textos oficiais e formais (Direito, Ciência, Academia...) têm usado este tipo.
Como usar?
Este tipo não desafia os padrões linguísticos. Este tipo ocupa a primeira
Ele pode ser usado com grande desenvoltura na fala. camada de possibilidade textual
Note que eu estou usando com frequência aqui e agora. da linguagem não-binária que
mostrarei mais adiante.
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA

1. Convencional
TIPO 2:
- NÃO MARCAÇÃO DE ARTIGO DEFINIDO ANTES DE SUBSTANTIVOS
Aviso para os estudantes do curso.
Usado comumente para ter maior passabilidade linguística.
Textos acadêmicos têm usado este tipo.
Tony Bezerra (UNB)
TIPO 3:
- REVISÃO DO O tipo 3 é uma disrupção não binária porque não marca a
MASCULINO GENÉRICO binariedade de gênero, designa as pessoas em geral.
Dia do trabalhador
Dia da classe trabalhadora
Como usar?
Seleção de hiperônimos.
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA


Em situações cujo grupo é formado
2. Não Convencional majoritariamente por mulheres ou
pessoas que se reconhecem no
TIPO 1: DISRUPÇÃO ALFABÉTICA: feminino, o feminino genérico é um
1a FEMININO GENÉRICO (FEMININO GRAMATICAL COMO GENÉRICO) excelente mecanismo. Ex. particular,
com a minha linha de pesquisa.
Usado comumente por entidades e falas feministas. Mas também como recurso reflexivo e
anti-machista para designar todas as
Como usar? pessoas. Diversas instituições têm
Concordância e correferência no feminino gramatical. feito isso.

1b FEMININO BIXA (FEMININO GRAMATICAL COM OU ENTRE HOMENS GAYS) – pajubá


Como usar?
Concordância e correferência no feminino gramatical. O feminino bixa é uma forma de
marcar a performance feminina no
1c FEMININO DECOLONIAL – palavras não designativas de pessoas corpo do homem.
- corpa
- sujeita
- quilomba
O feminino decolonial é um uso reflexivo sobre o patriarcado e a colonialidade do ser / de gênero.
Erica Malunguinho, Robeyoncé
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA


2. Não Convencional
TIPO 1: DISRUPÇÃO ALFABÉTICA: O morfema -e é um tipo que
1d MORFEMA -e ocupa a segunda camada de
- substantivos (professore) possibilidade textual da
linguagem não-binária que
- adjetivo (corajose)
mostrarei mais adiante.
- pronomes (todes)
- e suas sintaxes (ê professore) e flexões (professories).
Usado comumente por ativistas nb e cada vez mais absorvido pelas pessoas em geral.
Como usar?
Concordância e correferência com a neologia -e.
Os morfema -e, -ao e -ao também
1e MORFEMA -oa e -ao
pode ter uso pontual.
- substantivos (meninoa, meninao)
- adjetivos (corajosoa, corajosao)
Usado raramente por ativistas nb.
Como usar?
Concordância e correferência com a neologia -oa ou -ao
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA

2. Não Convencional
TIPO 1: DISRUPÇÃO ALFABÉTICA:
1f ELIPSE (espécie de morfema zero)
- obrigad
Usado raramente por ativistas nb: Bruno Veloso
Pri Bertucci
Como usar?
Concordância e correferência por meio de elipse.
1g NEOPRONOMES
- Ile
- Elu...
E suas variações (dile, delu)...
Usado por ativistas nb e muito difundido atualmente
Como usar?
Concordâncias variadas. Ophelia Cassiano
Oltiel
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Tipos de linguagem inclusiva de gênero – LINGUAGEM NÃO-BINÁRIA

2. Não Convencional
A LIG é capacistista?
TIPO 2: DISRUPÇÃO NÃO ALFABÉTICA:
1a MORFEMA -x - Não há pesquisas sobre o assunto.
Todxs - Argumentos reais: Estudante da UFRJ
1b MORFEMA -@ (como performance nb) num evento – “Eu consigo ler. Sou
Tod@s disléxica, não sou estúpida” (Podcast:
1c MORFEMA -_ Larvas Incendiadas).
Tod_s - Os aparelhos ledores podem ser
Como usar? reprogramados.
Manutenção dos morfemas para concordar. - Podemos criar novas pautas sonoras.
- Dessas formas, o morfema -x ainda resiste e é usado por pessoas binárias e nb, ativistas e não
ativistas e em diferentes registros.

A LIG é uma ação glotopolítica!


