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RESINA COMPOSTA

Resinas compostas constituem um grupo de material restaurador estético de uso direto


formado por uma fase orgânica (matriz) e uma fase inorgânica (carga), unidas entre si por um
agente de união (silano).
As resinas compostas são definidas como combinação tridimensional de no mínimo dois
materiais quimicamente diferentes, com uma interface distinta separando os seus
componentes. A combinação de materiais apresenta vantangens, uma vez que proporciona
propriedades que não poderiam ser obtidas por nenhum dos componentes ativados
separadamente.

2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA BÁSICA


Matriz orgânica: é comumente constituída pelo Bis-GMA (bisfenol-A glicidil
metecrilato) ou pelo UDMA (uretano dimetacrilato). Esses componentes orgânicos constituiem
a parte quimicamente ativa das resinas compostas, pois são esses monômeros que irão
estabelecer ligações cruzadas no momento da polimerização, conferindo resistência ao
material. Devido ao alto peso molecular, o Bis-GMA e o UDMA são extremamente viscosos à
temperatura ambiente, o que dificulta a incorporação de carga à matriz resinosa. Para superar
esse problema, os fabricantes adicionam diluentes à base de dimetacrilato com o objetivo de
tornar o material fluido para ser utilizado clinicamente. Os principais diluentes empregados são
o TEGDMA e o EDMA, os quais reduzem de maneira significativa a viscosidade do Bis-GMA e
UDMA. Em contrapartida, a incorporação desses diluentes aumenta a contração de
polimerização das resinas compostas. Além dos diluentes, o fabricante incorpora à matriz
orgânica um inibidor de polimerização para garantir uma vida útil mais longa ao material. O
inibidor mais comumente empregado é a hidroquinona, utilizada em quantidades inferiores a
0,1% em peso.
Carga inorgânica: O quartzo foi o primeiro tipo de carga incorporado aos materiais
resinosos, sendo utilizado até os dias atuais. Com o aperfeiçoamento dos compósitos
odontológicos, outros tipos de carga foram incorporados, como a sílica coloidal e o vidro de
fluorsilicato de alumínio. O bário e o estrôncio foram também adicionados para conferir
radiopacidade ao material o que seria bom que a fase inorgânica estivesse na maior
quantidade possível na matriz porque quando são acrescentadas partículas inorgânicas
diminuí-se a contração de polimerização e o coeficiente de expansão térmica, porque são
dimensionalmente estáveis. Além disso conferem propriedades físicas desejáveis às resinas
como rigidez superficial e maior resistência aos esforços físicos.
Agentes de união: Para que as resinas compostas apresentem um comportamento
mecânico satisfatório é necessário que as partículas de carga estejam unidas de maneira
estável à matriz orgânica. A união entre essa e as partículas de carga é realizada às expensas
de um silano. Os silanos são moléculas que possuem a capacidade de se unir quimicamente à
superfície da carga, bem como à matriz orgânica, propiciando uma interface adesiva bastante
confiável. A utilização desses agentes permite que a resina composta atue como uma unidade
quando submetida a tensões , as quais são dissipadas ao longo da interface adesiva criada
pelo silano. A introdução destes agentes superou o antigo problema da falta de união
matriz/carga, o que propiciava a formação de sítios de iniciação de fraturas, os quais
comprometiam a longevidade clínica do material.
Iniciadores: São agentes que, quando ativados, desencadeiam a reação de polimerização das
resinas compostas. Nos compósitos quimicamente ativados, quando as pastas base e
catalisadora são misturadas, a amina terciária segmenta o peróxido de benzoíla, dando início
ao processo autopolimerização. Nas resinas compostas fotoplimerizáveis o uso de luz visível
com comprimento de onda em torno de 470 nm ativa a canforoquinona (iniciador), propiciando
a interação reativa com uma amina terciária.
3. MANIPULAÇÃO
Os materiais fotoativos são compostos de uma pasta única. O tempo de trabalho varia
de acordo com o clínico, e os materiais endurecem rapidamente, uma vez expostos à luz de
polimerização. Em cavidades profundas, a restauração deve ser feita em incrementos, sendo
cada incremento polimerizado antes da inserção do seguinte. Apesar disso parecer uma
limitação, na realidade constitui um avanço, pois grande parte da contração de polimerização é
compensada, enquanto a cavidade é preenchida, semelhantemente à técnica incremental
utilizada para o acrílico sem carga.
A pasta de resina não deve ser dispensada até o momento de seu uso pois as luzes do
consultório podem iniciar a polimerização do material.
A importância de uma ótima polimerização relaciona-se com a estabilidade de cor,
propriedades físicas e biológicas, aumentando a performance clínica deste material.
Para se ter certeza de uma máxima polimerização, resultando como conseqüência o
sucesso clínico, um aparelho com alta potência de luz deve ser utilizado, sendo os tempos de
exposição à luz recomendados os menores possíveis. A ponta do fotopolimerizador deve ser
posicionada o mais próximo possível da superfície de resina, enfatizando que o tempo de
exposição não deve ser menor do que 40 a 60 segundos e a espessura da resina não deve ser
maior do que 2 a 2,5 mm.
Nos sistemas quimicamente ativados o ativador e o iniciador são misturados iniciando
assim o processo de polimerização.

