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O Brasil, que vai completar 500 anos no ano 2000, desconhece e ignora a imensa
sociodiversidade nativa contemporânea dos povos indígenas. Não se sabe ao certo
sequer quantos povos nem quantas línguas nativas existem. O (re)conhecimento, ainda
que parcial dessa diversidade, não ultrapassa os restritos círculos acadêmicos
especializados. Hoje, um estudante ou um professor que quiser saber algo mais sobre os
índios brasileiros contemporâneos, aqueles que sobraram depois dos tapuias, tupiniquins
e tupinambás, terá muitas dificuldades.
Em primeiro lugar, porque há poucos canais e espaços para a expressão diretamente
indígena no cenário cultural e político do país. Via de regra, vivendo em locais de difícil
acesso, com tradições basicamente orais de comunicação e na condição de monolíngües,
com domínio precário do português, as diferentes etnias encontram barreiras para se
expressar livremente com o mundo dos não-índios. Seus pontos de vista são tomados
geralmente fora dos contextos onde vivem, mediados por intérpretes freqüentemente
precários, e registrados, finalmente, como fragmentos e em português. Aqui, por
exemplo, são raríssimos os registros em língua nativa do que se poderia chamar de arte
oral. Não há publicação que contemple sequer uma amostra dos gêneros praticados
atualmente, como também são raríssimos os museus indígenas, a literatura publicada ou
vídeo de autores indígenas. (1)
Em segundo lugar, porque sabe-se pouco sobre os índios. Basta mencionar, por
exemplo, que das 206 etnias relacionadas no quadro adiante (das mais de mil que,
segundo estimativas (2), existiam nessa parte do mundo quando da chegada dos
europeus) e das cerca de 170 línguas nativas existentes hoje no Brasil, talvez apenas
metade tenha sido objeto de pesquisa básica por parte de etnólogos ou lingüistas (3),
resultando numa bibliografia especializada (artigos e monografias), cuja maior parte não
está publicada ou é acessível apenas em língua estrangeira (4).
O público leigo interessado em conhecer mais a respeito dos índios está diante de um
abismo cultural e terá que se contentar com uma bibliografia didática rala, quando não
preconceituosa ou desinformada (5). Como exemplo, vale registrar que apenas em uma
das enciclopédias (6), dessas que se vendem nas bancas de jornais e revistas, destinadas
a um público estudantil de primeiro grau, constam verbetes sobre etnias nativas
contemporâneas no Brasil, ainda assim com diminutas quatro linhas de texto, em média,
para cada uma. Neste panorama, o presente livro é uma honrosa e bem vinda exceção,
que vem se somar a outros esforços equivalentes (7).
Mas há ainda o noticiário da imprensa. Apesar do interesse da mídia pelos índios nos
últimos 25 anos, o que se informa , e , portanto, o que se "consome" sobre o assunto,
são fatos fragmentados, histórias superficiais e imagens genéricas, enormemente
empobrecedoras da realidade. A coisa mais comum de se ler ou de se ouvir na imprensa
são notícias com o nome das "tribos" trocado, grafado ou pronunciado de maneira
aleatória. Não raro um determinado povo indígena é associado a locais onde nunca
viveu, ou ainda a imagens que, na verdade são de outros povos indígenas (8).
Os arquivos das redações dos jornais diários têm informações descontínuas sobre as
"tribos" em pauta, sem nenhuma densidade cultural ou histórica específica. Basta
lembrar, por exemplo, as etnias que, por circunstâncias históricas, ocuparam
concretamente o espaço do "índio de plantão" no noticiário e no imaginário do país em
diferentes épocas: como o foram, na década de 40, os Karajá da Ilha do Bananal, ou os
Xavantes de Mato Grosso, que logo após os primeiros contatos com os "civilizados"
apareceram, nos anos 50, vestindo ternos brancos numa loja da rede Ducal em São
Paulo e, depois, voltaram, nos anos 70, com Mário Juruna. Ou ainda como os
Krenakarore, os "índios gigantes", "pacificados" e removidos para que uma rodovia
ligando Cuiabá a Santarém fosse aberta na floresta, nos anos 70. Ou ainda os Kayapó
guerreiros, de Raoni e Paiakã, do sul do Pará, nos anos 80, os Yanomami de Roraima,
vítimas da invasão garimpeira há dez anos e, mais recentemente, o retorno dos velhos
Guarani que, misteriosamente, passaram a produzir suicídios em cadeia de jovens. Até
os famosos "índios do Xingu", desde muito tempo no noticiário e presença obrigatória
em qualquer coleção de postais sobre o Brasil, não passam de uma referência genérica e
grosseira para se tratar de um conjunto de 17 povos que hoje vivem no chamado Parque
Indígena do Xingu, alguns deles tão diferentes entre si como os brasileiros dos russos.
