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)ean Marcel Carvalho França

História
damaconha
no Brasil

TRÊS
7 ESTRELAS
L't\rthr rror5 lít{ Estrclas-selo editoriâldâ Publifolha Editora Ltda.

Sumário
"

ti(1,!\ (,\ (li11 iro\ rcservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada
.rr tr'.rrrsrnititla tlc ncnhuma íorma ou por nenhum meio sem a permissão expressa e por
.\riro(Lrl\rt iftrhâ Editora Ltdâ.. detentorâdoselo edito al TÉs Estrelâs.

r rn r()R Alcino Lcite Neto


Ritâ Pâlmeirâ
I (x)Rr)r:N^(Ào DÉ PRODUçÀO GRÁFrCÀ Mariana Metidieri
pR()r)U(Ào cRÁFrcA lris Polâchini
r Paulo Bezzera
r
^r, DÁ cÂPA Underworld/Shutterstock
or()
Mrolo Mayumi okuyema
frr(),!:To GRÁFrco Do
r,,)rroR^çÂo ELETRôNrC^ Jussara Fino
IRril'ÂRAçÂo BeatrizdeFreitasMorcira
6 As histórias de uma planta
xr.:vrsÀo Luciana Araujo e Carmen T.
íNDrcE REMrsslvo Câú Mattos
S. Costa
uo O vício dos pretos?

48 Diambismo, um flagelo social


Dâdos Intcrnacionâisde Câtalogação na Publicaçâo lcrp) 72 O canabismo dos hippies e dos excluídos
(C,imara Brasileira do Li\1o, sB Brâsil)
ro6 Canabismo, um hábito economicamente viável
liaúça, )ean Marcel cârvalho
Httória da macoíha noBrâsil/rean MarcelCârvalho Frânça
Sãô Peúlô: Tês tstÍelâs. 2or8.

r" reimp., da r. ed. de rolt.


r rg Notas
rsBN 928-8!68491o6-9 ru7 Bibliografia
'.
Canilbir ,. Maconha -
^spectos
sociaij r4s Índice remissivo
l. Maconha - Bnsil - HistóÍia a. Maconha Efêito fisiologi.o
rsr Sobre o autor

cDDJór.29ro98r

indiccs para caráloso sislemárico:


r. Maconhar ,{spEtos sociais: Brasil: HisÍó.ia ,62.29ro98r

Este livro segtre âs regrâs do Acordo ortográfico de Língua Portuguesâ (r99o),


cm vigor desde ro de janeiro de 2oo9.

IRÉS
7 ESTRELAS
It.nlii) d. l.inrdra. aor, 6'andar
r,rr(,: e(n),S,oPâulo, sP
i^1.
Ll.: (rl) r:2.r-rn6/r'87l,re7
cdÍofu n\rIl.rírtiil(mrcstrclas.com.br
wwwr,lir,nnre\rrüs.eoD.br
As histórias de
uma planta

I l.i pclo menos três his_tórias possíveis das relaçõcs cntre as socie-
,l.rrlcs hunranas e o cânhamo, uma planta, provavelmente de
or ilcm asiática, que o renomado botânico sueco Lineu batizou,
, rr r;53, de Cannabts sativa. A mais longa, abrangente e mais bem
,1,,r rrncntada é, sem dúvida, aquela que diz respeito aos seus usos
, ,rrro íonte de fibras para a confecção de tecidos e, postcriormente,
,r prrltir do sécu1o I a.C., para a produção de papel. Das civiliza-
, , r's cluc floresceram na Ásia àqr,relas resultantes da colonização
,l.r  rlórica, passando pelas que prosperaram na Europa, na Áfri-
(,r ( na Oceania, praticamente todas, em determinada altura de
.,
r r.rs cxistências, utilizaram, por vezes em grande quantidade, as
lrlrr'.rs do cânhamo para, entre tantas outras coisas, rrestir as suas

1r,
,ptrlaçÕes, equipar os seus navios com cordas e velas ou oferecer
ros irrtcressados Lrm suporte prático e resistente parâ o registro de
rrrrs cxperiências.r
lr cla China que vêm os rastros mais antigos do seu uso comcr
Írl)rir, rastros que remontam ao neolítico cncontrados em local
rlrrt lrojc íaz parte de Taiwan e passam a scr bastante comuns a

