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As origens

norte-americanas
do pentecostalismo
brasileiro:

observações
sobre
uma relação LEONILDO SILVEIRA
CAMPOS é professor

ainda pouco
de Sociologia da
Religião no Programa
de Pós-graduação em
Ciências da Religião da
Universidade Metodista

avaliada
de São Paulo, e autor de
Teatro, Templo e Mercado:
Organização e Marketing
de um Empreendimento
Neopentecostal (Vozes/
Umesp).

LEONILDO SILVEIRA CAMPOS


INTRODUÇÃO

Há uma observação e uma pergunta, ambas

básicas, que devem ser registradas na abertura

destas reflexões sobre o pentecostalismo no

Brasil. Primeiro a observação: não podemos

fazer uma análise mais aprofundada das origens,

características e transformações do nosso pente-

costalismo sem realizar um estudo preliminar do

campo religioso norte-americano, a despeito da

fisionomia latino-americana, indígena, católica e

influenciada por cultos afro-brasileiros que essa

manifestação religiosa de origem protestante

assumiu no Brasil. Segundo, a pergunta, que não

se esgota em sua aparência teleológica: de onde

vieram, que características próprias adquiriram,

e para onde caminham os movimentos e as

instituições pentecostais implantadas no Brasil

no início do século XX?

Podemos também observar que na aná-

lise do pentecostalismo, dada a complexi-


dade de suas origens e duração, pois é um Brasil. Daqui a quatro ou cinco anos, exa-
fenômeno que está completando 100 anos tamente nos anos de 2010 e 2011, talvez
de estréia no campo religioso, e que assumiu aconteçam uma ou outra festividade ou pelo
formas inusitadas nos espaços sociocultu- menos registros na imprensa e na academia
rais aonde chegou, há por tudo isso uma referentes aos 100 anos da chegada de Louis
diversidade de portas de acesso, muitas Francescon, Daniel Berg e Gunnar Vingren
delas decorrentes da hegemonia destes ou ao Brasil (2).
daqueles paradigmas no momento de sua Registramos também algumas perguntas
análise. Além do mais, o pentecostalismo que têm estimulado as nossas pesquisas:
e o carismatismo são os fenômenos reli- quais as origens do movimento pentecostal?
giosos mais importantes do século XX. Do Como se deu a passagem do status de “mo-
contrário, como explicar que em menos de vimento pentecostal” ao de “instituições
100 anos de seu aparecimento público nos pentecostais”? Que etapas foram percor-
Estados Unidos hoje ele tenha, aproxima- ridas por esses movimentos e instituições
damente, 500 milhões de seguidores em até as suas respectivas inserções no campo
todo o mundo? religioso brasileiro? Há uma genealogia
Nesta abordagem iremos privilegiar explícita, válida e significativa da “família
apenas duas dessas portas de entradas ou pentecostal” brasileira? Onde estão finca-
de perspectivas analíticas: os fenômenos da das as raízes de nossos pentecostalismos?
1 Segundo levantamento de Oro, ruptura e da continuidade, operantes tanto O surgimento e a disseminação do pente-
Corten e Dozon (2003, pp.
365 e segs.), na academia bra- nas suas origens como na sua propagação. costalismo entre os pobres, imigrantes e
sileira há 11 teses de doutorado
e 40 dissertações de mestrado,
Pressupomos serem essas duas formas de deserdados nos Estados Unidos, do início
apresentadas ou defendidas até classificação e compreensão das várias mo- do século XX, lhe deram alguns traços que
2003, somente sobre a Igreja
Universal do Reino de Deus. Se dalidades de pentecostalismos implantados favoreceram o seu crescimento em outras
acrescentarmos a esses números no Brasil uma maneira de valorizar a sua partes do mundo? Finalmente, essas origens
centenas de artigos, livros e
capítulos de livros, o número 51 complexidade e dinamismo. Aliás, estamos facilitaram a sua acomodação às culturas
seria multiplicado em dez vezes
pelo menos. Esses dados nos diante de um fenômeno centenário e que latinas, indígenas, africanas ou européias?
indicam o quanto o “neopente- deve ser visto no plural, à luz da multi- Que relação podemos estabelecer entre a
costalismo” tem sido privilegia-
do em nossas pesquisas. Daí a plicidade de culturas que condicionaram mentalidade e o crescimento pentecostal,
existência de algumas lacunas
na produção de conhecimentos
a sua origem e desenvolvimento em todo de um lado, e os resquícios pré-cristãos
sobre aqueles aspectos e tipos o mundo. existentes em nossas culturas, de outro lado,
ainda pouco estudados de
pentecostalismo, também co- Com este exercício pretendemos tam- que valorizam a cura do corpo, a origem
nhecidos por “pentecostalismo bém atingir uma melhor compreensão de espiritual das doenças, o holismo, o transe,
clássico” ou “pentecostalismo
tradicional” em oposição ao um fenômeno religioso que nós acreditamos o uso da magia e a fácil tendência ao sincre-
“neopentecostalismo”.
ser de “longa duração” em oposição ao tismo, ao hibridismo ou à bricolagem?
2 Há algumas significativas
tentativas de balanço dos 100 “neopentecostalismo”, que surge no Brasil Há uma discussão em andamento a
anos de pentecostalismo. Entre após os anos 70 do século passado, mas que respeito da potencialidade sincrética do
outras registramos as que foram
apresentadas por Alan H. An- ainda pode ser visto como um fenômeno de pentecostalismo e sobre ela encontramos,
derson e Walter Hollenweger,
ao reunirem em um só volume as
“curta duração” (1). entre outras, as observações de Jean-Pierre
contribuições de uma consulta Expressamos também, por meio das Bastian (1997, p. 206), que considera o
de 1996 no Oak Colleges,
em Birmingham, sob o título reflexões a seguir, o pressuposto de que pentecostalismo na América Latina como
Pentecostals After a Century. este exercício acadêmico é um necessário “catolicismos de substituição”. Por sua vez,
Uma outra contribuição veio
também com a parceria de e merecido balanço das origens de um mo- José Bittencourt Filho (2003, p. 115) afirma
Walter J. Hollenweger, sob o
título Pentecostalism – Origins vimento que no próximo ano comemorará o estarmos diante de uma das manifestações
and Developments Worldwide, primeiro centenário de sua aparição pública possíveis da “matriz religiosa brasileira”.
de 1996. A proximidade do
centenário dos eventos de em Azuza Street, na cidade de Los Angeles, Em ambos os casos o modelo analítico é o
Azuza Street (2006) está provo-
cando, nos EUA, a publicação
na sempre criativa e interessante Califórnia. da continuidade. Por isso há autores que per-
ou republicação de muitos textos É de esperar, também, que surjam novos guntam: “é protestante o novo pentecostalis-
sobre o tema, entre outros
podemos citar: Grant Wacker interessados no assunto, justamente por es- mo brasileiro?”. Um ou outro mais radical
(2001); Larry E. Martin (1997); tarmos próximos do centenário da chegada vai mais longe e questiona: “é pentecostal
Frank Bartleman (1992); Vinson
Synan (1997). dos primeiros pregadores pentecostais ao o neopentecostalismo brasileiro?”, usando