(NÃO) Binariedade de gênero

COMO IDENTIDADE COMO PERFORMANCE

 Reconhecimento do resultado (estereótipo) das  Reconhecimento das praticas regulares de linguagem


práticas regulares de linguagem (performances). (performances).
 Ao performar usos de linguagem típicos do  Binariedade: usos de linguagem do masculino no corpo
masculino ou feminino com recorrência, a pessoa é lido como masculino e do feminino no corpo lido como
feminino.
reconhecida como binária.
 Não binariedade: Os usos de linguagem do masculino ou
 Ao performar com recorrência usos híbridos de feminino intervindo no corpo tido como oposto.
linguagem do binário de gênero, a pessoa é
 Esses usos podem ter um efeito não dominante no
reconhecida como não binária ou algo que não a corpo, mas apontar para um modelo não-padrão de
identifique como homem ou mulher (queer, fluida, masculinidade e feminilidade.
travesti...).
X X
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A linguagem inclusiva de gênero é classista?

*** A LIG é acusada de classista porque “exige” conhecimento gramatical que somente pessoas com alto
grau de escolaridade teria.
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS A ESSA AFIRMAÇÃO:
- Para usar a LIG não é preciso flexionar todo o texto. É possível fazer uso pontual. Algumas pessoas
ativistas, contudo, defendem que usemos toda a flexão possível da LIG.
- Ser classista no uso da língua é legitimar e promover hierarquias de classes sociais. A LIG não
compactua com nenhum tipo de desigualdade e assimetria social.
- O argumento de que a LIG é classista é usado por pessoas que a acusam de ser um discurso que exige
conhecimento linguístico para lidar com modelos textuais emergentes (novos). No entanto, essas
pessoas não questionam a linguagem típica da web (influenciada, inclusive, pelo inglês), a qual
também tem essa característica. O que torna essa acusação exclusiva.
- Não há apenas um tipo de LIG. Você pode usar a melhor para você.
Joá Bitencourt (ativista nb) tem pensado sobre isso - @joabitencourt
Linguagem Inclusiva de Gênero

Contínuo de modos de uso da LNB


(textos falados e escritos)

Modo 1 Modo 2 Modo 3


Usar modos não binárias Usar as modos alfabéticos: o Usar os modos não alfabéticos:
já disponíveis na língua morfema -e e os Morfema -x e -@, por exemplo
(convencionais): neopronomes, por exemplo.
Boa noite a todas as pessoas.

MENOR PASSABILIDADE LINGUÍSTICA


MAIOR PASSABILIDADE LINGUÍSTICA
Linguagem Inclusiva de Gênero

Caso ENEM (2019)


Substituir: ‘O participante travesti ou transexual,
que teve a solicitação de atendimento pelo nome
social deferida não deve ser encaminhado à
coordenação, ainda que a sua fisionomia seja
diferente da foto do documento de identificação
apresentado. Todos deverão ser chamados pelo
nome social, que é o primeiro a aparecer na lista
de presença e no cartão resposta’.
Por: ‘Participantes travestis ou transexuais, que
tiveram a solicitação de atendimento pelo nome
social deferida, não devem ir para a coordenação,
ainda que a sua fisionomia seja diferente da foto
do documento de identificação apresentado.
Deverão receber tratamento pelo nome social,
que é o primeiro a aparecer na lista de presença e
no cartão resposta’.
Linguagem Inclusiva de Gênero

08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero


01
A linguagem inclusiva de gênero é um modo de contemplar a representação
de pessoas que são diariamente ceifadas na sociedade brasileira por causa do
ódio contra suas identidades de gênero.
Em seus relatórios, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais –
ANTRA –; o tradicional Grupo Gay da Bahia – GGB –, entidade que, há
décadas, mapeia dados, sobre violências contra a população LGBT; a
organização europeia Transrespect versus Transphobia e outras instituições
nacionais e internacionais afirmam que o Brasil é líder mundial em mortes
contra a população trans (transexuais e travestis). Somente estes dados já são
suficientes para justificar a defesa de ações de sensibilidade à linguagem
quanto ao reconhecimento que pleiteiam pessoas trans.
Linguagem Inclusiva de Gênero

08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

02

A língua é um fenômeno que atende a necessidades humanas e, mesmo que


tenha proposto formas supostamente universais para marcar gênero em seus
sistemas, está sujeita a mudanças de acordo com as necessidades sociais.
Nenhuma entidade científica dos estudos linguísticos no mundo despreza o
uso da linguagem não-binária de gênero. Ao contrário, a exemplo da
Associação Latino-Americana de Estudos do Discurso – ALED –, da Associação
Brasileira de Linguística – ABRALIN – e da Associação de Linguística Aplicada
do Brasil – ALAB –, todas as associações científicas da Linguística respeitam e
orientam o uso da linguagem inclusiva de gênero.
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08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

