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QUANDO A ESCOLA NÃO É UM PARAÍSO

Wanderleia Mafra de Moura Correia


Rozana Mazetto
wan_demoura@hotmail.com

Trabalho apresentado na 7ª semana pedagógica 2010 – Entre a educação e a inclusão e I


Encontro de Psicologia e Educação: Implicações no processo de ensino aprendizagem
(realizado pelo departamento de Educação da Fafipar, Paranaguá. ISSN 2177-546X

1 INTRODUÇÃO
A questão da violência nesta sociedade contemporânea é motivo de
muitas preocupações de quase todos os seus setores, começando pela instituição
familiar passando pela saúde e outros setores que conseqüentemente se refletem
na escola. Não o bastante a escola lidar com os vários tipos de violência como a
doméstica, abuso sexual, indisciplina e vandalismo, agora necessita estar
preparada para um outro tipo específico de violência, que nos últimos anos está
sendo estudada e foi denominada Bullying, o termo vem do verbo inglês bully que
significa valentão, tirano.
A questão da violência está muito presente na escola gerando uma
preocupação da comunidade escolar e muitas escolas se deparam com este tipo
de violência e estão despreparadas por desconhecerem o fenômeno e o que o
causa. Profissionais buscam um entendimento para uma possível intervenção, o
que não é fácil, pois se trata de um tipo de violência bastante sutil. Adequar
métodos de intervenção em uma sociedade em constante e rápidas mudanças,
onde os valores antes pregados já não cabem mais a esta sociedade, exige
reflexão e uma nova posição frente a este mal, atitudes que permitam a busca por
soluções mais imediatas, visto o problema afetar diretamente a comunidade
escolar.
Muitos fatores podem determinar este tipo específico de violência
(bullying) que pode ter o seu início na família ou mesmo gerada em outras
instâncias. Diagnosticar para prevenir e até mesmo intervir pode vir a amenizar o
problema ou até mesmo saná-lo.
Segundo Constantine (2004):
Tratar o bullying significa não só desenvolver uma ação
de combate a esse fenômeno nas escolas, mas, em
nome das ações educativas e de socialização que
comporta, pôr em campo uma verdadeira e real estratégia
preventiva contra a agressividade que envolva
estudantes, professores, e pais num contínuo confronto
relacional. (CONSTANTINE, 2004).
Constantine pontua que os adultos são os únicos responsáveis pela
prática da autoridade e essa prática é a única maneira de aplacar este mal, mas
somente pelos caminhos da comunicação e da afetividade. Constantine relaciona
e valoriza a relação e a comunicação como contato emocional e constante
construção.
Os educadores (pais e professores) e profissionais da área, são uma
conexão e mediação entre os jovens e a sociedade e devem ser um referencial,
modelos a serem seguidos, para que possa então o jovem inserir-se no mundo
como cidadão transformador e multiplicador.
O jovem procura uma figura ideal de adulto, que seja equilibrado e seguro.
Por mais que seja rebelde, vai procurar um adulto compreensivo de boa
comunicação, que tenha a mente aberta, que saiba ouvir e que lhe possa ajudar a
liberar suas potencialidades um adulto que o incentive ao amadurecimento,
respeitando seu tempo e mediando seus conflitos.
1.1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.1.1 O que é Bullying? E quais as suas características?
O termo Bullying vem do verbo inglês bully e refere-se a valentão tirano,
estudado de início, no norte da Europa e recentemente pesquisado na itália. Suas
características são os comportamentos deliberados e danosos, apresentam uma
relação de desequilíbrio de poder, não há motivos evidentes, acontece de forma
direta, por meio de agressões físicas e verbais e de forma indireta, visa a
discriminação e a exclusão da vítima do grupo social Segundo Quadros (2009):
O Bullying é conceituado como um conjunto de
comportamentos agressivos, físicos ou psicológicos, como
chutar, empurrar, apelidar, discriminar, excluir; que
ocorrem entre colegas sem motivação evidente e de forma
repetitiva, sendo que um grupo de alunos ou aluno com
