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PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE JORNALISMO
Daniele Sampaio
Tiago Oliveira
A SOCIEDADE DO CRÉU:
A INFLUÊNCIA DA MÚSICA E O PAPEL DO FUNK NA MPB
Sorocaba/SP
2009
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Daniele Sampaio
Tiago Oliveira
A SOCIEDADE DO CRÉU:
A INFLUÊNCIA DA MÚSICA E O PAPEL DO FUNK NA MPB
Orientador:
Sorocaba/SP
2009
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Daniele Sampaio
Tiago Oliveira
A SOCIEDADE DO CRÉU:
A INFLUÊNCIA DA MÚSICA E O PAPEL DO FUNK NA MPB
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Ass. .
1º Exam.: Nome – Titulação- Instituição
Ass. .
2º Exam.: Nome – Titulação- Instituição
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Sumário
1-Introdução _______________________________________ 6
9- Créu! __________________________________________ 39
Referências _______________________________________59
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1- Introdução
A “Dança do Créu”, música que ficou popular e foi ao topo das paradas
de sucesso no Brasil em 2008, trouxe, mais uma vez, a discussão sobre
o papel e a influência da música funk na sociedade. Criada por Sérgio
Costa, vulgo MC Créu, a música traz uma letra que, “indiretamente”, fala
de relações sexuais. A “Mulher Melancia”, uma das dançarinas que se
apresentavam junto com MC Créu, também contribuiu para a explosão
da música; com seus 122 centímetros de quadril, que justificam o seu
apelido, roupa sensual e coreografia peculiar, mexeu com o imaginário
masculino, destacando sempre a “preferência nacional”. Andressa
Soares, a Mulher Melancia, teve tanto espaço na mídia que acabou
partindo para a carreira solo. Crianças e adultos se renderam ao ritmo
do “créu”, fazendo-nos questionar se sabiam o que estavam cantando e
dançando.
Nosso objetivo neste trabalho é conhecer mais profundamente a história
da música funk, analisando seu contexto social, e buscando uma
compreensão para o seu movimento. Tanto de seus criadores, como dos
freqüentadores dos bailes. Para isso também nos referiremos à MPB e à
música mundial, para relacionar, da melhor forma, a influência que cada
artista, suas canções e seu comportamento, trazem para a sociedade.
O funk ainda é um estilo musical incompreendido, em sua essência, que
rapidamente nos transmite a idéia de sexualidade. Não sem causa, já
que, somente na última década tivemos várias notícias publicadas pela
mídia que acusavam ser o funk, um caminho que levava os jovens a se
interessar por sexo muito cedo. Muitas letras do funk endossam essa
acusação. Mas não nos atenhamos ao lado obscuro do funk. Vamos
conhecer a sua origem, seus adeptos, o cenário sócio-cultural em que
surgiu, asssim como a sua chamada glamurização, fenômeno que saiu
em defesa do funk, dando espaço a suas músicas e coreografias na
maior emissora de televisão do país.
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2- Influência musical
Por outro lado, a música pode funcionar também como uma espécie de
calmante forte, morfina cultural. Podemos exemplificar esta ideologia
tendo como base nosso país, onde a música, muitas vezes, teve o
objetivo respaldado de alienar. Obviamente este tipo de controle não
existe somente no Brasil. Um exemplo disso foi o que aconteceu com o
cinema americano durante a Guerra Fria. Mas para nós brasileiros, esse
fato é muito evidente durante a ditadura militar. Nessa época, artistas da
Jovem Guarda eram acusados de fazer música alienante, enquanto o
movimento do Tropicalismo era engajado nas questões sociais, política e
musicalmente, o que veremos adiante.
Tal alienação (a cultural) é proposital; seja por interesses políticos e
empresariais, pela extrema exposição através da mídia e seus
interesses comerciais, ou ainda atribuída diretamente, à própria indústria
fonográfica, que lida com artistas, suas idéias e princípios, mas que são
produtos, já que vendáveis. Assim endossa ESPINDOLA:
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3- Imagem x carisma
Winehouse é o tipo de artista que diz o que pensa e toma porres (no
palco, na TV), a ponto de, geralmente se apresentar bêbada e tropeça
em suas aparições públicas. Durante um show em Londres, Amy bateu
na fã, e nos músicos de sua banda. Inclusive acertou um soco no olho
de seu namorado. Amy tem, segundo a matéria um ‘visual bizarro’, mas
seus pecados (seus escândalos e intermináveis tentativas de
internações para se livrar das drogas) são praticamente absolvidas com
frases como “mas como ela canta”, ou “Amy reúne todas as condições
para se converter em super-estrela” (GIRON, 2007).
Segundo a linha de raciocínio de que fãs se identificam e são
influenciados pelos artistas, suas idéias e atos, logo concluiríamos que
os fãs de Amy Winehouse são dependentes químicos, briguentos e
escachados. Mas para toda regra há exceção. Em matéria do Jornal
Ensaio, Samantha Vieira, 31 anos, fã de Amy, conta a OLIVEIRA que
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“não procura uma imagem a seguir e sim boa música para os seus
ouvidos”.
