Você está na página 1de 94

Gilson Rodolfo Martins

Breve Painel
Etno-Hcistórico

DE MATO GROSSO DO SUL


• UNIVERSIDADE FEDERAL
.& DE MA TO GROSSO DO SUL
Reitor
Manoel Catarina Paes • Peró
Vica-Reltor
Mauro Polizer

1i edição publicada em 1992


~ edição aprovada pelo
CONSELHO EDITORIAL DA UFMS
Resolução 41 /99

CONSELHO EDITORIAL
Amaury de Souza (presidente)
Cláudio Alvas Vasconcelos
É/eia Esnarriaga de Arruda
Horâcio Porto Filho
José Batista Safes
Mônica CaNalha Maga/Mas Kassar
Neuza Maria Mazzaro Somara
Orlinda Simal Isidoro de Souza
Rosa Maria Fernandes de BDtros
Sifvana de Abreu
Walber Luiz Gavassoni

FlCHA.CATiILOORÁFtCAEt..ABORADA f>Et..A
COOROENADORIA DE BIBUOTECA c;a.rrRAlNFMS

Martins. Gilson Rodolfo


M386b.2 Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do SI,II I Gitson
RodoIo Martins. - 2.ed. amp'- II rev.•• Campo GrooOe. MS : Ed.
UFMS.2002.
tOOp.: M. ; 21 em.

Esta publicação eonl ou com o apoio do COMP E:Q II INEP, no


Ambito do Programa Publicações de ApOio à Formação Inicial III Con­
tinuada de Professores_
ISBN 85-aõ9i7-92-X

1. iodios da América do $",1- Mato Grosso do Sul- História.


I. Titulo.
COO (21) - 960.<4171
Gilson Rodolfo Martins

Breve Painel
Etno-litistórico

DE MATO GROSSO DO SUL

2" Edição

Ampliada e Revisada

Campo Grande - MS
2002

Esta publicação contou oom o apoio do Comitê dos Pnxlulores da Informação Educacional (COMPED)
e teve sua reprodução contratada pelo Instituto Nacional de Estudos fi Pesquísas Educacionais (INEP),
no âmbito do Programa PubWcações de Apoio à Formação Iniciei e ConlW"iuada de Professores.

COMIT~OOS
PFlOOU"OR"-S 0.1.
• -. _~ hilMoNadond
IM'OFlMACÃ.O
EOUCACIONA~ 111I::r" ~~
Projeto Gráfico a
Editoração Eletr6nic a
EditOf8 UFMS

Revisão
Gilson Rodolfo M8rtins

Direitos exclusivos
para esta edição

UNIVERSIDADE FEDERAL
DE MATO GROSSO DO SUL
Portão 14 - Estádio Morenão - Campus da UFMS
Fone: 167) 345-7200
Campo Grande · MS
e-mail :editora@editora .ufms.br

ISBN : 85-85917-92-X
Depósito legal na Biblioteca Nacional
Impresso no Brasil
Dedico este trabalho a

Iberê, Ara, rtay, Iraye

a todas as crianças "brancas"

que amam as crianças indígenas.

Prefácio

m 1992, quando foi publicada a pri­ nio da população nativa é indicativo da ne­
meira edição do "Breve Painel Erno-­ cessidade de uma nova consciência. A devas­
histórico de Mato Grosso do Sul", completa­ tação ambiental colonial, inaugurada nos pri­
va-se o quinto centenário do "descobrimento" meiros anos do século XV1 com O extrativismo
da América. Em alguns lugares esse momento do pau-brasil e o comércio de peles de ani­
foi objeto de comemoíàçôes e em outros de mais silvestres, ainda não fo i freada. Como a
protestos. Ao mesmo tempo, mais de wna cen­ economia indígena e a européia, em relação
tena de chefes de Estado reuniram-se, no Rio aos recursos naturais, seguiram direçôes opos­
de Janeiro, n o âmbito da Conferência Mundial tas, progressivamente tomou-se mais profun­
sobre o Meio Ambiente, ECO 92, promovida do o abismo intercivilizatório.
pela Organização das Nações Unidas - ONU. Foi buscando contribuir para a reflexão em
Nesse evento, um índio sul-mato-grossense, busca da difusão da tolerância e do respeito
Marcos Terena, representando os povos indí­ ao p luralismo étnico que escrevemos este pe­
genas d o mundo, falou para a plenária de queno livro. Não procuramos ftxar culpados,
autoridades internacionais: uNosso futuro está apenas descrever acontecimentos. Ho uve uma
planejado nos rastros de nossos antepassados". aceitação multo positiva da primeira edição
Passados quinhentos anos, o Novo Mun­ do "Breve PaineL.". Pen samos que ela atin­
do, apesa r" de sua exte nsão e diversidade giu seus objetivos.
ambiental, ainda não conciliou os que já esta­ Agora, em sua segunda edição - contem­
vam com os que chegaram. O quase extermÍ­ p lada pejo Programa Publicações de Apoio à
7
Fo~ação Inicial e Continuada de Professores em Mato Grosso do Sul, mudo u para melhor.
do Comped/Inep - a obra é colocada à dis­ Nossa esperança é de que nQS..<;Os futuros nào
posição dos leitores em uma versão colo rida, sejam, ai nda por muito tempo, paralelos.
ampliada e revisada.
Dez anos separam a primeira da segunda Prof Dr. Gilson Rodolfo Martins
edição. Neste tempo , a situação dos índios, Aquidauana-MS, 2002

Apresentação da l ' Edição

n
iii
Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul- UFMS, através da Pró-Reito­
tratem dos povos indígenas em Mato Gros­
so do Sul;
ria de Extensão e Assuntos Estudantis, vem • realização de cursos, palestras, publica­
desenvolvendo um Projeto de Apoio à Edu­ ções sobre língua e cultura indígena, visan­
cação Indígena do Estado. do subsidiar principalmente os professores
com info ffilaçôes sobre o pluralismo érni­
Este projeto p rocurou contemplar e, poste­
riormente, implementar propostas expres..<;as no co-regio nal.
relatório final do "Seminário Estadual de Alfa­ O fIabalho que estamos apresentando "Bre­
betizaçào - AIAl90 - Alfabetização no Estado ve Painel Etno-Histórico de Mato Grosso do
de Mato Grosso do Sul", no que se refere a: Sul", escrito p elo pro fessor Gilson Rodolfo
• trabalhos1:onjuntos com entidades gover­ Martins (UFMS), faz parte das metas deste pro­
namentais e não govemamemais ligadas à je to, uma vez que, com textos e com imagens,
educação indígena, envolvendo atualização procura oferecer a esrudames e a p rofessores
e capacitação de recursos humanos; informações básicas sobre a história dos p0­
• construção de materiais didáticos que vos indígenas d este Estado.
atendam às especificidades das comunida­
des indígenas e à questão do bílingüismo; Prof' Aldema Menine Trincklde
• re união de documentos, livros, revistas, Universid ade Federal de Santa Maria - UFSM

artigos, teses, dissertações, monografias, que Campo Grande-MS, 1992

8
r.
o Sumário

Prefácio
7
Apresentação da Primeira Edição
8

Introdução
11

Pré-história e Arqueologúi de Mato Grosso do Sul


17

Os Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul

e o Contato com a Civilização Européia

33

Introdução

,.

• o observarmos o panorama étnico Quando os colonizadores e uropeus cheg~­


iii brasileiro, verificamos que a área com­ raro nesta região, nas primeiras décadas do
preendida pelo Estado de Mato Grosso do Sul século XVI, e ncontraram aqui um conjunto de
ocupa um lugar de destaque. Apesar do~ es­ sociedades indígenas, composto por etnias re­
tudos arqueológicos na região serem ainda presentanles de três dos quatros troncos
°
preliminares, tenitório estadual, pelo que já lingüísticos q ue fonnam o universo etno-lin­
se sabe, foi significativamente ocupado e tr.m­ güístico brasileiro. Eram vârias cente nas' de
sitado por grupos de caçadores/coletores/ pes­ milhares de índios portadores de sistemas cul­
cadores pré-históricos que, orientando-se e m turais rica me nte difere nciados. Esses grupos;
seus desloca mentos sazonais (nomadismo) às vezes, possuíam divergências e ntre si mas
pelos cursos flu viais, migravam pelo inte rior respondiam bem, cada segmento ao se\l moelo,
do continente. Associado a este entroncamento às equações colocadas pela paisagem que tam­
de trilhas naturais, um exuberante e comple­ bém era múltipla e variada como veremos
xo ecossisrema tropica l oferecia ao homem adiante. Em função diSso, desde os primeiros
pré-histórico condições plenas para o desen­ momentos da coloniza ção ibérica no conti­
volvime nto das culturas humanas. Nesta pers­ nente, a área estadual, apesar de sua distân­
pectiva científica, importantes dados deverão cia dos centros económicos mercantilistas na
ser obtidos com o aprofundamento das pes­ América do Sul, foi, de imediato, inserida na
quisas sobre a origem e as dinâmicas culturais estratégia econômi<..-a do sistema colonial na
do ho mem pré -his tórico na América. condição de impoltante fonte fornecedora de
li
o Pantanal sul-mato-grossense foi
cenário da maior e mais obstinada
oposição nativa à presença colonizadora
ibérica na história do Brasil.

uma mercadoria vital para o funcionamento servadas pelo extinto Serviço de Proteção ao
desse modelo: a mão-de-o bra compulsória. fndio - SPI, no começo do século XX, são
Durante os cinco séculos da presença eu­ frações mínimas de seu território pré-colonial.
ropéia em Mato Grosso do Sul, a resistência No sul do Estado, algumas centenas de famí­
indígena à ocupação colo nial de seu territó rio lias Guarani/Kaiowá, estão assentadas nas mar­
foi a tônica das relações intercivilizat6 rias. O gens de algumas rodovias aguardando O re­
Pantanal sul-maro-grossense foi o cenário da to mo para suas terras tradicio nais. Entre cinco
maior e mais obstinada oposição nativa à pre­ o u seis mil pessoas, sobrerudo da emia Terem ,
sença colonizadora ibérica na história do Bra­ cliluem-se entre a po pulação marginalizada
sil. das maiores cidades do Estado, tais como Dou­
o resultado desse violento contata inter­ rados, Campo Grande, Aquidauana e Miranda,
civilizat6rio quase provocou o extermínio de­ na condição de "índios desa1deados".
finitivo da população indígena locaL Nos três O quadro natural de Maco Grosso do Sul ,
primeiros séculos da colonização, diversas so­ com aproximadamente trezentos e cinqüenra
ciedades autóctones, portadoras de modelos mil quilómetros quadrados de área, em ter­
comportamentais específicos, desapareceram mos hidrográficos, faz do Estado o que se pode
deixando poucos vestígios arqueológicos re­ chamar de uma região potâmica, ou melhor,
presentativos de seu modo de ser, o que acar­ mesopotâmica. Balizado no sentido leste-oeste
retou perdas irreparáveis para o conhecimen­ pelas calhas dos dois maiores tios sul-ameri­
to do homem e de sua natureza cultural. Hoje, canos depois do Amazonas - o Paraguai a
mais de cinqü enta mil índios vivem em Mato Oeste e o Paraná a Leste - os quais fluem
Grosso do Sul , ou seja, é a segunda maior paralelamente na direção Norre-sul, Mato Gros­
concentração de população indígena do Bra­ so do Sul inscreve-se na porção setentriona l
sil, após a amazônica. da bacia Platina. O interior do Estado, entre
Como o utros grupos de índios brasileiros, a esse.."> rios, é entrecortado por seus afluentes,
maio ria das comunidades indígenas sul-mato­ compondo uma bacia hidrográfica com perfil
grossenses vive em áreas bem reduzidas. Re­ "espinha de peixe". A serra de Maracaju, nome
12
:::::::::::::==:~::~::=-----~M:at~O~G:rOSSOdo,~UI
.".'""""
,(lU . s H',drograflGas
Bacia

~
-' .,......
': ....
" .,
(,!) ••. r '
« :::, .. ", . ,
a:: . • . • ~. ~ .,
::-: .. . .""
2 CONVENÇÕES
'"
-­ _~'-'k..
DIVISOI!: OE BACIAS

/fIOS

?"--­ MeiA "" RIO ~~ PARAGUAI

SACIA DO IUO PARANA

LIMITE ESTADUAL

CAPITAl

13
Todos os rios estaduais são perenes e
navegáveis e sempre foram suportes
para um intenso tráfego fluvial das
populações índígenas e coloniais.

regional da borda sudo­


Mato Grosso do Sul
este do Escudo Cristalino
Geologia
Brasileiro ou Planalto Cen­
tral Brasileiro, alinhada
eqüidistantemente entre
os dois grandes cursos
hídricos referidos é, por
ser a maior altitude do re­
. ........... . ........ ....­
levo estadual (mais ou
menos 600 m), ao mesmo
tempo, divisor de águas
•.
. ..-. . . .....-
"~,
,"""'
.....
IIIt ,",- ,.. . ~ -
"
,,

entre eles e também a ca­


beceira dos principais aflu­
entes estaduais desses ma­
nanciais. Em alguns casos,
..._, ........ .
.., "...
,........_._"'
~

"'-"" ..,..,
_.
- ..... _ -
,...­
,.~ ,

", ' ,.­.. ",-­

poucos quilômetros sepa­


ram as nascentes dos tri-
butários das duas bacias.


.""" .........
..... "
~.

São os "varadouros" terrestres que tiveram gran­

Mato Grosso do Sul


de importância na transumância local, desde

Geomorfologia
.--
tempos pré-colombianos até o início do sécu­

lo passado. Todos os rios estaduais são pere­

nes e navegáveis e sempre foram suportes para

um intenso tráfego fluvia l das populações in­

dígenas e coloniais.

Obedecendo à distribuição espacial elas duas


bacias, o quadro morfo-estrutural da superfí-
.. --"'
1 -
.......... _.-............
"'---­
. . . . . . ­ ...,..............
_.
14
I
I
de estadual apresenta, a
grosso-modo, dois gran­
des conjuntos. No qua­ Mato Grosso do Sul
drante oeste-noroes te,
uma vasta ~-u pedície pla­
na. com área de mais de
, Solos

cem mil quilômetros qua­


drados e altitudes médias .......
em tomo de 150 m, for­ . . . . . -.........,......
.~
1-
ma um grande "anfiteatro" . _ ... 9­

.-
SÃOf',AUU) • _ __
drenado pelo rio ParJ.guai
.~
e seus subsidiários. Essa
região caracteriza-se como
uma das maiores planícies .-­
. ~­



-
~-­

inte rio res inundáveis do


mundo - o Pa ntana l. A
cobertura vegetal d essa
área apresenta savanas nas
.--
partes não-inundáveis e hidrófilas nas terras abrange a maior parte da área estadual
alagadas. A preselVação dessa paisagem, a in­ (237.436 km 2). Este planalto é composto por
da significativa das condições naturais origi­ chapadões, campos e vales, cujas altime(rias
nais, faz dela um verdadeiro "santuário" eco­ va ri am e nlre 250 e 850 m . Os deúames
lógico onde extensa e variada fauna aquática basálticos efusivos do início do Cretáceo con­
desenvolve-se de fonna magnifica. feriram a essa região um relevo suave, <> qual
Estende ndo-se por toda a porção central transformou O centro-sul do Estado em um
do Estado , de Norte a Sul, um planalto, irriga­ grande plano inclinado para Leste, daí a ori­
do sobrerv do pelos tributários do rio Paraná, gem do nome da capital estadual, Campo Gran­

15
A configuração de ecossistemas
complexos em i\1ato Grosso do Sul
propiciou diversas experiências culturais
humanas nos últimos milénios.

de (Nhu-guaçu, na língua
Mato Grosso do Sul
Guarani). Esta região 5u1­
Vegetação
mato-grossense possui as
melhores terras para a
agricultura. Nela, outrora,
desenvolvia-se uma den­
sa floresta tropical úmida,
intercalada por áreas de
campos naturais. Na Ú~­
gião nordeste do Estado,
a cobertura vegetal predo­
minante é o Cerrado.
.
.......

