Você está na página 1de 5

O QUE NOS ENSINAM OS QUATRO PILARES DA

EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI

Aline Capelli Vargas


Prof. Íris Weiduschat
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura/ Pedagogia (PED 7481) – Didática e Avaliação
04/02/09

RESUMO

O presente estudo trata dos princípios defendidos no relatório realizado por Jacques Delors para a
UNESCO. Além da educação para toda a vida, estabelecem-se quatro aprendizagens fundamentais
que serão pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e
aprender a ser. Esses quatro aspectos serão brevemente discutidos nesse trabalho.

Palavras-chave: Educação; Aprender; Século XXI.

1 INTRODUÇÃO

Para Jacques Delors, político francês responsável pelo Relatório para a UNESCO1 da
Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI “a educação surge como um trunfo
indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social.”
(DELORS, 1998, p. 11)Assim, todos devem pensar na educação ao longo da vida como modo de
lidar com um mundo que está se transformando rapidamente, além de ajudar a discernir quais
informações são relevantes entre tantas ondas de que surgem de todos os cantos do planeta.

A fim de estar à altura dessa missão, a educação deve apoiar-se em quatro princípios que
funcionarão de base para a construção do conhecimento ao longo da vida: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Esses quatro aspectos devem receber igual
atenção para a educação global – cognitiva e prática – do indivíduo.

2 APRENDER A CONHECER

Para Jacques Delors (1998, p. 92) “aprender a conhecer supõe, antes de tudo, aprender a

1
United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. Em português: Organização Educativa, Científica e
Cultural das Nações Unidas. (tradução nossa)
2
aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento.” O domínio dos instrumentos de
conhecimento é considerado um meio de compreender o mundo, desenvolver capacidades e se
comunicar, e tem por finalidade o prazer de conhecer e descobrir. as crianças devem ser
apresentadas ao método científico, estimulando sua capacidade de observação e atenção,
exercitando a memória associativa e firmando os alicerces para a aprendizagem bem sucedida ao
longo da vida.

Este pilar terá suas bases fortalecidas quando uma criança é estimulada a observar seu
entorno e a estabelecer relações entre os seres que a rodeiam; quando é estimulada a memorizar
fatos relevantes (seu endereço, a seqüência dos dias da semana, etc.); quando é estimulada a
questionar sobre o que não conhece, a buscar novas informações e aprender a selecionar o que é
relevante e o que não ajuda a responder seus questionamentos. Diante da avalanche de informações
que chegam aos indivíduos por diversos meios midiáticos, aprender a conhecer é imprescindível
para não perder-se diante de informações inúteis, tendenciosas ou mesmo equivocadas. Para Costa
(2000) “mais do que acumular uma carga cada vez mais pesada de conhecimentos, o importante
agora é estar apto para aproveitar, do começo ao fim da vida, as oportunidades de aprofundar e
enriquecer esses primeiros conhecimentos num mundo em permanente e acelerada mudança.”

3 APRENDER A FAZER

Esse pilar tenta responder à questão proposta por Delors (1998, p. 93) “como adaptar a
educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será sua evolução?” Um caminho será
transformar o conhecimento em inovações que possam fazer surgir novos empreendimentos e novos
empregos. Para Silva e Cunha (2002) “Aprender a fazer significa que a educação não pode aceitar a
imposição de opção entre a teoria e a técnica, o saber e o fazer.” A educação tem obrigação de
educar pra a prática e a competência produtiva.

A noção de qualificação está sendo substituída pela noção de competência pessoal, que
inclui formação profissional, comportamento social, capacidade de trabalhar em equipe e iniciativa.
É preciso aprender a se comunicar, a trabalhar com os outros e resolver conflitos. O conceito de
emprego está sendo substituído pelo de trabalho, e o trabalhador deverá ser um sujeito criativo,
crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças (SILVA e CUNHA,
2002)
3

4 APRENDER A CONVIVER

Esse pilar envolve duas vias complementares: descobrir o outro e participar de projetos
comuns. A primeira via envolve educar para a diversidade da espécie humana, bem como de suas
semelhanças. Passa pela descoberta de si, pois só conhecendo a si próprio pode um ser humano
colocar-se no lugar do outro, buscar compreender suas atitudes (DELORS, 1998). O respeito aos
diversos pontos de vista pode evitar desentendimentos que geram tantos conflitos gerados pela
intolerância. Aprender a conviver também é aprender a fomentar a paz. “É aí que a paz começa, na
disponibilidade para sentir, para escutar e para aprender com modos de ser e de viver diferentes”
relata Baptista (2002). No mundo moderno deve-se ressaltar a interdependência e a importância das
relações: na teia da vida o que afeta a um afetará a todos.

