Você está na página 1de 17

SIGNOS

EM OCTÁVIO PAZ

ROTAÇÃO
VERSO E PROSA
O ritmo não só é o elemento mais antigo e permanente da linguagem,
como ainda não é difícil que seja, anterior à própria fala.

A linguagem nasce do ritmo ou todo ritmo implica ou prefigura uma


linguagem.

A lingua­gem, por inclinação natural, tende a ser ritmo.

Todas as expressões verbais são ritmo, sem exclusão das formas mais
abstratas ou didáticas da prosa;
• o ritmo se dá espontaneamente em toda forma
verbal, mas só no poema se manifesta plenamente.
Sem ritmo, não há poema; só com o mesmo não há
prosa. O ritmo é condição do poema, enquanto que
é inessencial para a prosa.
COMO DISTINGUIR PROSA DO
POEMA?
Série ritmada de gestos e de passos ao som
• poema se apresenta como uma ordem de uma música.
fechada
• Valéry compara a poesia com a dança.
• O poema apresenta-se como um círculo
ou uma esfera: algo que se fecha sobre
si mesmo, universo autossuficiente e no
qual o fim é também um princípio que
volta, se repete e se recria . E esta
constante repetição e recriação não é
senão o ritmo, maré que vai e que vem,
que cai e se levanta Mover-se de modo
sempre voltando
ao ponto
de partida.
Traço contínuo
• Prosa tende a manifestar-se como uma direto.
cons­trução aberta e linear.
obedece uma
• Valéry comparou a prosa com a marcha. sequência.

• Relato ou discurso, história ou


demonstração, a prosa é um desfile, uma
ver­dadeira teoria de idéias ou fatos. A
figura geométrica que simboliza a prosa é
a linha: reta, sinuosa, espiralada,
ziguezagueante, mas sempre para diante e
com uma meta precisa . Daí que os
arquétipos da prosa sejam o discurso e o
relato, a especulação e a história . reproduz simetricamente por
intervalos iguais
Sustentar que o ritmo é o núcleo do poema não quer dizer que este seja um
conjunto de metros.

O ritmo é inseparável da frase; não é composto só de pala­vras soltas, nem é


só medida ou quantidade silábica, acentos e pausas: é imagem e sentido .
Ritmo, imagem e significado se apresentam simultaneamente em uma uni­
dade indivisível e compacta: a frase poética, o verso.

O ritmo não é medida, mas conteúdo qualitativo e concreto.

.
Bandeira, Manuel 1886 - 1968.
Antologia Poética. Rio de Janeiro:
J.Olympo, 1976, 8. ed. , p. 96
METRO
 O metro, ao invés disso, é medida abstrata e independente da imagem. A
única exigência do metro é que cada verso tenha as sílabas e os acentos
requeridos

 Tudo se pode dizer em hendecassílabos: uma formula matemática, uma


receita de cozinha, uma sucessão de palavras desconexas.

 Em si mesmo, o metro é medida vazia de sentido.

 O metro é medida que tende a separar- se da linguagem; o ritmo jamais se


separa da fala porque é a própria fala. O metro é procedimento, maneira; o
ritmo é temporalidade concreta.
• verso livre é uma unidade rítmica. D. H. Lawrence diz que a unidade do verso
livre é dada pela imagem e não pela medida externa.

• E assim é: o verso livre é uma unidade e quase sempre se pronuncia de uma só


vez.

• O mesmo ocorre com o verso livre contemporâneo: cada verso é uma imagem
e não é necessário suspender a respiração para dizê-los. Por isso, muitas vezes
é desnecessária a pontuação. As vírgulas e os pontos sobram: o poema é um
fluxo e refluxo rítmico de palavras
A IMAGEM

O poeta e crítico literário Octavio Paz, no capítulo intitulado “A imagem


define o conceito de imagem na poesia e seus modos de construção. Ele
começa definindo a imagem como sendo toda forma verbal, frase ou conjunto
de frases, que o poeta diz e que, unidas, compõem um poema. Segue
afirmando que cada imagem ou composto de imagens pode conter inúmeros e
distintos significados.

