Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sobre A Artisticidade Da Arquitectura
Sobre A Artisticidade Da Arquitectura
O que se modifica ou, melhor, o que se revela, uma nova relao com as
coisas.
Estes dois paus no deserto, sero o princpio da arquitectura, mas tambm so
o princpio da arte.
Voltemos citao como a entendi: espetam-se dois paus e depois algum
passa. Como estvamos no deserto, num deserto absolutamente deserto, tero
sido aqueles dois paus que fizeram nascer algum para por eles passar.
Aqui, o nascimento do artifcio, o nascimento da arquitectura ou o da arte,
numa situao primordial em que uma e outra tero sido a mesma coisa,
coincide com o nascimento do indivduo, o artifcio cria o indivduo, ou,
melhor, o artifcio o indivduo.
Neste sentido, na essncia, a arte trata do que consistir ser um indivduo.
E o domnio da esttica sobretudo o da procura desta definio, ou melhor, o
da expresso da conscincia do que ser, do que existir.
E tanto a arte com a arquitectura, se que ainda faz sentido separ-las, tratam
do que as coisas so e no daquilo para que as coisas servem .
Claro que as obras de arquitectura servem para alguma coisa e, no sentido
mais estritamente utilitrio, servem para mais do que uma obra de arte, mas o
que faz uma obra de arquitectura ser arquitectura no aquilo para que ela
serve mas sim o que ela .
No sentido mais amplo do que a percepo, ns somos o que
percepcionamos. A percepo a nossa relao com as coisas e, tanto a arte
quanto a arquitectura modelam, ou melhor, recriam a percepo.
Mais do que inventar novas formas, a arte e a arquitectura so motivadas pela
dinmica da percepo.
E os artistas, arquitectos ou no, so aqueles que no se satisfazem em ser (o
que seria, eventualmente, bastante mais confortvel), passam a vida, atravs
do que produzem, a pensar o que que isso quer dizer.
Antnio Olaio
Legenda para as 3 fotos: What makes a home a house?, 3 telas de Antnio Olaio de uma exposio
para a Faculdade de Arquitectura do Porto a inaugurar em Dezembro de 2002