1992
Colômbia ?
Venezuela (1.192)
26 Bará AM 40 1992
Paraguai
31 Cinta Larga Matétamãe MT/RO 643 1993
32 Columbiara RO ?
33 Deni AM 765 1991
34 Dessano* Desâna AM 1.458 1992
Gavião do Mãe
Maria
41 Gavião Pukobiê MA 150 1990
Gavião do
Maranhão
42 Guajá Awá, Avá MA 370 1990
43 Guajajara Tenethehara MA 9.603 1990
44 Guarani* Kaiowá, andeva, MS/SP/RJ/ES/SC/R/S 30.000 1994
Chiriguano
45 Guató MS 700 1993
46 Hixkaryana Hixkariana AM/PA ?
47 Iauanauá Yauanawá AC 230 1987
48 Ingarikó* Ingaricó RR 1.000 1994
Kreen-Akarore
131 Pankararé Pancararé BA 723 1991
132 Pankararu Pancararu PE 3.676 1989
133 Pankaru Pancaru BA 74 1992
134 Parakanã Paracanã PA 567 1994
135 Pareci Paresi MT 803 1994
136 Parintintin AM 130 1990
137 Patamona* Kapon RR 50 1991
Colômbia
186 Wapixana* Uapixana, RR 5.000 1994
Vapidiana,
Guiana (4.000) 1990
Wapisiana,
Wapishana
187 Warekena* Uarequena AM 476 1992
Peru (2.775)
192 Xakriabá Xacriabá MG 4.952 1994
193 Xavante Akwê, A'wen MT 7.100 1994
194 Xerente Akwê TO 1.552 1994
195 Xereu PA/AM ?
196 Xipaia Shipaya PA ?
197 Xocó Chocó SE 250 1987
198 Xokleng Shokleng SC 1.650 1994
199 Xucuru Xukuru PE 3.254 1992
200 Xucuru Kariri Xukuru-Kariri AL 1.520 1989
201 Yanomami* Yanomam, RR/AM 9.975 1988
Ianomâmi,
Venezuela (15.193) 1992
Sanumá, Ninam,
Ianoama
202 Yawalapiti Iaualapiti MT 140 1990
203 Ye'kuana* Maiongong, RR 180 1990
Ye'kuana,
(3.632)
Yekwana
Venezuela 1992
204 Zo'é Poturu PA 110 1990
205 Zoró MT 257 1992
206 Zuruahã AM 125 1986
Quem fala?
Na década de 80, os "índios" foram protagonistas de várias cenas marcantes no cenário
político nacional, as quais, registradas por fotógrafos e cinegrafistas, ganharam
manchetes nos jornais e telejonais: o cacique Mário Juruna (Xavante) com seu gravador,
registrando promessas de políticos em Brasília, o gesto marcante de Ailton (Krenak) ao
pintar o rosto de preto durante discurso no plenário do Congresso Nacional Constituinte,
ou ainda o de advertência de Tuíra (mulher Kayapó), em Altamira no Pará, ao tocar a
face de um diretor da Eletronorte com a lâmina do seu terçado.
