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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Alunas:
DRE: 120178159
Samantha Lacerda
DRE: 120154359
Rio de Janeiro
2022
PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO MATRICIAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA EM
UMA COMUNIDADE DA ZONA NORTE DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
1. Introdução
O conceito de apoio matricial foi desenvolvido por Gastão Wagner Campos, o qual
percebia a necessidade de uma rede interligada de serviços de saúde que possibilitasse a troca
de saberes e práticas. Matriciamento ou apoio matricial "é um novo modo de produzir saúde
em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma
proposta de intervenção pedagógico-terapêutica". (Chiaverini, et al. 2011, pp.15)
Este trabalho tem o objetivo geral de apresentar uma proposta de projeto que visa a
implementação de ações de matriciamento alinhado com o serviço de Atenção Básica do
território que tem buscado desenvolver estratégias de cuidado para minimizar os efeitos das
violências e fortalecer os vínculos, e a busca por atendimentos especializados, como de
psicólogos e psiquiatras em casos de sofrimentos psíquicos, gera encaminhamentos para a
instituição de saúde à qual esses serviços estão vinculados.
Levantamento dos
serviços de atenção
atuantes no território
Roda de Conversa
Toda ação de cuidado ofertada na Atenção Básica deve decorrer do vínculo, pois,
através desse pilar é possibilitado o melhor conhecimento sobre os “reais problemas da
população", assim como, o relacionamento entre profissionais e usuários. Seguindo essa
diretriz, a primeira ação pensada conjuntamente entre a equipe do NASF e a de referência foi
promover uma conversa com os demais profissionais da unidade, dos agentes comunitários
até os médicos especialistas, acolhendo e viabilizando a fala desses profissionais referente a
suas atividades e desafios. A Roda de Conversa teria como objetivo primário, ofertar um
espaço de escuta e fala, não apenas para equipe de matriciamento, mas de todos, uma escuta
vivenciada. Tendo como segundo objetivo, o reconhecimento dos limites e implicações na
atuação da equipe. Além de, fomentar as possibilidades e responsabilidades da atenção em
saúde, dado o contexto de violência onde estão inseridos.
Acolhimento
A política enquadra o vínculo como condicionante de sua efetivação, uma vez que o
apresenta como viabilizador da corresponsabilidade, continuidade e longitudinalidade do
cuidado.
Espera-se que, por meio das histórias ficcionais, os usuários revelem suas histórias de
vida, seus anseios e desejos de maneira mais fluida e confortável para eles: posto que eles se
abrem nesse processo terapêutico, porém sendo o quão vulneráveis eles conseguem naquele
momento. Esses encontros foram pensados nas pessoas que mais tem dificuldade de falar de
si e de sua vida, visto que, é mais fácil falar sobre a situação de fora, de uma “terceira pessoa”
que reflete a sua história, do que a sua própria.
Não obstante, outro ponto muito positivo desses encontros é o fato de que durante as
leituras das histórias — pelos próprios escritores — os demais usuários presentes na roda vão
se identificando também com determinados aspectos da narrativa, posto que todos ali têm
vivências compartilhadas, em alguma esfera, e esse reconhecimento, também faz parte do
processo terapêutico deles — ressaltando que, mesmo o projeto tendo a arte enquanto
ferramenta de cura, os usuários são autorizados a trazerem relatos pessoais mais explícitos se
quiserem: o objetivo principal é retirar o peso (ou parte dele) de dentro deles. Consoante isso,
também é criado um senso maior de comunidade, sendo muito importante essas pessoas que
vivem as mesmas violências se unirem e darem forças umas às outras.
Ademais, por ser uma dinâmica que propaga maior elaboração sobre o entendimento,
do que passa no interior desses usuários, acaba por promover a autonomia deles. Além disso,
lhes foi ensinada uma técnica de inteligência emocional: a escrita, que pode se tornar uma
ferramenta terapêutica para os usuários organizarem melhor seus pensamentos e sentimentos,
até mesmo, após o término do projeto. Podendo ser realizado de maneira independente, ou
através do suporte estabelecido por meio dos vínculos, aqui criados entre os usuários. Já que,
os profissionais de saúde não tem meios de resolver a complexidade da violência que
atravessa esses sujeitos, busca-se que por meio dessa ação, consigamos estabelecer e reforçar
as redes de apoio e segurança, os empoderando, viabilizando possibilidades e uma maior
compreensão sobre sua realidade.
O que foi sugerido que ocorresse nessa reunião foi a livre fala, a equipe de
matriciamento tinha em sua composição psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas
ocupacionais e assistentes sociais e todos foram divididos em equipes e frentes para atender a
toda a equipe de atenção básica nessa primeira reunião. O objetivo principal era promover um
ambiente de acolhimento por meio do processo terapêutico coletivo, entendendo as demandas
e as dores profissionais e pessoais daqueles sujeitos. Fazendo eles compreenderem que toda a
equipe também precisa se interligar através do afeto e, Nilson Filho e Sheva Maia em uma
das partes do artigo em que eles falam sobre a atenção psicossocial em saúde mental e o
trabalho terapêutico dizem que:
Diante disso, o grande dilema das questões de saúde é como lidar com as condições
crônicas, pois seu manejo é muito refratário a clínica biomédica pontual. Assim, a
continuidade trata de ajudar o sujeito a cuidar em um autocuidado. No sentido de não se
preocupar por exemplo o estilo de vida daquele usuário corresponde ao tratamento que estou
prescrevendo. Isso, novamente, retorna para as filas para atendimento. O modelo biomédico
em si é baseado em um individualismo , sem horizontal os saberes entre médico e paciente. É
muito nesse sentido, o manejo das condições crônicas faz com que pensemos a autonomia do
usuário. Refratário nesse sentido. Quando vamos para o cotidiano de um caos, às vezes há
situações de crise por questões de aplicação de medicamentos. Não é possível uma lógica
unilateral, mas abrir para o diálogo com o paciente. Além do modelo biomédico, todas as
questões de saúde acabam não considerando essas questões. Os agentes comunitários e
enfermeiras acabam tendo esse diálogo sobre o tratamento e o médico fica em um papel de
apenas prescrever um medicamento. Assim, é preciso pensar não apenas os setores de saúde,
mas as condições de cidadania daquele sujeito. A gente se interessa pelo sofrimento social na
atenção básica. É preciso abrir para entender esse modelo social muito além do biomédico.
