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Se pretendemos produzir textos com qualidade, devemos refletir sobre o que é texto e

textualidade. Segundo Costa Val (Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2004),
texto ou discurso é uma ocorrência lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada
da unidade sociocomunicativa, semântica e formal. E a textualidade é um conjunto de
características que fazem que um texto seja um texto, e não apenas uma seqüência de frases.
Os fatores da textualidade se distinguem em lingüísticos e pragmáticos. São eles:

OS FATORES LINGÜÍSTICOS

 COERÊNCIA. Um texto para ser coerente depende do conhecimento da língua e de


mundo e do grau de compartilhamento desse conhecimento entre produtor e
receptor. Se o receptor de um texto não conhecer bem a língua que lhe deu forma,
bem como a realidade de que ele fala, com toda certeza irá classificá-lo como
incoerente. A coerência textual depende também das inferências, da
intertextualidade, dos fatores pragmáticos e interacionais (tipos de atos de fala na
interação, contexto de situação, intenção comunicativa).
 COESÃO. A coesão é responsável pela ligação dos sentidos isolados para evidenciar a
estruturação da seqüência superficial do texto, não perdendo de vista o todo e a
intenção com que se produz esse todo, para constituir finalmente um texto.Os
mecanismos para a coesão de um texto podem ser o uso adequado dos operadores
argumentativos, do léxico através da reiteração (repetição do mesmo item lexical:
sinônimos, nomes genéricos etc.) e da colocação (uso de termos pertencentes a um
mesmo campo significativo).

OS FATORES PRAGMÁTICOS DA TEXTUALIDADE:

 INTENCIONALIDADE. A intencionalidade revela o esforço feito pelo produtor para


estabelecer um discurso coerente e coeso a fim de cumprir o seu objetivo
comunicativo em função do receptor.
 ACEITABILIDADE. A aceitabilidade é inerente ao receptor, que analisa e avalia o grau
de coerência, coesão, utilidade e relevância do texto capaz de levá-lo a alargar os seus
conhecimentos ou de aceitar a intenção do produtor.
 SITUCIONALIDADE. A situcionalidade é responsável pela adequação do texto ao
contexto sociocomunicativo.
 INFORMATIVIDADE. A informatividade responde pela suficiência de dados no texto,
como também pelo grau de previsibilidade nas ocorrências no plano conceitual e no
formal.
 INTERTEXTUALIDADE. A intertextualidade mostra a interdependência dos textos entre
si, tendo em vista que um texto só faz sentido quando é entendido em relação a outro
texto (COSTA VAL, 2004).
 Intencionalidade: diz respeito às intenções do locutor, que podem ser informar,
impressionar, convencer, pedir, ofender, etc.
 Aceitabilidade: refere-se à expectativa do recebedor (leitor) de que o conjunto de
ocorrências seja um todo coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir
conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.
 Situacionalidade: diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e
relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à
situação sociocomunicativa.
 Informatividade: diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são
esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e no formal. Outro requisito
para que um texto tenha bom índice de informatividade é a suficiência de dados para
que o texto seja compreendido com o sentido que o produtor pretende.
 Intertextualidade: relaciona-se aos aspectos que fazem a utilização de um texto
dependente do conhecimento de outro(s) texto(s).
A pretensão foi destacar certas características dos textos dos alunos, resultantes do
cumprimento de tais fatores. Para tanto, foram analisados doze textos (seis em uma primeira
etapa – situação inicial - e seis em uma segunda – situação final), que podem ser considerados
significativos para o universo investigado, ou seja, o total de alunos (trinta) do 1 o Módulo do
Curso de Turismo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Ouro Preto, no segundo
semestre letivo de 2000. Tal análise deve ser observada tendo-se em mente que os critérios
adotados para avaliação dos textos devem ser considerados sob o ponto de vista do
pesquisador e, por isso mesmo, podem não corresponder exatamente às expectativas de um
outro possível avaliador, o que implica dizer que um julgamento de textos é, inegavelmente,
subjetivo: os fatores analisados estão em estreita dependência dos conhecimentos partilhados
pelos interlocutores e pela situação em que os textos foram produzidos. O que se pretende,
portanto, não é criar parâmetros objetivos e facilmente aplicáveis em qualquer avaliação da
textualidade. Ao contrário, é necessário que o julgamento respeite a natureza do objeto
avaliado e o analise em sua totalidade, considerando-se, inclusive, as intenções do produtor do
texto, as expectativas do receptor e a situação imediata da produção do texto. Essas
observações são pertinentes na medida em que evitam a preocupação (muito freqüente, aliás)
de julgar com objetividade as redações escolares, o que tem resultado em esquemas de
correção e atribuição de notas (COSTA VAL, 1994) que acabam privilegiando a avaliação de
aspectos mais superficiais do texto escrito e deixando de lado outros mais relevantes do
processo sócio-comunicativo, objetivo principal do texto escrito.

Além disso, os textos analisados resultaram de dois momentos distintos de produção


textual, intercalados pela aplicação de uma metodologia diferenciada 1, em que se privilegiou a
atenção dada aos fatores pragmáticos de construção da textualidade:

1
Foram desenvolvidas, ao todo, oito atividades de leitura e produção de textos, das quais uma é
exemplificada no ANEXO 1.

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