Entre tantas houve uma, envolvendo o cacique Raoni, dos então chamados Txucarramãe
(Kayapó), e o então Ministro do Interior, Mário Andreazza, que merece ser relembrada
aqui com mais detalhes. Em maio de 84, Raoni saiu de sua aldeia e veio até Brasília,
depois que seus guerreiros bloquearam por mais de um mês a rodovia BR-080 que liga
Xavantina e Cachimbo, no norte do Mato Grosso, pelo fato do governo federal não ter
demarcado, conforme prometido, uma área de acréscimo ao seu território, na margem
direita do Xingu. Em pleno gabinete do Ministro e diante da imprensa, Raoni teve a
reivindicação de seu povo finalmente atendida. Selou o acordo presenteando Andreazza
com uma borduna e, puxando-lhe o lóbulo da orelha esquerda, declarou: "aceito ser seu
amigo, mas você tem que ouvir o índio"!
Mas como assim? Quem fala em nome dos "índios"? Aparentemente simples, essa
pergunta é de difícil resposta. No caso específico, Raoni era portador de uma
reivindicação local muito concreta e falava com plena legitimidade pela sua aldeia,
pelos seus guerreiros que se reuniram para planejar as ações na Casa dos Homens, por
apenas uma das tantas aldeias do povo Kayapó.
A agenda colocada pela sociedade nacional e internacional nos últimos anos para os
"índios" no Brasil funcionou como mecanismo de pressão para a produção de uma
representação ou representações da indianidade genérica. Refiro-me ao seguinte
conjunto de processos e eventos: a elaboração da Constituição federal (1987/88), a
reunião da ONU sobre a ecologia e desenvolvimento no Rio (1992), as comemorações
ou anti-comemorações dos 500 anos da chegada de Colombo à América (1992), a
tramitação do Estatuto das Sociedades Indígenas no Congresso Nacional (1992/94), o
término do prazo constitucional para a demarcação de todas as terras indígenas (1993), a
Revisão da Constituição (1993/94) e as eleições presidenciais (1994).
Tão mais se afasta do nível local, a política indígena tende a aparecer nos cenários
regional, nacional e internacional como uma ação intermitente associada a
intermediários não indígenas os quais, por sua vez, têm perfil institucional, objetivos e
estratégias próprias bastante diversas. Mesmo considerando o fenômeno recente das
chamadas organizações indígenas "registradas em cartório", vale afirmar que a questão
da representação dos interesses indígenas no plano supralocal somente pode ser
compreendida e avaliada no Brasil quando se considera uma sociologia dos
intermediários não-indígenas de todo tipo a ela referidos, como algo que a constitui e
conforma.
Especialmente após a promulgação da nova Constituição federal em 1988, cresceu em
várias regiões do Brasil a formalização de organizações indígenas, com diretorias eleitas
em assembléias, estatutos registrados em cartório e contas bancárias próprias. Trata-se,
a rigor, da incorporação, por alguns povos indígenas, de mecanismos de representação
política por representação, para poder lidar com o mundo institucional, público e
privado, da sociedade nacional e internacional e tratar de demandas territoriais
(demarcação e controle de recursos naturais) assistenciais (saúde, educação, transporte e
comunicação) e comerciais (colocação de produtos no mercado).
Na sua maioria são organizações de caráter étnico de base local (por aldeia ou
comunidade), como a Associação Xavante Pimentel Barbosa, ou interlocal (grupo de
aldeias ou comunidades), como a ACIRI, Associação das Comunidades Indígenas do
Rio Içana, ou o Conselho geral da Tribo Ticuna (CGTT). Surgiram também algumas
organizações regionais - como a UNI (União das Nações Indígenas) do Acre, o
Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Federação das Organizações Indígenas do Rio
Negro (FOIRN) e, num âmbito maior, a Coordenação das Organizações Indígena da
Amazônia Brasileira (COIAB). Houve também a curta experiência de representação
nacional da UNI (União das Nações Indígenas) que, aliás, nunca se institucionalizou
formalmente.
No nível local operam instituições políticas tradicionais de cada povo, nem sempre tão
visíveis como a Casa dos Homens, entre os Kayapó ou o Conselho dos Velhos no pátio
da aldeia, entre os Xavante. Tais organizações têm eficácia reguladora sobre as
interferências externas. Um exemplo clássico é que tais formas tradicionais de
organização foram e são mecanismos internos que muitas vezes resistem ás imposições
de funcionários de agências governamentais, os quais, sempre à procura de "um chefe"
com quem tratar, acabam nomeando "capitães" que não coincidem com as autoridades
tradicionais; ou no caso de missionários que nomeiam seus interlocutores preferenciais
numa comunidade indígena, alçando-os à condição de pastores ou catequista, por
oposição aos pajés. Ambas são formas de cooptação, que agências de contato
estabelecem para entrar com sua política numa determinada área indígena.
