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Universidade Federal de São Paulo

Campus Baixada Santista


Programa de Pós-graduação Interdisciplinar
em Ciências Da Saúde

EFEITOS DA PANDEMIA NA PERCEPÇÃO DE RIBEIRINHOS DO


AMAZONAS QUE FORAM INFECTADOS PELA COVID-19

Sara Neves Lima Zahn


Orientador: Prof. Dr. Ricardo da Costa Padovani
Coorientadora: Profa. Dra. Danielle Arisa Caranti

Santos, 2023
Covid-19
• Doença respiratória de intensidade leve a moderada causada pelo SARS-CoV-2.

• Mundo – 186.411.011 pessoas contaminadas e 4.031.725 mortes.

• Brasil – 19.089.940 infectados e mais de meio milhão de óbitos.

Fonte: Canva Pro

(Ministério da Saúde, 2021; OMS, 2021a, 2021b)


Medidas implementadas

Distanciamento Quarentena Uso obrigatório Restrição de Fechamento


social de máscaras horários de do comércio e
circulação e escolas

(Gimenez et al., 2021; Pedace et al., 2021)


Fonte: Canva Pro
Efeitos da pandemia

 Rede de saúde colapsada.

 Desemprego e problemas financeiros

 Reinvenção da vida social.

 Elevação de sinais e sintomas psicopatológicos

 Impacto populações vulneráveis

Fonte: Canva Pro

(Castro-Silva, Ianni & Forte, 2021; Souza, Andrade & Carvalho, 2021; Centro Popular de Direitos Humanos [CPDH], 2020)
Ribeirinhos: Os povos das águas
Pessoas às margens dos rios e lagos, normalmente distantes geograficamente da
zona urbana dos municípios

• Fonte de renda primária e alimentação - pesca e agricultura

• Renda familiar mensal baixa

• Nível de escolaridade baixo

• Acesso limitado à energia elétrica e conectividade

• Infraestrutura mínima de saneamento básico


(Gama, Fernandes, Parente & Secoli, 2018; Gama & Secoli, 2020) Fonte: Acervo pessoal
Pressupostos
• Dificuldades de acesso aos serviços de saúde

• Impossibilidade de vivenciar o luto

• Dificuldade em manter as medidas de contenção do vírus

• Prejuízo econômico

• Fragilização do direito à educação


Objetivos
Objetivo Geral

Compreender os efeitos da pandemia na percepção de ribeirinhos do Amazonas que


foram infectados pela COVID-19.

Objetivos específicos

• Caracterizar o cenário socioeconômico decorrente da pandemia no contexto de vida


de indivíduos ribeirinhos que adoeceram pelo novo coronavírus.

• Entender a assistência em saúde e integralidade do cuidado oferecido à população


ribeirinha no período pandêmico.

• Verificar a percepção e o enfrentamento de ribeirinhos do Amazonas sobre a


Método
• Estudo de campo observacional descritivo de natureza qualitativa e amostragem
intencional.

• Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ). Traduzido e


validado para o português falado no Brasil (Souza, Marziale, Silva & Nascimento,
2021).

• Aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal de São


Paulo (UNIFESP). Número do parecer: 5.315.669
Participantes

• Tipo de amostragem snowball (bola de neve)

• 12 indivíduos adultos, sendo 5 do gênero masculino e 7 do gênero feminino

• Habitantes da região ribeirinha do município de Coari – AM

• Notificados pelo agente comunitário de saúde local como casos de COVID-19


Instrumentos
1. Questionário de Perfil Sociodemográfico de Saúde de Populações Ribeirinhas na
Pandemia de COVID-19 - Variáveis sociodemográficas; auxílio de programas sociais nos últimos dois
anos; saúde pregressas ao adoecimento pela COVID-19; período de adoecimento pelo vírus.

2. Questionário Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) (ABEP, 2021) - Posse de


bens, grau de instrução do chefe de família e acesso a serviços públicos. Classes: A1, A2, B1, B2, C, D e E.

3. Entrevista Semiestruturada - Mudanças no contexto de vida ribeirinho na pandemia; assistência à


saúde no período pandêmico; compreensão e enfrentamento da covid-19.

4. Observação Participante e Diário de Campo - Complementa os dados coletados nas


entrevistas .Registradas no diário de campo da pesquisa
Cenário da pesquisa
• Coari - 467km por via fluvial, de Manaus

• 75.965 habitantes

• Densidade demográfica: 1,3 pessoas por km

• 34 estabelecimentos de saúde
Fonte: Silva, França & Yamaguchi (2020)
Fonte: Silva, França & Yamaguchi (2020).
• 201 comunidades em 57.970,768 km² Figura 1. Imagem de satélite da cidade Coari
Figura 1. Imagem de satélite da cidade Coari

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2010)


Procedimentos
• Contato com lideranças comunitárias

• Período: 20 a 31 de julho, no ambiente domiciliar de cada participante.

1. Pré-entrevista - Leitura do TCLE e aquecimento

2. Entrevista - Aplicação dos instrumentos, gravado em áudio mp3.

Duração aproximada e frequência: 40 min, um encontro.