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como exemplo a Igreja Universal do Reino já se faz presente em nossas culturas desde
de Deus e seu enorme poder de assimilação os tempos anteriores à conquista européia.
da cultura católica e das religiões mediúni- No entanto, essa síntese pentecostal foi
cas. Sejam, contudo, quais forem os rumos enriquecida posteriormente com a chegada
dessas discussões, elas não podem eliminar das culturas africanas e das religiões mediú-
a hipótese de que uma mensagem religiosa, nicas, gerando-se com isso novas formas de
a despeito das adaptações que ocorrem em manifestação, principalmente agora com o
seu processo de transmissão e de recepção acirramento da modernidade, do processo
em outras culturas, traz para o novo cená- de secularização, do pluralismo religioso,
rio de atuação parte do capital que lhe foi da invasão do espaço público pelas reli-
embutido pela cultura, atores e instituições giosidades contemporâneas e da chegada
do período de sua composição original e de da pós ou da alta modernidade.
suas recomposições posteriores.
Tais observações nos levam a uma
afirmação inicial de que as manifestações A PRÉ-HISTÓRIA NORTE-
culturais do pentecostalismo, especialmente
na África e na América Latina, são continui- AMERICANA DO PENTECOSTALISMO
dades de uma “religiosidade matricial”, que
BRASILEIRO
Reprodução

A escrita da história procura colocar


em ordem cronológica “acontecimentos”
e “atores” diversos, recobrindo-os e inse-
rindo-os dentro de uma grande narrativa,
oferecendo-se assim para o leitor a sensa-
ção de um mundo ordenado. Marc Bloch
(2001, pp. 55 e seg.) afirmou ser a história
a “ciência dos homens no tempo”, que por
isso mesmo tem a “necessidade de unir o
estudo dos mortos ao dos vivos”, daí o seu
convite para que evitemos o “ídolo das
origens” e vençamos o pressuposto de que
“as origens são um começo que explica.
Pior ainda: que basta para explicar”.
Mas, se fôssemos estabelecer, na histó-
ria cultural do cristianismo, um ponto de
partida para o estudo do pentecostalismo,
onde ele seria localizado? Há quem atribua
a Montano, um cristão do segundo século,
a luta pela recarismatização da cristandade.
Isso porque, segundo Montano, por volta do
ano 150, os cristãos já haviam abandonado
certos carismas, por exemplo: “falar em
línguas”, “receber revelações divinas” ou
esperar pelo poder da divindade “sinais”,
“curas” e “maravilhas”. Ora, as conse-
qüências da pregação de Montano foram Detalhe de
intensas e fortes, pois séculos depois ain- As Duas
da existiam comunidades cristãs com um
perfil semelhante ao de igrejas pentecostais
Trindades, de
modernas. Murillo

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Por sua vez, dos movimentos de reaviva- Parham e William Joseph Seymour; 1901
mento espiritual há relatos de manifestações e 1906; Topeka (Kansas) e Los Angeles
físicas e psíquicas, como êxtases, visões de (Califórnia).
vultos e glossolalia, atribuídas à ação divina. No entanto, não sem motivos, a histo-
Porém, a dependência de elementos físicos riografia do pentecostalismo tende a ocultar
para legitimar experiências religiosas não é o papel de Parham, talvez por causa de
exclusividade dos pentecostais. Até porque, acusações de homossexualidade, de suas
tanto dentro como fora do pentecostalismo notórias inclinações racistas e simpatias
– e do próprio cristianismo –, houve e ainda com a Ku Klux Klan e também por defender
há inúmeras experiências psíquicas desse algumas doutrinas consideradas estranhas
tipo. No âmbito da antropologia basta acom- pelos americanos, entre outras, a crença de
panharmos a exposição de Ioan M. Lewis que os anglo-saxões seriam descendentes
(1977) de casos de possessão e xamanismo das dez tribos perdidas de Israel após o
em povos “primitivos”. Entre os quacres, os exílio na Assíria.
shakers e mórmons, para não citar o sufismo Mas, por outro lado, essa mesma histo-
islâmico, também há casos conhecidos de riografia ressalta as atividades de Seymour,
êxtases, falas em línguas desconhecidas e um negro, filho de ex-escravos, que se tornou
curas pela fé. celebridade por causa dos eventos de Azuza
Mas, voltando às peculiaridades da cul- Street. Dá-se também em muitos estudos
tura norte-americana, podemos perguntar se sobre o pentecostalismo pouco ou quase
o argumento das “origens norte-americanas nenhum valor ao contexto social e cultural
do pentecostalismo moderno” explica, com das raízes dos atores do movimento nascente
a mesma força, o surgimento e a rápida ou das condições sociais que tornariam a
propagação pentecostal e carismática por explosão e propagação das mentalidades,
todo o mundo. Talvez possamos ligar a práticas e pregação pentecostal inevitável
esse argumento a observação de Mark Noll nos EUA no início do século XX.
(2004, pp. 59 e seg.) de que o crescimento Por tudo isso é impossível nesta análise
da “influência norte-americana sobre o cris- deixar de lado o contexto social, cultural e
tianismo evangélico mundial no século XX” econômico da sociedade norte-americana,
tem algo a ver com a expansão pentecostal tanto da passagem do século XIX para o XX,
por todo o mundo. como também o impacto dos séculos an-
Por isso mesmo, pressupomos que uma teriores. Os americanos deram vida àquela
visão do contexto social, cultural e eco- expressão de Pierre Bourdieu (1982, p. 91),
nômico dos eventos ocorridos no campo “a história dos deuses segue as flutuações
religioso norte-americano, no final do sé- da história de seus seguidores”.
culo XIX e início do século XX, nos ajuda Mas, no dizer de H. R. Niebuhr (1992,
na descrição e compreensão das formas pp. 225 e seg.), nesse país as concessões
assumidas pelo pentecostalismo em suas às divisões raciais e de classes sociais fi-
origens e expansão. Em outras palavras, zeram surgir denominações acomodadas.
corremos o risco de não compreender bem a Essa acomodação fez com que as seitas
constituição do campo religioso norte-ame- se tornassem um canal capaz de desaguar
ricano, nem o surgimento e propagação do o descontentamento das classes pobres.
pentecostalismo, sem um devido exame da Assim surgem as “igrejas dos deserdados”,
história da cultura estadunidense tal como que arregimentam os pobres, reforçando
fazem Sydney E. Ahlstrom (2004) e Harold a idéia de que “na história protestante a
Bloom (1992). seita tem sido sempre filha de minorias
A esse respeito podemos citar dois perso- proscritas” (Niebuhr, 1992, p. 20). Aliás,
nagens e lugares, duas datas e situações, que embora Niebuhr não o diga, esse é o caso
usualmente são apresentados como marcos do pentecostalismo.
inaugurais ou referências históricas do mo- Por isso mesmo, a “história do denomi-
derno movimento pentecostal: Charles Fox nacionalismo revela-se como história dos