mais força, vitimiza um outro que não consegue encontrar
um modo eficiente de se defender. (QUADROS, 2009)
Martins 2005, (APUD: Quadros, 2009) identifica o Bullying em três grupos,
são eles: Diretos e físicos - que são as agressões físicas, roubar, quebrar
pertences; forçar extorsão, comportamentos sexuais e atividades servis; bem
como as ameaças. Diretos e verbais - Que incluem insultar, apelidar, debochar,
fazer comentários racistas ou preconceituosos. Indiretos - visam a exclusão de
uma pessoa do grupo social, realização de fofocas, calúnias e ameaças para a
obtenção de favores.
1.1.2 Onde ocorre o Bullying?
Nas escolas, nas forças armadas no trabalho, na família, prisões,
condomínios residenciais, clubes, casas de abrigo. Enfim este tipo de violência
está presente em nossa sociedade e é o que presenciamos todos os dias através
da mídia. Constantine questiona e pontua a correlação entre o fenômeno Bullying
e os fenômenos existentes entre os adultos e cita o trote nos quartéis e a posição
de inferioridade do recruta que é motivo das brincadeiras violentas e vexatórias
dos militares mais antigos.
Também Constantine (2004) nos apresenta o mobbing, fenômeno este
que se dá no ambiente de trabalho e é praticado por aquele que tem algum tipo de
poder, seja pelo cargo que exerce ou por ter uma atitude psicológica de poder ou
superioridade e pode ainda exercer algum tipo de influência no trabalho.
Vitimizando assim o mais fraco com sua agressividade e o submetendo-o às
intimidações e ameaças, esta vítima sem possibilidades de se defender sofre as
humilhações que, a longo prazo acarretam desequilíbrio emocional e estresse,
bem como o de burn-out (incapacidade de trabalhar por razões emocionais e de
fundo ansioso).
Podemos citar também a violência intra-familiar, que se dá no contexto
familiar e é exercida por uma relação de poder entre um adulto sobre uma criança,
que sendo um ser ainda em desenvolvimento dependente de um adulto e
submete-se à maus tratos, violência psicológica e muitas vezes sexual, bem como
humilhações e incluindo-se as “...punições severas e castigos inapropriados à
idade e compreensão da criança” Guerra(1998).
Quais as situações que envolvem Bullying ?
As situações que envolvem Bullying são as relações de poder que o mais
forte exerce sobre o mais fraco como: A intimidação, perseguição, assédio,
terrorismo, ameaças, tirania, domínio, ofensa, humilhações, sofrimento,
discriminação, exclusão agressão, roubo, comportamentos deliberados e danosos.
Segundo Constantine (2004)
É uma ação de transgressão individual ou de grupo, que é
exercida de maneira continuada, por parte de um indivíduo
ou de um grupo de jovens definidos como intimidadores
nos confrontos com uma vítima pré destinada.
Não são conflitos normais ou brigas que ocorrem entre
estudantes, mas verdadeiros atos de intimidação
preconcebidos, ameaças, que, sistematicamente, com
violência física e psicológica, são repetidamente impostos a
indivíduos particularmente mais vulneráveis e incapazes de
se defenderem, o que os leva no mais das vezes a uma
condição de sujeição, sofrimento psicológico, isolamento e
marginalização.(CONSTANTINE, 2004).
1.1.3 O que é Cyberbullying?
Nada mais é, do que a utilização das tecnologias e da comunicação para
disseminar a violência, é a prática realizada através da internet que busca
humilhar e ridicularizar pessoas. Os meios virtuais utilizados para disseminar
difamações e calúnias são as comunidades, e-mails, torpedos e blogs.
1.1.4 Quais são os alunos que se envolvem com Bullying ?
Segundo Constantine é provável que o Bullying esteja mais ligado nas
faixas pré-adolescentes e adolescentes que estão vivendo profundas mudanças
evolutivas de aspectos físicos, psicológicos e emocionais necessitando de
orientação e uma base afetiva, a faixa que vai de (7à12 anos). Já na faixa que vai
dos (13 aos 16 anos) essa necessidade embora latente, segundo Constantine, sob
a forma de encorajamento, é superada pela necessidade de protagonismo, e de