;,.r r tir clc 4ooo a.C. Por volta de zjoo a.C., escritos da região já des-
t,r( iurr, cntre as riquezas que fazem a prosperidade de um Íeino, as
'' r'rr s1:rs plantações de cânhamo".2 Um pouco mais tarde, por volta
,1, , secLrlo t a.C., ainda na China, descobre-se outra útil aplicação
;,,rrrr rr Íibra do cânhamo: a confecção de papcl um suporte leve,

7
rcsistcntc c barato para a escrita. Os indianos cedo também come-
na Península lbérica e por meio dos árabes que teve início na
çrrrarrr a scrvir-se d as frbras da Cannabis, ainda que outros usos da
Europa, porvolta do século xrr, na região de Alicante, na Espanha
PIanta, sobretudo os inebriantes, tenham predominado entre eles. rnourisca, um dos usos mais importantes da fibra do cânhamo no
Dc qualquer modo, a importância do cânhamo na cultura hindu c()ntinente: a produção de papel.
ó significativa - rezam os livros sagrados indianos que o cânhâmo
Da Europa e da África, que nunca mais deixaram de utilizar
estava presente, com o próprio Shiva, no início do mundo -, assim as fibrasdo cânhamo, a planta seguiu, na esteirâ da expansão
como a atuação dos indianos na disseminação da planta e dos seus
marítima europeia, para a América e para as terras do pací6co.
usos no Oriente Médio, na África e Europa.
A própria expansão dependeu em grande medida das fibras e da
A Europa, a propósito, tomou contato com o cânhamo por rnassa de cânhamo, muito utilizadas tanto na produção de velas
pelos menos duas vias: primeiramente, através dos citas, grandes
c de cordas para navios como na calafetação das embarcações.
usuários da Cannabis, que levaram a planta para a Grécia e para a
Ao norte do continente americano, os ingleses começaram a
Rússia - uma exportadora de volumes consideráveis de fibras de plantáJo nas décadas iniciais do século xvrr, sob o governo de
cânhamo para o restante do continente até o início do século xx; Thomas Dale, e os norte-americanos mantiveram o seu culti-
e, mais tarde, pelas mãos dos árabes, que a introduziram na Penín-
vo legal, contando com apoio do Estado, até pelo menos o final
sula lbérica.r)á o grego Pedânio Dioscórdio, em Sobre m atinamédica
da Segunda Guerra Mundial (1945), como parte de um esforço
(zoo a.C.), comentâva que a planta era "muito útil à vida humana, nacional para equipar a Marinha com cordas e outros supri_
pois dela se faziam cordas fortíssimas"a a partir de suas fibras. Os rnentos derivados da fibra do cânhamo. E assim ocorreu mes_
romanos, aindaque nãoa cultivassem em uma escala assinalável-a
rno depois de o rsr ter iniciado, a partir da segunda década do
planta nunca figurou entre as suas principais produções agícolas -, século xx, uma campanha sistemática co4tra o- plantio e o uso
importavam-na em quantidade e utilizavam-na cotidianamente. do cânhamo em todo o país.ó
Daí, por certo, as inúmeras referências à planta e às virtudes de
A Espanha tentou introduzira cultura do cânhamo nas Índias
suas fibras espalhadas pelas obras dos autores latinos - Leão Afri- Ocidentais desde o século xvr, mas sem muito êxito, não obstan-
cano, Aulio Gélio, Galeno, Catão, Lucílio, Gaio Catulo, Plutarco e
tc a crescente demanda da Marinha do reino por suas fibras. por
muitos outros. Plínio, o Velho, em Históría natural (sêctslo r d.C.), volta da segunda metade do século xvlu, Madri chegou mesmo
um dos livros mais influentes entre os sábios europeus interes- a enviar vários especialistas no cultivo e na utilização da planta
sados nas ciências naturais durante pelo menos catorze séculos, para as possessões da América, com a missão de ensinar os habi_
menciona o cânhamo em diversas passagens, em uma das quais lantes lôcais a cultivar e preparar o cânhamo para os mercados
explica ao leitor que se trata de uma planta "extremâmente útil
colonial, espanhol e internacional; providência seguida da reco_
para a fabricação de cordas", que deveria "ser colhida no equinócio rucrrdação de que os üce-reis incentivassem a suâ cultura por
toda
de outono e secada ao yento, ao sol ou na fumaça".t Foi, no entanto,
ir Nova Espanha. Em 1293, a planta desembarcou em Cuba, mas l