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pobres religiosamente desprezados” (Nie-
buhr, 1992, p. 26). Aqui Niebuhr concorda
e cita Ernst Troeltsch ao afirmar que “os
movimentos religiosos realmente criativos,
formadores de igrejas, são obras dos estratos
mais baixos” de uma determinada sociedade
(Niebuhr, 1992, p. 27). Conseqüentemente,
“um dos traços comuns é o fervor emo-
cional” e a “religião obrigatoriamente se
expressa e se expressará em termos emocio-
nais” para os deserdados. Nesse contexto, “o
clero intelectualmente preparado e inclinado
à liturgia é rejeitado em favor de líderes
leigos que satisfazem mais adequadamente
as necessidades emocionais desta religião”
(Niebuhr, 1992, p. 27).
No início do século XX, o campo reli-
gioso norte-americano estava carregado de
forças centrífugas, que num curto período
de três anos centenas de fiéis se transfor-
maram em missionários pentecostais, que
influenciados por Los Angeles se espalha-
ram primeiro para todos os EUA, depois,
para Europa, Ásia, América Latina e África.
Porém, diferentes dos demais missionários,
contratados e mantidos por agências e insti-
tuições interessadas na expansão do campo
religioso norte-americano, os missionários
pentecostais, como bem afirmou Vinson
Synan (1997, p. 129), saíam da “American
Jerusalém – Azuza Street”, em direção às
várias partes do mundo, sempre na condição
de “missionaries of the one way ticket”. voltados ao ideal de santificação oferecia
Nessa grande efervescência do campo às pessoas traumatizadas por uma guerra
religioso também refletiam as agitações dos civil terrível, pela falta de um norte seguro,
últimos 35 anos do século XIX, que ficaram ou então deslocado pela mobilidade popu-
marcados pelo trauma da Guerra Civil; liber- lacional, algumas ilhas de certezas. Assim,
tação dos escravos negros; tensões raciais; o “cinturão da Bíblia” e as comunidades
crise prolongada do mundo da agricultura emocionais seriam ricas oportunidades para
no sul do país; mobilidade populacional em o encontro de regras seguras, inflexíveis
direção às cidades do norte em processo e indiscutíveis para a vida cotidiana. Em
de industrialização; chegada de milhões outras palavras, enquanto a demanda por 3 Os especialistas em demografia
norte-americana observam que
de imigrantes brancos, que vinham refazer vida espiritual crescia, a população buscava de 1777 a 1884 entraram nos
EUA 1,6 milhão de imigrantes.
na América laços rompidos pela pobreza e reconstruir a nação, e o caminho da religião Entre 1901-10, entraram cerca
miséria na Europa de então (3). seria um dos mais criativos para isso. de 8,8 milhões. Essa chegada
maciça de imigrantes fez com
O processo de urbanização e industria- Foi assim que as propostas avivalistas que a porcentagem de ingleses
lização fez crescer rapidamente a América de John Wesley, que fizeram tanto sucesso e irlandeses, que era de 45% da
população em 1861-70, caísse
urbana, esvaziando a zona rural e as pe- na Inglaterra nos difíceis dias iniciais da para 18% entre 1891 e 1900,
enquanto a porcentagem de
quenas cidades e vilas, lócus de um intenso Revolução Industrial, também foram re- russos e europeus do sul da
reavivamento espiritual do camp meeting. tomadas pelo povo, nas colônias inglesas Europa nesse mesmo decênio
subiu de 11% para 50% da
No entanto, a explosão de movimentos da América do Norte, nos anos anteriores população.

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e posteriores à Independência, durante o como camp meeting, centros de reaviva-
deslocamento das fronteiras em direção mento religioso, montados em região rural,
ao meio e ao distante oeste e nas décadas para onde as pessoas eram convidadas por
posteriores à Guerra da Secessão. Concor- pregadores como Alfred Cookman (apud
damos com Bryan Wilson (1970, p. 49), Synan, 1997, p. 22), que assim se dirigia ao
que em uma análise clássica sobre as seitas público: “nós afetuosamente convidamos a
escreveu: “o reavivalismo se converteu em todos […] a vir conosco e gastar uma semana
uma poderosa força social para a religião com Deus no grande templo da natureza”.
das fronteiras”, isso porque o movimento Para esses eventos, havia convites que in-
reavivalista “se adaptava muito bem ao cluíam expressões como “receber o batismo
caráter atomista da sociedade fronteiriça”, com o Espírito Santo”. Nesses encontros
conseguindo assim “agrupar em massa as eram comuns experiências extáticas, que
pessoas, ainda que de uma forma momentâ- depois se tornariam parte integrante da
nea e muitas vezes estática”. No entanto, a identidade pentecostal.
fé despertada era avessa ao intelectualismo, Essa situação, principalmente no inte-
à teologia e às instituições teológicas for- rior da Igreja Metodista, causou inúmeros
madoras de um clero esclarecido. Com isso confrontos, resolvidos somente a partir de
a religião cristã tornava-se prática, colada 1885, quando começaram a surgir igrejas
aos problemas da vida cotidiana, aos quais autônomas, que adotaram o nome de “igrejas
procurava apresentar soluções espirituais. holiness” (4). Uma parte delas se tornaria
O pentecostalismo herdaria esses e outros igrejas tipicamente pré-pentecostais, quan-
traços culturais norte-americanos. do então já se prenunciava no horizonte um
Por isso, o período de industrialização, salto de qualidade que se concretizaria com
mobilidade populacional, urbanização e a chegada da “era pentecostal”: Church of
aumento do mal-estar de imigrantes e o so- God (Cleveland, 1886); United Holy Church
4 Elaboramos para este artigo
uma tentativa de visualização frimento concreto dos pobres tornou quase of América Inc. (1886); Fire Baptized Ho-
do campo religioso protestante
antes, durante e depois da necessário que o pentecostalismo viesse liness Church (1898); Pentecostal Holiness
aparição pública do pente- beber no poço da tradição reavivalista. Church (1899); Pentecostal Union (1901).
costalismo (ver mapa no final
do texto). As setas que estão Entretanto, se os grandes avivamentos se Algumas dessas igrejas iriam aderir oficial-
ligando eventos e igrejas não
pretendem estabelecer ligações
espalharam por uma América ainda rural, mente ao movimento pentecostal nos anos
entre causa e efeito ou gerar os movimentos de santidade e o pentecos- seguintes, seguindo os modelos implantados
uma seqüência cronológica,
mas tão-somente mostrar a exis- talismo iriam operar dentro de um contexto por William Seymour, em Azuza Street, a
tência de algum tipo de ligação urbano e industrial. partir de 1906 (5).
ou de influência que julgamos ter
havido entre as partes. Todavia, Todavia, como observa Wilson (1970, Portanto, os eventos de Topeka, Los An-
a finalidade última desse “mapa
histórico” é fazer a ligação entre p. 71), “as cidades da América [que] atra- geles ou Chicago não foram frutos do acaso,
o “pentecostalismo clássico” vessavam uma fase de desenvolvimento nem tampouco pioneiros nesse processo
que chegou ao Brasil e o
turbulento campo religioso extremamente veloz” estavam repletas de crescente de pentecostalização de igrejas
norte-americano, no qual, a
despeito das aparências, das
imigrantes que “esperavam ter oportuni- protestantes norte-americanas. Todavia,
rupturas e continuidades, tudo dade de fazer fortuna e elevar o seu status esses movimentos de busca de santidade
continua como antes enquanto
tudo se transforma. Em ou- social”. No entanto, muitas dessas pessoas e batismo com o Espírito Santo apontam
tras palavras, talvez o melhor “sofriam uma decepção e viam frustradas muito mais para a continuidade do que para
modelo de análise seja o de
ruptura-com-continuidades. Esse uma e outra vez suas esperanças terrenas”. as rupturas desse nascente pentecostalismo
“mapa” foi elaborado a partir
de informações de Edwin S. Nesse caso, as cidades se tornavam “um em relação ao protestantismo avivalista e
Gaustad (1962) e Bret E. Carroll lugar onde naufragavam as aspirações, puritano que o gerou. É, portanto, a fertili-
(2000).
como também onde se podia fazer fortuna dade do terreno social que tem estimulado
5 Para uma visão geral e es-
quematizada dessa ligação e desfrutar das confortáveis condições de o crescimento da semente pentecostal. A
do protestantismo, avivalismo, uma subsistência segura”. vitalidade da semente, na perspectiva so-
movimentos de santidade e
pentecostalismo, ver o mapa Acrescente busca pela “santificação” foi ciológica, transcende a si mesma e se aloja
no final do texto, onde há uma
tentativa de visualizar esse assim estimulada pela formação de institui- nas estruturas da sociedade que a acolhe e
processo dinâmico ocorrido ções como a National Holiness Association lhe dá a germinação no tempo certo.
no interior do campo religioso
norte-americano. (1867), que abriu caminho para eventos Ora, o pentecostalismo moderno surgiu