...v .......

No Leste, antes da im­ • ~.,..!I1AC _ _ ""CIDI.W.

. ..v...... u~"""

plantação do arual mode­ • .l.uAso-u _eo»s , OOIIl!I!V.S


lo agropecuário, a vege­ n _ h ll,I 5_ 5l_...,.,.....

tação primária da planície


m......... PI! Jli Nslo .,~

da bacia do alto curso do


rio Paraná era co nstituída
p o r forma çõe s de Floresta EstacionaI Em resump, ~ inreração dos elem entos
Semidecidu·aI , inrercalàcÍa de campos naturais dessa paisagem variada, na su a porção me­
de Savana (Cerrado). Ao contrário da região ridional arra v essa d a p e lo tr ó pi co d e
pantaneira, onde é significativa a conserva­ Capricórnio, viabilizou a co nfiguração de
ção fi tofisionômica original, nesta parte do ecossistemas complexos qu e abastece ra m
Estado a ação antrópica recente é devastado­ com plenitude as necessidades econômicas
ra. Os remanescentes da vegetação nativa es­ das diversas experiências culturais huma­
tão, hoje, reduzidos a algumas manchas de n as que aí se reproduziram nos ú ltimos mi­
cerrados e pequenos bosques florestais. lênios.
16
É muilO provável que a presença
do homem, em Maio Grosso do Sul,
supere dez mil anos,

• pesar de ser uma peça fundamental Uma variada formação pretérita de horizon­
iii no uquebra cabeça" que busca com­ tes culturais revela a existência, em Mato Gros­
preender o processo de ocupação da América so do Sul, de grupos de caçadores/coletores/
do Sul pelo homem pré-histórico, na maior pescadores e de grupos indígenas ceramistas,
parte do território de Mato Grosso do Sul, as cujas origens são anteriores ao desenvolvimento
pesquisas arqueológicas estão ainda na fase das etnias conhecidas desde os tempos coloni­
preliminar de levantamentos e análises. Nesta ais. Por outro lado, alguns desses sítios, com .
área do conhecimento, os estudos científicos certeza, atestam a presença antepassada, pré­
propriamente ditos tiveram irúcio havia me­ colonial, dos grupos étnicos historicamente co­
nos de quinze anos, quando pesquisadores nhecidos. Outros sítios testemunham ftliaçôes
da Universidade do Vale dos Sinos - UNISINOS culturais mais remotas, ainda não identificadas
e da Universidade Federal de Mato Grosso do e já extintas. Segundo o pesquisador Pedro
Sul - UFMS, desenvolveram os primeiros. pro­ Ignácio Schmitz, da UNISINOS, exames reali­
jetos de pesquisas arqueológicas na região. zados em amostras de carvão recolhidas em
Os dados até agora recolhidos permitiram a escavações arqueológicas em um abrigo sob
identificação e o registro de algumas centenas rocha, na região do alto curso do rio Sucuriú,
de sítios arqueológicos. Sendo assim, pode­ no nordeste do Estado, indicam a presença do
mos observar que a distribuição desses sítios homem, neste loc'31, por volta de onze mil anos
cobre todas as áreas do Estado. atrás. Em outro sítio, distante apenas alguns qui­
19
Por todo Mato Grosso do Sul,
centenas de sítios ao ar livre foram
superfícies de acampamentos ou de
aldeias indígenas )á desaparecidas.

lômetros do anterior, foram obtidas datações tificariam wna trilha, caminho ou via no inte­
em tomo de sete mil anos atrás. rior da vegetação panraneira, cuja direção nos
Muito expressjvos, e nquanto evidências do encaminha ao território boliviano.
perfIl culoornl desses JX>vos extintos, são os pai­ A esses contextos arqueológicos pré-históri­
né is arqueológicos de "arte rupestren • A ação COS, q ue nos remetem a alguns milhares de anos
milenar da erosão sobre alguns morros-teste­ atrás, somam-se, por todo Mato Grosso do Sul,
munho pelT!liliu que, e m vários locais do Esta­ centenas de sítios ao ar livre, localizados em
do, surgissem concavidades naturais, as quais pequenas colinas ou terraços fluviais próximos
foram exploradas pelo homem pré-histórico aos cursos d'água, que, com certeza, foram su­
como abrigo (habitat), entre outras funções. pemcies de acampamentos ou de aldeias indí­
Nas paredes destas "casas-de-peclra", os caça­ genas já desaparecidas. Nesses locais são abun­
dores/coletores pretéritos registraram parte de dantes os vesúgios de recipientes de cerâmica,
suas impressões e representações da realidade, alguns sepultamentos, arrefaros e resíduos líticos
física e/ou mitológica, por meio de esquemas (rochas) tais como lascas, lâminas de machado
gráficos figurativos e/ou abstratos, utilizando-se de pedra polida, pontas de projéreis, mãos-de­
para ral de técnicas de pintura ou gravura em pilão, almofarizes, raspadores, facas, furadores,
baixo relevo sobre a rocha. Como exemplo percutores e outros tipos de vestígios arqueol&­
dessas manifestações simbólicas por meio de gicos representativos da cultura mate rial de p0­
grafismos pode-se cttar um intrigante conjunto vos indígenas pré-coloniais.
de petróglifos (gravuras na rocha) inscritos na
Para O conhecimento ampliado do passado
superfície de um solo lateritizado, próximo às
arqueológico de Mato Grosso do Sul, como
margens do rio Paraguai, no município de
perspectiva para novas pesquisas arqueológi­
Conunbá. Nesse local, por vários quilômetros
cas, entre outras, ainda estão para sere m feitos,
de extensão, distribuem-se dezenas de sinais
os traballios de localização e identificação dos
(signos) abstratos, variados quanto à fonua e à espaços pantaneiros, nos quais foram instala­
temática, os quais nos sugerem a possibilidade
das as reduçôes das Missões Jesuíticas do Itatim,
de estarem alinhados de tal ma neira que iden­
fundadas e extintas no decorrer do século XVII.
20
Grafismos Rupestres

Painéis com pinruras arqueológicas


em abrigos sob rocha na região
do do Tabôco, no municipio
de:: Aquidauana (1).

:' 1

Grafismos Rupestres

Gravuras arqueológicas (pelróglifos)


corue(;oonadas sobre anoramenlOS
lilol6giCOS na supt::rfkie, loc:Ilixadas nas
proximidades da cidade de Corumba (1),

22
Painéis com pinturas arqueológicas
nas paredes de um abrigo sob rocha
no município de Costa Rica (2)

23
Grafismos Rupestres

Painel com pinturas arqueológicas


sobre a parede: de um bloco d e arenito
no município de Chapadão do Sul (2) .


"" ~.

,:\. ""
. ,~
"
,.~'1"·
'L "

Gravuras arqueológicas
sobre um pequeno bloco
de arenito no município
de Jaraguari (1).

24

G,,iVUràS arqueológicas

na parede de um morro

de arenito no município

de Antônio )0:10 (4).

Painel com gravuras arqueológicas


em um abrigo sob rocha
no município de Maracaju (3)
Escavações Arqueológicas

Escavação cm
sítio arqueológico
no município de
Anau rilã ncJia ( 2).

&cavação em
sítio arqueo16gico
no município de
Três Llgoas (1).

À direita, escavação
em sítio arqueológico
no município
de Maurilândia (2).
27
Anefatos/ Ute nsílios Arq ueológicos

I. Raspador (pedra 13scada)


coletado em sítio arqueológico
no município de Maracaj\l (2).
2. Ponta de projétil (pedr4
!aSClda) coltlada cm sftio
arqueológico no município
de Anaurilândia (5).
3. L'i mina de maçhado
(çx:dra polida) co!ctada em
sítio :lrqueo lógico no
município de Nioaquc (I).
4_ Raspador (pedra lascada)
coIetldo em sítio arqueológico
na cidade de Cam(X> Grande (4).

28

Abaixo,
mào-de-pilão
(pedra polída)
caldada em
sítio arqueológico
no município de
Dourado...,. O).

_._._.

,"",':'
=--­
Mão-dt,;"pHão c nlmofariz
coletado em ~ítio ;lrqueológico
no munid pio de Nioaque (1 ).

29
AnefatoslUtensilios Arqueológicos

À esquerda, r<..--dpicntc dt: çcrnmica

l-'Oletado e m sítio arqueológico

no município de Bodoquena ( I).

À direila, panela de barro


{cer,'im ica Guarani} coletada em
sítio arqueológico no mun icípio
de Anaurilândia (3)-

Abaixo: 1. Ado mo labial (tcm!Jetá) de


pc..'1lrJ., coletado em sítio arqueológico no
município de Anaurilândia (3) .
L F...:,.-rml um fuo<:'r.Ír ia composta por
recipientes de ccrimiGl (GuaranO
colct,u.h em sítio arqueológico no
mu nicípio de Santa Rita do Pardo (2).

30
Artefatos/ Utensílios Arqueológicos

Fragmemo de rec:ipk..,...,c de Ct':rJm.ioI. Guar.tni CQITl cksenho, coIeudo em sítio arqUL'ClI.ógico no município de Anaurilândia (1).

32
No início do :;éculo XVI ,

pela p rimeira vez, um europe.u

pisava em \.~rras hoje suJ-mato-gruss<.:'ll:;t.'S.

Se u nome : Aleixo Garcia.

Ce] processo histórico de "descoberta" e


reconhecimento do território sul-:a meli­
hi stória e a etno-história sul -mato-grossense,
foi a realizada pelo navega nte espanhol Juan
cano de u-se nas primeiras décadas do século Diaz Solís, no ano de 1516, q ue implicou na
XVI , motivado, acima de tudo, pela tentativa descoberta do "Mar deI Platd', isto é, o esmá­
dos conqu istadores espanhóis de encontra rem rio da bacia Platina. Apesar do trágico desfe­
uma interligação oceânica entre o Atlântico e cho q ue atingiu esta expedição - a morte de
o Pacífico, isto na busca geográfica de uma seu tirular pelos índios Charrua, na costa uru­
rota ocidental para o comércio com as fnd1'1s. guaia -, dessa avenlura resultaram as prime iras
A uescoberta e a importância dessa passagem, informações sobre a existência de metais pre­
o Estreito de Magalhães, equ ivalia, na época, ciosos e de complexas civilizações indígenas
para os espanhó is, ao que o Cabo da Boa Es­ no inte rior do continente sul-americano. Os
perança significou para o comércio marítimo índios Cha rrua, prime iros ind ígenas platinas a
portugu ês, no fUlaLdo século XV. Neste se n(i­ conta tarem com os conquistadores ibéricos,
do, nos primeiro:; vinte anos do século XVI, apesar de nào dom.iruIrem a tecnologia da me­
uma série de expedições marítimas espanho­ talurgia, portavam, na ocasião do primeiro con­
las exploraram a costa oriental suJ-american<:l , lato, adornos de pra(a adquiridos nas relações
c"Ulrninando com a bem sucedida viagem de de IrO<.'aS imerétnicas sul-americanas. Este faro
Fernão d<: Maga lh ães, em 1519. Entre essas despertou a cobiça metalífera cios conquista­
expediçôes, de particular importância p ara a dores espanhóis e foi praticamente o fa to r
35
Aproveitando-se da cultum religiosa dos

Guarani fo i fácil par.! Aleixo Garcia

recrutar indígenas para o ambicio.sa plano


de buscou as riquezas da "$err<l de Prata".

desen cadeador do "Mito da SeITa de Prata" breviventes ibéricos serem, esses objetos me­
ou do "Eldorado". Nos anos seguintes, estes tálicos , p rovenientes de uma longínqua ter­
mitos foram os mo tivadores do.... descobrimen­ ra, locali.zada a Oeste, onde, segundo a tra­
tos geográficos europeus no coração da Amé­ dição oral indígena, urna "montanha d e pra­
rica do Sul, sobretudo na exploração das por­ ta" e.ra explo rada po r um '·rei branco". Sabe­
ções setentrionais da bacia Platina. se, hoje, que isto se tratava de u ma vaga re­
Os sobreviventes do massacre no litora l uru­ ferência ao Império Inca.
gua io, na ausência de seu comandante (Solís), Isolado do resto do mundo, após alguns
morro no combate, o ptaram por desistir de anos de convívio com os índios Guarani ":
cont inu ar a viagem e m busca d a ligação karijó, um dos náufragos, o português Aleixo
interoceânica e regressaram para a Espan ha. Garcia, já familiarizado com a língua e com
No ca minho de retomo, um novo infortúnio os costumes indígenas, passou a organizar
atingiu a expedição: o naufrágio de uma das uma expedição para tentar conq uistar o mi­
embarcações nas costas do litoral su l do Bra­ tológico país do "rei branco" ou Paititi, na
s il , e m água s d o aLUa i Eswdo d e Sa nta língua nativa. Aproveitando-se maliciosamente
Cata rina. de um compone me da cu ltura religiosa dos
Os náufragos 1-iobreviventes, em tomo de índios Guarani , que é acreditar na existência
dezoito, perderam contato com o resto da física de uma espécie de paraíso terrestre ­
expedição, da qual , os restantes retornaram Terra Sem Males - em busca do qual, perio­
à Espanha, ocasiJ o em que relataram os acon­ dicamente, os índios Guarani organizavam
tecimentos ocorridos. Os náufragos, ao alcan­ migraçôes com caráter messiânico, foi fácil
ça re m a praia, fo ram abordados por índios para o português Garcia recrutar os adeptos
Guarani-karijó (Cários), integrAntes da famí­ indígenas necessários ao seu plano expedi­
Ha Iingüística Tupi-guarani, que os acolhe­ cionário e ambicioso de buscar as imensas
ram pacificamente. Pam surpresa e excitação riquezas da "Serra de Prata", associando, as­
dos espanhó is, estes índios também porta­ sim, os dois objetivos cu lturais (indígena-con­
va m ado rnos de prata e info rmaram aos so­ quistador).
36
Imagens do plur:a!ismo
étnico-<:ultural da América
imJígemó pré-<x)loniaJ às
véspera.... do
-descobrime nto-o
Abaixo, fOleiro
aproximado da épica
expedição de
Alei.xo Garcia
em 1524.

._ -- -~ ._- - - -".

