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CAPACITAÇÃO

PROFISSIONAL E A
RELAÇÃO COM O
DESEMPREGO NO
BRASIL.
Ellen Thais da Silva Pantoja
Gislaine Ferigotti
Introdução

As atividades de capacitação profissional, segundo vários autores, têm uma estreita


relação com o desemprego. A necessidade de treinamento e desenvolvimento de pessoal, de
forma continua, são cruciais para o bom desempenho das organizações. Neste cenário, de
rápidas mudanças, onde as exigências de maior qualificação e adaptação são fatores de
avaliação preponderante por parte dos clientes e cidadãos, as organizações têm como
obrigação a tarefa de melhor qualificar os seus colaboradores. Segundo Balestro, Marinho e
Walter (2011), a globalização nos sistemas de produção e de distribuição, as mudanças
tecnológicas e o aumento da competição acarretaram profundas transformações nas relações
de trabalho e, como consequência, aumentaram a exclusão do mercado formal.
Para Araújo (2011), a diminuição da capacidade do setor formal para gerar empregos de boa
qualidade tem sido compensada pelo aumento contínuo no emprego informal que não podem
contar com nenhuma rede de seguridade social. Coadunando com a ideia da autora a
precarização nas relações de trabalho, aliado a crise econômica que o país atravessa nos
últimos anos tem relegados milhões de trabalhadores e trabalhadoras a condições de
subemprego.
Partindo-se deste ponto, a presente pesquisa busca analisar a estreita relação entre
qualificação e desemprego. Para isso o trabalho está organizado da seguinte forma: no
primeiro tópico será abordado a questão da Qualificação Profissional e no segundo a sua
relação com o desemprego.
Referencial Teórico

Capacitação profissional

A capacitação profissional é uma arma poderosa na busca pelo desenvolvimento das competências
humanas no trabalho (Dias, 2016). As atividades de capacitação visam aprimorar e qualificar os
colaboradores das organizações. Neste termo é necessário pensar que as organizações não existem nem
funcionam ao acaso. Precisam de planejamento para alinhar as suas atividades com os seus objetivos. Com
o advento da globalização as mudanças nos requisitos da força de trabalho, ou seja, as transformações no
ambiente produtivo, normalmente vinculadas a mudanças tecnológicas ou legais, tornaram-se fatores
importantes no espectro competitivo do mercado. Diante desse cenário a estratégia adotada pela
organização, visando a qualificação dos seus colaboradores, define como a empresa deve se comportar em
um mundo dinâmico e competitivo.

Para reforçar a ideia da necessidade de qualificação Dias destaca que:

Já há algum tempo que o elemento humano presente nas organizações, sejam elas públicas ou privadas,
deixou de ser um mero componente de um processo de trabalho e passou a assumir o posto de elemento
essencial na produção de bens e serviços, pelo fato de, entre outras características, por exemplo, ter a
capacidade de assumir posições e estratégias coerentes com os cenários apresentados pelo mercado ou
demandados pela sociedade, de modo a buscar sempre as melhores opções para alcançar os resultados
pretendidos. (DIAS, 2011, p. 21)

.
Em sintese, o senso comum revela que as empresas, pressionadas pelas intensas mudanças
ocorridas nos seus ambientes de negócios, começaram a rever as suas práticas administrativas. As
transformações ocorridas no processo de globalização impuseram às organizações uma série de medidas
no sentido de torná-las mais ágeis, além de demandar maior rapidez no processo decisório.
Outro fator importante a ser destacado é a intensificação da competição entre as organizações. Este fator
levou à necessidade de rápida incorporação do desenvolvimento tecnológico ao processo produtivo e a
fusão da ciência com a produção possibilitou a aceleração na implementação de inovações tecnológicas.
Qualificar os seus colaboradores é um passo importante dentro da organização,
pois visa desenvolver e aperfeiçoar a capacidade de cada um para que tenha um crescimento profissional
em determinada carreira na organização ou para que se torne mais eficiente e produtivo em seu cargo.
Em muitas situações as organizações se valem de outras organizações ou de firmas especializadas em
desenvolvimento de pessoal. Essas qualificações podem ser aplicadas a todos os níveis ou setores da
organização, caracterizando uma ação que proporciona o desenvolvimento de recursos humanos mais
capacitados para assumir as tarefas a eles designados.
Partindo do fato de que as empresas precisam desenvolver ações que favoreçam
o desenvolvimento de suas competências críticas, a qualificação pode ser vista como integrante das
políticas de desenvolvimento e implementação de estratégias nas organizações. Ao promover a referida
qualificação, a organização deve ser capaz de incorporar em suas práticas o aprendizado que provém
destas ações
Desemprego no Brasil