Para a atenção básica conseguir acolher melhor faz-se necessário ir além da lógica de
um cuidado em aspectos físicos. A integralidade do cuidado não diz que o profissional deva
dar conta de tudo, mas de referenciar para os sujeitos o que é necessário para encaminhar.
Portanto, a intersetorialidade pode ser entendida como a relação entre o SUS e o SUAS. A
intersetorialidade é a partir do enfoque Biopsicossocial em prática. A rede, dessa atenção
básica, precisa ser amparada por essas outras linhas de força.
Dessa forma, pode haver eventuais relações de poder devido à dificuldade na quebra
da lógica hospitalocêntrica tradicional, baseada em encaminhamentos, especialismos,
consultas descontextualizadas do território e do próprio usuário. Isso, por sua vez, gera uma
noção hierárquica em meio às equipes de apoio e de referência, visto que, a princípio, aos
profissionais da classe médica, o trabalho do grupo referencial pode ser visto como inferior
ou complementar — quando, na verdade, é um trabalho igualmente substancial à realização
do matriciamento
Entretanto, como promover ações para lidar com essa possível demanda na prática do
matriciamento e num território atravessado por conflitos e violência? Tal questão introduz o
assunto da violência armada como fator negativo de peso que não afeta somente a formação
do vínculo entre usuário-equipe, mas também dificulta a criação de afetos nas equipes entre
si. Isso, levando em consideração que os profissionais da equipe de apoio, como médicos,
enfermeiros, psicólogos e psiquiatras podem não fazer parte daquele território, tornando a
“habituação” ao cenário ainda mais longa. Dessa forma, na mesma medida que uma coesão
entre as equipes, alcançada apenas através da formação de vínculos, se distancia, a
convivência se torna mais impessoal e propícia a relações de poder — isso porque, como já
dito, são mais cristalizadas que as relações horizontais e fáceis de serem reproduzidas no
automático das relações.
Tendo em vista que uma boa e estruturada relação entre as equipes é vital para o
melhor atendimento à comunidade, em primeira instância, é necessário oferecer o devido
suporte aos profissionais que, ao trabalharem em áreas de risco, experimentam sensações de
insegurança e, por vezes, de terror, como visto por Silva et. al: “medo, sentimento de
impotência, adoecimento físico e mental dos trabalhadores e dificuldade na circulação pelo
território prejudicam a integração entre os diferentes serviços” (Silva et al., 2021).
É importante se utilizar de uma escuta qualificada, com uma clínica ampliada baseada
na escuta do outro, ao entender sua singularidade; capaz de proporcionar um ambiente
acolhedor para o paciente. Como por exemplo saber os motivos desse paciente estar buscando
aquele serviço e também na prevenção de agravos, para assim identificar a sua necessidade e
dar encaminhamento para a solução de seus problemas. Portanto, entender as demandas em
saúde através do contexto social dos pacientes, é uma das ações para aumentar a
responsabilidade das equipes multiprofissionais com os pacientes, possibilitando intervenções
interdisciplinares e intersetoriais. É importante que o profissional tenha uma mudança de
postura, para que a homogeneização seja substituída pela atenção da subjetividade de cada
paciente. Além disso, é necessário que as demandas do paciente sejam reconhecidas para que
a implantação de linhas de cuidado e prevenção possam ter espaço como prioridades para o
tratamento desse paciente; a organização no fluxo dos trabalhos para que se tenha um
atendimento integral é de suma importância. Assim, poderá ser utilizado um fluxograma para
organizar as demandas de cada usuário; dessa forma, haverá um espaço acolhedor para o
paciente sentir-se à vontade para expor suas questões, possibilitando uma manutenção dos
problemas de cada indivíduo, para que dessa maneira todos possam ser ouvidos e atendidos
de maneira digna.
Referências bibliográficas:
Campos, G. W. S. (1992). Sobre a peleja dos sujeitos da reforma ou da reforma dos sujeitos
em peleja. Saúde e Sociedade, 1(2): 79-95. doi:
https://doi.org/10.1590/S0104-12901992000200005
Silva, M. M., Ribeiro, F. M. L., Frossard, V. C., Souza, R. M. D., Schenker, M., & Minayo,
M. C. D. S. (2021). “No meio do fogo cruzado”: reflexões sobre os impactos da violência
armada na Atenção Primária em Saúde no município do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde
Coletiva, 26, 2109-2118. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232021266.00632021
Vieira Filho, N. G., & Nóbrega, S. M. D. (2004). A atenção psicossocial em saúde mental:
contribuição teórica para o trabalho terapêutico em rede social. Estudos de psicologia (Natal),
9, 373-379. doi: https://doi.org/10.1590/S1413-294X2004000200020