Em 1524, em busca desse lugar fantástico , dúvida, o primeiro europeu a ade ntrar por ter­
partiram do litoral catarinense Aleixo Garcia e ras tão distantes do lito ral lestc da América do
mais três náufragos espanhóis, seguidos por Sul. Na sua expedição, em direção ao Oeste,
alguns milhares de índios Guarani-karijó, atra~ guiado pelas orientações indígenas colhidas
vés do Peabiru, milenar canlinho terrestre uti­ no p ercurso, Garcia foi o primeiro homem
lizado por indígenas su l-americanos em seus ~ branco" a pisar em terra s hoje sul-mato­
intercâmbios culturais. Aleixo Garcia foi, sem wossenses e pamguaias. Cruzou o rio Paraná,

37
A perspectiva européia de
enriquecimento rápido desencadeou um
irreversível e violento processo de
extermínio étnico das populações nativas.

provavelmente na altura do arquipélago flu­ que o conquistador, a partir de então, lhes dis­
vial de Ilha Grande, entre os Estados do Paraná pensaV'd.. Aí se dispersou a expedição conquis­
e Mato Grosso do Sul. Atravessou o p lanalto tadora. Alguns remanescentes da expediçao
sul-mato-grossense e, orientando-se p ela ma­ retomaram a Santa Catarina, entre eles u m cs­
lha fluvial, após ultrapassar o Pantanal, alc~tn­ crd.vo negro de Aleixo Garcia que re latou aos
çou o rio Paraguai, nas imediações do arua! náufragos e u rope us que não qu ise ram ar­
município de Corumbá. Dur.mte este p ercur­ riscar-se no desconhecido, permanecendo na
so terrestre, entrecortando campos e florestas costa cat.arinense, os fato.c; ocorridos e o desfe­
tropicais, por mais de dois mil quilómetros, cho dos aconteti.mentos.
apoiou-se sempre na infla-estrutura de deze­
Inde pendenteme me do retativo fraca~ da
nas de aldeias Guarani aliadas, as quais, por e popéia de Ale ixo Ga rcia, a mesma comri­
aí distribuídas, tinham neste espaço o seu buiu sobre ma neira pal"'J. al imema r a expectati­
'·Nande-retéi' (pátria ou território).
va ibérica de e ncontrar as mirológk.-as e mara­
Ao cruzar o rio Paraguai, acompanhado por vilho::ms riquezas mettílicas q ue justificariam
sua ·'legião" de índios, Aleixo Garcia penetrou os riscos e custos da conquista e colonização
no Chaco boliviano, telTitóno de etnias hostis, deSla área do território sul-america no.
às quais de u combate, até atingir o piemonte Para as popu lações i ndí~e n<'ls da região pla­
andino, onde saqueou povoações IimíLrofes do tina , a partir de e ntão, in icia-se uma em de
Impé rio Inca. Ames mesmo de Pizarro, foi brutal inversão nos nm10S mi lenareti de seu
Garcia () primeiro europeu a e'Ontatar com os destino. A perspectiva e uropéia de enriqueci­
InC"ds. De posse de gra nde quantidade de ri­ mento rápido fez com que o relacionamento
q uezas cm ohjcros de ouro e prata, pilhados entre as du as civilizações fosse cunhado pelo
das comunidades indígenas abordadas, Aleixo conflito na disputa pelo espaço e pelas rique­
Garcia, quando retornava ao litOl-a1 atlântico, zas natura is que ele continh a, desenca ­
foí assassinado, nas margens do rio Paraguai, deando-se assim, pelos séculos seguintes, um
pelos índios G uarani -kari~') que o acompanha­ irreversível e violento processo de excerminio
vam. revoltados estes com o tratamento ab·usivo étnico das populações nativas.
38
I
Guarani

RI a geografta humana nativa de Mato rio e di~tribuíram-se entre o centro-sul do Brasil,


_ Grosso do Sul, no período colonial, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Segun­
as sociedades indígenas mais numerosas foram do algumas estimativas, no sécuJo XVI, a demo­
as falantes da língua Guar,mi, filiadas à família grafi<i desses índios deveria superar um milhão
lingüÍ!>lka Tupi-guarani, integrante do tronco de pessoas, em toda a bacia Platina.
Tupi. E..<tSeS úldios, hábeis canoeiros, são origi­
Os índios Guarani foram e são excelentes
nários das florestas tropicais úmidas da região
agricultores. Estes cultivavam principalmente
sudoeste da Amazônia. Nos últimos dois milê­
o milho, base de sua dieta alime ntar. Eram
nios, provavelmente em bUSL"a de meU10res ter­
eficientes no c'Ult ivo e tecelagem do algodão
rJS ou motivados por alguma razão de nanlreza
silveslIc, matéria-prima par-J. a confecção de
ambie maVcu1tural, diversas comunidades migra­
red es e vestimentas. Produziam ainda uma
ram da região amazônica em clireção ao Sul,
diversificada col€\. "'ào de recipientes de cerâmi­
espalhando-se pelas terras férteis existentes na
C<1, utilitária e ritual, ricamente decorada, utiliza­
bacia Platina. Posterionnente, este passou a ser
da inclusive pard o sepultamento de seus mor­
seu território tradicional por excelência. Os vá­
tos. Em Mato Grosso do Sul, ocupavam a por­
rios subgrupos étnicos falantes da língua Guarani,
ção sul, sudeste e centro-sudoeste do Estado.
contatados pelos colonizado res ibéricos nas pri­
meiras décadas do século XVI, formaram-se du­ No século XVII, com a expansão das fron­
rante esse longo e duradouro processo migrat6­ teiras coloniais na bacia Platina e a crescente
41
Gua rani

necessidade de mão-de-obra compu lsória pare! das), no início do século XVII, chegJTdffi à re­
satisfa zer as necessidades da economia agIÍco­ gião ho je sul-mato-grosscnse os primeiros je­
la tro pical colo nial luso-paulista, as aldeias suítas com o intuito de catequiLar os índios
Guar,m i passaram a ser alvos constantes das Guarani que aqui viviam. O modelo missioná­
investidas escravagistas empreendidas pelos rio transformou o território Guarani, no Estado,
portUgueses/mamelucos de São Paulo (bandei­ na Província Jesuítica do ltatim, subordinada
rantes) que os empregavam em suas planta­ ao Colégio .Jesuíta de Assunção, já que, ne~1a
çôes no litoral e planalto paulista ou ainda os época, o atual território su l-mato-grossense,
revendiam como escravos ("negros da terra ") como todo o oeste brasileiro, pertencia à Amé­
aos engenhos de açúcar do nordeste brasileiro. rica Colonial espanhola.
Paralelamente ao assédio bandeirante e ao o imçr<.K10 culmral c histórico que o trabalho
regime de trabalho compulsório castelhano­ missionário teve sobre esses índios divide os es­
paraguaio imposto aos índios (as encomien­ tucüosos. Alguns acham que ele foi positivo, na
,--- -- -------:--- - - - - - -- - -, -::cCl medida em que o índio catequizado,
rra nsfoml ado em súdiro do rei, não p0­
deria ser t.'SC..rJxizado. OUll"OS, 00 eman­
to, discordam, entendendo que o uaba­
lho d1. catequese docilizava o índio,
rransforrnandCK) numa presa fádl e in­
leress.1nte para as incl.lI"Sê)es escrd.V'.agistas
dos bandeirantes, OS quai'õ não acata­
vam as normas legais dos reis ibéricos. A
verdade é que, assediados por três fren­
tes assi.J.niladoras, cada uma com seus
objetivos específicos, mas não menos
er.n.icida, os Guarani tiver.am, nos sécu-
Iconografia de uma ~I dd(l Guarn ni, no Paraguai, século À"VI.
O~IV~·~ que o índio é portador de adorno lahial (tcmbctá).
10$ segu intes, o seu tenitóno invadido e
42

loteado, Sl.l a cultura esbulhada e a sua popula­
ção drasticamente reduzida.
Hoje, em lomo dt: vinte e cinco mil índios
Guarani vivem no sul do Estado e estão subdi­
vididos em três sociedades étnicas, os Kaiowá,
os Nhandeva e os Mbya, dos quais, em termos
demográficos, os primeiros comp<Sem o con­
tingente mais expressivo. A maioria dos índios
Guarani vive cm ten"as indígenas legalizadas, Perf!l de
nos municípios de Dourados, Ama mbai, índio
Caarapó e o utrOS menores. Alguns milhares de KaioM, no
século XIX,
índios Guarani ai nda pleiteiam na ]ustic,-a fe­ t;unbém
deral o reconheciroenw das tewJ.s que hoje com
ocupam. ConselVam muitos traços culturais [['A­ adorno
labial
d icionais corno a língua , cerimônias religiosas, (tembct,1).
o consumo de teret'é, do qual sào os difusores
originais, e outros hábitos etno-culturais. Nas é comerciali7.3.do fX:"las mulheres nas <.'idades
últimas décadas, a devastação da paisagem na­ próximas às 'Suas áreas. brudos demográficos
tural, para dar espaço às atividades agro-pa.<,to­ indicam que. no presente. os índices de cresci­
ris mooemas, fez com que estes índia'; mudas­ mento populacional yêm superando OS das
sem substancialmente suas tradições econômi­ populações "brancas" yizinhas às Terras lnili­
cas, levando-os, em grande número, a ingres­ genas. Paralelamente a essa recente expansão
sarem no mercddo de trabalho rural da região. demográfica. estimulados ~las suas próprias
Porém, em ~uas áreas, ainda cllltivam peque­ lideranças e pela 3Ç-dO de entidades indigenistas,
nas plantaçôes fa miliares de milho, mandioca, os Guarani estão readquirindo antigos hábitos
fnuas, etc, sobretudo para o sustento próprio. culturais que estavam em desuso, isto como
Todavk1., quando ocorre algum excedente este fOlma de resistência e afirmação étnica.

43
Guarani

44
No Brasil, .somenle OS índi~
Ticuna, do AmazorulS,

sào mais numerosos que os

índios CuarJ.ni

Na ~gina ao bdu,
mulher indígena com
filho - Munidpto de
Coronel Sapucaia.

Ao lado c: 3lY.1:ixo, crianças ~


adolesc~nle Guarani
habiUnle.<; na<; aldeias do sul
du F.stado.

45
Guarani

Meninos Guarani
na poro de sua casa na
Terra lndigena (TI) Panambi,
em Dourados.

Mulher Guarani e fLlhas


na TI Panambi.

46
Várias áreas indígenas Guarani,
JocaJi7...adas n o sul do Estado, ainda
não são reconheddas legalmente
pelos 6rg;!.os governamentais.

Famili3 Guarani habitante


!UITI Sete Cerras, municÍpio
de Coronel Sapucaia.

fndia Guar.mi idosa,


TI Sete Cerro~ .

47
Guarani

À direita, habitação Guarani


~m construção, município
de Parn.nhos.

Habilaçôes Guarani
em aldeias no sul
do Estado.

48
As habitações Guarani possuem,

no presente, arquitetura diferenciada

conforme a identidade étnica da

comunidade ou fanu1ia.

49
Guarani

- ,.; ,._ I
I' H

Acima, pátio central da aldeia Jarar:'i, no município de Juti. Na página ao lado, crianças na escola indfgena l0C3lizada na
11 Guaçucy, munid pio de AraI Moreira.
50
"Quero faze r o que você faz
sem deixar de ser o que sou. ~
Assembléia legisla/ivo de MS
Semana dos PovQS Indíge""'-5,
abril d e 1998

51
Guaran i

Dança religiosa executada


pela comunidado: Sucuriy,
no município de Maracaju.

Rezador Guarani com.


instrumentos rellgiosos,
comunidade Sucuriy,
no municíp io de M:Jl"Jcaju.

52
Os Úldios Guamni são

p rofund amente religiosos.

A maior p arte d e suas preocupações

estão voltadas para o sagrado.

Intoi:rior da casa de rezas


com instrume ntos de rituais.

Nas fotos aOOi.'Co:


1. lnstrumentoo dt:
percussão (takuás)
conf~ccionad()s
com bastões de bambu
usados pelas mulheres 11.'1$
danças religiosas e cuja
hatid:l no chila marc..! o
ritmo das rezas.
2. MeniM com
instruml't1l0 ritual (llIkuã).
3. Altar (Chirú) em tomo
do qU:ll se realizam as
manif"est;1çôes rinluis.
4. SepultuF.! indig{'l1<1 com
alguns objetos pesSO'oIb do
fa lecido.

53
No passado, os ítens da cuhur.:l. mate rial
dos Guarani eram m uito variados,
destacandO"-se a diversidade tipológica e
estéticd de seus recipientes de cerd.mica.
Guarani

Ao lado, fl auta
l"trimonial de madeira
e arco t~ fl (..'Ç ha em U$O
por índios da
TI Pi.rakuá, município
de Bela Vista.

Abaixo, pilão c
mão-de-pil ~o de madeira ­
TI Jaguapiré, município de
Tacuru. Por serem
produtores de cerea.is,
principalmente milho, o
uso de pilões e: muito
difundido para prod ução
de fa rinhas .