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e se desenvolveu ao lado do fundamenta- testemunhos de pessoas que, desde o seu
lismo protestante. Ambos vingaram em início, têm valorizado mais a tradição oral
terreno semelhante, um ao lado do outro do que a escrita.
sem, contudo, se misturarem. O primeiro Estudos criativos sobre o pentecostalis-
atrai pelo aspecto “irracional” da mística mo têm surgido entre pesquisadores que vão
religiosa. O outro, pela sua capacidade de a campo ouvir os pentecostais, ou que vas-
oferecer certezas. Tanto que, um século culham precárias histórias denominacionais
depois, em todas as partes do mundo, entre em busca de informações sobre trajetória de
protestantes ou católicos, o estilo pentecos- vida ou traços biográficos de seus principais
tal na prática religiosa continua atraindo agentes. Essa metodologia tem se mostrado
milhões de pessoas. muito fértil, tanto no estudo antropológico
Os números desse crescimento nos garan- do pentecostalismo “clássico”, como na
tem que o seu dinamismo não se arrefeceu e vertente “neopentecostal”. É graças a ela
que as fórmulas de crescimento continuam que os investigadores conseguem acessar
funcionando, mobilizando multidões, adap- os sonhos, anseios, desejos e sofrimentos de
tando-se a novos contextos, mobilizando pessoas concretas. Talvez porque as orações,
analistas que expliquem a causa desse tão preces e os testemunhos dos seguidores
grande sucesso. Como prova disso há dados desta ou daquela igreja pentecostal revelam-
e estimativas de D. B. Barrett (1997, pp. nos mais do que o simples exame dos dados
24-5) dando conta de que, em 1970, 6% da estatísticos e das listagens comparativas
população cristã mundial – 74 milhões de sobre o crescimento de cada grupo.
pessoas – era pentecostal ou carismática; Daí a proposta de observação da trajetó-
em 1997, a estimativa era de 27%, o equi- ria de vida de alguns desses “pioneiros”, que
valente a 497 milhões de cristãos; enquanto são pessoas que agiram mais como pontas de
a sua projeção para o ano 2025 é de 44% de um iceberg ou como agentes demarcadores
cristãos, totalizando cerca de 1.140 milhões de fronteiras. Isso porque, no decorrer do
de pentecostais e carismáticos caso se man- aparecimento e expansão de seus respecti-
tenham as atuais tendências. vos movimentos, elas agem como se fossem
“bóias vivas” flutuando em um mar agitado
pelas emoções. São pessoas que lideram
multidões de fiéis em processos coletivos de
O MOVIMENTO PENTECOSTAL recomposição de crenças e práticas, gerando
em conseqüência de suas pregações formas
NORTE-AMERICANO E AS SUAS alternativas às principais receitas religiosas
monopolizadas pelas igrejas.
INFLUÊNCIAS SOBRE O Pierre Bourdieu (1982, p. 92), discutindo
as idéias de Max Weber sobre o profeta,
PENTECOSTALISMO BRASILEIRO observa que o poder dele “baseia-se na
força do grupo que mobiliza por meio de
Sem cairmos numa historiografia que sua aptidão para simbolizar em uma con-
valoriza os “heróis” e se esquece das forças duta exemplar e ou em um discurso […] os
sociais e históricas, há a seguir algumas interesses propriamente religiosos de leigos
sugestões inspiradas em textos compilados que ocupam uma determinada posição na
por Ruth Sautu (1999) a respeito do uso dos estrutura social”. Portanto, as relações entre
métodos biográfico e de história de vida, o líder carismático e seus seguidores se dão
que podem nos ajudar na reconstrução das à medida que “aspirações que já existiam
trajetórias seguidas pelos movimentos e antes dele, embora de modo explícito,
instituições pentecostais entre nós. Essa semiconsciente ou inconsciente”, vêm à
metodologia facilita o nosso estudo do tona por causa de seus discursos, conduta
pentecostalismo, aqui visto como uma exemplar ou palavras de ordem. São “falas
religião dinâmica, oral e resultante dos exemplares”.