4. QUÍMICA DE PRESA
Os sistemas quimicamente ativos empregam o peróxido de benzoíla como o iniciador
que é ativado pela amina aromática terciária, este processo denominado sistema de indução
peróxido amina.
Suas principais formas de apresentação são: (a) sistema pasta-pasta, em que uma
delas é o iniciador e a outra o ativador; (b) sistema pó-líquido, no qual o ativador é colocado no
pó e o iniciador no líquido.
Nos sistemas fotoativos, as substâncias químicas desencadearão a reação quando em
presença do agente ativador, ou seja, a luz ultravioleta ou luz visível. O sistema ultravioleta
emprega o éter metílico de benzoíla ou éteres alquílicos de benzoíla como ativadores do
sistema peróxido. O éter é decomposto, liberando radicais livres que desencadeiam a
polimerização, quando expostos à luz ultravioleta (360nm).
O sistema luz visível emprega como agente ativador uma “diquetona”, que absorvendo
a energia de radiação da faixa 420 – 450nm, forma um complexo de estado ativado junto como
agente redutor (amina terciária) que se “quebra” para produzir radicais livres e iniciar a
polimerização.

5. CLASSIFICAÇÃO
As resinas compostas podem ser classificadas quanto ao tamanho das partículas
inorgânicas; quanto ao método de polimerização e quanto ao seu escoamento.

Quanto ao tamanho das partículas inorgânicas:

Macroparticuladas:são aquelas que as partículas têm tamanho entre 15 e 100 micrometros.


Podem também ser denominadas de convencionais.

Microparticuladas: são compostas por partículas de sílica coloidal com tamanho

médio de 0,04 micrometros. As resinas de micropartículas, com partículas de carga de

aproximadamente 0,04 micrômetros de diâmetro (sílica coloidal) e cerca de 50% de


concentração por peso, se caracterizam por serem extremamente políveis, vítreas e estéticas

mas, com a impropriedade quanto a sua fragilidade e pequena resistência a fratura e desgaste

em processo de fadiga. As marcas comerciais mais comuns seriam Durafill VS (Kulzer), Silux

Plus (3M), A 110 (3M) e Renamel Microfill Cosmedent).

Híbridas: são compostas por macro e micropartículas que apresentam tamanho médio
entre 1 e 5 micrometros. Estas podem ser subdivididas em:
- Micro-híbridas: apresentam uma combinação entre micropartículas (0,04
micrometros em maior quantidade) e partículas maiores (máximo 2
micrometros). O tamanho médio das partículas é entre 0,6 a 0,8
micrometros.
- Híbridas convencionais: combinação proporcional
- Híbridas condensáveis: reforçada com fibras vítreas

Quanto ao método de polimerização:


Quimicamente ativadas - apresentam uma pasta base e outra catalizadora; o material
somente polimeriza após a mistura de ambas com a ativação do iniciador peróxido de benzoíla
pela amina aromática terciária (p-toluidina).
Fotopolimerizáveis - apresentam fotoiniciadores ativadospor uma diquetona e somente
polimerizam-se em presença de luz visível (fotopolimerizador e LED)
Duais - apresentam os dois sistemas de ativação,químico e físico (luz).

Quanto ao escoamento:
Alto escoamento (flow) – apresentam alto escoamento e são denominadas tipo flow.
Possuem uma menor quantidade de carga e alta fluidez. O uso de ponteiras adaptadas às
seringas desses compósitos permite sua aplicação nas cavidades.
Médio escoamento: são as resinas compostas microhíbridas e microparticuladas que
são inseridas nas cavidades com auxílio de espátulas.
Baixo escoamento (condensáveis) – apresentam como principal característica uma
resistência ao escoamento, mesmo com a ação de um condensador. Na realidade, possuem
uma maior resistência ao escoamento e mantêm a forma por algum tempo após a inserção na
cavidade antes da fotopolimerização.