“Nomes de peixes” - garantia do anonimato e da confidencialidade


Análise de dados
“O verbo principal da análise qualitativa é compreender.” (Minayo, 2014)

Transcrição Verbatim

Análise de Conteúdo do tipo temática (Minayo, 2014).

1. Pré-análise

2. Exploração do Material

3. Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação


Estratos socioeconômicos
• Classes C2 - 2 e DE - 10

• Renda domiciliar mensal: C2 - 1.965,87 e DE - 900,60 reais

• Ribeirinhos não são compreendidos como parte do grupo considerado em


situação de miserabilidade (Sherer, 2004)

• Critério Brasil em populações com características singulares


Categorização
No meio do temporal
“Você está vendo um temporal, você vai colocar seu barco no meio do lago? Não, é claro que não.
Pois é, o Covid é a mesma coisa, não tem diferença de um temporal." (Surubim, 47 anos)

• Escassez de conectividade - “Assim, eu... Eu não me impressionei. Porque aqui a gente não tem
televisão.” (Aruanã, 29 anos)

• Medidas de prevenção – “Cabia a nós, entende?” (Tambaqui, 44 anos)

• Preocupação em proteger familiares

• Colaboração comunitária
No meio do temporal
• Coping Religioso – Porque eu gosto assim, como cristão de fé, eu vejo resultado nas
coisas religiosas, sabe?” (Matrinxã, 30 anos)

• Acentuação do quadro psicológico pré-existente

• Medo, emoção mais referida

• Sintomas percebidos: perda do olfato e do paladar, tosse, dor no corpo e febre

• Sequelas – “A gente sentiu a questão dá força que hoje está menos, vamos dizer, com
menos vigor.” (Aruanã, 29 anos)
Saúde na/da floresta
• Seis subcategorias.

• Escassez de atendimento e medicamentos na pandemia – “A gente não tinha medicamento,


não tinha vacina, a gente não tinha nada.” (Matrinxã, 30 anos)

• Baixa compreensão dos fluxos de saúde;

• Participação complementar na assistência em saúde

• Medicina da floresta: utilização de remédios caseiros no tratamento da Covid-19

“Nós não tomamos nenhum tipo de medicação de médico. Natural a gente tomemo. Nós
tomemos chá do jambu, bastante chá de jambu.” (Surubim, 47 anos)
Doeu no bolso e faltou no prato
• Práticas alimentares foram impactadas pela crise econômica.

• Baixa na comercialização de produtos e fechamento da feira local.

• Elevação dos preços

“... o que diminuiu foi só o nosso dinheiro, né? Porque aí que, eu tenho o peixe,
eu tenho o fogo, eu tenho a farinha, tá de boa, né? Agora o açúcar, eu não sei
fazer açúcar, o sabão também eu não sei fazer, então isso é prioridade pra mim lá
em casa. Doeu no bolso e faltou no prato. Aí ficava mais difícil.” (Tambaqui, 44
anos)
Cadernos e canoas

• Escassez de recursos municipais

• Trajetória educacional dos pais e filhos - “Eu escrevo ruim e tem mais, eu tenho um problema na

vista que isso aqui emendo tudo pra mim. [...] não tive a oportunidade de estudar muito não.”

(Pirarucu, 37 anos)

• Método de ensino inadequado empregado na pandemia

• Ausência de conectividade nas comunidades como barreira para a educação na pandemia - “Só

que aí eles da zona urbana voltaram a ter aula virtual e da zona rural não.” (Surubim, 47 anos)
Referências
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https://www.abep.org › criterioBr › 01_cceb_2021

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Referências
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Referências
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Pedace, M. L., Gothelf, E. E., Cunto, C. L., Usandivaras, I. M., Lapalma, M. C. C., Ramos, M., Tarnosky, D. I., & Barrera, L. (2021). Relatos dobre
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Silva, R. S., França, S. M. de A. & Yamaguchi, K. K. de L. (2020). Identificação das espécies de peixes mais comercializadas em um município no
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https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/9044/7699. doi: 10.34117/bjdv6n4-003

Schnaiderman, D., Bailac, M., Borak, L., Comar, H., Eisner, A. Ferrari, A., Giannini, G., Risso, F., Vetere, C., & Garibotti, G. (2021). Impacto psicológico
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Referências
Souza, S. F., Andrade, A. G. M., & Carvalho, R. C. P. (2021). Saúde mental e trabalho no contexto da pandemia por COVID-19:
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Souza, V. R. dos S., Marziale, M. H. P., Silva, G. T. R., & Nascimento, P. L. (2021). Tradução e validação para a língua portuguesa
e avaliação do guia COREQ. Acta Paulista De Enfermagem, 34. Recuperado de:
https://www.scielo.br/j/ape/a/sprbhNSRB86SB7gQsrNnH7n/. doi: 10.37689/acta-ape/2021AO0263
Obrigada!

CONTATO:
E-mail – sara.zahn@unifesp.br

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