. "

"



Kadiwéu

Ce] s s~cessiVOS
ataques de colonosespa­
nho1s e portugueses ao ternto n O
Os grupos étnicos Guaikuru, representados
hoje, no Brasil. por quase mil índios Kadiwéu,
Guarani, em fins do século XVI e na primeira eram fOffilados por caçadores/colewres extre­
metade do XVII , abriram imensas clareiras mamente belicosos. os quais, vá rias vezes
demográficas que desequilibraram a correla~ mantinham-se à custa da pilhagem e da sub­
ção de fo rças entre os grupos étnicos habitan­ missão econôrnica de outraS sociedades indí­
tes das áreas marginais ao fio Paraguai, no genas vizinhas. sobretudo da fanu1ia lingi,iísti­
trecho sul-mato-grossense. ca Guaná, do rronco Aruak. Não se (em a data
Ap roveita ndo -se do esfa cela me nto do exata, todavia, aproximadamente em meados
universo Guara ni , provocado pelos ataques do século x-VII. já no tenirório ho je sul-mato­
dos bandeirantes no Pantanal, vá rias etnias grossense, os índios Guaikuru aprenderam a
de o rigem chaq ue nha , falantes de línguas domesticar e mon[ar cava los, introduzidos na
do tronco Aruak e da família Guaikuru, atra­ região por colonos paraguaios oriundos de As­
vessaram o rio Paraguai e, em levas suces­ sunção. As pastagens naturais do Pantanal fa­
sivas, a partir da segunda metade do sécu­ cilitavam a multiplicação natural elas manadas
lo XVII, preenchera m o vácuo demográfico e, por volta de 1650, esse novo comporramento
ocasionado pelo genocídio bandeirante na étnico estava de tal forma incorporado ao
região sul do Pantanal. modo de ser desses índios, qu e os Guaikuru
55
Kadiw éu

passaram a ser conhecidos também como "ín­ )ifico u-se como um p oderoso instrumento de
dios cavaleiros". luta, transformando o s Guaikuru em senho­
Este novo c eficiente meio de locomoção, res absoluto s da região pantan eira. Algumas
nas imensas planmas do Pantanal, cuja ve­ comu nidades indígena s d e ho n ic ulto res
geração é aberta e espaçosa, de imediato qua­ Guaná , tamhém o riginários do Chaco, acorn­

G ravura ilustr.mJo uma carga da cavJlaria Guaikum, no século XV IIT, no Pantana] t import:mle ressaltar que no período
pré-colonia l MO cxi'iliam cavalos em nenhum pontO da A.mériet. Os mesmos fomm inlroduzidos no cominenv.:: pelos
wlOnizado rt'S ~uropeu~. a partir do SO::culo XVI.
56
Signos usados
pelos lúdiwéu
c m Irlruagens e
pinlur.J.S cm
couros de
animais. Cada
signo es«á
relacionado
com ,
id enlíd atl~ dOo'
seu portador
no interior da
comunidade.

panharam OS Guaikuru na migração para a


margem esquerda do rio Paraguai e, por al­
gum tempo, foram po r eles transfonnadas
economicamente em vassalas. Nos séculos
XVII e X\r1II, os povoados e estabelecimen­
tos agrícolas coloniais da região pantaneira e
do norte do Paraguai viViam permanentemen­
te ameaçados pelas ca rgas da cava laria
Guaikuru, o que , na prática, retardou po r
mais de três séculos a definitiva ocupação
57
Kadi wéu

e uropéia dessa á rea. O s "índios cavaleiros" uma língua Gua ikuru em Mato G rosso do
fo rmaram assim u ma das maiores b arreiras Sul) e descendentes de outras etn ias (sobre­
indígenas à colonização na história da Amé­ tudo Terena) - que sobrevivera m ao pro­
rica do Sul cesso de contato conflituóso com a socieda­
Após décadas de enfrenramentos com os de brasileira, vive m em uma área extensa
colonos luso-brasileiros e castelhanos, enfra­ (mais de quinhentos mil hecta res), cuja le­
q uecidos numericamente por tantos combates galização plena ainda está incon cl usa. Bem
e doenças adqu iridas no contato com as fren­ conservad a ambi e nr almente , a Reserva
tes colonizadoras, no final do século XV11I, os
Kad iwéu está localizad a no sudoeste do Es­
índios Gua ikl.lru loc-alizados no atual território tado , na região conhecida como Pantana l
sul-mate-grossense assinaram um tratado de do Na b ile que , no municíp io de Porto
paz com as a utoridades coloniais sediadas em Mu rtin ho . Esses índios ainda conservam ()
Cuiabá. Este foi o único lratado de p az entre
p erfil de cavaleiros, faze ndo da criaçã o des­
Úldios do Brasil e a monarquia ponuguesa na se ani mal um cios mais imporrantes itens d e
história do Brasil coloni al.
sua cultura material.

No século XIX, pressionados pelos aspectos AO comentarmos o quadro etnográfico de


negati vos da expansão da fronteira econó­ Mato Grosso do Sul não podemos deixar de
mica brasile ira e pelos acontecime ntos re la­ citar a complexidade estética d ~nvol vida ao
cionados à Guerra d o Paraguai 0 864-70), a longo do tempo pelos índios Gua ikuru . Os sig­
p opula ção indígena Guaikuru refluiu de for­ nos e os motivos cromáticos adotados por es­
ma progressiva , de tal fo rma que , no início ses índios para aplicação na decoração de seus
do século XX, estava redu zida a algumas objetos de cerâmica, as complexas tatuagens
poucas ce nten as de pessoas . No presente, rea li 7..adas em seus coqx>S e OU{f'J.,S manitesta­
em torn o de mil e quinhentos índios - e ntre ções pictÓriC1S e artesa na is sempre fo ram mui­
Kadiwéu (ú nico subgru po étnico falante de to adrrtirados por sua sofistiGlção e beleza.

58
Os índios Kadiwéu, herdeiros da
trJ.diç.ão eqüestre dos Guaikuru
coloniais, ainda hoje mantém
significativa idiossincrasia com o cav.uo.

fndioS Kadiw ~u do 'POI>lO Indigena Alves de Barros e Aldeia To mázia, no município de !)OftO Murtinho.
59
Kadiwé u

Crianç:l.~ Kadiwéu
e h;lhita~·Oc~na
Aldeia Tom<izia .

60
Par.t os tndios Kadiwéu a
humanidade foi criada por um
deus mitológico repr~ntado
pela flgura do gaviào carcará.

Pcrwmlgen,s m:1s(,.";\rado~ c n:1


festa do "lxlho", J' osro Alves d e R.l[TO~ .
A direit., scpulrura na Akk+.! Campina,
61
A decoração cromática dos recipiemes de
cerâmic.., com pigmentos minerais de
diferentes origens titológicas, é destaque
na produção artesanal Kad.iwéu.
Kadiwéu

Bigorna e
q uebra-coco,
ferrJ.m~n(as utilizadas
no consumo de fruto;;
de palmeiras como a
bocaiúva.

índio trançando fi brns da palmeira carnndã


para confecção de ch ...péu ~ abanic('),~.

Recipientes de cerâmica e
cmante5 usad os na pintura exrerna.
No canto e.squcrdo da falO ao alto,
galho do pau-santo, de cuja resina
os Kadiwéu obtêm a cor preta.

Terena

n
l1li
companhando o ingresso dos Gua i­
kuru e m te rritório brasileiro, várias
Nioaque, Miranda e Aquidau<l na. Ainda hoje,
nessas cidades, é muito im.fX>rtante O papel da
etnias chaquenhas, integra ntes da família lin­ produção aglíc.."ola Terena na comercialização a
güística Guaná , filiadas ao tro nco Aruak en­ va.rejo de prodmos horti-frutíferos, pois ne&'i<.-'S
traram , a partjr do sécu lo XVIU, em (errirório municípios a atividade econômica prL>dominante
sul-mato-grossense, e nlre e las destacAm-se os é, sobretudo, a JX.'Cuária.
Terena e os Kinikinao, agriaJlwres e excelen­
A soc ieda d e Terena tracl icjona l e ra
res ceramistas.
estratificada e dividia-se e ntre os cativos (ín­
Os Terem, em maio r número, estabeleceram­ dios de outras etnias ini.tnigas) e os Terena
se na bacia cio rio Miranda, afluente elo Paraguai, pro pr iamente ditos. Estes por sua vez
em terras não inundáveis pelas cheias sazonais dividiam-se em dois subgrupos: o Naati, corn­
do Pantanal. Os Terena, assim como os Guaikuru, posto pelo caciq ue e seus familiares, uma es­
[.XlSSUiam tradições guerreir.:ls, embora fos..<;em bem pécie de nobreza, e os Wa he rê-txané, a ca­
mais susceptíveis do que eStes a estabelecer con­ mada dos homens comuns. O casame nto e ra
latos jYdcfficos com os (...\)!onos luso-hl"'dsileiros. Em re-dJizado e ntre indivíduos da mesma c-.unada .
me'Ados do século XIX, j'J erdm inte nsas suas re­
lações de trOLdS com a sociedade "branca" Os traba lhos domésticos, a confecção de
envolveme, ~ndo, indusive, esses índios os res­ artefatos d e cerâmíca, a fia ção do algodão e
ponsáveis pelo abastecimento de gêneros alimen­ de outras fibras vegetais eram tarefas femini­
tícios para toda a região dos municípios de nas. Aos homens ca biam a cestaria, a caça c
63
Terena

a pesca. Eram também os homens que pre­ tribuídas regularmente, onde viviam em mé­
paravam a terra parei. o plantio, sendo a se­ dia dez famílias.
meadura tarefa feminina. Cu ltivavam o mi­
No irúcio da segunda metade do século XIX,
lho, a mandioca, o fumo, a batata-doce, o durante a guerra entre o Brasil e o Paraguai, a
algodão e diversos tipos de abóbora, alé m região pantaneira foi palco de vários episódios
de coletarem mel e [fUlOS silvestres regionais béliros, sendo o mais popularizado a "Retirada
como o pequi. A aldeia Terena trJ,diciona l da Laguna". Este conflito colocou os índios
era formada por gra ndes casas comu nais, dis- Guaikuru e Terena enlre os dois fogos inimigos.
O e nvolvimento dos índios nessa guerra fo i di­
reto, ocorrendo inclusive a formação de bata­
lhões comJX>Stos exclusivamente por indigenas
Terena, os quais luraram ao lado das tropas do
Império brasileiro. Para os índios, o episódio da
Guerra do Paraguai foi desastroso, entre outras
conseqüências, as comunidades indígenas s0­
freram uma redução drástica em seus contin­
gentes populacionais, pois foram diversas vezes
atingidas pelos combates ou pelas enfermida­
des trazidas pelos exércitos adversários.
Com o final da Guerra do Paraguai, o terri­
tóri o étnico Terena foi substancialmente
loteado e ntre os combale nles remanescentes
da guerra, que pennaneceram na região. A
situação fundiária dos índios agravou-se quan­
do, nas últimas décadas do século XIX, a ex­
Vdhos índios Terena, fotografados no inkio do século xx
mm unifonnes do Exército lmperiaJ Br"J.:!!jlc:i.ro usados na pansão do mode lo pecuário pantaneiro fez
Guerra do Paragu;ti. Aldeia Ipc:gu~, munícipio de Aquidauana. encolher o espaço necessário para a reproou­
64
Aldeiamento do lpegu<:. Aquidauan:l, no início do si·t.:uJo XX_

ção do modo de ser Terena trAdicional. En­ rio Terena, concluindo-se dessa fOnTIa o proces­
curralados em áreas exíguas, centenas de ín­ so de concentração étnica em áreas reduzidas
dios foram recrutados parJ. servirem como e congestionadas de ocupante.<;.
mão-de-ohra muito barata nas faze ndas re­ Hoje, os Terena são aproximadamente de­
cém implantadas ou reconstruídas. zoito mil índios. Em torno de dez mil pessoas
No início do século XX, motivado, sobretu­ vivem nas áreas que, no inicio cio século XX,
do JXlr razões estratégicas, o governo brdsileiro sob as instruções emergenciais ele Rondon, fo­
construiu uma estrada de ferro (Ferrovia Noro­ ra m reservadas para esses índios pelo extinto
este do Brasil) interligando , pela primeira vez SPI, nos municípios de Miranda, Aquida uana,
por via te.rresrre, a bacia do rio Paraguai com o Nioaque, Sjelrolândia e Dois Irmàos do Buriti.
Brasil atlântico. Esta fe rrovia dissecou o territó­ Algumas comunidades menores estão localiza­
65
Terena

das nos municípios de Dourados e Porto A língua Terena é ensinada no lar pelas
Murrinho, áreas para onde foram transladadas, mães aos seus filhos peque nos. Nos prime iros
em meados do século passado, pelo órgão ru­ anos da década de 1990, nas escolas Terena,
to!. As pessoas restantes eSlão diluídas, na con­ foram realizadas no Estado as experiências pio­
dição de índios desaldeados, em fazendas ou neiras de alfabetização bilingüe. A produção
cidades vizinhas às suas aldeias e em Campo de arrefatos de cerâmica, cuía decoração ex­
Grande. Na periferia desta cidade, surgiu um terna (pintura) apresenta harmoniosas e deli­
bairro habitado só por índios Terena, caracten­ cadas composições de motivos florais e/ou
zando-se como urna das primeiras alde ias ur­ abstratos é feita pelas mulheres. Todavia, não
banas no Brasil. A maio r parte das áreas Te rena é em todas as aldeias que isso ocorre. As al­
está legalizada, todavia o acelerado crescimen­ deias de Miranda são aquelas que mais con­
to populacional indígena pressiona as autori­ servamm esse hábito tradicional. Uma parte
dades competentes para solucionar o excesso da produção desses objetos é consurrtida in­
populacional de algumas áreas. ternamente nas aldeias, como bens de uso co­
! tidiano (panelas, xk-aras, reservatórios para

,I água , elc) enquanto o utras peças destinam-se


ao comércio regional (mercado municipal de
~ Campo Grande e outros) ou são consumidas
como "souvenir" pelos turistas em visita ao
Estado. Além da língua e da confecção de
peças artesanais, os Tere na conservam o utras
características culrurais tradicionais, [3is como
a dança do bate-pau, pe la qual rememoram e
mantêm vivos aspectos do passado étnico além
de contribuir para a manutenção da identida­
d e Terena enquanto amálgama do tecido so­
Mulher com filha na Aldeia lpegue. daI indígena.
66
& r<lmnias Terena são muito
empenhadas em propordonar
uma boa forrnaçào escolar para
suas crianças e jovens.

Habitações Te.rena na Aldeia L.'llima,

......_...... munidpio d e MimmJa.

Escola Marechal Rondon, na Aldeia


Banana!, município de Aquiuau<1.na.

Índio Tere.oa da AJdeia Umão Verde ,


mun icípio de Aquidauana.
67
Significativos aspel..1OS das tradições culturais

Terena ainda são conservados por seus

descendentes. Entre eles a língua,

a produção de cer1mica e as da nças.

Terena

Dança do Rate-Pau,
município de
Aquidauana.

Rf..-o pienles de
cerâmiCOl produ7jdo.<i
na Aldda Cachoeirinha,
munidpio de Miranda.
À direita, detalhe
com padrões d ecorativos
d a cerâmica.
Guató

t.] s Guató, linh'Üisticamente enquadra­


dos por alguns aU(Qres no tronco
veis do Pantanal, hã poucas supemcies exten­
5as suficientemente pam tal. Estes fatores e ram
Macro-Jê, apresentam características culturais determinantes em sua o rganizaçao socia l, ele
e hngüísticas tão próprias que fica até incô­ tal forma que podemos observar a estrutura
modo inseri-los nas classificações gerais exis­ social desses índios como sendo atomizada
tentes. Por alguns autore.." estes índios são con­ em pequenas unidades de duas ou três famí­
siderados falantes de um grupo lingüístico iso­ lias, as quais rcuniam-se em algumas é pocas
lado. do ano para festas e casa me ntos.
Por ocasião do "descobrimento" e reconhe­ Viviam basicamente da pesca e da caça da
cimento da bacia Platina, no século XVI, os fauna pantaneira e ainda de uma incipiente
Guató formavam uma sociedade indígena bem lavoura implantada nos d iques flu viais ou
numerosa. Viviam boa parte do tempo em­ lacustres, conhecidos na região pantaneira
barcados em canoas. Suas habitações eram como "cordilheiras". Enrre o utros hábitos cul·
unifamiliares e localizavam-se quase sempre turais singulares deste povo deslaca-se o de
em aterros nas margens das lagoas, rios e ilhas construírem pequenos ;nerros com conchas e
do Pantanal, no no roeste do Estado. Não COI15­ areias sobre os quais se abrigavam das cheias
titllíam aldeias, até porque, nas áreas inundá­ anuais do PantanaL Eram nestes aterros que
69
Guató

os Guató ràziam seus cultivos de milho , abó­ do cotidiano desses índios e da paisagem
bora, batata, banana, algodão, algumas pal­ pantaneira naquela época.
meiras, ecc. As mulheres eram exímias tecelãs Não muito tempo depois, em 1845 , outro
e fabricavam líndos tecidos de algodão colo­ francês, o naturalista Francis de La Porte, Con­
rido.
de de Castel nau , acrescentou ao conhecimen­
Os Guató, ao contrário do arredio tempera­ to etnográfico novas descrições destes indí­
mento dos payaguá, seus vizinh os flu viais, genas. Os relatos dos viajantes, no século XIX,
eram dóceis e praticamente não o puseram obs­ evidenciaram ainda o processo de acelerada
táculos à colonização européia nessa porção redução popu lacionaJ e descaracterização (.. u
. l­
d a bacia platina. tural que atingiu os Guató após os confl itos
A boa disposição dos Guató em receber entre o Brasil e o Paraguai, entre 1864 e 1870 .
estrangeiros pennitiu uma grande oportunida­ Em 1984, um levantamento demográfico
de para o registro etnográfico de interessantes realizado pelo órgão responsável pela polfti­
aspectos de sua realidade cultural. Em 1825, ca ind igenista do governo brasile iro, a FUNAI,
foram visitados pela expediçÃo científica pa­ cadastro u trezentos e vinte e o ito índios
trocinada pelo Czar Alexandre I e chefiada Guaró, em Mato Grosso do Sul , sendo con­
pelo exp lorad or e n aturalista Barão de siderados como tal inclusive aqueles indiví­
langsdort, cônsul geral da Rússia , no Rio de duos que tenham pelo menos um dos proge­
Janeiro. Nesta expedição, os jovens altistas nitores Guató. Desses, uma parcela menor
franceses Amadey Taunay e Hércules Flo rence vive na cidade de Corumbã ou d ispersos por
eStava m encarregados da docum entação fa zendas da região panta neira. Algumas fa­
iconográfica. Estes artiStas, além de deixarem mílias, em seu habitat original, estão bastan­
anotadas, nos seus respectivos diários ele C'dm­ te pressionadas pelo avan ço das atividades
po, riquíssimas observações etnográficas, ain­ agropastoris atuais, o u mesmo p elo tll!ismo
da nos legaram preciosos desenhos de cenas fluvial no rio Paraguai.
70
•'•"

Habitaç.)o c menino
Guató no I'am:m:ll.