O caso da UNI Nacional, que já não mais existe, é ilustrativo das dificuldades dos
índios construírem formas estáveis e permanentes de representação de interesses no
Brasil, com uma base tão profundamente diversa e dispersa. Fundada em 1979, num
encontro patrocinado pelo governo estadual do Mato Grosso e sem conexão direta com
as várias, assim chamadas, Assembléias de Lideranças Indígenas da década de 70,
incentivadas pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário), a UNI desempenhou com
eficácia o papel de referência simbólica da indianidade genérica na conjuntura de
democratização pela qual passou a sociedade brasileira nesse período, até o processo de
elaboração da nova Constituição Federal (1986/88). Para tanto, valeu-se um conjunto de
alianças não-indígenas que incluiu, ente outras, várias organizações não-governamentais
de apoio: o próprio CIMI, parlamentares de vários partidos políticos, associações
profissionais como a CONAGE (Coordenação Nacional dos Geólogos) e a ABA
(Associação Brasileira de Antropologia). A cena indígena que foi se compondo em
Brasília neste período contou de representantes de cerca de metade dos povos indígenas
do pais, viabilizada pelo apoio que receberam de seus aliados não-indígenas. Porém, na
comissão de frente que acompanhou os momentos decisivos das votações dos direitos
indígenas no Congresso Nacional, havia um expressivo e aguerrido grupo de Kayapó, a
única etnia que chegou à capital do país com recursos próprios, seja por controlar
conexões chaves com a burocracia da FUNAI, seja por se valer da venda de mogno e
das taxas cobradas aos garimpeiros que extraiam ouro de suas terras.
Considerar apenas tais experiências recentes de representação e aferir seu grau de
reconhecimento social e o desempenho dos seus dirigentes através de indicadores
quantitativos e qualitativos apropriados á análise de mecanismos verticais de
representação política na sociedade institucional moderna - como a capacidade de
mobilização, o número de votos, a sintonia de posições com relação a questões comuns
e assim por diante - seria prematuro, mas sobretudo, inadequado e empobrecedor.
No cenário demográfico, lingüistico e espacial, caracterizado nos itens anteriores desse
artigo, a questão da representação política dos interesses indígenas no Brasil é bastante
peculiar, se comparada, por exemplo, à situação na Bolívia, no Peru ou no Equador (17).
Aqui, a política propriamente indígena, autônoma e permanente, é uma realidade
fundamentalmente local (de cada aldeia, comunidade ou família), faccional (no caso,
por exemplo, de aldeias onde a organização social está baseada em metades rituais a
cada qual correspondendo um chefe) e descentralizada (sem o reconhecimento de um
centro de poder).
Reconhecer e valorizar tais características das formas indígenas de se organizar e
representar tem sua importância atual porque, por exemplo, a Constituição Federal me
vigor prevê consultas prévias a comunidades indígenas sobre projetos de exploração de
recursos minerais por terceiros em seus territórios. Fazer tais consultas, sempre que
possível, in loco, garantindo condições adequadas de expressão em língua nativa,
aumenta a probabilidade de se saber o que realmente um determinado povo indígena
está pensando e querendo.
Os quadros a seguir apresentam duas listas, uma de organizações indígenas
formalizadas recentemente (registradas em cartório ou em vias de) e outras das
organizações de apoio no Brasil, com suas localizações e, sempre que possível, com o
ano de fundação. As organizações indígenas aparecem agrupadas por Unidade da
Federação onde têm sua sede. As organizações de apoio, por ordem alfabética das suas
siglas e, na coluna UF, aparece em primeiro lugar o local onde está situada a sede da
organização e, em seguida, quando for o caso, as demais onde atua. Vale ressaltar que a
simples listagem das organizações não revela as múltiplas diferenças entre elas; de
mandato, de abrangência e espectro de alianças. Como já foi mencionado, há casos de
organizações com pretensões de representação política a nível interlocal e regional.