Talvez a influência do artista e suas músicas sobre os fãs, dependem de
características e experiências culturais de cada um. Ou ainda do tipo de
influência.
“Garotas assanhadas fazem a alegria dos fãs por duas razões óbvias:
são bonitas de ver e sabem chutar seus homens em grande estilo (pelo
menos nas letras de suas músicas)”. (ZORZANELLI e SANCHES, 2007).
Eles estão falando de Beyonce e Lily Allen, que “tratam os homens como
eles merecem”, e representam os atuais sentimentos da mulher
moderna.
“Com muito soul dos anos 60, Beyonce é o ícone de uma geração que
encontrou no desprendimento emocional sua principal característica”.
(ZORZANELLI e SANCHES, 2007).
Se Beyonce quando canta em sua música “Freakum Dress” que os
homens são previsíveis e que para chamar atenção de um é só usar
uma roupa colante, talvez haja uma semelhança com os ideais das
mulheres frutas e o modo como dançam.
Desde o final dos anos 50 quando Elvis Presley rebolava tão
peculiarmente – e as emissoras de TV transmitiam suas apresentações
focando-o apenas da cintura para cima – música e imagem já faziam um
casamento de sucesso (ROCK IN HISTORY, 2004). A atitude rebelde de
Elvis (diga-se o seu rebolado provocativo) traduzia o sentimento de
transcender aos bons modos de toda uma geração. Muitas vezes sem
ter “coragem ou a possibilidade de, realmente extravasar, os jovens
encontravam uma maneira de ser rebeldes adorando a Elvis”. No
entanto, embora Elvis representasse sua geração, o rei do rock tem fãs
espalhados pelo mundo até hoje.
assim os recursos para criar uma cultura vital, causando assim um tipo
de “favorecimento” ao declínio da espécie humana.
Mas como relacionar a cultura de massa e a música? Como vimos
anteriormente, a cultura de massa tende a relacionar toda a sociedade a
algo que a própria usufrui. A música por sua vez, pode também ser
relacionada à sociedade pela participação que a própria tem na vida de
cada indivíduo, ou seja, a sociedade usufrui a música. Assim sendo,
podemos concluir que a música é entrelaçada à cultura de massa pelo
poder que a própria tem de permear o físico, emocional e mental de
cada um. Atualmente a ciência, sobretudo no campo da medicina e da
psicologia, vem redescobrindo verdades e conhecimentos que os
antigos sábios detinham sobre o poder oculto da música. Hoje sabemos
que basta estarmos no campo audível da música para que sua influência
atue constantemente sobre nós, acelerando ou retardando, regulando ou
desregulando as batidas do coração; relaxando ou irritando os nervos;
influindo na pressão sanguínea, na digestão e no ritmo da respiração,
exercendo alterações sobre os processos puramente intelectuais e
mentais. Mas quais tipos de influências a música pode causar na
sociedade?
Um estudo publicado no jornal Australasian Psychiatry
(TRANSITORIAMENTE, 2008), que investigou a influência de estilos de
músicas sobre adolescentes, afirma que fãs de Heavy Metal têm uma
tendência maior a roubar, praticar sexo sem se proteger, dirigir
embriagados e sofrer de depressão a ponto de cometer suicídio.
7- A origem do funk
8- Os expoentes do funk
Assim como a “Dança do Creu”, uma outra música já havia surgido por
influência de uma criança filha de funkeiro; a “Égua Pocotó”, de MC
Serginho, surgiu em 2003 e caiu no gosto popular, principalmente da
criançada. Segundo MC Serginho, a idéia da música teria surgido de
uma brincadeira com sua filha. Mas as coincidências com a “Dança do
Creu” param por aí; ao invés de uma Mulher Melancia, a “dançarina” de
MC Serginho era Lacraia, um travesti, que como define MARTINS,
“ganhou esse apelido porque é magro, alto e se contorce como o dito
inseto”.
O que Tati faz é arte política da melhor qualidade, ela está abrindo
caminho para uma relação mais democrática entre homens e
mulheres. E acho maravilhoso que ela não tenha tanta consciência
disso, o que a torna ainda mais natural e poderosa. (AMARAL apud
GARCIA, 2005)
9- Créu!
A música que se tornou sucesso no país inteiro tem em sua letra simples
e fácil de ser memorizada uma dança que se torna um desafio, pois o
grau de dificuldade vai aumentando progressivamente e seu próprio
criador confessa não conseguir acompanhar a velocidade 5, dando
assim um tom de brincadeira. Certamente, isso ajuda muito na sua
popularização, especialmente entre crianças e também entre jovens
adultos que tiveram sua educação musical baseada em sucessos do
axé music como “Segura o tchan” e “Na boquinha da garrafa”, todos
acompanhados de danças eróticas e ambíguas.