It
9
cnorme dificuldade em conseguir sementes, o que apenas pôde
!('r'()u Pouc() interesse; no mesmo período, o cânhamo foi intro-
(luzid() rra Cuatemala; no entanto, aí também não alcançou uma scr contornado graças à passagem de um navio francês pelo porto
pr()dução significativa. Na região do Panamá, tentou-se introduzir carioca. O governador,logo que pôs as mãos nas sementes fran-
o scu cultivo em maior escala no início do século xlx, mas, uma cesas, mandou semeáJas e, ainda que os pássaros tenham comido
vez mais, as iniciativas não vingaram. O mesmo ocorreu no Peru, llgumas espigas, "as que puderam escapar multiplicaram" e foram
cm período anterior, que por muito tempo continuou a importar rrandadas "para a Ilha de Santa Catarina, com ordem para que
a fibra do Chile, onde o cultivo do cânhamo realmente prosperou â sc plantassem".e Infelizmente, as intempéries, a deterioração das

ponto de permitir aos produtores locais suprir as demandas dos scmentes, a inépcia dos colonos e as vicissitudes políticas impe-

movimentados portos do país e ainda exportar a fibra para as tliram que a cultura prosperasse. Uma década mais tarde, em
regiões vizinhas. O quadro, depois dos processos de independên- r782, o sucessor do marquês, o vice-rei dom Luiz de Vasconcelos
cia das possessões espanholas na América, nas primeiras décadas c Souza, importou do Chile z3 alqueires de sementes e também
do século xtx, não se alterou substantivamentc; a parca produção ;rs distribuiu entre os agricultores de Santa Catarina. o pouco

perdurou até o início do século xx, quando acabou por pratica- conhecimento que tinham da cultura da planta e a má qualidade

mente desaparecer na região7- a produção Iegal, bem entendido. tlas sementes, porém, fizeram com que os resultados deixassem

Na porção portuguesa da América, no Brasil, as notícias mais rrruito a desejar.lo


frequentes sobre o plantio e uso da fibra do cânhamo, em espe- Dom Luiz deVasconcelos e Souza, porém, não se deu porven-
cial para as necessidades da Marinha - uso amplamente conhe- . ido e. apesar dos fracassos anteriores. investiu em um empreen-
cido em Portugal, que do século xvlII até pelo menos 19+t editou ilirnento ousado: a criaç ão da Real Feitoria do Linho Cânhamo
manuais agrícolas ensinando a plantar o cânhamo ea extrair dele l rnais bem planejada tentativa de introduzir a cultura da planta

a melhorfibras-, começam a aparecer em meados do século xvrtr. crn larga escala no país durante o período colonial. Instalada ini-
Seu uso nos estaleiros locais é anterior: estrangeiros que passaram t ialmente, em 1783, na região da atual eidade de Pelotas e, mais
pelos portos brasileiros no século xvr referem o uso de cordas e tirlde, em q88, em razáo da produtiüdade das terras e do melhor
velas de cânhamo nas cmbarcaçôes portuguesâs. É. no entanto. cscoamento da produção, transferida para a região de São Leopol-

no descnrolar do século seguinte que o cultivo da planta ganha rkr, a íeitoria chegou a contar com ünte casais de escravos em seu
impulso na Colônia. Em q7z, o vice-rei, marquês do Lavradio, l)llntel - número considerado pelo vice-rci insuficiente pâra os
tentou incentivar a sua cultura no Sul do Brasil, mandando para tllbalhos que devia realizar - e permaneceu produtiva até depois
lá um entendido em seu cultivo e umas tantas sacas de sementes. ,lrr proclamação da Independôncia. Vasconcelos e Souza, em um

Em correspondência enviada à metrópole, datada de r779,omaÍ- k rrrro relatório que encaminhou a Lisboa em r784, explica à admi-
quês, sobre os problemas enfrentados sete anos antes para intro- rislração metropolitana que estava enfrentando inúmeras adver-
duzir a cultura do cânhamo no país, explica que havia, então, uma sirlatlcs para implantar a empresa, mas que, em agosto de 1783,

lo ,l
cuviara par.l il rcgjão ulr inspek)r, conl Ícrrantcntas c sclllclttcs, ti1l,r( iro irl( slirlll, tlcsarltnjos Iro sistcnlil tcproclutivo fctlinino,
"o qual no dia 9 de outubro deu princípio por conta de Sr-ra Majes rr.rlriria c lantos ontros. Um pouco 1.r.rais tarde, no primeiro século