Freqüentemente as comunidades indígenas aldeadas entendem essas organizações não-
tradicionais como canais para tratar e receber recursos externos, apenas. Algumas delas
foram deliberadamente criadas com esse fim, numa conjuntura de crise dos serviços de
assistência oficial, ou são organizações de serviços, não de representação.
QUADRO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
(Registradas em Cartório)
(não governamentais)
TO/CE/PE/BA/MG/
ES/SP/PR/SC/RS
6 COMIN Conselho de Missão Entre Índios RS 1982
7 CPI Centro de Pesquisa Indígena SP/AC/MT/MG 1989
8 CPI/AC Comissão Pró-Índio do Acre AC 1979
9 CPI/SP Comissão Pró-Índio de São Paulo SP/RR/PA 1978
10 CTI Centro de trabalho Indigenista SP/AP/MT/MA/ 1979
TO/MS
11 GAIN Grupo de Apoio ao Índio MS 1986
12 GAIPA Grupo de Apoio ao Índio Pataxó BA
13 GRACI Grupo Recifense de Apoio à Causa PE
Indígena
14 GRUMIN Grupo Mulher-Educação Indígena RJ/PB
15 GTME Grupo de Trabalho Missionário MT/RO/RS 1979
Evangélico
16 IAMÀ Instituto de Antropologia e Meio SP/RO 1989
Ambiente
17 INESC Instituto de Estudos Sócio Econômicos DF 1979
18 ISA Instituto Socioambiental SP/DF/AM/PA/MT 1994
19 MAGÜTA Centro Magüta AM 1985
20 MAREWA Movimento de Apoio à Resistência AM 1983
Waimiri Atroari
21 MARI Grupo de Educação Indígena/USP SP 1989
22 NCI Núcleo de Cultura Indígena SP/MT 1985
23 OPAN Operação Anchieta MT/AM/MR 1969
24 PETI/MN Pesquisa Estudo terras Indígenas/ Museu RJ 1986
Nacional
Dada a situação concreta dos povos indígenas no Brasil, será possível supor uma
organização nacional estável que resolva as questões da representação vertical dos
interesses a um só tempo tão unitariamente específicos e difusos, fracionados e
diversos? Serviriam aos índios modelos sempre importados, do mundo sindical, por
exemplo? Não se trata de desmerecer os esforços que organizações indígenas e de apoio
têm feito para equacionar tão delicada situação, mas de reconhecer sua especificidade
volátil e sua forma híbrida, para transformá-las em virtude.
(NOTAS DE RODAPÉ)
(1). Há exceções como, por exemplo: o Museu Magüta dos Ticuna, que funcionou desde
92 na cidade de Benjamin Constant (AM) ou o Centro Cultural da FOIRN (Federação
das Organizações Indígenas do Rio Negro), que está em construção na cidade São
Gabriel da Cachoeira (AM), com inauguração prevista para abril de 95. Os livros Antes
o Mundo não Existia, a mitologia heróica dos índios Desâna, dos autores Umúsin
Panlõn e Tolamãn Kenhiri (versão em português, Livraria Cultura Editora, SP, 1980) -
que será reeditado pela FOIRN/UNIRT em 95 - numa versão revista e ampliada, assim
como Torü Duü ügü, nosso povo (narrativas orais de dois Ticuna, publicadas em edição
bilingüe em 1985, RJ, Museu Nacional/SEC/MEC/SEPS/FNDE) são obras únicas no
gênero. Há alguns escritos de autores indígenas, em língua nativa, feitos especialmente
para publicações de caráter didático utilizadas em programas escolares não oficiais.
Publicações que reúnem mitos são mais freqüentes, mas este é apenas um dos gêneros.