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Está no centro da sociologia dos movi- teoria do “batismo com o Espírito Santo”,
mentos carismáticos a preocupação com a conforme observações de Burgess e McGee
forma assumida por uma pregação religiosa (1995, p. 660). Essa experiência mística foi
de sucesso em um determinado momento identificada por eles como idêntica à que
histórico e que pode se constituir em um tiveram os apóstolos de Jesus no período
fracasso em outros tempos e lugares. Ora, da Festa de Pentecostes (6).
o exame da biografia de alguns líderes Os eventos que tornaram Parham co-
pentecostais nos mostra como “as carac- nhecido se deram no primeiro dia do ano
terísticas sociologicamente pertinentes de de 1901, quando ele era diretor-fundador do
uma biografia particular […] fazem com que Bethel Bible College, na cidade de Topeka,
um determinado indivíduo se encontre so- no Kansas, uma organização onde se mistu-
cialmente predisposto a sentir e a exprimir, ravam a prática da cura divina, assistência
com uma força e uma coerência particulares, espiritual e material a pessoas pobres com
disposições éticas ou políticas, já presentes, o treinamento para jovens que desejavam
de modo implícito, em todos os membros ingressar nas atividades missionárias. Par-
da classe ou do grupo de seus destinatários” ham divulgava as suas idéias por meio de
(Bourdieu, 1982, p. 94). um jornal, cujo nome era aplicado ao seu
A biografia de alguns homens que aju- movimento: The Apostolic Faith. Por meio
daram a constituir e tornar autônomo o pen- dessa e de outras publicações, ele defendia
tecostalismo, a inseri-lo no campo religioso a necessidade das pessoas se submeterem
6 Pentekostes Hemera era o nome
grego dado a uma antiga festa norte-americano e brasileiro, nos serve de a uma “terceira bênção” em sua carreira
judaica, que acontecia no 50o
dia após a Festa da Páscoa.
amostra da fertilidade dessas metodologias. de fé, embora a tradição metodista falasse
Foi durante a comemoração Por isso reunimos a seguir algumas obser- em apenas duas bênçãos: “conversão” e
dessa festa, exatamente após
50 dias da morte de Jesus, que vações sobre Charles F. Parham e William “santificação”.
os seus discípulos, reunidos em Seymour, ambos do pentecostalismo nor- Naquelas semanas, no final de ano e de
Jerusalém, tiveram experiências
místicas profundas que transfor- te-americano. O mesmo método pode ser século, recém-chegado de um período de
maram um grupo de medrosos
em ativos pregadores da men- aplicado a outros pioneiros do pentecostalis- viagens para se recuperar de uma depres-
sagem que se tornou o centro mo brasileiro, o italiano Louis Franciscon, são, Parham encontrou os seus estudantes
do cristianismo: “Jesus está vivo
e ressuscitou dentre os mortos”. iniciador em São Paulo, no ano de 1910, da divididos por companheiros que tentaram
Segundo a narrativa bíblica
(Atos dos Apóstolos, 2.1-13),
Congregação Cristã no Brasil, e os suecos ocupar o seu lugar no Bethel Healing Home.
na pregação que eles fizeram, Gunnar Wingren e Daniel Berg, iniciado- Retomando a liderança ele voltou a insistir
enquanto usavam a língua ma-
terna deles, cada estrangeiro, res da Missão da Fé Apostólica, em 1911, com seus alunos a buscarem o “batismo
a despeito de ser falante de em Belém, que sete anos depois adotou o com o Espírito Santo” e o seu sinal físico
outras línguas, entendia em
sua própria língua materna a nome de Igreja Assembléia de Deus. Porém, atestador: o “falar em línguas”. Em uma
mensagem, isso de uma forma
milagrosa. Esse fenômeno por falta de espaço, isso será deixado para reunião de oração/prece, na noite de passa-
passou a se misturar com outros oportunidades posteriores. gem de ano, uma de suas estudantes, Agnes
acontecidos, especialmente na
Igreja de Corinto, onde pessoas N. Ozman Laberge (1870-1937), entrou em
em êxtase falavam “em línguas
estranhas”, segundo narrativa,
êxtase e falou em “línguas desconhecidas”,
reflexões e orientações de uma confirmando a tese de Parham (7).
carta atribuída a São Paulo
(1a Coríntios, 12.1-14.40). O Charles F. Parham (1873-1929), Nas semanas e meses seguintes, após
movimento pentecostal clássico outras pessoas terem a mesma experiência,
faria dessa manifestação mística
o sinal visível de que alguém
havia sido possuído pelo Espírito
“o pai do reavivamento inclusive o próprio Parham, o grupo, com
Santo. Todavia, esse hábito de muito entusiasmo, passou a se deslocar
“falar em línguas” ou de ser
“batizado pelo Espírito Santo”
pentecostal do século XX” em caravanas, visitando outras regiões do
se torna cada vez mais teórico país. Em 1905 Parham está no Texas, e em
e raro na prática dos chamados
neopentecostais.
Charles Parham foi uma figura emblemá- Houston inicia uma escola bíblica. Um de
7 Artigos sobre a experiência
tica entre os pioneiros do pentecostalismo, seus alunos, o negro William Seymour, que
inicial de Agnes Ozman foram pois se tornou o primeiro pregador a fazer por causa do racismo de Parham assistia às
reunidos e reproduzidos por
Larry E. Martin (2000) e uma a ligação entre experiências extáticas, com aulas a partir de uma cadeira colocada no
síntese biográfica dela aparece manifestações de transes e glossolalias corredor do lado de fora da sala, levaria
em Burgess e McGee (1995,
p. 657) (o falar em “línguas desconhecidas”), e a o reavivacionismo pentecostal para Los

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Angeles. A partir de então a pregação pen- transformando na passagem do século, com
tecostal foi avançando para outras regiões o seu discurso, o panorama daquele campo
dos EUA. Em 1900, G. B. Cashwell (que religioso. Muitas das crenças, que iriam se
aceitaria a mensagem pentecostal em 1906) unir na identidade pentecostal no final do
funda a Igreja Holiness Pentecostal, e C. H. século XIX, circulavam separadamente, em
Mason funda a Igreja de Deus em Cristo, diversas camadas do protestantismo norte-
em 1907. americano, todas, porém, ligadas aos mo-
Parham foi, durante alguns anos, pastor vimentos de santidade ou de reavivamento
metodista, embora em sua juventude tenha espiritual. Nesses meios enfatizavam-se a
tentado estudar medicina antes de optar necessidade de conversão/novo nascimento;
pelas atividades religiosas. Todavia, a sua santificação; cura divina; volta de Jesus à
inserção nessa denominação religiosa durou Terra para inaugurar o milênio; retorno do
apenas cinco anos e ele abandonou a Igreja Espírito Santo na forma de um “batismo
Metodista por causa de sua crença pessoal de fogo”; coisas que provocariam sinais
na cura divina. Depois dessa experiência, físicos, particularmente, o falar em línguas
Parham nunca mais retornaria aos esque- desconhecidas.
mas denominacionais, dedicando-se até o Cabe relembrar que o campo religioso
final de sua vida às atividades missionárias, norte-americano estava sendo sacudido,
usando para isso tendas de lona e visitando desde a primeira metade do século XVIII,
muitas regiões dos EUA. por um processo de fermentação e turbulên-
É possível que a crença de Parham na cia. Todavia, a despeito da intenção inicial
cura divina tenha se consolidado devido a de alguns desses movimentos, que era o de
diversas moléstias que atribularam a sua recuperar o fervor religioso, em sua esteira
vida, das quais ele teria sido curado graças surgiram outros movimentos e instituições
a uma intervenção divina. Entretanto, a cura religiosas, acelerando a divisão e promo-
não foi completa, tendo Parham ficado com vendo a posteriori novos processos de ins-
algumas seqüelas, por exemplo, um aleijão titucionalização de novos movimentos em
em uma das pernas. igrejas e instituições estabelecidas (8).
No entanto, é possível que tenha sido Por outro lado, tal como o Holiness
tanto essa experiência de cura como a sua Movement e o Pentecostal Movement,
tradição entre metodistas e seguidores surgiram no século XIX outras manifesta-
dos movimentos de santidade que fizeram ções de descontentamento religioso, que se
dele alguém capaz de elaborar uma síntese expressaram por meio de movimentos como 8 Esse divisionismo pode ser visto
teológica de diversas crenças e práticas, os dos mórmons, testemunhas de Jeová, es- no mapa no final do texto, que
procura tornar visíveis algumas
piritismo ou adventismo do sétimo dia. Tal das principais separações pos-
teriores à explosão pentecostal
situação de turbulência e descontentamento de 1906. Cabe ressaltar que
fez surgir um tipo de redução ou uma síntese da Apostolic Faith Mission,
dirigida por William Seymour,
norte-americana de cristianismo, que Ha- surgiram, indiretamente, os gru-
rold Bloom (1992) chamou de “cristianismo pos pentecostais de Chicago,
onde o pastor batista W. H.
norte-americano”, portador de um “deus” e Durham (1873-1912), após ter
se tornado pentecostal, entrou
de um “jesus” especificamente adaptados em conflito com Seymour ao
à sua cultura. elaborar uma fusão entre a
primeira e a segunda etapas
Robert N. Bellah introduziu nesses (conversão e santificação),
estabelecendo uma doutrina
debates a expressão “religião civil norte- adaptada aos meios batistas,
americana” para mostrar que a cultura dos que ressalta haver apenas duas
etapas: conversão-santificação
Estados Unidos está ligada tanto ao fervor e batismo com o Espírito Santo
da “religião civil” como ao evangelismo (tangível na glossolalia). Os
três pentecostais, que entre
adocicado, à religiosidade emotiva dos 1910 e 1911 implantam o
pentecostalismo no Brasil, vive-
pentecostais e teleevangelistas e à busca dos ram em Chicago e estiveram,
fundamentos inquestionáveis por parte dos especialmente Louis Francescon
e Daniel Berg, sob a influência
fundamentalistas e cristãos de direita. de Durham.