autonomia. Constantine pressupõe que estas mesmas necessidades estejam
presentes tanto na vítima quanto no intimidador. E que mais do que as condições
subjetivas familiares e sociais, é a ausência de uma ou mais potencialidades, que
determinam quem será a vítima ou o agressor. Para um melhor entendimento de
quem são esses alunos que se envolvem, podemos então classificá-los, são
estes a saber:
Alvos de Bullying - são os alunos que só sofrem Bullying; são mais frágeis,
tanto fisicamente quanto psicologicamente, são extremamente tímidos e sensíveis,
e não tem maturidade para se defender.
Alvos/autores de Bullying - são os alunos que ora sofrem, ora praticam
Bullying; são estes, que por vezes são alvos, mas praticam o Bullying com
indivíduos mais frágeis como forma de reagir e vingar-se da violência sofrida, não
conseguem se defender de seu agressor por isso vitimizam outros mais frágeis.
Autores de Bullying - são os alunos que só praticam Bullying; que na sua
maioria, também já foram vítimas e se prevalecem da sua força física e de poder
sobre o outro, são ao extremo na sua maioria, temperamentais e indisciplinados.
Testemunhas de Bullying - são os alunos que não sofrem nem praticam Bullying,
mas convivem em um ambiente onde isso ocorre. São indivíduos temerosos, não
querem ou não podem se envolver, muitas vezes indiferentes ou do lado da
vítima, mas não se envolvem por medo de serem a próxima vítima. Outros estão
do lado do agressor, incentivam mas não se envolvem diretamente, também por
medo. 1.1.5 Há uma relação com preconceito?
O Bullying está ligado diretamente ao preconceito, a intolerância e a não
aceitação às diferenças. Antunes e Zuin (2008) “Tais comportamentos são
usualmente voltados para grupos com características físicas, socioeconômicas, de
etnia e orientação sexual, específicas”. Nota-se então uma forte ligação com o
preconceito.
1.1.6 Quais são as consequências do Bullying sobre o ambiente escolar?
O fenômeno da violência preocupa educadores e profissionais da
educação, pela proporção que esta tomou na vida e no cotidiano das pessoas , a
violência tornou-se banal e conseqüentemente está se refletindo diretamente na
escola e na família e ainda corre-se o risco de denominá-la com termos científicos
com o intuito de justificá-la. Na escola ela se reflete de maneira específica
contaminando todo o ambiente escolar, inibindo os processos evolutivos e de
conhecimento, fazendo com que a escola perca a sua identidade de formadora de
opiniões e mudanças, referente à sociedade e indivíduos construtores e
multiplicadores. O ambiente escolar torna-se totalmente contaminado .Todos, sem
exceção, são afetados negativamente, passando a experimentar sentimentos de
ansiedade e medo, testemunhas e vítimas quando percebem que o
comportamento agressivo não trás nenhuma conseqüência a quem o pratica,
poderão achar por bem adotá-lo.
1.1.7 Quais são as consequências possíveis para os alvos de Bullying?
Poderão não superar os traumas sofridos. E vir a ter sentimentos
negativos, especialmente com baixa auto-estima e problemas de relacionamento.
Poderão assumir, também, um comportamento agressivo ou vir a sofrer ou a
praticar o Bullyng no trabalho. Em casos extremos, alguns deles poderão tentar ou
cometer suicídio. Segundo Constantine (2004):
“Para a vítima, como já vimos, essa condição tem
conseqüências a curto e a longo prazos: ansiedade,
ausência de auto estima, depressão e transtorno
comportamental, a ponto de abandonar a escola e, como
as pesquisas revelam , nos casos mais graves e para os
indivíduos mais fracos, pode haver também uma maior
probabilidade de risco, de suicídio concernente ao dado
fisiológico ligado à adolescência.Segundo pesquisas a
vítima não encontra condições para recuperar-se sozinha,
necessitando a intervenção de um adulto para interromper
a situação de Bullying e dar um suporte psicológico. Para a
vítima sair dessa condição de vítima é libertar-se de uma
condição de sofrimento e impotência psicológica. A
intervenção de um adulto é essencial para que esta vítima
se liberte destes sentimentos. O adulto mostra através