A segunda via é através de “projetos que fazem com que se ultrapassem as rotinas
individuais, que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças” (DELORS, 1998, p. 98).
Projetos cooperativos, atividades esportivas e culturais: “olimpíadas” escolares, saraus, exposições;
e atividades sociais, como ações humanitárias e serviços de solidariedade são exemplos de ocasiões
cooperativas.

O professor também deve empenhar-se em seu papel de convivência e respeito. O


envolvimento entre educadores e educandos em projetos comuns enriquece sua relação e ajuda a
aprender como resolver conflitos (DELORS, 1998). Para Costa (2000) “os valores devem ser, mais
do que transmitidos, vividos, através de práticas educativas [...]. Como educadores, precisamos nos
fazer presentes na vida dos educandos, de forma construtiva, emancipadora e solidária.”

5 APRENDER A SER

Para aprender a ser, de acordo com o Relatório Delors (1998, p. 102), é preciso “não
negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio,
sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.” De acordo com essa visão, a
pessoa pode desenvolver-se totalmente através da educação, aprendendo a pensar autônoma e
criticamente, elaborando juízos de valor para decidir como agir diante dos fatos da vida. É fornecer
referenciais para compreender o mundo e se comportar de modo responsável e justo. (DELORS,
1998).
4

A inovação social e econômica deste mundo constantemente cambiante necessita de


imaginação e criatividade, descoberta e experimentação. A arte e a poesia, a revalorização da
cultura oral e dos saberes prévios do aprendiz estimulam a diversidade de talentos e personalidades,
que são manifestações da liberdade humana. (DELORS, 1998).

IMBERT apud MATOS (2008) lembra que "efeitos devastadores, na escola, de situações
repetidas de insucesso acabam por gerar uma renúncia ao ser e consequentemente ao conhecer". O
educador deve buscar seu bem estar pessoal, equilíbrio emocional e confiança profissional a fim de
estabelecer uma relação de mediador da construção do conhecimento pelo educando. (MATOS,
2008). A formação continuada e as boas condições de trabalho são indispensáveis para que
professores e alunos possam criar espaços para construírem seu ser, para realizarem suas
potencialidades pessoais e sociais. (COSTA, 2000)

6 CONCLUSÃO

Através dessa breve análise percebe-se que a UNESCO preocupou-se em analisar as


perspectivas da educação segundo o paradigma social apresentado nesse milênio que se inicia. Os
quatro pilares são as aprendizagens básicas para possibilitar ao ser humano total desenvolvimento
de suas faculdades mentais, físicas e espirituais. Tais objetivos mostram inspiração humanista e não
são novos, visto que o relatório Aprender a ser de 1972, também um estudo anterior sobre a
educação para a UNESCO, já levantava as mesma bases que aprecem no quarto pilar.

Os quatro pilares lançam a base para a educação ao longo de toda a vida, abrindo o espírito
para uma vida melhor e, segundo Suhr (1998, p. 252) “ vivermos juntos em harmonia deve ser o fim
último da educação no século XXI”. Conhecer o mundo e o processo de aquisição do
conhecimento, ter oportunidade de aprender e testar diversos ofícios, conviver e aprender a
administrar conflitos e sucessos e se realizar como pessoa são objetivos que a sociedade do terceiro
milênio almeja e que a educação pode ajudar a concretizar. Para tanto é preciso preparar os
professores e apoiá-los em sua prática, valorizando sua busca pelas competências que terá que gerir
para auxiliar os aprendizes a se realizarem como pessoas através da aprendizagem.

7 REFERÊNCIAS
5
BAPTISTA, I. Aprender a conviver ou: a paz como competência ética
Jornal A Página, Porto, jun. 2003. n.12, p.6 . Disponível em:
<http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=2496>. Acesso em: 03 fev. 2009.

COSTA, A. C. G. Educação: Tendências e Desafios no Século XXI. In: Protagonismo Juvenil:


Adolescência, Educação e Participação Democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000.
p.46-57. Disponível em: <http://4pilares.net/text-cont/costa-educacao.htm>. Acesso em: 03 fev.
2009.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir.Tradução de José Carlos Eufrázio. São


Paulo: Cortez; Brasília. DF: MEC: UNESCO, 1998.

MATOS, M. Aprender a ser. Jornal A Página, Porto,dez. 2008.n. 184, p. 8. Disponível


em: <http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=6479>. Acesso em: 03 fev. 2009.

SILVA, Edna Lúcia da; CUNHA, Miriam Vieira da. A formação profissional no século
XXI: desafios e dilemas. Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 3, set. 2002 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
19652002000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 03 fev. 2009.

SUHR, M.W. Abertura de espírito para uma vida melhor. In:. DELORS, J. Educação:
um tesouro a descobrir. Tradução de José Carlos Eufrázio São Paulo: Cortez; Brasília.
DF: MEC: UNESCO, 1998. p. 252-256.

Você também pode gostar