Políticas públicas de enfrentamento do desemprego têm sido prioritárias, tanto na agenda dos países com
economias capitalistas avançadas, quanto nos casos de industrialização mais tardia (Balestro, Marinho e
Walter, 2011). Para os mesmos autores:
No contexto da América Latina, os ajustes econômicos e as mudanças tecnológicas afetaram as políticas
de bem-estar nascentes, devido ao desenvolvimento institucional insuficiente no campo da proteção
social. A reforma na legislação de trabalho é frequentemente citada como uma estratégia para se obter
uma alocação eficiente e melhores perspectivas de emprego. (BALESTRO, MARINHO e WALTER,
2011, p. 3)

Corroborando com o pensamento dos autores, pode-se afirmar que apesar de nos últimos anos as leis
trabalhistas terem sofridas intensas flexibilizações, não houve real redução do desemprego, pois essas
medidas atenderam mais aos interesses de determinados setores da economia dos países em
desenvolvimento, do que aos interesses dos trabalhadores. A precarização das relações de trabalho, tem
gerado o sub-emprego e a perda do poder aquisitivo dos trabalhadores.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Contínua, no terceiro trimestre de 2021, em
uma divulgação especial apresentou os indicadores de Medidas de Subutilização da Força de Trabalho no
Brasil. Esses indicadores retratam de forma consistente e oficial a situação do subemprego no país. O
periódico Indicadores IBGE, divulga essas informações desde 1982, começou, inicialmente com dados
sobre, trabalho e rendimento, indústria e preços, posteriormente, “passou a incorporar, no decorrer das
décadas seguintes, informações sobre agropecuária, contas nacionais trimestrais e serviços, visando
contemplar as variadas demandas por estatísticas conjunturais para o País”.
De acordo com o IBGE (2021), a Subutilização da Força de trabalho (labour underutilization) é um
conceito construído para complementar o monitoramento do mercado de trabalho, além da medida de
desocupação (unemployment), que tem como objetivo fornecer a melhor estimativa possível da demanda
por trabalho em ocupação (employment).
METODOLOGIA

A forma como este trabalho foi elaborado se deu a partir de pesquisas e leituras de publicações
de materiais em periódicos, artigos e sites correlatos, sobre qualificação profissional e sobre a situação do
desemprego no País. Também se utilizou dados secundários encontrado na página do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE). A partir da revisão e da leitura dessas publicações, fez-se uma análise, o
resultado dessa análise constitui esse artigo.
O objetivo deste trabalho, é demonstrar, a partir de uma análise qualitativa, a relação entre a
importância da qualificação profissional, como uma ferramenta para fortalecer as organizações em
ambiente competitivo, bem como melhor preparar os seus colaboradores para dar conta das tarefas a eles
repassados dentro da organização. Em última análise, também estabelecer uma relação com o
desemprego estrutural existente hoje em dia no País.
Resultados

Para uma organização o investimento em capacitação assume especial relevância no aspecto do


desenvolvimento de estratégias competitivas em um ambiente, tão competitivo quanto. Muitos
especialistas consideram as atividades de qualificação como um meio para desenvolver a força de
trabalho dentro das organizações. Outros consideram a qualificação como um meio adequado e de
desempenho, nivelando intelectualmente os colaboradores dentro da organização e sempre que possível,
desenvolver atividades de reciclagem como um processo contínuo de qualificação.
Com o desafio de integrar as políticas de trabalho e renda, educação e desenvolvimento, a qualificação
profissional aparece como uma solução autônoma para universalizar os direitos ao trabalho (Araújo,
2011). Para a autora essa é uma política necessária em um País emergente em termos produtivo e que tal
ação assegura um salto na qualidade produtiva do País.
Araújo segue afirmando que:

A configuração da Qualificação Social e profissional como política pública, na condição de política social a
partir de 2004, ganha maior centralidade devido às mudanças decorrentes da reestruturação produtiva e
do próprio crescimento econômico. Marcada como um caminho para a inclusão social, a nova política
pública de qualificação expressa no segundo momento no Plano Nacional de Qualificação – PNQ (PPA
2004-
2007) tem como objetivo se afirmar como um “fator de inclusão social, de desenvolvimento econômico,
com geração de trabalho e renda” que contribua para “democratizar as relações de trabalho” e para
“imprimir um caráter social e participativo ao modelo de desenvolvimento. (ARAÚJO, p. 26, 2011)

A autora reforça a ideia de que a intervenção por parte do poder público, como um norteador
de uma política pública importante, para inserir o País em um cenário novo, no qual o espectro
competitivo molda as relações no conjunto da sociedade, é vital para que haja a inserção de segmentos
excluídos das condições ideais para alcançar um qualificação profissional e se reinserir no mercado de
trabalho.
No que tanje a situação do desemprego no País, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, apresenta, em sua PNAD – Contínua (2021), dados relevantes que traçam a situação atual em que se
encontra a população economicamente ativa do País. A partir dessas informações pode-se observar o
comportamento da força de trabalho dessa população. Segundo o IBGE, são identificados três
componentes mutuamente exclusivos, sendo que dois componentes integram a força de trabalho: I) os
subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e os II) desocupados; a eles se somam os que integram
a III) força de trabalho potencial. Segundo a OIT - Organização Internacional do Trabalho - OIT., é
recomendado que os países adotem esses indicadores principais visando propiciar um quadro mais
completo da subutilização da força de trabalho (IBGE, 2021).

Antes de iniciar a análise de alguns indicadores sobre a subutilização da força de trabalho no


Brasil, será apresentado alguns conceitos que ajudaram a compreender as taxas analisadas e quanto o
conjunto da população economicamente ativa está representado em cada faixa.
Taxa de desocupação: É dada pela divisão entre as pessoas desocupadas e a força de trabalho.
Taxa combinada de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e desocupação: É dada
pela soma dos Subocupados por insuficiência de horas mais os desocupados e dividido pela Força de
Trabalho.
Taxa combinada de desocupação e força de trabalho potencial: É dada pela soma dos
Desocupados mais a Força de Trabalho Potencial dividida pela Força de Trabalho Ampliada
Taxa composta de subutilização da força de trabalho: É dada pela soma dos Subocupados por
insuficiência de horas mais os desocupados mais a força de trabalho potencial dividida pela Força de
Trabalho ampliada

O esquema a seguir ilustra como está classificada a população de 14 anos ou mais de idade levando em
consideração a condição de atividade.
Gráfico 1 - Taxa de desocupação e taxas combinadas (%) de subutilização da força de trabalho no
Brasil, das pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência - Brasil 2012 –
2021
As análises constante no
Periódico, traça um perfil de todas as
regiões do país. Como se observará os
impactos dessas taxas se diferenciam
bastante de região para região. As
regiões que sofrem os maiores
impactos são a Norte, Sudeste e a
Nordeste.
Conforme afirma o IBGE (2021), na
divulgação da PNAD Contínua, as
informações regionais referentes às
medidas de subutilização da força de
trabalho no Brasil passaram a ser
disponibilizadas trimestralmente
desde 2016.
Em síntese o gráfico abaixo expõe os
dados referentes a a taxa de
desocupação com a taxa combinada
da subutilização da força de
trabalho, no período comprrendido
entre os anos de 2012 a 2021.
Segundo o IBGE a referência adotada
para o público em análise é a faixa
etária que se inicia a partir dos 14
anos de idade.
Conforme observamos no gráfico acima, no 3º trimestre de 2021, a taxa de
desocupação foi de 12,6%, enquanto que a taxa composta da subutilização
da força de trabalho atingiu 26,5%, o que corresponde a 13,5 e 30,8 milhões
de trabalhadores e trabalhadoras, respectivamente. As outras duas
informações relevantes que analisamos corresponde a taxa combinada de
subocuparão por insuficiência de horas trabalhadas e a taxa combinada de
desocupação e força de trabalho potencial, com 19,8% e 19,9%,
respectivamente, da população economicamente ativa do país.
Os dados sobre a força de trabalho se diferenciam quando faz-se uma
análise por região
Conforme se observa no gráfico
acima, identificou-se que o Nordeste é a
região onde prevalece as maiores medidas
de subutilização da força de trabalho
(39,1%) e, na Região Sul, as menores
(18,9%). Quanto as taxas de desocupação a
região Nordeste continua sendo a que tem
sofrido maior impacto, 16,4%, seguida pela
região Sudeste com 13,1% e Norte (12%).
Para compreendermos melhor o impacto da
Taxa de desocupação, a gráfico abaixo
detalha como esse comportamento está
ocorrendo por Estado de cada região do
País.