Junto com o sucesso do Creu, veio a Mulher Melancia, apelido dado a
Andressa Soares, agora já ex-dançarina do MC, que é justificado por
seus 122 centímetros de quadril. Andressa impulsionou sua carreira pelo
grande talento de dançar o créu.
Meu bumbum ajeitou a vida dos meus pais e a minha. Comprei uma
casa com três suítes, piscina, hidro e churrasqueira (...). Tenho medo
de ficar doida quando isso acabar. (SOARES para REVISTA VEJA,
2008).
Para AMARAL, (2005) ”o funk prova que, além de sair do gueto, deixou
de ser somente um produto comerciável musicalmente para pertencer à
ala da MPB, que reinvidica mudanças sociais, econômicas e políticas.”
AMARAL aponta que movimentos vindos de classes menos favorecidas,
como o funk e o hip hop, estão mudando a cabeça de muita gente e
relacionando intelectuais, classe média e classes baixas.
No entanto, funk virou sinônimo de vulgaridade, pornografia e violência.
Muitas são as matérias publicadas na mídia recente que mostram o lado
negro dos bailes funk. Aquela imagem de uma quadra repleta de gente
dançando, e geralmente meninas rebolando, quando observada mais de
perto, pode assustar.
detalhe fez com que fosse muito difundido, principalmente nas camadas
mais pobres.
Uma das festas mais violentas e expostas pela mídia, é sem duvida, o
‘Baile do corredor’. AMARAL (2002) conta que este tipo de evento se
destacou por causa da violência e a criminalidade que existia dentro do
universo funk carioca, a tal ponto de escandalizar a sociedade ao
descobrirem a sua existência. O conhecido ‘Batidão’, é uma das
modalidades onde existem disputas entre os funkeiros para a
denominação de ‘territórios’, os freqüentadores eram divididos em
grupos, os lados ‘A’ e o ‘B’, e a conquista de seus ‘objetivos’ soavam
como troféus para os participantes. Essas brigas eram organizadas e
controladas, pelos próprios organizadores do evento.
Durante o baile, os funkeiros dançavam de formas hostis, e ao mesmo
tempo gesticulavam para incentivar o inimigo a lutar. Essa forma de
festa, como não era acompanhada e repreendida pelas autoridades, caiu
no gosto das pessoas e se tornou assim, algo ‘normal’.
Voltando aos primeiros anos do funk carioca, VIANNA (1988) aponta que
a preocupação em conter o lado violento dos funkeiros constituía-se em
um dos principais cuidados dispensados pelos promotores de bailes
funk na década de oitenta. Cientes da iminente possibilidade de briga
entre dançarinos, esses promotores tiveram, desde o início, um grande
investimento com a segurança da festa, mesmo sabendo da
instabilidade que marcava esses eventos, já que a violência era quase
intrínseca ao próprio baile funk. O trabalho de VIANNA, realizado em
clubes que promoviam o baile funk naquele período, descreve a atenção
dispensada por parte dos organizadores ao quesito segurança.
O próprio autor, após escutar de DJs e dançarinos histórias de brigas e
notícias de morte em determinado baile, ficou com a impressão que o
baile funk era uma praça de guerra, com assassinatos o tempo todo,
como se a dança e a arruaça fossem partes do mesmo espetáculo.
Assim, a qualquer momento um dançarino poderia esbarrar no outro ou
ter o seu pé pisado por um terceiro, e isso seria o suficiente para o início
de socos e pontapés. As brigas começavam quase que por acaso e
poderiam ser entre amigos. VIANNA observa ainda que as lutas
corporais fossem mais freqüentes entre dois homens ou entre duas
mulheres, isso mesmo, as mulheres brigavam tão freqüentemente
quantos os homens.
Os bailes funk de alguns clubes da Zona Oeste da cidade do Rio de
Janeiro, no final da década de oitenta, era comum a rivalidade entre os
funkeiros das diferentes comunidades, ou seja, para muitos desses
jovens o baile servia de palco para demonstração de sua força.
Prevalecia uma cultura de ir ao baile para curtir o funk e para dar
pancada. O autor comenta também que do mesmo modo que acontecia
no meio das torcidas organizadas no futebol, o funkeiro bom de briga era
quem se destacava nas galeras do funk, tornando-se o valentão da
turma. Na saída dos dançarinos do baile funk era habitual ocorrer cenas
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Referências
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CAMARGO, Raquel. Jovem comete suicídio e sua mãe diz que música
emo a influenciou. Disponível em: <
http://cifraclub.terra.com.br/noticias/7514-jovem-comete-suicidio-sua-
mae-diz-que-musica-emo-influenciou.html>. Acesso em: 01 fev. 2009.
BBC Brasil. Suicídio mata mais que violência urbana e guerras, diz
OMS. Folha On Line. 2004. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u35062.shtml>. Acesso em:
01 fev. 2009.
ELLISON, Ralph. Invisible Man. São Paulo, Marco Zero Editora. 1990
<http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI430125-EI306,00.html>.
Acesso em: 01 fev. 2009.