desse apoio que toda a situação pode ser modificável”.
(CONSTANTINE, 2004):
1.1.8 E para os autores de Bullying?
Para o agressor, esta condição lhe é favorável pois ele se auto afirma
como pessoa que está acima dos outros, ou seja superior ao outro e acredita que
é a única maneira de socializar-se. Segundo (Constantine 2004) o intimidador não
encontra a contenção para seu comportamento agressivo e impulsivo, necessária
para mudar sua condição. Muitas vezes não encontra no adulto a segurança e a
confiança que precisa para mudar seu comportamento. E com certeza a sua má
conduta vai se refletir no futuro. Comportamento anti-social na vida adulta, atitudes
agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho.
Autores de Bullying na época da escola podem vir a se envolver, mais tarde, em
atos de delinqüência ou criminosos.1.1.9 E quanto às testemunhas?
As testemunhas também se vêem afetadas por esse ambiente de
tensão, tornando-se inseguras e temerosas de que possam vir a se tornar as
próximas vítimas.
Segundo Constantine (2004):
O contexto relacional e psicológico que se produz com o
Bullying é típico de um sistema em grupo fechado,
problemático, que não encontrou brechas para desenvolver
positivamente as relações entre seus membros Na
ausência disso, ganham espaço as dinâmicas mais
negativas,... intimidação e desvalorização do outro, de
passividade e de impotência; ou ainda (da parte chamada
maioria silenciosa) em gestos de indiferença e de
passividade, para escapar de situações desagradáveis...
Neste sentido a testemunha também pode ser considerada
uma vítima, pois é submetida às situações desagradáveis e
de intimidação, tendo muitas vezes que compactuar ou ser
indiferente, pois se sente ameaçado se não o fizer
(CONSTANTINE, 2004).
Constantine ainda pontua que o adulto muitas vezes subestima o
fenômeno Bullying, não lhe dando a devida importância, conseqüentemente não
intervém para que seja sanado o problema. Outra questão é, quais são os valores
que são passados pela família do intimidador e qual é a posição da família da
vítima em relação as agressões, visto que a vítima na sua maioria procura a ajuda
da família e esta por sua vez não compreende o suficiente para comunicar a
escola.
Este tipo específico de violência está presente em todas as instâncias da
nossa sociedade, sendo gerada muitas vezes por ela mesma e refletindo-se na
escola, na família e sociedade. tornando-se assim um círculo vicioso, a escola por
sua vez, tem um papel determinante, que tem condições e deve intervir.
Se a escola que é formadora de opiniões subestima tal fenômeno que
está diretamente ligado a falta de valores como: intolerância, preconceito,
incompreensão, egoísmo, de que maneira vai devolver à sociedade o que lhe foi
confiado? Os autores trabalhados valorizam a informação, a comunicação, a
prevenção e a intervenção, como meio eficaz para a solução efetiva do fenômeno.
Constantine ainda reforça que a escola como qualquer outro lugar freqüentado por
crianças e adolescentes, tem a obrigação de proporcionar um contexto
satisfatório, que possibilite o bom desenvolvimento do aluno, tanto as habilidades
cognitivas, como as emocionais e sociais. Proporcionar o amadurecimento e o
desenvolvimento social, valorizando as amizades o companheirismo. A escola
pode ser o único referencial da criança ou adolescente, pois para muitos a escola
pode ser o escape e a esperança de futuro.

Referências:

CONSTANTINI, Alessandro. Bullying, como combatê-lo: prevenir e enfrentar a


violência entre os jovens. Trad. Eugenio Vince Moraes. São Paulo: Nova Editora,
2004.

QUADROS, Emérico Arnaldo. Psicologia e desenvolvimento humano. Curitiba:


Sergraf, 2009.

SILVA, Geane de Jesus. Bullying: quando a escola não é um paraíso. Jornal


Mundo Jovem. pp. 2-3, mar. 2006.
ANTUNES, Deborah Christina e ZUIN, Antônio Álvaro Soares. Do bullying ao
preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia Social. vol.20, n.1,
pp. 33-41, 2008.

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