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Foi, contudo, na segunda metade do
século XIX, que vários movimentos e pre-
William Joseph Seymour
gadores norte-americanos, de inspiração ho- (1870-1922): Brother Seymour,
liness, tornaram mais exacerbada a busca da
“santificação” ou de uma prática devocional “o negro profeta de Azuza Street”
lastreada na crença de que há uma espécie
de “segunda bênção”, que complementaria a Um negro, filho de ex-escravos da Loui-
“primeira bênção”, isto é, após a conversão siana, então com 36 anos de idade, começou,
começaria uma fase de aperfeiçoamento mo- em abril de 1906, num templo abandonado
ral, chamado de “processo de santificação”. de uma Igreja Metodista Africana, no bairro
Estava aberto o caminho para a crença em negro de Los Angeles, uma caixa-preta, da
uma “terceira bênção”, que seria o “batismo qual começaram a sair gritos, convulsões,
com o Espírito Santo”. profecias, glossolalias, curas, milagres,
Na pregação da “primeira” e da “se- prodígios e toda sorte de coisas, que rapi-
gunda” bênção se destacou o iniciador do damente chamou a atenção da imprensa e,
movimento metodista, John Wesley (1703- por meio dela, de todo o país. Em 18 de
91), que, à luz da tradição mística católica e abril de 1906, o jornal Los Angeles Times
do pietismo protestante alemão, apresentou publicava uma matéria que começava afir-
métodos práticos e formas devocionais para mando estarem os seus repórteres diante
se obter o aperfeiçoamento espiritual após a de “uma sobrenatural babel de línguas” e
conversão. Os seguidores de Wesley rece- de uma “nova seita de fanáticos” formada
beram o nome de “metodistas”, exatamente em sua maioria por negros e imigrantes
por causa dos métodos propostos para o pobres, liderados por um pregador negro,
aperfeiçoamento da vida espiritual (9). William Seymour. Todavia, Los Angeles
Assim, o pentecostalismo pode ser era uma cidade originadora de vários no-
visto com o olhar da continuidade, pois vos movimentos, mesmo assim não passou
nos EUA seguiu por picadas abertas por pela cabeça do repórter daquele jornal que
outros movimentos religiosos cristãos que estava descrevendo uma explosão emocio-
os antecederam: o pietismo alemão, o rea- nal de uma religião de origem protestante
vivacionismo anglo-saxão e os movimentos que estava destinada a ganhar o mundo em
de santidade. Por sua vez, em sua expan- menos de um século.
são, particularmente, na América Latina, o Mas quem foi, de onde veio e de que forma
pentecostalismo seguiu caminhos batidos Seymour plasmou o pentecostalismo norte-
pela religiosidade popular católica, bene- americano, que quatro anos depois estaria
ficiando-se, por outro lado, da inserção do sendo trazido para o Brasil por imigrantes
protestantismo na América Latina, África e italianos e suecos, que nos Estados Unidos
Ásia. Em outras palavras, em sua primeira se tornaram ardorosos missionários da nova
fase de expansão, o pentecostalismo pescou religiosidade cristã? A biografia de William
em aquários onde estavam os peixes colhi- Joseph Seymour é muito mais conhecida
dos pelo protestantismo histórico. e devassada do que a de Charles Parham.
Por tudo isso seria superficialidade Dele os seus admiradores registraram que era
científica historiar o pentecostalismo tão- “um homem que andava e falava com Deus”
somente a partir de 1901, quando houve em (William Durham, 1907) e que “Deus estava
Topeka as primeiras manifestações dentro com ele” (John G. Lake, em Spiritual Hunger).
do formato que tornou esse movimento Por isso, um outro contemporâneo escreveu
9 Essa dívida do pentecostalismo mundialmente conhecido. Também é in- que “Brother Seymour tem mais poder com
com a teologia de John Wesley
levou Donald Dayton (1987) correto atribuir as causas de seu sucesso Deus e mais poder de Deus do que seus
a considerar esse movimento tão-somente ao pólo irradiador de Los críticos” (em Gospel Witness, reproduzido
religioso como um filho dileto
do avivalismo wesleyano. Essa Angeles, onde em Azuza Street, em 1906, in The Apostolic Faith, fevereiro-março de
mesma afirmação aparece em
eventos novos sacudiram o já turbulento 1907). Larry Martin, em uma trilogia sobre
textos de Hollenweger (1976,
1999), por exemplo. cenário religioso norte-americano. o “avivamento de Azuza Street”, dedicou um