Ainda assim, as mais completas foram publicadas no exterior. Há registros publicados
de músicas indígenas quase sempre fragmentos a maior parte também no exterior. No
Brasil há algumas poucas exceções, destacando-se, por ordem cronológica: A Arte Vocal
dos Suyá (Tacape, Série Etnomusicologia, São JoãoDel rey, 1982); Paiter Marewá
(Memória Discos e edições Ltda, SP, 1984); Kaapor, Cantos de Pássaros não morrem
(UNICAMP/MINC/SEAC,1988) Bororo Vive (Museu Rondon/UFMT, Cuiabá, 1989) e
o CD Etenhiritipá, Cantos de Tradição Xavante (Associação Xavante de Pimentel
Barbosa e Núcleo de Cultura Indígena/SP, setembro/94). Na área de vídeo a década de
80 assistiu ao ingresso em cena de alguns videomakers indígenas, ente eles Siã
Kaxinauá (AC), um dos poucos que finalizou os produtos que já foram exibidos em
mostras e festivais no Brasil e no exterior. Outro destaque é o Projeto Vídeo nas Aldeias
do Centro de Trabalho Indigenista (SP), coordenado pelo videomaker Vincent Carelli,
que estimula o intercâmbio cultural entre diferentes povos indígenas através do vídeo,
treinando e acompanhando videomakers indígenas, como Raimundo Xontapti Gavião
Parkatejê (PA) e Kasiripinã Waiâpi (AP), e também produzindo vídeos próprios, cuja
marca é o áudio direto em língua nativa, com legendas em português e outras linhas.
(2). Ver a respeito "Línguas Indígenas 500 anos de descoberta e perdas", de Aryon
Dall'Igna Rodrigues, in CIÊNCIA HOJE, revista de divulgação científica da SBPC, vol.
16, número 95, novembro de 1993, págs. 20 a 26.
(3). "Das 170 línguas indígenas do Brasil, aproximadamente 80 receberam alguma
descrição, em geral da fonologia segmental ou de detalhes da gramática. Menos de 10%
das línguas têm descrições completas de um bom nível científico". (cf. Moore,D. &
Storto, L.: Lingüística Indígena no Brasil MPEG, Belém, mimeo, 1993, pág. 03)
(4). Não há balanço atualizado a respeito do estado das pesquisas, etnológica e
lingüística, sobre os índios no Brasil. Os últimos balanços bibliográficos a respeito são
os de: Seeger A. & Viveiros de Castro, E.: "Pontos de vista sobre os índios brasileiros:
uma ensaio bibliográfico" (Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais,
IUPERJ, n 2 , 1977); "The present State os the Study of the Indigenous Languages of
Brazil", de Aryon Dallignia Rodrigues (1985); e o artigo de Moore & Storto,
mencionado na nota anterior, a sair na revista AMÉRICA INDÍGENA (México). Vale
lembrar uma série de publicações de referências, muito prezada pelos especialistas da
área, denominada Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira (Vol. I, SP, 1954 e vol.II,
Hanover, 1968, ambos de Herbert Baldus e o vol. III, Berlim, 1984, de Thekla
Hartmann).
(5). Ver a respeito A questão indígena na sala de aula, subsídios para professores de 1º e
2º graus, coletânea organizada por Aracy Lopes da Silva (Ed. Brasiliense, SP, 1987, 253
págs.), que traz análises críticas na primeira parte e orientações positivas na segunda.
(6). Trata-se da Larousse Enciclopédia, Brasil A/Z, Editora Universo, SP, 1988
(7). Um clássico disponível, de espectro geral, é o livro Índios do Brasil, do antropólogo
Júlio César Melatti (Hucietc, SP, 48ed. 1993, 220 págs.). Sobre o passado, ver o
impressionante Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendajú (IBGE, RJ, 1981, 97 págs. +
mapa), a coletânea História dos Índios do Brasil, organizada por Manuela Carneiro da
Cunha (Cia das Letras/SMCSP, 1992, 611 págs.) e, especificamente sobre as relações
entre índios e não-índios no Brasil na primeira metade deste século, o livro Os índios e a
civilização de Darcy Ribeiro (Vozes, Petrópolis, 1982, 509 págs.) outro clássico. Para
um mergulho mais profundo no universo de um povo indígena específico ver Araweté, o
povo do Ipixuna, de Eduardo Viveiros de Castro (CEDI, SP, 1992, 192 págs.), versão
para um público mais amplo de um trabalho monográfico de grande envergadura, e o
vídeo documentário Araweté, de Murilo Santos (CEDI, Vhs, 28, 1992) Para uma visão
contemporânea abrangente das várias situações regionais enfrentadas pelos povos
indígenas e suas relações com o cenário nacional e internacional, ver o Aconteceu
Especial Povos Indígenas no Brasil (série publicada pelo CEDI, SP, desde 1980),
especialmente o volume dedicado ao período 1987/1990 (592 págs., com fotos, mapas,
quadros, notícias e artigos analíticos) e o volume a sair em 95, pelo Instituto
Socioambiental, referente ao período 1991/1994. Há bons títulos na chamada literatura
infantil, como os trabalhos de Ciça Fittipaldi e Rubens Matuck, por exemplo.