71
~
os G uató formav-dm uma
d indigena bem numerosa. Viviam
No século

__________
,
socieda e habitavam na.
d m canoa."i e I
embarca os e . c ilha!; do Pantana .
margens, Ch"IS
~'__~=lagoas, nos
at::::ó:....-_ _ ~
::G.::u::: -
,
==========~--I
~~ ~~ I ~1t
1ndios canoeiros
r:, :~
~-
no in'do do
_lo XIX no nlha< _ ,7jÇ;"';:/' -H,
Y/:..",; -%2 "
-;;:i1"t;,,~_____~_ ___ ( ~~\ ~~."
d; Hé,cub flo"n" (.;;, \ /"

~'--"="'
,rr..!.l
4-0'0:-
I ' -. ,
I
>-". -~~- __
--
~!"-"----_"-~\:\(~
....-v-~.,L.
.. --=-1,,\6.'~"
-
"-I '~ ..-
."~.
I \
. ~" ~",'"
,~,--
/'.-
. - .>_
_ .
.- \) -0
-;f3f~1
ty\ .
('l.
r~
'/ '"
I

r. .\
fmlios GU3 ló
miVegando em
canoa no Pantanal.
-
-

72

Ofayé

ai as margens planas do rio Paraná, de,s. dos com a caprura de índios VAra ::'1..135 lavourJ.s
_ _ de a segunda mewde do sécu lo XIX, coloni:üs. iniciardm as investidas sobre () territó­
no leste sul-mato-grossense viveram, c aí ain­ rio étníco Ofayé, que a ntecedia a região das
da se localizam algumas dezenas de remanes­ reduçf>es jesuítas do }r:atim, no planalo M<H,K"djU­
centes da outrora num erosa etnia Ofayé, ou Campo Grande. No século seguinre, o tráfego
Ofayé-xavame. Es[e grupo indigena, filiado ao fluvial em clireção às atinas de Cuiabá, no Ciclo
tronco lingüístico Macro-jê, é, hoje, em ler­ da Monçôes, abriu a perspectiva de ocupaÇ'JO
mos numéricos , o mais recluúc!o dos que ha­ das rerras Ofayé com a implantac:;ào de estân­
bitaram o Est<l do . Com hábiWyqua:;t> que ex­ das de g;ldo subsidiárias ao complexo garim­
clusivamente predadores, no pas.sado , peiro mato-grossense.
localizavam-se no meio do caminho das ter­ Até a primeira metade do século XIX. a caça
ras a serem conquistadas pelos colonizadores ocupava papel fundamemal ml culrura Obyé.
do oeste brasi leiro. Daí para <1 frente, a escassez de animais sil­
Sua emo-hist()ria há séculos convive com a vestres fez com que ct já reduzida popubção
violência, a perseglJi~'à() e () extel111ínio. No pa,,­ desses índios Se habituasse a ab<lter reses cria~
sado, f(.'CQI1-cntC!TIcntc atacados pt'los vizin hos das extensivamente nos campos naturais do
Kaiapó Meridional e Guarani refugiavólln-se nas seu território étnico. Isto fez com que o.:;
m,Has em pennanenre nomadismo. A partir cio pecu:u-istas aí instalados organizassem U111<1
::;êculo XVII, 0.'" bandcirantc:-i pauli....'as, cnvolvi­ permanente campanh3 de extermínio desses
73
Ofayé

indígenas por meio cla cnl1trataçào de grupos dcs::>c ~er subs titl.JÍdo caso não demonstrasse
armados, os chamados "hugreiros" vocação para a fu nçào .
0:-; Ofayé eram pessoas de estatura peq ue­ Após serem considerados (ornO extintos, nas
na e bastante arredios a qua lquer coOlaro com. décadas de "1 960 e 1970. a comunidade Ofayé
o "b ra nco" ou mesmo com outro." índios. Vi­ atualmente ocupa um3 p.1I1C da área pa rn
via n.1 em pequenos grupos, insta lados em pre­ e les dem.arcada peb Ft'NA1, no município de
cárías habitaçües que oc upavam por breves Brasi};"lOdia. Ainda hoje lutam pelo rccollheci­
pe ríodos. Como as d ema is etnias do glUpo .lê, UleO(o eh: seus direitos étnicos , principalmen­
dormiam no chào, sobre frágeis estejrns , ou te: peJa posse de lima áre<l suficiente para con­
até mesmo em pequenas valas p reenchidas servar viva sua cu!turd e multiplicar sua popu ­
com palh:as, ao redor de uma fogueira. Em b0"tO com qualidade de vicia.
torno d.e vinte casas distribuídas cirollarmcn­
te, tendo C01110 centro um grande pátio . ("<1.­
racre riun"a m a planta de suas aldeias. Nessa
áreJ cent ral eram rea li 7.a da~ suas festas e jo­
gos. As casas tinham duas saídas, lima paJ.l o
campo de fO(7a,", atrás eb aldeia, c o utra p:l~l
o terreiro centra l.
A figura do xamà (rez:ldor) era muito si,\.!:­
niOcltiv:1. Er:t de quem daV~lo nomE' ~os
recém-n.ascido~, semp re o de um p{tssaro, que
não deveria ser ahatido por quem o tinha
por nome . O cacique gozava de a lg:1..1maS va n­
tage ns. is to CLn te rmos de loca li zaç ão
babitaciona l e objews pcs-'>Oa is. estes espe­
cialmente adornado.". O ca rgo era tnlnsmi(Í­
do hereditariamente , c=mbma o ocupante p u­
74
Ari!ml. I~tmíli:t {k
índios Ofay~. no
munidplo dt"
Br:I.~il;'lndi;L.

N:I p;~~ill:1 ao lado. :\t:lkl<:.


U<kr Ot:ly(' R'~ponsáH:'1 pelo
ft':\).trtl1xllllento da cormlnid:{(k
indfg"n:1 no município ô",
lkasi l[mdi:l.

imUo Obr(' ido~.


no nlllnicírio de
Bra~ il ân dia.

75
A pequena cOnluniel;!de Ofayé
de Brasilândi:! ,~ mlb() hzJ a
perSl..'\-C'rança do.~ índios na
m,lnUlt'oç30 dOI idemiJ:ldc érniCl .
Ofayé

.\ direita , ilw,u'aÇ"JO rcprodu7.inJo


rulbita~':io Of:lyé origmaL

A!xtiX(I, modelo da~ CioSa.' c m


qlle O~ or;!}'!: moram aWlIlmcntl'
no município de J3r.lsil;india.
Kaiapó Meridional

DI a região no rte-no rdesTe de Maro Gr~s­ porL'lntc no grupo. O homem, ao conrrair nk1­
_ so do SuJ, .lmbientados à vegeraçao trimônio, ia monlr com a família da csposa.
xcromú rfica do Cerrado, vivia m os K aiapô Sobre a cultUf'"J material dos Kaiapó Mcri­
rvlc ridional, ptrtencen tes ao tronco lingüislico diol1<.1L chama a atenção do ob~erYador o fato
Macro-jê. No Brasi l colo n j,d esses índios (!r.tm de que eles nào lISaV~lm redes para dormir,
conh&:idos também como os "índios bilreiros") como L' comum na maior pa rte das culturas
isro por rerem o costume de porrar uma es~ ­ indíf.:cnas brasileiras. Dormiam cm c.steiras es­
de de bengala ou bord\lna qtlC tinha l.1ma re ndidas sobre o chão. Quanto ~l confecção
das extremidades em forma esférica, lembran­ de al1cfato.<. ; de cerâmica, esse não era um com­
do os bUros das rendeiras. O fato de viverem ponamento tecnológico muito desenvolvido
<.'111 {,reli!') com veget~~;ào abt:rta e de ca mpos
ne m difundido entre estes índios. No e nta nro,
fni:l C0111 que su a cu hu rd materi<l l contr.dsra!::i­ eram sofisücados na ma n ipulação da a rt€"
se bastante com .as das d e mais etnias plumária e po rtado res de e.,xpressivas técnicas
sul-maw-grossenses, sobrerudo as pantaneil<ls de p intura corporal (ramagens) .
e Guarani.
Na época e m que os portugueses exp lora­
A orga nização soc ial cios Kaiapó Mericlo nal vam ouro e pedras p reciosas em Mato Gros­
obedecia como critério para deJ1 nir-se , os clãs, so, no século XVIII , os rios d e MaIO Gro~so
fa tor esse que influenciava touos os aspecros do Sul eram as vias por o nde circu lavam as
da vida érnica. A mulher tinha um papel im­ me rcadorias do com é rcio monçoei ro, inte r­
77
Kaiapó Meridional

ligando São Paulo e Cuiabá. Nesse contex­ puã, por exemplo. Os


ro histórico, os assaltos dos Kaiapó Meridi ­ p re juízos causados pelo
o na l ;tS Monções bandeirantes constituíram­ sistemático assédi o d os
se em um d os maiores ohstáculos a esse Kaiapó Meridional às Mo nçôes eram Iào
s istema de trans porte flúvio-come rcia J. O altos que , para a manlltenção do ciclo
momento crÍüco e ra q ua ndo as me rca do ­ minerador c uiabano, os colonos luso-b rasi­
r ias e ram d esembarcada s das c a n oas leiros os combate ram até o c:.::xtermínio. Des­
il1 0 nóxi la s c prec isav am lransi{Jr pelos de mea dos do sécul o XIX esses índios es ­
"varadoufOs" terrestres, co mo o de Ca ma­ tão extintos no Est<ldo.

78
Payaguá

. . e nuo Mato Grosso do Sul um estado Os Payaguã integrava m um suhgrupo


_ sulcado por muitos e expressivos lingüístico da família Guaikuru . Era um povo
cursos fluviais, como destacamos na intro­ por excelência ca noeiro. Quando da chegada
dução deste livro, a h idrografia regional dos conquistadores espa nh óis. no médio cur­
teve u m papel relevante na compos ição do so do rio Paraguai, ainda na primeira metade
mosaico e tnográfico sul-mata-g ross ense, do século XVI, eram esses índios senhores
Nesse :sentido, algumas sociedades in díge­ absoluws desse trecho do rio. de suas mar­
nas estaduais historicamente desenvolveram gens e do baixo curso dos seus aflu e ntes e m
siste mas c ulturais adaptados a ambientes território brasilei ro. Segundo os c ro nistas dos
flu viai s e inundáv eis. Com exce ção dos séculos XVI e XVI1, os Pa)""aguá não cons rruíam
Guató, todas foram extintas no contato com aldeias, vivia m quase que todo o tem po a
O modelo colonizador, no período colo nia l. bordo de suas canoas e só desembarcavam
Entre essas etn ias Glnoeiras/ pescadoras os deJas, por períodos ma is longos, para parrici­
registras h istó r icos nos permi tem d estacar parem d e festas tradicio nais ou de confrate r­
os Payaguã. Com isso não quere mos dize r nização é tnica, .mesmo assi m c ircu nscriros às
q u e OUl ros g rupos é lnicos agri cu h ores , margens fl uvia is ou lacustres. Eram exímios
como os G uarani , p or exemplo, desconh e­ remadores e nadadores.
cessem a navegação flu v ial. No enta nto , Singrando os ri os e lagoas do Pantanal,
pa ra estes, esse aspecto nào erA fu ndamen­ cm comhoios de até centenas ele canoas, os
(a I e m sua cu lmra ma re rial. Payaguã al iaram -se às d ema is socie dades
79
Payaguá
• III ;

Guaikuru na resistência ao avanço da colo­ centenas de pessoas e


nização ibérica durante os séculos XV1, XVlI significativas quantidades
c XVIII. A dissolução dessa aliança, na se­ ele mercadorias e cargas
gunda metade do século XVIII, e a de metais preciosos, fo­
militarização das f1ütilhas fluviais portugue­ rdm inteiramente dizimados por assaltos ln­
sas responsáveis pelo comércio monçoeiro dígenas, sem tempo, ao menos, ele saírem
com as áreas mineradoras cu iabanas foram do leito do rio.
os fatores que ocasionaram a quebra ela so­
Esgotados por quase três séculos de con­
berania fluvial desses índios sobre a
fronto desproporcional, já em meados do sé­
hidrografia pantancira, franqueando assim a
culo XIX os Payaguã estavam praticamente ex­
livre navegação em todo o percurso do rio tintos, sobretudo por perderem o controle so­
Paraguai e do Cuiabá. Porém, até que tal bre ü ambiente natural (o rio) de realização
oconesse, alguns comboios monçoeiros, com
d e sua cu ltura.

80
"O proble ma j n<l íg~n a

não é um problem a <los índios,

mas um problema que os 'civilizados'

criaram para eles ."