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volume inteiro ao The Life and Ministry of que Pierre Bourdieu (1982, p. 94) considera
William J. Seymour. Esse livro faz parte de ser manifestação de hostilidade “da empresa
uma coleção intitulada The Azuza Street Li- burocrática de salvação” contra um empreen-
brary, que publicou, entre outros, títulos como dimento profético. O “monopólio dos instru-
Apostolic Faith Mission, The True Believers mentos de salvação” (Bourdieu, 1982, p. 59)
(parte 1 e dois), Azuza Street Sermons. não mais estava com as igrejas de primeira
William Joseph Seymour nasceu em linha e isso gerava oportunidade para novos
Centerville, Louisiana, em uma família de empreendedores religiosos. Assim, pessoas
ex-escravos. Quando ele nasceu, 47% da simples se tornaram líderes e celebridades
população daquele estado era formada por religiosas, novos produtores religiosos, pois
ex-escravos. O ódio racial era intenso, e a havia condições sociais para que isso ocor-
Ku Klux Klan e outros grupos terroristas resse. Nesse contexto, o sucesso de Seymour
atuavam livremente naquela região. Seu se dava porque ele se apresentava como um
pai, tão logo veio a libertação dos escravos, “profeta que tem êxito”, que “consegue dizer
alistou-se num dos batalhões do exército o que é para dizer” (Bourdieu, 1982, p. 76),
que lutava contra os Confederados. Cinco catalisando a crise da religião tradicional e
anos após o final da Guerra Civil o menino indicando novos caminhos.
William nasceu e foi batizado na Igreja A reação veio também do movimento
Católica. Somente na sua adolescência holiness, de onde saiu o pentecostalismo.
se tornaria batista. Com 25 anos de idade Em uma de suas publicações satirizavam-se
emigrou para Indianápolis (1895), onde os fenômenos dos quais Seymour era um
trabalhou como garçom em restaurantes dos protagonistas (11). Meses mais tarde,
e, depois, como representante comercial; a Apostolic Faith Mission recebe a visita
nessa época se tornou membro da Igreja de Charles Parham, levando ao reencontro
Metodista Episcopal, uma congregação dois líderes, o que fez aprofundar ainda
negra. Algum tempo depois, Seymour se mais a divisão entre Parham, seu grupo e
mudou para Houston, depois de ter passa- o grupo de Seymour. Em outras partes do
do por Cincinati entre 1902-03, ali ele se país, já em 1907, ano em que Parham caiu
uniu aos holiness, freqüentando uma igreja em desgraça por causa de uma acusação de
pastoreada por uma mulher, que logo em sodomia, movimentos pentecostais ligados
seguida deixou Seymour como seu sucessor a estes ou aqueles líderes carismáticos se
e foi trabalhar na casa de Charles Parham tornavam autônomos, abandonando a lide-
como governanta. Quando, em dezembro de rança espiritual de Seymour. 10 Larry Martin (1999, pp. 247 e
seg.) dedica um capítulo todo
1905, Parham transferiu a sua escola bíblica Uma das primeiras dissidências, tal- à reprodução e à análise da
cobertura dada pelos jornais
para Houston, onde Seymour assistia às vez por motivos passionais ligados ao de Los Angeles e de outras
aulas, assentado em uma cadeira colocada casamento de Seymour com uma outra partes dos EUA ao “fanatis-
mo sobrenatural” que atraía
para ele no corredor, por causa do racismo pretendente, entre as várias que rodeavam pobres, ignorantes e tolos ao
templo situado no no 312 da
de Parham, conforme registram Burgess e o profeta solteirão, levou Florence Louise Azuza Street. Cartazes nas
McGee (1995, p. 780). Data daí a sua liga- Crawford (1872-1936) a fugir para Port- ruas da cidade satirizavam os
adoradores do templo da Azuza
ção com as teorias e práticas pentecostais land e organizar a Apostolic Faith Church Street como “santos roladores”,
divulgadas por Parham. in Portland, Oregon, levando consigo a “santos puladores” e “santos
chutadores”
Em Los Angeles, para onde foi tentando lista de endereços dos assinantes do jornal
11 The Burning Bush (15/11/
assumir o pastorado de uma igreja holiness, mantido por Seymour, dando continuidade 1906), reproduzido por Martin
(1999, p. 263), publicou
Seymour se “estabeleceu por conta própria”, ela mesma a essa publicação. Outros con- charge em que Satanás estava
iniciando o seu próprio ministério. Contudo, flitos surgiram por questões teológicas, por enchendo bolhas de sabão.
Várias delas já estavam no ar,
a sua atuação encontrou forte oposição por exemplo: William Durham (1873-1912) a entre outras, “Ciência Cristã”.
parte da imprensa (10) e das igrejas pro- partir de Chicago passou a se opor à solução A que estava se enchendo
naquele momento se chamava
testantes tradicionais, que consideravam teológica das três etapas (conversão, san- “Línguas e Terceira Bênção”.
A iconografia reunida pelo
o que acontecia em Los Angeles apenas tificação e batismo com o Espírito Santo) historiador Martin permite uma
manifestação de um moderno tipo de fana- de Seymour, propondo apenas duas etapas excelente visão da oposição en-
contrada pelo pentecostalismo
tismo religioso. Realmente acontecia ali o resultantes da união das duas primeiras em nascente nos EUA.

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uma só, conforme Hollenweger (1976) e segs.), no entanto, nos chama a atenção
Burgess e McGee (1995, p. 255). Do círculo para o impacto da cultura africana, além
de seguidores de William Durhan, que em da protestante, católica e indígena, sobre
1907 organizou a North Avenue Mission, a maneira pentecostal de realizar a recom-
saíram Louis Francescon, Daniel Berger e posição de crenças e práticas cristãs para
A. Gunnar Vingren, que iniciariam a propa- um novo contexto. Seymour foi capaz de
gação do pentecostalismo no Brasil. fazer a síntese, de catalisar e de descobrir as
Portanto, Azuza Street se tornou, a partir raízes africanas do movimento pentecostal.
de 1906, a “Jerusalém norte-americana”. Por isso, Azuza Street se tornou o cadinho
Embora se dirigissem para essa cidade em que se produziria uma religiosidade que
caravanas de cristãos, negros e brancos, valorizaria alguns traços da tradição negra:
indistintamente, todos estavam ansiosos oralidade da liturgia; teologia e testemunhos
por uma “experiência com o Espírito San- oralmente apresentados; inclusão de êxtase,
to”. Assim, nesses anos iniciais de Azuza sonhos e visões nas formas públicas de adora-
Street, parecia que o poder do Espírito iria ção; holismo quanto às relações corpo-alma;
romper as barreiras de separação entre ricos ênfase nos aspectos xamânicos da religião;
e pobres, brancos e negros. O Espírito de uso de coreografias e de muita música no
Deus, assim acreditavam os pioneiros do culto. Essa ligação entre pentecostalismo e
pentecostalismo, agora administrado por cultura negra, o que explicaria o seu sucesso
um filho de ex-escravos, Willian Seymour, no Brasil, encontrou em Roger Bastide (1989,
romperia com “the color line”. pp. 512 e seg.) um arguto estudioso. Ele,
Porém, enquanto Seymour pregava o todavia, enfatizava que tais “fenômenos de
poder do Espírito, negros eram linchados assimilação ou de reinterpretação não podem
em várias partes dos Estados Unidos. Não ser tratados numa perspectiva puramente
tardaria, portanto, a ressurgir o racismo de ‘culturalista’, pois são condicionados […]
pentecostais brancos, já tipificado na prá- pelas situações sociais nas quais nasceram”.
tica racista-teológica de Charles Parham, Poderemos acrescentar aqui a influência do
que veio com mais força em 1914, quando sentimento de ser “desterrado”, “imigran-
em Hot Springs, Arkansas, surgem as As- te” ou “estrangeiro” que sempre tomou
sembléias de Deus, reunindo cerca de seis conta do africano trazido para ser escravo
mil membros espalhados pelos estados de na América. Cheryl J. Sanders (1996) con-
Texas, Oklahoma, Alabama e Illinois. To- seguiu com notável síntese ligar as igrejas
davia, o declínio do profeta de Azuza Street holiness negras dos EUA, principalmente a
aconteceu devido ao tempo, às divisões e à African Methodist Episcopal Church, tanto
oposição. No entanto, como afirma Martin durante o período da defesa da santificação
(1999, p. 337), o fogo ateado em Azuza wesleyana como posteriormente, no período
Street continua a arder em todo o mundo pentecostalizante, à idéia de que os crentes
“assoprado pelo Espírito de Deus”. dessas igrejas holiness-pentecostais combi-
Devemos, contudo, ressaltar que Sey- navam bem o sentimento de “exílio” com a
mour se tornou o agente catalisador de toda busca da “santidade”. Eram eles os “santos
uma situação que clamava pelo advento de no exílio”, pois estavam no mundo, mas
uma nova teodicéia. Isso ocorre, segundo não se sentiam parte do mundo. No entanto,
Bourdieu (1982, p. 49), naqueles momentos isso os ajudava na construção de um sentido
em que formas de entender e explicar a vida para a vida, a despeito de condições raciais
não mais estão em sintonia com as condições extremante injustas.
sociais, gerando novas demandas, as quais Ficou claro também, ao longo de nossa
somente podem ser atendidas por uma palavra exposição, que o pentecostalismo, como
profética. O profeta é, portanto, o “homem da mentalidade ou movimento, não começou
crise”, que, escudado em seu próprio exemplo, em Topeka ou em Los Angeles, mas ante-
reinicia a produção de um capital religioso. cedeu em muito a esses eventos, até mesmo
Walter Hollenweger (1999, pp. 33 e ao surgimento dos Estados Unidos como