• Estas expressões verbais foram classificadas pela retórica e se chamam


comparações, símiles, metáforas, jogos de palavras, paronomásias, símbolos,
alegorias, mitos, fábulas , etc. Quaisquer que sejam as diferenças que as
separam, todas têm em comum a preservação da pluralidade de significados
da palavra sem quebrar a unidade sintática da frase ou do conjunto de frases .
• Para exemplificar sua teoria acerca das imagens, Paz menciona que a
poesia permite que o poeta afirme que pedras são plumas, sem que estes
elementos percam seu caráter concreto e singular, ou seja, a imagem
criada não faz com que as pedras deixem de ser ásperas e duras,
amarelas de sol ou verdes de musgo e nem que as plumas deixem de ser
leves e delicadas. Eis a questão “escandalosa” do resultado da imagem
quando construída, pois ela desafia o princípio de contradição e, ao
enunciar a identidade dos contrários, atenta contra os fundamentos do
nosso pensar
• A poesia, nesse sentido, é uma linguagem capaz de transcender o sentido
de isto e aquilo e de dizer o indizível, de modo que não se pode separar
seu raciocínio das imagens. De acordo com Paz, devemos retornar à
linguagem para entender e enxergar como a imagem pode dizer o que,
por natureza, a linguagem parece incapaz de dizer.
• As imagens do poeta têm sentido em diversos níveis. Em primeiro lugar, possuem
autenticidade: o poeta as viu ou ouviu, são a expressão genuína de sua visão e
experiência do mundo. Trata-se, pois, de uma verdade de ordem psicológica, que
evidentemente nada tem a ver com o problema que nos preocupa. Em segundo lugar,
essas imagens constituem uma realidade objetiva, válida por si mesma: são obras.
[…] Neste caso, o poeta faz mais do que dizer a verdade; cria realidades que
possuem uma verdade: a de sua própria existência. As imagens poéticas têm a sua
própria lógica e ninguém se escandaliza que o poeta diga que a água é cristal
[…]. (PAZ, 2015, p. 45)
As imagens poéticas possui um objetivo? O dizer poético compreende algum
sentido?

Ao percebemos um objeto este nos apresenta uma pluralidade de qualidades, sensações e significados. O
que unifica todas essas qualidades é o sentido. As coisas possuem um sentido. Assim, o sentido é o
fundamento da linguagem e também a apreensão da realidade. A imagem também reproduz a pluralidade
da realidade.

Ao vermos uma cadeira imediatamente percebemos sua cor e forma. No mesmo ato nos é dado o
significado da cadeira: um móvel. Mas se quisermos descrevê-la teremos que ir por partes: primeiro a
forma, sua cor, material, ate chegar ao significado: a cadeira é um objeto que serve para sentar-se. Mas,
segundo Octavio Paz nesse processo descritivo perdemos aos poucos a totalidade do objeto.

No poema a cadeira é uma presença instantânea e total que chama a nossa atenção de uma só vez. O
poeta não descreve a cadeira, coloca a diante de nós. Assim como no momento em que percebemos um
objeto, a cadeira nos é dada com todas suas qualidades e significados. Assim , a imagem reproduz o
momento de percepção.
• O sentido da imagem poética.

Toda frase é suscetível de ser explicada por outra frase. Dessa forma o significado ou
sentido é um querer dizer. Eu posso dizer uma frase que pode ser dita de outra maneira.
De modo contrário o sentido da imagem é a própria imagem. Não se pode dizer com
outras palavras. A imagem explica-se a si mesma. Sentido e imagem são a mesma coisa.
Um poema não tem mais sentido que suas imagens. Ao ver um cadeira, apreendemos
instantaneamente seu sentido: sem necessidade de recorrer a palavra, sentamo-nos.

As imagens do poema não nos levam a outra coisa, mas nos colocam diante de uma
realidade concreta.
A imagem é seu sentido. O sentido do poema é o próprio poema.
• O autor destaca também que a imagem não explica: convida-nos a
recriá-la e revivê-la.
• O crítico literário Octavio Paz defende que a imagem é responsável por
transmutar o homem e convertê-lo em imagem, isto é, em espaço onde
os contrários se fundem. Destaca ainda que o próprio homem,
desgarrado desde o nascer, reconcilia-se consigo quando se faz imagem,
quando se faz outro, porque, segundo ele, a poesia tem o poder de
colocar o homem fora de si e, simultaneamente, o fazer regressar ao seu
ser original, isto é, voltá-lo para si: “O homem é sua imagem: ele mesmo
e aquele outro. Através da frase que é ritmo, que é imagem, o homem
– esse perpétuo chegar a ser – é. Poesia é entrar no ser. (PAZ, 2015, p.
50).

Você também pode gostar