Conselho E~tarJu <l1 do~


Oireito,H.lo Índio - CEDIN

tttJ ua/quer a/x,rdagem :;obre a proble­


mattca mdJgena sul-mato-grossense.
sim, () melhor c.lirecionamento par'l Lima dis­
cus.sào pró-ati\'3 é aquele indicado pelo diá­
no presente, independ ente da temática sele­ logo amplo í." abe110 enrn..~ as panes envolvi­
cionada, sempre será polémica. O consenso, das na questão.
seja nas questôes çausais ou nos encaminha­ É necessário ~lJblinhar que os prohlemas
mentos de prop o.,>1as íntelven ientes, embora socia is c émicos abrigados por CSt<t rea lidade
b usc;,l clo por mu ito:-;, ainda está lo nge de ser são p róprios e específicos do contexto esta­
ale.mçado. A intmlll i ss~o de hllores políhcos, dual , diferindo inclusive daqueles que se apr('­
internos e exlemQS às sociedades indígenas, sentam no vizinho Estaelo de Mato Grosso. A
tais como: trad icionais conlJilos interétnicos, hom ogeneidade nào exi.':ire nem internamen­
riva lidades entre lideranças indígenas, dispu­ te nas áreas aqui abordad as. Cada si tuação
ta por espaços entre as entidades indigenistas étrlica (Guarani/Kaiowá, Guali:lni/Nhandeva,
(governamentais o u não) e a complexidade Te rena, e lc) manifesta-se com ca racle nsricas
antropológica de realidades plud-émicas, como singu lares, v~l ri a ndo i nclusive de aldeia para
a Te rra Indíge na de Dou rados, nào facilitam aldeia, () q ue impede q ualquer ten l.<-Itíva de
uma compreensão objetiva do p roblema, pos­ genera lização dos problemas, das responsabi­
sibil itôm<lo assim diferentes formas de leirura lidad es ou das soluções.
do me~ mo fenômeno, como o que ocorre, a Uma análise panodmica do presente e
título de ilustração, em rela~'ão <10S casos ele do passado indígena em Mato Grosso do Sul
suicíd ios nas áreas Guarani/Kaiowá. Sendo as­ pemIite-nos esboçar um quadro no qlltl J, de­
83
QU'alquer f6nnula de encaminhamento de
par:l a situação dos índios deverá ser
s()lll çüe ~
produto de intt.:lvenções públicas com consulta
a lodos os selQI'CS envolvidos com o problema.

vicio à natureza do processo histórico de con­ populaçôes indígenas. Com i5..o.;o, acompanha n­
taro interciviJizat6rio (índios e europeus) aqui do a trajetória política de re organiza ~ào da
ocorrido, as cores mais fo rtes são aquelas pin­ sociedade civ il brasileira, dezena." de lideran­
celadas pela violência , pelo estrangulamento ças indígenas, destaL<indo-se enlfe out!"dS, no
espacia l e pelo desrespeito ao modo de ser Estado, Marçal Guarani, e e ntidades represen­
inuígena. Na história regio nal, a acomodação tativas dos me..o:;mos, emergiram do silê ncio im­
forçada dos vários universos étnicos que com­ posto secularmente e exigirdm serem ouvidas
põem o mosa ico cult ural sul-mato-gros..<;ense nos de bates institucionais sobre o que lhes
indígena ao mcx:lelo expansionista e absor­ dizi a respeíto. Em Mato Grosso do Su l, devi­
vente da econo mia agropasrofil brdsileira, so­ do ao expressivo contingente demográfico in­
bretudo nos últimos cento e cinqüenta anos, dígena, o qual é ao mesmo tempo o segmen­
desi ntegrou agudamente os sistemas culturais to populacional estadual que aprese m:), pro­
nativos tradicionais, Jeva ndo-os a acumularem porcionalmente , os mais alarmantes índices de
signifiC'rltivas perdas e tnográficJs e demográ­ miséria social e existencial e a gravidade dos
ficas, implicando, em situações mais graves, conflitos fundi á rio s co m a socie dad e
na extinção de diversas comunidades, como envo lvente, a polüização da questão indígena
foi () caso dos Kaiapó Meridiona l. Dessa for­ tomou-se obriga rória.
ma, a tendê ncia histó rica ao desaparecime n­
Ho je, a ameaça rea l de extinção física e
to, fa cilmente identificada, se usarmos para
étnica, para a maioria dos índios sul-mato­
efeito de comparação as realidades dos esta­ grossenses, está relativame nte afastada , em­
dos brasile iros lito râneos, parecia, até vinte
bo ra seja muito p reocupante a rea lidade vi­
anos atrás, ser irreversíveL vida pelas e tnias Ofayé e Guató. Processos
No entanto, a retomada do processo de de­ de c tnogênese, como é o caso dos Atikum,
mocratização do país, a partir da década. de em Nioaque, evidenciam as novas perspecti·
1980, trouxe consigo a discussão das questões vas que a qu estão indígena assume no Esta ­
ambientais, da qualidade de vida, das mino­ do. A progressiva e efi C'd.z organi:;:ação sócio­
rias excluídas e, no seu âmbito , a situação das política dos Guarani , dos Terena, dos Ofayé,
84
dos Guató e dos Kadiwéu,
nos últimos quinze anos,
desencadeou uma vigoro­
sa contra-ofensiva política
que resultou na participa­
ção (longe ainda de ser
suficiente) das organiza­
ções governamentais, se­
jam elas federais, estaduais
ou municipais, em progra­
mas de educação, saúde,
extensão rural e outros, vi­
sando atenuar a marginali­
dade desses cidadãos no Grupo de índios Kaiowâ armadoS durante a retomada da TI Pir.lkuá, Bd a Visl.a,
no ano de 1986. Foi por lide r.u essa luta q ue, em 1983, Marçal de Souta Guara ni
que diz respeito às respo n­ (ao alto) foi assassinado. Primeiro índio americano a ser recebido pelo Papa João
sabilidades dos órgãos pú­ Paulo TI, em 1980, MarÇlJ projL'1.OU internacionalmente a questào indígena brasileira.
blicos c de suas fun ções

constitu cionais. Ao mesmo tempo, a campa­


Qualquer fórmu la ou encaminhamento
nha pennanente pró-índio ve iculada pel<e>
de soluções para a ainda crítica situaçào do.s
o rganizações não-govername ma is te m con­
índios, em Mato Grosso do Sul , será, sobreru­
tribuído em muüo pa ra a formação de uma
do, p nxluto de um consórcio de intervenções
opinião pública mais favo rável à causa inru­
públicas orientadas e dirigidas pela consulta a
gena. Também a imprensa colaborou para
todos os setores (índios e não-índios) envol­
tal, na medida que te m divulgado denúncias
vidos com o problema, relembrando, como
de vio lações dos dire itos humanos, trabalhis­
um dos pressupostos para tal, o tema da "Cam­
tas, incidentes policiais, conflitos sociais com
panha da Fraternidade", no ano de 1978, que
o segme nto envo lvente e omissões das auto­ pronunciava que "A esperança do índio de­
ridades públicas. pende da consciência do branco".
85
Nos últimos vinte anos, a população
indígena sul-malO-grossense cresceu
significativamente, recuperou sua auto-estima
e passou a construir O seu próprio futuro.

TERRA IIlIOiGEIlIA POVO POPULAçÃO lN', FONTE, DATAI EXTENSÃO MUNICiplO (HAI

,
1. Sucuriy
Pirakll3
GDIlfSni Kaiow a
Guarani Kaiowá
84 PKG: 98
270 PKG: 98
!)35 Milrac.
2.384 Bela Vista

,.
3. emo MiIr'llIJltu
Aldeia ~ilIl1PEstle
Gua,ani Kaiow~
GUilIari Kaiowa
ZOO f UNAI
236PKG: 98
OAntõrio João
9 Antônio Joio
5. Dourados Guarani Nandeva I Terena I GU8r.1ni Kaiowé 6.758 PKG: 98 3.475 [)oI!(acm
a
,. P3llawbi
Paoall'lllilirhl
Gualillli Kaiowli
GwDKaiowá
551 PKG: 98
Z53PKG:98
2.037 00lJradas
1.24IJ DOln~
a. Caarap6 Guarani Kaiowá I Guarani NandeYa 2.896 PKG: 98 3.594l:aarap/l
9. Guirimlré GU8nl!\i Kaiowll 256 PKG: 98 717 Pontl Pori
10. Rancho JitCilfé GUilf,1li Kaicwá !i{lS PKG: 98 178 Ponta POta
11. Jarara GUlTam Kaiowi I GwraAi N.Mevir 249 Pl(G: 98 479 Juti
12. Gua~1i Guarani Kaiowil 164 PKG: 98 930 Arai Moreira
13.
14. ""'"""'
Jaguari
GUilfIlri Kaiaw6 I Guarani Nandeva
Guarani Kaiowá I GUlr.lni Nandeva
4.465 PKG: 98
150 FUNA!: 99
2.429 Amambal
41JS Arnarrbai
15. Aldeia timão Verde Guarani Kaiowi 390 MallQOÜn: 93 660 AmarNlai
lO. TaQU3lleri Guarani Kaiuwé 1.800 PKG: 98 1.886 Amambai
17. Sete Cer,os Guarani Kaiowâ I Guarari i.landeva 230 Mango~n: 93 8.584 CsI. Sap~aia
18. SaSSMO Guarill1i Kai(tWi I Guarani Nam!e-,~ 1.351 PK6: 98 1.923 Pont~ Pori
19. CerritD Guarslli Ka iuwã I Guarari Nandevl 186 PKG: gg 2.040 EldoradD
W. TaxU31al vlYvykll3 rll$U Gmalli Kairlw' 360 FUNAI: 99 2.609 Paranhos
21. JaguapWi Guarlllli Kaiowá 429 PKG: 98 2.349 TacUID
12. Porto Undo Guaoo Nanden 1.859 PKG: 98 1.649 "'unllo NOlO
"­ Potrero GUBçu Guaralli Nandava 620 Rel.ldentit. 98 4.02 5 Para'lhos
2< Pirajui Guarani NandeV8 1.879 PKG: 98 2.1 18 Se18 Ouedas
25. ReservaK!ÓWâIJ Terma I Ka&étt 1.592 PedIinroa, M.T.: 98 538.536 Pono MlKtillho
26. Pilade Rebuá Tsrena 1.391 FUNAI: 99 208 Miranda
27. CitChoeiriMa TlUena 3.500 Mangolin: 93 2.644 Miranda
28. TlIlInayll~ Terena 4.601 f UNA1: 99 6.461 AQuirlauana
29. limão Verde T.~ 675 PKG: ga 4.886 Aquid_na
30. Latim. T~rena 1.137 f UNA1: 99 3.000 Miranda
3\. AIdei"lJl T_. 328 MangoIin: 93 4 Anastácio
32. Ca~oGrande T_ 1.500 Gibon - t:~Grande
33. Bwiti Tlrma 1.783 FUNAI: 99 2.1190 Doi$lrmikls Burili I SillmlWa
34. Burutizinl10 Terena 320 FUNAI: 99 10 Sidrolindia
35. Reserva Karliwéu Terena I Kinitinau 1.300 HINAI - Porlo MurtiRho
36. Nioal]Oe Terena 1.980 Moogotin: 93 3.029 Nioi]Oe

". ,.....
"- .....Dcurados Tell!n3 300 FUNAI - Douracl(ll
Guat~ 382 FUNAI: 99 10.900 Corumbà
39. 01.,. 58 Funasa: 99 1.937 BrIS~kHlia
40. Nio3 U8 AtykOO1 lO Silva: 00 - Ni()3QlJe

86
Mato Grosso do Sul

Terras Indígenas

5~6
" 7
. . Comunidades e Terras Indigenas Guarani

.... Reserva Kadtwéu

W Comunidades e Terras Indigenas Terena

.Q Terra Indigena Guató


. . Terra Indígena Ofayé

~ Comunidade Indígena Atikum


Fonte: Instituto S6cioambiental/2000 e FUNAI

87
Considerações

Finais

inalmeote, pela breve exposição an~ as opç:ôes q ue , no momemo, se a presentam


te rior das relaçõcs inrcrcivilizatól;as c m para o futuro. Os deseq uilíbrios ambientais; ho je ,
Mato Grosso do Su l, no passado, percebe-se mQStrdm-se com o o "fe itiço virand o-se contra
de forola transparente duas rea lidades: a pré­ o fe iticeiro". Os g randes prejuízos econô micos,
colombiana, onde a abundância elos recursos fi nanceiros e amb ie nrais - produtos de situa­
naturAis do Estado viabilizou uma complexa ções irrespon&l velmente descontroladas, imp re­
e intensa ocupação human.a, equilib rada como vistas e até mal intencionadas - tê m surpreen­
um todo, e a colonial e contemporânea onde dido significativos investimentos da agro-indús­
a disputa pelo espaço passou a significar O tria e do turismo na área estadual.
extermínio dos originais habitantes e a degra­ Provindas da desarmo nia ecológica , no
dação do meio ambiente. Não existe aqui nada momento, as ameaças à qu ali dad e de vida
de singular em relação a o utros contextos do nos obriga m a refletir sobre o redirecio na ­
Novo MunJ o c sim mais um.a confirmação do me nta do futuro . Garantir a sobrevivên cia
caráter depredató rio do modelo económico dos atuais povos indíge nas, e m Mato Gros­
"ociden(aL" .
so d o Sul, d e acordo com se u modo de ser,
"Ovo que brado não ~ cola". O conhecimen­ é resta urar o eixo civi li 7.atóri o. Segundo a
to da natureUl etnológíca de Mato Grosso do tradição religio sa GuaraniJKa iowá do sul do
Sul e d e seu processo e tno -histó rico, abasrece­ Estad o , os índio s Kaiowã n ão po dem a ca­
no." com 0-" elementos necessários para um exa­ ba r, po is se e les acaba rem que m irá reza r
me de consc iência e tomada de decisào sobre para nao acaba r O mundo?
89
Comentários