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nação. Em outras palavras, há um pentecos- A introdução do pentecostalismo no
talismo pré-pentecostal, que nem sempre é Brasil, no entanto, a despeito de ter as
levado em consideração por pesquisadores mesmas origens, criou membros da “fa-
do pentecostalismo. Isso equivale a afirmar mília pentecostal” que sequer se conside-
ser essa expressão religiosa resultante de ram parentes entre si. Assim, nada mais
um longo processo de mutação do campo distante da Congregação Cristã no Brasil
religioso norte-americano. do que os pentecostais da Assembléia
Mas cabe também ressaltar que o de Deus. Porém, o divisionismo seria
crescimento do movimento pentecostal e iniciado somente na Assembléia, que
carismático, pelo menos nesse primeiro em 1930 viu nascer no Nordeste a Igreja
século de sua existência, foi rápido e con- de Cristo e dois anos depois, também
tundente. Atualmente, mais de 500 milhões no Nordeste, a Igreja Adventista da Pro-
de cristãos no mundo estão incluídos nessa messa. Nos anos 40 mais um movimento
classificação. Por outro lado, o impacto de pentecostal autônomo, este originado
sua mentalidade, prática e teologia se faz por cisões entre metodistas paulistanos,
notar tanto dentro como fora do espaço dando origem à Igreja do Avivamento Bí-
religioso demarcado pelas instituições e blico. Essa “família” somente iria crescer
organizações protestantes. com o advento dos pregadores de curas
Isso porque o pentecostalismo ex- divinas e milagres, oriundos da Igreja
travasou as fronteiras religiosas em que do Evangelho Quadrangular, início dos
começou, atingindo inclusive o catolicis- anos 50, em São Paulo, quando surgem
mo, dando nele origem ao Movimento de a Igreja do Evangelho Quadrangular, a
Renovação Carismática (1967). Porém, Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo e
durante o seu processo de expansão e de a Igreja Pentecostal Deus é Amor, entre
institucionalização, esse movimento reli- uma multiplicidade de pequenas novas
gioso se fragmentou em inúmeras seitas, igrejas, seitas e denominações.
denominações e igrejas em todo o mundo, Os dados do último Censo realizado
assumindo características e fisionomias pelo IBGE (2000) ilustram bem esse cres-
locais, que hoje dão a ele a complexidade cimento. Naquele ano, havia no Brasil 17,7
que chega às vezes a confundir analistas milhões de brasileiros incluídos na categoria
menos cuidadosos desse fenômeno. de pentecostais, o que equivale a 67,65%
O movimento pentecostal que chegou do total de 26,2 milhões de evangélicos.
ao Brasil em 1910-11 veio dos Estados Desse número de pentecostais, 47,47%
Unidos, tratando-se então de uma expansão pertenciam à Assembléia de Deus; 14,04%
de um campo religioso em direção a outros à Congregação Cristã do Brasil. Portanto,
que ainda não conheciam a sua mensa- 61,5% dos pentecostais faziam parte dos
gem. Esse “novo” movimento não era tão dois maiores e mais antigos movimentos
novo assim, pois dava continuidade aos pentecostais no país e, curiosamente, os
movimentos de reavivamento espiritual, menos estudados pela academia (12).
santidade e fundamentalismo, que dariam Ao terceiro grupo mais numeroso, a
a feição e fisionomia para o evangelismo Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd),
daquele país durante todo o século seguinte. foi atribuído um total de 11,85%. Trata-se, 12 A Congregação Cristã no Brasil
somente em 2001 foi objeto
Todavia, 60 anos mais tarde, depois de se no entanto, de um dos ramos pentecostais de uma profunda, bem funda-
mentada e contribuidora tese
expandir à margem e dentro das fronteiras mais novos, sincréticos, dinâmicos e visí- de doutoramento, defendida
do protestantismo tradicional, das práti- veis no espaço social (mídia e política). De na Universidade de Genebra,
por Key Yuasa, como fruto de
cas litúrgicas, das teologias e das formas acordo com pesquisas de Mariano (1999), três décadas de pesquisas no
Brasil, Estados Unidos e Itália.
pentecostais de ver o mundo, chegou à Oro, Corten e Dozon (2003), Campos Resta torcermos pela publicação
Igreja Romana, por meio da Renovação (1997) e tantos outros, a Iurd é um tipo de em português, o mais rápido
possível, dessa tese cuja versão
Carismática Católica, estudada no Brasil, religião que mais se adapta a um contexto em inglês faz parte do Banco
entre outros, por Reginaldo Prandi (1997) de globalização e internacionalização da de Teses da Universidade de
São Paulo (SBD-FFLCH-USP, no
e Brenda Carranza (2000). cultura e da economia. 228547).

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Mapa Histórico

Igrejas da Reforma Protestante


(século XVII)

Igrejas Reformadas/ Igreja Episcopal-


Igrejas Luteranas
Presbiterianas Anglicana

Movimento pietista (século XVII); Reavivacionismo (século XVIII-XIX); Puritanismo


(século XVIII e XIX); Movimentos da Santidade (século XIX)

PRÉ-PENTECOSTALISMO 1900-1920 Evangelho Social


Associação Nacional Aliança Evangélica (1867)
para a promoção da Busca dos fundamentos para Movimento Ecumênico
Santidade (1867) a cooperação
Fundamentalismo

Movimentos de Santidade entre Metodistas e Protestantes nos EUA (1840-1900)

1899 1886 1895 1895 1886 1898 1901

Pentecostal Church of God Church of Igreja dos United Holy Fire Baptized Pentecostal
Holiness – Cleveland God in Christ Nazarenos Church of Holiness Union
Church (1907) (1907) America, Inc. Church

EXPLOSÃO PENTECOSTAL EVENTOS DE TOPEKA


Apostolic Faith Movement (1901) AZUZA STREET (1906)
Charles Parham (1873-1929) William Seymor (1870-1922)

1914 1914 1914 1906

Assemblies of Apostolic Faith Mission


Church of God Pentecostal
God General by Faith, Inc. Assemblies of
Council the World, Inc. Pentecostal of 1907
Assemblies of
1924 Jesus Christ, Inc. North Avenue Mission – Chicago
William H. Durham (1873-1912)

PRINCIPAIS DIVISÕES DO Pentecostal


Church Inc. 1907
PENTECOSTALISMO APÓS 1906
Influência de Durham Influência de Durham
1945 (1907-1910) sobre sobre Daniel Berg (1884-
a Assemblea Cristiana e 1963) e Adolf Gunner
seus fundadores Louis Vingren (1879-1933) em
United Francescon e Peter Ottolini
Pentecostal Chicago (1909-1910)
Church, Inc.
1910 1911 1923

Congregação Cristã Missão Fé Apostólica


no Brasil Belém (Pará) – Berg
São Paulo e Paraná – e Vingren
Louis Francescon Em 1918 novo nome:
Igreja Assembléia de Deus

International of the
Four Square Gospel
– Aime McPherson

114 REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 100-115, setembro/novembro 2005


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