03

O caráter epidêmico da violência contra a população trans no Brasil tem


conduzido ações políticas de diferentes ordens. Inclusive, como exemplo, neste
ano de 2022, houve o reconhecimento do Supremo Tribunal de Justiça para a
aplicação da Lei Maria da Penha a casos de violência contra mulheres trans.
Este marco histórico é parte da aplicação de uma justiça equitativa que pode
ser exercitada preventivamente desde o cuidado com o uso de uma linguagem
respeitosa e que referencia pessoas trans não-binárias e a diversidade de
gênero.
Linguagem Inclusiva de Gênero

08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero


04
Uma língua é constituída por seus sistemas internos e também por seus usos. Criar
alternativas para o masculino genérico no português não é apenas uma prática de
visibilidade, mas também é uma ação reconhecida cientificamente que afeta nossa cognição
sobre as pessoas e suas potencialidades. Pesquisas em Psicolinguística atestam que falantes
projetam imagens mentais de homens quando leem o masculino genérico em detrimento
de outras possibilidades linguísticas mais inclusivas. A Psicologia Social, em diálogo com a
Linguística, evidencia que a escrita inclusiva faz muita diferença. Estudos nesta área
demostram que, quando crianças e adolescentes leem nomes de profissões somente em
suas formas gramaticalmente masculinas, concebem que homens têm mais chances de
sucesso do que mulheres e pessoas não-binárias.
Isso demonstra que uma linguagem inclusiva que se esforça para apresentar modos não-
binários de gênero pode e deve ser estimulada para construirmos visões de mundo mais
diversificadas.
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08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

05

A comunidade de pessoas trans não-binárias, no mundo inteiro, tem pleiteado modos


inclusivos de tratamento para si, buscando alternativas nos sistemas das línguas. Por
exemplo, a entidade internacional Diversity BBox, com sede no Estados Unidos e
ramificação no Brasil, propôs um guia orientador para o uso de uma linguagem que abranja
modos mais includentes para nos referirmos à população trans em língua portuguesa. Esse
material foi lançado na Europa em 2021 e tem funcionado como uma ferramenta para
entendermos a reivindicação de pessoas trans no mundo inteiro.
A exemplo de políticas parecidas, países como Portugal, Canadá, Inglaterra e Argentina já
avançaram na formalização de novos registros da linguagem não-binária, o que torna nosso
contexto nacional no Brasil ainda em passos curtos nos empreendimentos dessa ordem.
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08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

06

A justiça brasileira, por meio da representação em nota técnica nº 3/2022, publicada, em


20 de fevereiro de 2022, pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, reconhece
publicamente os investimentos políticos de interdição da linguagem inclusiva de gênero no
português do Brasil como tentativas de cerceamento à “plena realização dos direitos
humanos, em particular [à] ordem democrática, do estado de direito e dos direitos e
garantias básicas dos cidadãos e das cidadãs”. Esse posicionamento nos aponta para
orientações legais acerca da liberdade de uso de uma linguagem inclusiva e não-binária
como eixo de manutenção de uma república democrática em nosso país.
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08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

07

Existem sete mil línguas catalogadas, mas apenas um quarto delas apresenta marcação
de gênero gramatical. Não existe algo intrínseco às línguas que demande a marcação de
gênero, pois, na palavra, ela é uma construção tanto quanto é o gênero de uma pessoa. O
finlandês e um húngaro, por exemplo, não têm marcação de gênero.
Já existem algumas línguas que têm mais marcações do que masculino e feminino, como o
árabe clássico. Essas e outras informações nos levam a perceber que gênero numa língua é
fruto de intervenções históricas e políticas. No Brasil, com a luta de pessoas trans que são
vítimas de uma violência estrutural, é imperativo pensarmos como podemos amenizar essa
violência também por meio de uma intervenção política na língua.
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08 argumentos contra a censura à linguagem inclusiva de gênero

08

Em consonância com os pilares de proteção à pessoa humana, tipificados na Declaração


Universal dos Direitos Humanos, bem como na nossa Constituição Federal, no Brasil,
diferentes entidades objetivam construir uma história mais includente para as pessoas em
geral e notadamente para as pessoas cujas identidades de gênero são excluídas. Como
exemplo, o Observatório Brasileiro da Linguagem Inclusiva de Gênero mapeia a linguagem
não-binária do Brasil e atua em ações pedagógicas que fortalecem os direitos e a equidade
humana, sempre ancorado por conhecimentos científicos da linguagem associados às
necessidades da vida das pessoas. Negar esse passo humanitário importante do século XXI é
retroceder historicamente.

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