Gráfico 3 – Taxa de desocupação (%), na


semana de referência, das pessoas de 14
anos ou mais de idade, segundo as
unidades da federação – 3º trimestre – 2021
Como pode-se observar nos indicadores apresentados pelo IBGE, as maiores taxas
de desocupação foram observadas nos estados da Região Nordeste, e as menores
nos da Região Sul, conforme mostra o gráfico a seguir. No 3º trimestre de 2021, as
unidades da federação que apresentaram as maiores taxas de desocupação foram
Pernambuco (19,3%), Bahia (18,7%), Amapá (17,5%). As menores taxas de
desocupação foram observadas em Santa Catarina (5,3%), Mato Grosso (6,6%) e
Mato Grosso do Sul (7,6%).
Considerações Finais

A realização de múltiplos processos de qualificação favorecem o


desenvolvimento das competências de uma organização. Esses processos são
intermediados, seja pela educação formal e continuada, assim como por
conhecimentos teóricos, informações, conhecimentos sobre procedimentos,
fortalecendo os colaboradores como indivíduo, apto e capaz de assumir espaços a ele
delegados dentro das organizações.

Os reflexos dessa transformação são perceptíveis por meio das mudanças


verificadas na economia e no tipo de trabalho que as empresas realizam, indicando
que houve profundas transformações na força de trabalho. Dado o cenário cada vez
mais competitivo, ele exigirá pessoas cada vez mais preparadas. Investir na
articulação de programas de treinamentos e qualificações, que sejam capazes de
instrumentalizar as empresas para esta nova realidade é de vital importância para
assegurar um ótimo desempenho das organizações na sociedade.
Os dados relativos a precarização das relações de trabalho, a
subutilização da força de trabalho, os altos índices de desocupação demonstram o
quanto é necessário um maior investimento em treinamento, tornando-se uma
constante em um ambiente interno das organizações. A alta concorrência pressiona
as organizações por eficiência, e no momento conjuntural que o país atravessa, a
qualificação profissional é um ferramenta imprescindível e relevante para agregar
valor intelectual a empresa. Nesse sentido, o investimento em capacitação assume
especial relevância no aspecto do desenvolvimento de estratégias competitivas.

Conclui-se com isso que através dos programas de treinamento pode-se


instrumentalizar a empresa e os profissionais para a realidade dos mercados e
apoiar o desenvolvimento de capacidades humanas que estabelecerão a vantagem
competitiva sustentável da organização. Paralelo ao compromisso das organizações
em melhor qualificar os seus colaboradores o poder público tem também o seu
papel a desempenhar, desenvolvendo políticas públicas que visem a geração de
emprego e renda para que absorvam o conjunto de mão de obra que hoje vive do
subemprego ou estão desempregadas.
Referências

Dias, Diego Melo. Avaliação do impacto da capacitação profissional do Servidor Público Municipal.
UFA. 2016, 122 f.: il. color; 31 cm.
Seguro-desemprego no Brasil: a possibilidade de combinar proteção social e melhor
funcionamento do mercado de trabalho. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/se/a/hDp3wv96P5sgrdRWqFMVWbF/?format=pdf&lang=pt. Acessado em
25/11/2021.
Araújo, Fernanda Ferreira. A Política de geração de trabalho, emprego e renda:
Qualificação profissional e Desemprego. Disponível em:
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/2730/1/2011_FernandaFerreiraAraujo.pdf, acessado em
28/11/2021.
Medidas de Subutilização da Força de Trabalho no Brasil: IBGE, 2021,
https://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicili
os_continua/Trimestral/Novos_Indicadores_Sobre_a_Forca_de_Trabalho/pnadc_202103_trime
stre_novos_indicadores.pdf. acessado em 30/11/2021.
FIM.

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