Sobre as Fontes Etno-históricas

Sul-Mato-Grossenses

e compararmos com alguns o utros es­ complexo mineirok"Uiab~no, A complexidade


lados brasileiros, as fontes c a produ­ dessa atividade, em tennos de relações sociais
iográfica etno-histórica e etnográfica e administração econômica, implicou em um
su l-mmo-grossense são conside ráveis e têm raízes sofistlL"â.do mecanismo de co ntrole tribu(ário e
históricas. No século XVII, definiu-se o modelo e..<;trarégico por parte do aparato metropolitano,
de explord.ção colonial para a região, elegendo o qual e xigiu a produção de quanti(a(iva docu­
a mão-de-obra indígena como mercadoria prin­ mentação, avaliação e aprofundamento do co­
cipal no procl:SSO de acwnubção de cdpitais nhecimemo desse contexto.
mer<..dntis. Nessa época os diferentes g lUfX)S érru­
O papel histórico desempenhado pelo Ín­
cos que povoavam o Estado formn aoorclaclos, dio, em Mato Grosso, evoluiu com o Sistema
de forma impaL'tante, tanlo pelo recrutamento Colonial. Na realidade garimpeira mato­
forçado de braços parei a agricultura colonial, gro~nse , O nativo era um obstáculo às alivi­
como pela ação da catequese católica. A docu­ dades mineradoras, tanto na condição de ocu­
mentação produzida nes,'>e m o me mo , .seja como
pantes preceJ emes das áreas de lavras, quamo
fonte primária ou como crfmi<."a h istórica, penni­
como imruso e salreador das rotas comerciais
tiu o rcgis[ro e a conservdção de inestimáveis
do Ciclo Monçociro. Nessa perspectiva , surge
depoimentos w bre a realidade é mica aqu i consOo
para o sistema a necessidade de eliminá-lo ou,
tiluída , inclll~;ve pré-colonial, sobrerudo por meio
no mínimo, de expulsá-lo de suas terras para a
dos vastos e detalhado..' ; relatos jesuítas, periferia do cenário histórico colonial. Dessa
No século XVIII, o eixo da economia colo­ época, são célebres e abundantes as de,scrições,
nial deslocou-se do nordeste ao;:u care iro para o partidarizadas, dos conflitos <.lltre
. os índios e
91
os co lonizado rc!i no oeste colo nia l. ESCJeve u­ Mais uma vez, a região d e Mato Grosso do Sul,
se , inclusive, com o objetivo-dc esclarecer e devido a sua sign it'tcativa populaçâo indígena ,
justificar o massacre étn ico e a elim inação d a atraiu a atenção d e estudiosos naciona is e es­
resislênc ia indígena na defesa d e seu habitat trAnge iro s, os q ua is d ocume ntardffi o agudo
tradicionaL mome nW que O mosaico é tnico estad ua l atra­
O período seguinte é marcado pela tentativa vessava, isto no que diz respeito à conservação
uemográficd e cultural. São ine stimáveis para O
dos índios em sobreviver, mesmo reprocessando
co nhecimento da etno-h is(ó ria contemporânea
parcebs considerável.'> de ~l.la identidade élniCJ/
cultural, pressionados pela expansiva e sufocante o s trabalhos de Nimuendaju , Baldus, Gnlmberg,
fronte irA da sociedade envolvente. A Jeirul3. que Metraux, Sch:rnidt e Ronc\o n. Aprofunda ndo a
leitltra d os textos dos obsefV".adores anterio nncn­
o século XIX fe-L. dos rcmj nescentes étnicos no
te c itados, os q ua is forJIn o s pio ne iros da
Centro-Oeste brasileiro é aquela que os enxerga­
V'J co mo "bugres" a serem integrados nas c'ama­
etnografia mode rna, no s a nos 30, 40 e 50 é
qu e se p rodu ziram as ptime iras análises histórj­
das inferiores da sociedade do I3rasil impeliaL As
observações etnográficas, ne.ssa f poca , fora m for­ ca:;/ ernográficas d e pesquisad o res ligados à co­
mu nidade universitária , la is ( )mo Levy Strauss,
muladas principalmente pejas aUlorídades pro­
Schade n e Darcy Ribeiro, que, d e ce rto mo ­
vinciais, com o intuito de mapea r as manchas
d o, fo ram o s refe renciais dos formadores d as
demográficas indígenas e planejar a expa nsão
a N a is gerJ.ções acad ê m icas.
agropa~toril sobre as árejs ainda disIX'IÚveis. Por
outro lado, ainda nesse século, UIi1a significariw No atual momento , além ela co ntribui çâo
e valiosa coleção de lJabalhos d escritivo s e ilus­ espo rádica dos ó rgãos loca is ele imprensa, so­
trados, sobre a realidade etnográfica de cnrão, fo i ma m-se o s textos o riu nd os das ex pe riê ncias d e
coo..,;;truída sob o olhaI de diversos vialantes eg­ entidades indigen istas, g( )Vernamenra is o u não ,
oangeiro..;; que por aqui passaram, em décadas bem como mo nografias e c1issCl1:a~x)e s gerad a~
distinras do século XIX:, na condição de narllfalis­ e m cu rso ', un iversitá rios de pôs-graduaçào .
tas e/ ou explorddüres, completando o paineJ
A seguir, arro lamos algum:Cls indicaçfx~:-. bjblio­
etnográfico dessa cünjunturJ. Emre cs.ses desta­
gráficas básicas referentes ~i arqueo logia e à etno­
ca mos, como exemplo s, Cas telnau , l<1orence,
história dos grupos indigeruL'i slll-ma ro-grossenses,
Langsdorf, D'Orbigny, Taunay e Boggian;,
como sugestão para csruclos preliminares, sem,
No início do sécu lo XX já estavam elabora­ no entanto, deixar ele res..'i<d(ar que a listagem aq ui
das as bases conce irua is da elnologia científica. apresentada é prelillli.nar e suhjetiva.

92
Sugestões

Bibliográficas

ARQUEOLOGIA
BEBER, M. V. A arte rupestre do Nordeste do Mato Crosso do Sul Dissertação (Mestrado em HiSt6ria), Instituto de
filosofia c Ciências HUffiarulS da PUC-RS, Porto Alegre, 1994.
GIREW, M. Lajedos com gravuras na região de Corumlxí, lrIS. São Lenpolc1o: In.qituto Anchietano de Pesqui.<:as/
UNISlNOS, 1994.
KASHIMOTO, E. M . Variáwi:,.ambletlfaise arqueologia noAllo Parand oTese (Doutorado em Arqueologia), Félcu l­
dade de Filosofia e Ciências Humanaf> da lJSP, Sito Paulo , 1997.
KASHIMOTO, E. M. & MARTINS, G. R. :;000 anos 'de tecnologia HriOl. Pan/aual 2000-Hnwntro lmernacio1UJ1 de
Intcgraçào Téctlíco--Cientifica para o Deseru)()!E·jmL'7It(J Sustentave/ do Cerrado e Partla/lal, Corumb á. lICDB, p. 156­
1'>7, 2000.
LA SALVlA, F: & BROCHADO, ) . P. Cerâmica Guarani, Porto Ah.:gre: Po~nato Arte e Cu!tUr:l. 19R9.
MARTI NS. G R. Arqueologia regional: o pott::ncial arqueológico ela Bacia de lnundaçào do Reselvat6rio da OHE de
Porto Primavem-MS. Ciências em museus. Belém: Museu Emílio Coeleii, n. 4, p. 150-151, 1992.
_ _ oArqueologia doPkmalro..M'aracaju-Campo Grande: o estudo do sfllo Maracaju-J {J{ravés de análise quantita­
Uva desua indústria lítica. Tese (D()utorado em Arqueolof':ia). Facllldack' de r ilc~fia , Letras e Ciências Humanas da
(JSP. Sào Paulo, lo/X).
_ _o Relatório de registro do sítio arqueoI6gicoAquidau:ma-3. ln: Resumos da VI Heuniào Cientíjicada SAH. Rio de
Janeiro. Universid:xlc Estácio de Sá, 1991 .
MARTINS, G. R & KASHIMOTO, E. M. Arqueologia na ár~ imp;.Ktada pelo Gasoduto Bolívia-[3ra::;il- trecho "f erenos­
Três b goos/MS. Revista doMtNm de Arqtl<.'ologia e t:lno[ogia, S:10 P••u lo, Museu d e Arqueolog ia e F.tnologia d<l USP,
n. K p. 87-1 07, 199R
93
_ _ ' Resgate arqueol6gico ria área do g(~odu(o Holi/Jla/Brasjj em MaIO Grosso do Sul. Campo Gr:mde: F.di tor.1
UFMS, 1999.
_ _o Arqueologia G u arani no Alto Par:má, Estado ele Mato Grosso do SuL Fro nteiras: RCl'lsra de Hislória , Campo
Grande, UI'MS, v. 3. n . 5. p. 51-64, 1999.

M ARTINS, G. R. ; K ASHI MOTQ, E. M. & TAT UMt S. H. D a!al,"ücs arQ\leológj(:<ls cm Mato Grosso do Sul. !:t(u!lsta d o

Museu de Arqueologia e Etnolo8ia, São Paulo, USP, n. 9, p. 73-93. 1999.

MORAIS, J. L. A propósito do estudo das indústrias Hticas. Tn: Revista do Mu..wu Paulista, Nova Série, \'01. >00.11 , p.
155-184, São Paulo, Museu Paulista da Univer:-,jdade ele São PaulQ, 1987 .

PASSOS, J. A. M. B. R'll"oglifos em Mato Grosso. com apêndice sobre outros do Paraguai e &)líuia. Tese (Jivre­

d ocência). USP, São Pa ulo , 1975.

PEIXOTO, J. L. doo S. A ocupação Tupiguarani l1a borda eJeSle do Pal1la nal Sul-Malogm<:sell5e. Maciço de ljnl<:um .
Dissertação (Meslr.ado em Hi ~"tÓria ). Instituto d e Filosofía c Ciências Hum,mas da purAS, Po no Alegre J995.
ROGGE,1- H., SCHMITZ, P. L Pro je to Corumbá : a cerlmka dos aterros. REUNIÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE OE
ARQUEOLOGIA lJRASlLElRA, 6'. Rio cle j<lneiro. An.ais... Ri(l de Janeiro: CNPq/YINEPIUNESA/SAB, p. 784-791, 1992.
SCATAMACCHIA, M.CM. Tenlativadecaracterizaçifodatrudifão Tupiguarrmi. m,<;ert<lç-10 (n~.1do) USP, Silo Paulci, 1% 1.
_ A tradição polícromica no leste da América do Sul evidenciada pela ocupação Guaranf e TIlPillamhá: JO/lies
arqueológicas eetno-hisróricas. Tese (doutor:amento), USP, São Pa ulo, 1990.
SCHl'I1ITZ, P J. Programa Arqueológico do MS - Projcro Corumbã. Tn: SCHMITZ, P(Org.). TI-abalbostlpresemCidos 110 VI
Simpósio Sul-Riograndense de Arqueolop,ia: Novas Perspectivas (PUCRS, 2 a 4 de maio de 19(1). São Leopoldo:
1n.<;Ii(Oto Anc hie tano de Pesquisas, p. 40--47, 1993 .

$OiMITZ, P. I, ROGGE, j. H.• ROSA. A. O. & BEBER, M. V. Ate rros indígenas no Pantanal do Mato G rosso do Sul. São

Leopoldo: Instituto Anchielano de Pesqu isas, Pesqu isas., Antropologia , n. 54. 199K

SOARES, A. L. R. Guarani, organização socia l e arqueologia. Porto AleJ:,1fe, EDIPUCRS, 1997.

VERONEZE, E. A ocupação do Planalto Central Brasileiro: o m.m:feste do Mato GIT.J.~so do Sul. Dissert:.u.;ào (Me strado

e m Hislória ), Centro de Edua~ çj o c liumanismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São teopoldo, 1994.

ETNO-HISTÓRIA SUL-MATO-GROSSENSE

E OBRAS GERAIS

ATAÍDES, j . M. Sob o signo da llÍO/ência: colonizadores e Kaiapó do Sul no Brasil Central. Goiâ nia _Editor.-i I ICG. 1998.
AYAIA, S. Cardoso & SIMON, F. A/bum Gráfico de Mato Grosso. Hamburgo, 1914.

94
BARHOS, F. /'. ]'olftic:J. indigenista, polílic:a indfgenJ e suas relaçóes com a pülilic....l expansionist:l no II Império c.'m Mato

C, ro~~o. Nel'i,la de illltrojXJ/ogia. Sào Paulo. US1', 'vois. 30/31/32, p. 183-224, 1989.

BEU.UZZO, A. ,\01. de M. OBrasil dos ViLljanre'S: O imagÊ1uiliO doNolJ() Mundo. Silo Pa ulo, Objet[\'a/ Meta livros, 1994.

CABEZA DE VACA, 1\. N . Relationde l'oyaJl,e(J 527- 1537J. Paris, Bahe\. 1994.

CALDAS. j. A. Memória hisl(írica sobre os indígLJnas da Provincia de M atto-Gross(J. Rio de janeiro, Mones & Filhos,

18Hl.

CASTELNAU, F. de. Expedições às regifJ.escL>nrrais da América do Sul. São P:lulo . Ci:l. Ed. Nacíooal. 1949.

CHARLEVOrx. P. r.J. Hislo1Ul dei ParagutJy. Madrid, Libreria Gencml de Vilot1:ln<) SU:Irez. 1912.

CORTESÃO, J. Raposo Tuvarese aformtl.fdo rerritorial do Brasil, Rio de Janeiro, jl..jEC, "1 958.

FERREIRA, J. A. Notícia sobre os ín dios de M~l.tt()-G rosso dada em officio de 2 de dezembro d e 1848 ao m inistro e

secretário d'Estado dos N(:;g(Kios do h npl'lio, pelo Directo r Geral dos índia.- da ~ ntào Província . OArcbivo. Revista
d('slillada á lJulg(IJizaçâo de documenlos geogrâphicos e bistóricos do E.s1ado de Mallo-Grosso. $/ n. p.79-9(í, Cui<lbã,
1848.
FLORENCE. H. Viagemjluviaf do Tietéuo Amarona.... Siio Paulo: ED[JSP, 1977.
Ci\[)El.HA. J{. M. A.F. As mlss(Jesjesuítu:as doi/Cltim _ [hn estudo das estru turas sócio-econ6micas colorlia G~ sec. XVl

e Xl "lI. Rio de ):meiro , Paz e Terra . 1980.

GAi'd)IA, E. de Las misümesjesuilicas y los Ixmdeirante:; jJuullslas. Buenos Aires, Edilorial La Facultad , 1936.

GAY. J. P. Hi.~(6na da Repúblk:ajesuitica di) Puraxuai. Rio d~ J:meiro, l mprcn~ NaciofL'll, 1942.
HOiJ\NDA, S. B. Monçries. Rio de janeiro: Li\ !~trj,;l.-EditorJ. da Casa do Estud antt do Brasil. 1945 .
O Exfrenw Oeste. Sic> Pau lo, Ed. Brasiliense, 1976.
INSTlTlJTO SOClOAlvlBIfNTAL. J>ouos Indígenas no Brasil 199612000. São rauto, lnstinn o Socioambiental, 2000.
JARDIM. R. J. G. Creaçào da Dhectori<) dos jn t~io$ n~ Província ut> Mato GroSSO. Revista Trimeslral de HislÕ,ia e
Geop,mpbfa, t. IX, Rio de J<'ln..:in'.)J IHGB. p. '>4K-554, 1869_

LOPES . ./. F. lIiner-;úio de JO:lquirn Francisco LOfX'$ encarreg:lclo de expl orar a melhor via de comunicaçào entre :a

I'ro\-üKi,l de S,lo Paulo e a ele Matto-C,l"Osso pelo baixo Paranapane ma. Rio de j an eiro. lN: Rev{sta Trimestral de

I-lisfúria e Geografia, n. 13. JA4H.

:-IACALH.À.E..'>, M. L P~)X{f{I,ui· osseflhon~ di) rioPani,guai. Disselta\--Jo(mt...":trddo em Hisrória), São lKopoIdo, UN1SJNOS, 1999.

:-·lO""iOYA. Pe. A. R. de. C o7lq/lisUt cspiritual. feita pelos religiosos da Cía de jeslls nas Provírui as do

Paraguai, Puraná, lh'tlguui e Tape. Porto Alegre, Martins U"Teiro Edito r. 1985.
\!OUllA.. C. F. O~ Paiaguás, "índios ;mfíb i o,~ " do rio P;)ra guai. Tn ; Separa/a elos A nais da V ReuniâoJntcrnacional de

f!istón'a Nmílica e da llidrografja, Rio de jant;il'o, 1984.

?-:EMt:. IVI. 1)adO$ para ,) História dns índio:-; Caiap6. Anais du Museu Pauli-.Ja Tomo XXI I[ , p. 101- 148. São P<l.ulo ,

:-1tL.'>eu PalJl ist<l . 1969.