6. PROPRIEDADES

Resistência ao desgaste: é uma das maiores desvantagens das resinas compostas.


Essa baixa resistência não tem efeito prejudicial imediato; mas leva a perda da forma
anatômica da restauração.
Lisura superficial: está relacionada ao tamanho e a natureza das partículas.
Partículas de tamanho e dureza maior dificultam o polimento, enquanto as partículas de menor
dureza e tamanho proporcionam melhor polimento e por conseqüência melhor lisura superficial.
Contração de polimerização: é o maior inconveniente dos materiais polimerizáveis;
formando espaço entre a restauração e a parede da cavidade, causando microinfiltração, que
pode provocar cáries secundárias, aumento da sensibilidade pulpar e manchas nas margens.
Resistência à fratura: com o intuito de minimizar a fratura marginal, uma resina
precisa ter alta resistência.
Estabilidade de cor: segundo Mondelli, as resinas sofrem alteração de cor num
período de dois a três anos, que pode ocorrer de duas maneiras: manchamento superficial
(impregnação de corantes na superfície da resina) e descoloração interna (processo de foto-
oxidação de componentes químicos da resina, sendo as aminas as responsáveis).
Expansão higroscópica: é a expansão da resina pela absorção de água, e é
inversamente proporcional a quantidade de carga. Quanto maior a sorpção, menor a
resistência ao desgaste, e esta sorpção compensa em parte a contração de polimerização.
Expansão térmica: o ideal é que a resina tenha expansão térmica igual ao da
estrutura dentária, para minimizar as alterações dimensionais da resina.
Radiopacidade: é necessário que estes materiais apresentem características
radiopacas que possam fazer a diferenciação de cáries secundárias e estrangulamento
cervical, além disso distinguir a interface dente-restauração.

7. VANTAGENS
· Excelente estética, especialmente a curto e médio prazo capaz de reproduzir a cor do
dente
· Utiliza tecnologia adesiva
· Apresenta baixa condutibilidade térmica
· Restauração em única sessão
· Em relação às restaurações metálicas fundidas e coroas totais em metalo-plástica ou
metalo-cerâmica, as restaurações de resina compostas têm seu custo
consideravelmente reduzido, podendo algumas vezes, representar a única alternativa
estética contra a perda precoce de muitos dentes que vêm sendo extraídos por razões
econômicas
· A ausência de vapores de mercúrio, corrosão e corrente galvânicas que, geralmente
estão associadas às restaurações de amalgama
· Reforço da estrutura dental remanescente

8. DESVANTAGENS*
• Contração de polimerização
• Sorpção de água e pigmentos
• Envelhecimento da matriz orgânica
• Degradação em meio ácido e álcool
• Manchamento
• Técnica sensível: contaminação, manipulação, inserção, polimerização e acabamento

9. INDICAÇÕES
• Restaurações de dentes decíduos e permanentes
• Colagem da fragmento dental
• Associação com o emprego de selantes: em restaurações preventivas, nas superfícies
oclusais pode-se associar a resina composta com os selantes.
• Substituição de dentina: é indicado por razões estéticas ou mecânicas. Está indicado
visto que a resina composta é mais resistente que o ionômero de vidro para suportar o
esmalte socavado.
• Confecção de núcleos de preenchimento: tanto em pré-molar como em molar.
• Facetas estéticas
• Correções estéticas
• Confecção de incrustação inlay e onlay
10. LIMITAÇÕES DO SEU USO
• Impossibilidade de realizar isolamento absoluto do campo operatório. Em dentes
posteriores, e em especial nos inferiores, devido ao maior risco de ocorrer
contaminação com fluidos orais após a realização do condicionamento ácido e durante
a inserção do sistema adesivo e compósito, é preferível conseguir realizar isolamento
absoluto para indicar a confecção de restauração com resina composta.
• Extensão da área a ser restaurada. Quanto maior a área a ser restaurada,
principalmente se houver envolvimento de cúspide, menor será a expectativa em
relação à longevidade clínica da restauração devido ao estresse mecânico e
conseqüente possibilidade de fadiga ou desgaste oclusal ao qual estará sujeita.
• Possibilidade de manchamento superficial. Especialmente em pacientes fumantes ou
que ingerem com freqüência substâncias corantes há um maior risco de ocorrer
alteração de cor na superfície das restaurações diretas com resina composta.
• Em pacientes fumantes e/ou que ingerem freqüentemente substâncias corantes: é
importante que o dentista informe ao paciente a influência negativa desses agentes
sobre a superfície da resina composta, em especial a possibilidade de ocorrer
alteração precoce de coloração da restauração.
• Em pacientes que realizem bruxismo: esse é um fator que pode limitar a longevidade
clínica especialmente da restaurações tipo IV, tipo V ou lesão cervical se o profissional
não tomar as medidas preventivas quanto ao equilíbrio oclusal.
• Características inerentes à resina composta: contração de polimerização, translucidez,
quando em pequena espessura, e manchamento superficial são alguns dos fatores que
podem comprometer o desempenho clínico de restaurações de resina composta caso o
dentista não observe cuidadosamente esses detalhes durante as etapas de confecção
da restauração.