(8). Exceção à regra é o periódico mensal PORANTIM, publicado desde 1979 pelo
Conselho Indígenista Missionário (CIMI), órgão oficial da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), da Igreja Católica Romana.
(9). O Manual de Redação e Estilo do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO diz que
nomes das tribos indígenas terão singular e plural e serão adaptados ao português e
escritos com inicial minúscula e como adjetivo, terão apenas plural, mas não feminino
(SP, 1990, verbete índio, pág. 185). O Novo Manual de redação da FOLHA DE SÃO
PAULO (verbete indígena/índio, pág.81), determina apenas que os nomes de tribo
indígenas devem ser flexionados, e ao dar exemplos, coincide com as regras
mencionadas anteriormente.
(10). Ver Araweté, o povo do Ipixuna, de E. Viveiros de Castro (CEDI, SP,1992)
(11). Ver a respeito dos direitos coletivos especiais Dos Índios, o capítulo VIII da ordem
Social, na Constituição Federal do Brasil (1988) e o projeto de Estatutos das Sociedades
Indígenas em tramitação no Congresso Nacional e o Capítulo 3 deste volume.
(12). O CEDI é uma instituição privada, sem fins lucrativos, com sede em São Paulo,
que iniciou nos anos 70 um trabalho de coletar, organizar, editar e publicar informações
e análises sobre a situação contemporânea dos índios no Brasil, A partir de 1995, com o
encerramento do CEDI, o Programa Povos Indígenas no Brasil se incorporará ao
Instituto Socioambiental, uma nova ONG também com sede em São Paulo.
(13). Ver a respeito da emergência de identidade nativa, por exemplo, o Atlas das Terras
Indígenas do Nordeste, PETI/Museu Nacional, dezembro de 1993
(14). Hoje há indícios de 54 grupos indígenas sem contato regular/conhecido com a
sociedade nacional, todos na região amazônica. Tais indícios foram colecionados a
partir de menções que aparecem em relatórios de técnicos da Funai, de missionários ou
indígenistas de Ong's, baseado em relatos de outros índios e/ou de populações regionais
ou em observação direta de aldeias e roças, através de sobrevôos. A FUNAI confirma
apenas doze. Na publicação Terras Indígenas no Brasil (CEDI/PETI, 1990), aparecem
listadas as 54 evidências, com localização aproximada: 31 encontram-se em terras
indígenas já demarcadas ou com algum grau de reconhecimento oficial pelo governo
federal.
(15). Mais uma vez, trata-se do resultado da coleta sistemática de informações feitas por
Fany P. Ricardo, da equipe do Programa Povos Indígenas no BrasilCEDI , a partir da
leitura de relatórios de campo, trabalhos monográficos acadêmicos , publicações do
Brasil e do exterior e contatos diretos com pessoas da rede de colaboradores do
programa. Dado o caráter de divulgação da presente publicação, não consta aqui a
extensa lista de fontes para os dados de população.
(16). refiro-me aos dados publicados no Capítulo 14 (Áreas especiais) do ANUÁRIO
ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1992, seção 1, IBGE, págs. 176 a 178.
(17). Apenas para mencionar o aspecto demográfico da questão, na Bolívia, a população
indígena soma 4.1 milhões (56,8% da população nacional); no Peru 9.1 milhões
(40,8%) e no Equador, 3.1 milhões (29,5%) cf. Davis S. & Partridge W., Promoción de
las Poblaciones Indígenas en América Latina, in Finanzas y Dessarrollo/ marzo 94, p.38
A equipe da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro agradece nSérgio Luiz Simonato,
que gentilmente digitou este texto.