95
RODRIG UES, A D. Líng uas Brasileira.,· paTa o conh(!cimento das línguas indígel'laS. ~o Paulo, Ediçocs Loyola.
1986.

RONIX)N. C M. ~índio:, do Bl"'"d.sil - Do C..entro ao Noroeste c St1 1de Mato-Gro..'i..'>O" . ln Publicação n 97 do Conselho

Nacional de Proteçâo aos fndios . Minbtério eb Agncl.llmra, Rio d~ Janeiro. Impren.sa Nacio n;1 1. ]946.

-,:-_--::-:. ··Relatório dos tr"",b;\lhos realizado.~ d.c 1904-1906 pela Comis::,ào de Lin!13S Teleg.Mlcas do Estado do !\·1ato
G r()sso~. ln Publicação n 69-70 do Conselho Nacional de PrQteçiio aos índios. Ministério da Agricu ltura, Rio de
Janeiro , Imprensa Nacional. J949.
SCHMIDEL, U. Relatos de la <.:onquista dei rio de la P/CIta y paraguay: 1534-1554. Madrid, Alianza Editorial, 1986.
SILVA, G. J. da. Da terra $(.,'"CU à condiçâo de índios ~Terra S('Cu~· os Alikum em jHalo Grosso do SuL Monografia

(e,>pecializaçào em Antropologia). Clli,lbá , Unive rs idad ~ f eder.!l de Mato Grosso. 2000.

TAUNAY, A. D T Na era das bandeiras. S~10 PlIu lo: Melhommemos, 1922.

_ _ o História das bandeiras p a ulistas. São Paulo : Melhoramcmo$, 1951.


_ _ o Rela/OS monçe,..>jros. São Paulo: EDUSP, 19tH .
TAUNAY, Visconde de. Entre os nossos índios. São P'alllo. Ed. Melhor<lln~nlOs. 1931
_ _ o A Retirada da LagUlta, Episódio da G-t/(!rra do Paraguai. 121 edição, Sã ü Pau lo, Me lhorame ntos, 19';5 .
VASCONCELOS, C. A. d e. A questão mdígrma na prov{ncia de Mato Gr(Aw. CamfXJ Gnmde, Edito ra UFMS, 1999.

GUARANI

BRAND. AJ . O confinamento e seu impacto sobre os Pai!Ktúoulá. Dissenaçâo. (mestr:ado em His!6ria). POl10 Alegre,
PUCR..'õ, 1993.

CORTESÃO, J. jestlftas e Bandeirantes no Jtafim (1596- 1760). Manuscrilos da Coleçào de Angelis. Rio de Janeiro,

Biblioteca Nacional, 1952 .

ELLlOT, j. H. A emigr.!çi1o do.... CI)'\1dS. l n: Revistado lHGS,Tomo X1X. Rio de Janeiro, 1856.
í\IEllÁ, B. EI Guanmi COl1qu.í.<;lado)' redu. ndo: EnsaJ"O..\ de Bmohistôria. Asundón, Biblio[L'Cd Par.lguava dt;' Antropo­

logia - v. 5, 1993­
MELlÁ, B. GRUNBERG , G. & GRUNBERG, F. LosPdiTavylerd - HnograJia Gutlranidl:!l ParaguayconU:!mpo râ~u:'().

Asunción, Centro de ESt1..1dios Antropo16fo,>1cos, 1976.


MÉTRAUX, A . Migr.lIions histo riques des Tupi-guar,mi.journal de la SociétédesAme ricanistes, N.S. TOlnl' XJX, Paris,

1927.

NIMENDA]U, C. As lendas de Criaçào e dcstnúçâo do mundo como ./im dament()s d a rd/s ido dos ApapocÚtlQ­
Guarani. Sào P".!ulo, Hucilec/EDUSP, 1%.
96
PERRONE-MOISÉS, L. Vinte Luas. viagem de Pauimierde GOllevill"ao Brasil: 1503- 1505. Sào Paulo, Ci~ das Lelr.ls,
1992.
SANTOS, j AM..do5. Nclalório: Os Guaram do Trópico de Caplcrómio. identiftacçiio de áreas indígenas: Ceniro,
ViJujutye MartKaju. Brllsília, 2:.1. SIJERlFIiNAI, 1986.
SCATAMACCI-I IA , M.CM. &- MOSCOSO. f. Análise do patlr-.lo ,ii:! est"àbeledlllelllQS Tupi Guar.lni. Rl?ui\lU de A nrrofXl­
logia, vo ls. 30/31/32. p. 37-54, São Paulo, USP/ [kPlO J~ Ci~nci;.l:l Sociai~, 1989.
SCHADEN. E. Aspecl<J.~jimdfll1lCl"!/a/~,dacu!turaguurcmj. s::to Paulo, EPU/USP. 1974.
SlISN[K. B. Di\per:sió n Tttpl-Guaraní Preh!:'lÓrica. A::.unción, Museo EtnogrflflC() "Anclres Barbero", '1975.
Tl:T[Li\, J. L. C. Marçt.J! de Souza ' Tupâ 1, um guarani qUI? 1tào se cala, C:lil1pO Gntmk. EditOI:{ UFMS. 1994.

KADlWÉU
130GGIANI, G. Oscadw.Jt'Os. S;lo Paulo, Ed. Itlliaia e EDU$p. 1975.
HERBf RTS, A. L 0$ .1\1bayá-Gl/aicun1: área. a..wmtamenlo, subsislblcia ('culmm mnJerial. Dissert'.lsão (Mesml<!o

cm H islóri:l). S::10 Leopoldo, UNlS1NOS, 1998.

U:.-VI-STRAUSS, C. TriO:;lc..'S Tr6piW:i UsOOa. Edições 70, 1986.

PRADO. F. K de. [list6ria CÚIS lndíO$ Cuvalleims ou da Naçào (iu.ayclI rÚ. Revist.a do Instituto Histórico c: Geográfico

Brasileiro, !{jo de Jand ro, 1908.

RIBEIRO . D. Kadwé u: ensaio efnoLÓ8ico sobre o saber; o amal' e ti heleza. P~Trópo lis, Ed. Vozes. 1980.

RIVA..,C;EAU. E. A vida dO.I' índios (;lIaiCllrus. São Paulo, Sérk Bra:-;ililloa, vol. LX (ia. Editora Nacional. 1936.

SERRA, R_F. de A. Parecer sobre () akkamento dos índ ios Guaicurus e Gllumb, (:om u de~riçào dos seu s u sos,

l-eligi:!o. estahilidade e costumes. }h'(Ji.l"fu do Instituto Histórico II Geográfico iJrasj//:'iw, v. 7, p. 204-218, Rio d~
Janeiro, ]t-1')O.
SIQUEIR11.. )R .). G. Anee tiÍC.'I1Kas KadiwC/./ . São Paulo, Prefeitur:\ :Vlunicipal de São Pmllo, 1992.

TERENA
B1TIF.NCOURT, C. M. & L\ DP,IRA . M . F. . A história do jX)[!O TerelU{. Sllo P<!uJo. USP e ME . 20{)O.
Cl\ RVAlHO, E. de A. As all~rlrUlil.las (b)$ nmcidos: Indi".'> Tererul rw F.sludo de Sào }'aulo. São Pau lu, [dito ra Paz e
T\..'rm. [979 _

97
G O DOY. A. E A cerâmíca Ter elUJ € ;"JU prQdw;ào na a rte i ndígelU< d o Ma u) Grosso do SII/ , h'!ono grafia (Espe­
cialização em H i.~ l ó ria Reg ion;l!). Aq uid:man a. Depal1amcnlO d~ Hislória cio Cumpusde Aquidaua na da UFMS.
2001.
O LlVElRA., R. C. de. Do indioao óugre: o p mcesso de Ll:,simi/açào dos Te/"t!'no. Rio dt, .J an ei ro. Francisco Alves, 1976.
SCH UCH, M E. J. Xaray e Chané: f l l(/ioS/It'1'Uf! à expansào esp(lI1boJa e ponugue,<;(Ã / IO Alio Parag uaí. D isSt:~rtll <,"il O
(Mestrado em H istória) S30 Leo p oldo, Cen tro de Educação e HUlllanismlJ da Unive rsid;.!<.Ie do Vak do Rio d~ Sinos ,

J994 .

SILVA, 1'. A. Mu d,ln~~a cultura l d os TCre na . Re/listo do .11useu Patllislo. N.,). v. 5 p. 27 1. .~ 79, S;lo Paulo , 1949.

OFAYÉ
CIM1-MS. Ofaíé, opow d o Mel. C:llllpO G I":lntk:. CfMI - Conselho Indigenisra Missio n5rio. !991.
DUTRA, C A, dos S. OJàié: mo!1eel.Jida d e um povo. C.unpo G r:.mde , InstilU(O Histó rico f" Geogr.ífico (k' Maio G ro."'><'

do Sul . 1996.

GUDSCHJNSKY, S.e. Fragmento:; de OJayé, a descrlçt10 de uma lingua extinta. Trad . Miriam Lcmie. Brasília. S.J .L,

(Série lingüísti(:a, 3), J974.


NlMUENDAJU, c.
htNogmJia e ind igenismo sobre os Kaingaltg, os 0fa fé~X(j llanle e os índios do Pará , Cam pinas:

Editora UnicJ m p. 1993.

RI BEIRO, D. Notícia dos O fai é-Chavantc. Ref/ista doJluseu Paulista, N.s, São Paulo , USP. \"()1. 5, p. 105-11 4.

1951.

GUATÓ
CÉSAR, J. V. G ualÓS rea parccem após 40 anos . Rwi:'w Atua /idade huifgrma, v . 3 n , 17. p. "i I-54. Brasília. FUN.A,.L
J979

METRAUX, A. The Native tribes ofEstem UolíviJ and \'('estem Marro Grosso. Sup. ,\meríc ln Ethnologie. \'. 1.-Yí . p. 136­
42, Washingto n , 1942.

_ . The Guató. !n : Stuard, J. H ., HalldhookofSoutb American /ndians. Washington. S.J. B.A. E. Hull, 1946.

OLlVElRA, J. E. Os argolUfutas Gua ló. apOftes para o wnheclnu.'nlo das assei/la mentos e da .wsist{;'u.:ía dos 81"UjJtJS

q ue se eslabe!(!ceram n as áreas inundáveis do Pa J1lanal M awgfús.'\ensc, Diss enaçào (Mestr-.td ü em Hhtória ~ Port o

Alegre, P UCRS, 1995.

PALACIO , A. 1'. Guató: uma língua redescobe rta. ReVI~~la Ciência Iloje, v . 5, p , 74-5, Rio de Ja neIro. Sociedade Brasilei­

pa rd Progresso d a Ciê ncia, 1987.


r.J

SOiMIDT, M. Estudos de Etnología Brasileira: peripécias de w na viaRt'm ó.'1l1n! 15()() e 1901 X>US resullados eITlo/.6gíCos.
Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacion.al. 1942.
98
Gilson Rodo lfo Ma rtins. nasceu na ód:ldl' de São Paulo em 1953,
Obrev(' () b·.lC'harehldo em História na Un ivcf:)idadl..' de São Paulo - USP e douto­
rou-se em Arqueologia Pre-h~t.ÓLica brasilcird pela n1t.'sm:.llInive~kt:l.(Ie .l! profes­
sor <;tdjunro do Dt:partamemo de HIStória do r.amjJl/s Unin~rsit:írio de Aquicb.uana
lb Univel'.'õKlade f ederal de Mato Cm5..<;Q do Sul onde l'hefia o L'lbor:uó rio de
PC'squi,~'l.~ Arqut:Ológk-:ts -LPA, órg.)o cJesl~ departamento,
No âmbito do LPA, oos últimos anos t:oord~nOll \'finos projelos de 'pesqu isa
:uqucológic<I em M aiO Grosso d o Sul e Mat'() Gro:.:.o, I\I~m dasatividade.s docen­
tes (' dt:.' pesqu is:.l. inlegrou a diretoria n<lCional da Sociedade de Arqueologi3
Brllsilelr:l • SAB, nas úhimas duas gestões.
Nos últimos dez anos atuou como periw judida! da JlISli<,." Feder.!\ em Mato
Gms.~o do Sul em pn:x:t$SOS relacionadoS à legtlli~L~-.1o de (erros indígenas no
Estado. No !lK',~mo período representou ,1 UFMS no t:xlinro Conselho Esradllal
dos Direitos do índio - CEDJN, órgão vinculado à Sc...'{Tct:lria da Ju!>ti~ e do Traba­
lho de Mato Grosso do SuL É membro correspondl..'lllc, cm Mato c,ros:-;o do Sul, d"1
,:\I..-ademi:l P,uagllay:1 de b História.

Na J()/J.). fi autor' com ,~II fi/lJO itay em visita


a To!i:do, çapltal da .E.:'1xmha 110 ,'I(.b lIrJ XV
época d().~ dtJ:icobrlmcrU QS mmítlm()$ e gC'(J8rájjw.~.
o objetivo do Programa é estimular a publicação e a distribuição de
livroHextos, obras de referência e outras que contribuam diretameme
para a formação inicial e continuada de professores.

Vej a como funciona


O Programa será desenvolvido com o apoio do Comitê de Produto­
res da Informação Educacional (Comped) na reprodução dos materiai s
aprovados, .segundo as seguintes condições:

1) Terão preferência as editoras universitá.J.ia.s de In.stituiçõc.s de Ensino Superior mantidas pelo setor público.
2) Não serão aceitas obras que se caracterizem como estudo de caso, dissertação ou tese sem as devidas
modificaçõe.s para adequá-Ias ao público-alvo do Programa.
3) É pennitida a co-edição das obms aprovadas com outras editoras.
4) As obras a serem encaminhadas ao Programa devem ser previamente selecionadas e aprovadas pelos
respectivos Conselhos Editoriais.
5) Só serão aceita<; reedições de obras comprovadamente esgotadas há, no mínimo. dois anos.
6) Não há limite de envio de propostas por editora ou por processo de seleçflo. Também não há limite para o
número de obras que podem ser contraladas para reprodução.
7) Cada volume de uma mesma obra é considerado como LUna proposta independente.
8) Para cada reprodução apoiada, deverá ser enviada ao INEP uma cota de 1.000 exemplares, para dislribuição
às bibliotecas uníversilárias, às unidades acadêmicas, às edi tOr.iS participantes do Program a e, por solicitação,
a outras instituições interessadas, até esgotar a referid a cota.
9) Para cada obra a ser reproduzida nos teonos do Programa será elaborado instrumento COnlralual específico,
indicando todas as condições a serem seguidas pelas partes. A Editora Universitária responsabilizar- ~e-á por
todos os custos de edição da obra apoiada, além da prestação de contas e outras exigências que se fizerem
necessári as.

Maiores infonnações e calendárill consultar:


http://www. inep.go v.br/compedldeCault.htm- E· mail: comped@ inep.gov.br

Endereço: Secretaria Executiva do Comped


Centro de Inform.ações e Biblioteca em Educação - CIBEC
Esplanada dos Min istérios, Bloco L, TélTeo
Brasilia· DF· CEP 70047 - 900
Telefones: (61) 410-9052 ou 323-5510

Você também pode gostar