11. EXEMPLOS COMERCIAIS

Relação e classificação quanto ao tamanho de partícula inorgânica de resinas


compostas disponíveis comercialmente.

Nome comercial Fabricante Classificação Observação


Tetric-ceram HB Vivadent Híbrida condensável Uso em posteriores
Alert Jeneric-Pentron Híbrida condensável Uso em posteriores
Fill Magic Condensável Vigodent Híbrida condensável Uso em posteriores
Prodigy condensable Kerr Híbrida condensável Uso em posteriores
Surefill Dentsply Híbrida condensável Uso em posteriores
Sinergy compact Còltene Híbrida condensável Uso em posteriores
Solitaire Kulzer Híbrida condensável Uso em posteriores
Filtek P60 3MESPE Híbrida condensável Uso em posteriores
Sculpt-it Jeneric-Pentron Híbrida condensável Uso em posteriores
Pyramid Bisco Híbrida condensável Uso em posteriores
Charisma Kulzer Híbrida convencional Uso universal
TPH Spectrum Dentsply Híbrida convencional Uso universal
Prodigy Kerr Híbrida convencional Uso universal
Tetric-ceram Vivadent Híbrida convencional Uso universal
Z100 3MESPE Híbrida convencional Uso universal
Point 4 Kerr Híbrida convencional Uso universal
Sinergy Còltene Híbrida convencional Uso universal
Fill Magic Vigodent Híbrida convencional Uso universal
Revolution Kerr Híbrida convencional Tipo Flow
Flow-it Jeneric-Pentron Híbrida convencional Tipo Flow
Natural flow DFL Híbrida convencional Tipo Flow
Magic flow Vigodent Híbrida convencional Tipo Flow
Permaflo Ultradent Híbrida convencional Tipo Flow
Aeliteflo Bisco Híbrida convencional Tipo Flow
Filtek Z250 3MESPE Micro-híbrida Uso universal
Suprafill SSWHITE Micro-híbrida Uso universal
Glacier SDI Micro-híbrida Uso universal
Amelogen universal Ultradent Micro-híbrida Uso universal
Renew Bisco Micro-híbrida Uso universal
Esthet X Dentsply Micro-híbrida com Uso universal
nanopartículas
Durafill Kulzer Microparticulada Uso em anteriores
Silux plus 3MESPE Microparticulada Uso em anteriores
Filtek A110 3MESPE Microparticulada Uso em anteriores
Renamel Cosmedent Microparticulada Uso em anteriores
Vitalescence Ultradent Microparticulada Uso em anteriores
Heliomolar Vivadent Microparticulada Uso em posteriores
Amelogen microfill Ultradent Microparticulada Uso em anteriores

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARATIERI, L. N. et al. Dentística: procedimentos preventivos e restauradores. 2 ed. São
Paulo: Editora Santos, 1992. cap. 7, p. 201-211: Restaurações com resinas compostas (classes
V e III).

BAUM, L.; PHILLIPS, R.; LUND, M. Dentística operatória. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 1996. cap. 9, p. 190-200: Restaurações estéticas.

BUSATO, A.L.S. Dentística: restaurações em dentes anteriores. São Paulo: Artes Médicas,
1997. cap. 6, p. 71-89: Resinas compostas restauradoras.
CONCEIÇÃO, E.N. et al. Dentística: saúde e estética. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
341p.
COSTA, S. X. S.; Resinas compostas: considerações gerais. Recife, 1999. (Monografia da
Disciplina de Materiais Dentários do Curso de Especialização em Dentística) 38p. Pós-
graduação em odontologia – UFPE

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