tadc à referida Feitoria".rl Por volta de r796, o cmpreendimento t lrr cra cristà, Hua Tuo, conhecido como o pioneiro da cirurgia chi-

persistia, mas a duras penas. O abandono era tanto quc urrr cstran- ncsJ, utilizou Llm composto da planta, misturado ao vinho, para
geiro, de passagcm pelo Rio de Janeiro no ocaso do sóculo xvtlt, .Ir( s(csiar pacicntes durante suas experiências ciúrgicas.
ao comentâr uma pintura que virâ nas paredes do Passeio Público l'cla mcsma ópoca, os indianos utilizavam o cânhanro no
da cidade, "a vista de uma plantação de cânhamo e da manufatu- ( ()tlrbate a uma vcrdadcira miríade de doenças: nevralgia, dor de

ra de cordas", destac<.ru que a planta era "cultivada sobretudo nos ,.rbc'ça, dor de dentes, reumatismos, inÍlamações diversas, raiva,

disritos meridionais, perto de Santa Catarina",r2 mas que muito nclvosismo, problemas respiratórios, diarreia, cólicas, falta de apc-
pouco r'ncentivo vinha sendo dado à sua produção. Cerca de duas rirc, retenção de urina, infecçÕes de pclc c, rccorrendo aos poderes

décadas mais tarde, em r8u4, a agora ln.rperial Feitoria do l.inho supostamcnte afíodisíacos da planta, problemas rcprodutivos. Da
Cânhamo viu finalnrente as suas instalações darem lugar à colônia lrrclia, as receitas à base de cânhamo migraram para a Europa, a
alen.rà de São Leopoldo c o cultivo do cânhamo ceder espaço para África eo Oricntc Médio. Os árabes, a propósito, conhcccdores de
outras culturas. rrma larga gama de mcdicamentos que o incluíam - o renomado

Depois do dur-adouro, mas oscilante, empreendimento cle sribio Avicena menciona-o em diversas passagens de seus tratados

dom Luiz de Vasconcelos e Souza, a cultura do cânhamo no Brasil rrédicos , introduziram o seu uso terapêutico na Península Ibéri-

ea utilização da sua 6bra nunca mais tiveram apoiQ governamen- cr, onde médicos mouros, leitores das obras de Avicena e de outros
tal substantiyo e, malgrado una iniciativa aqui e outra acolá ao iompêndios da época, indicavam-no como diurético, digestivo,
longo do século xrx, especialmente ao longo das primeiras déca- para amenizar a dor de ouvido e para "acalmar o cérebro".rr Reza
das, não voltaram a ter expressão no país. Finalmente, em r9ló, na urr tratado sobre o haxixe, escrito por Ibn al-Badri em torno de
esteira de uma iniciativâ internacional, o cultivo da planta ea utili- r4ó4, quc o poeta Ali ben Makki, em visita a Bagdá, recomendou
I
zação dos produtos dcrivados de sua Íibra foram proibidos no país. ir( ) filho do tesoureiro do calilado que experimcntasse haxixe para
Hâ'porém, ainda uma scgunda história possível das relações combater suas crjscs epilépticas. Depois de alguma rclutância, o
mântidas pelas sociedades humanas com a Cannabís sariva história rapaz aderiu ao tratamcnto e viu-se curado do seu mal; contudo,
um pouco menos documenlada, mas igualmente Ionga e impor- tliz a lenda, não mais conscguiu ou desejou abandonar o consumo
tantc: aquelâ referente ao uso medicinal da planta. Aqui, também, rla droga.ra

os chincscs foram pioneiros: suas receitas à base dc cânhanro, A Europa, e por meio dela a América, conheceu as proprie-
na Lradição oral, são anteriores a zooo a.C. Os registros cscritos illclcs módicas do cânhamo através dos indianos, a leste, e dos
começam a aparcccr no século I a.C., nos quais a planta é reco- rlr'abes, a ocstc. Pcdânio Dioscórdio, aquele quc, cm Sobre matéria

mendada para combater inúmcros males: dores reumáticas, cons- rrródica (século u a.C.), via o cânhamo como uma planLa "utilíssirxâ

I2 1l
cordas, t;trlrta década do século xlx que a medicina do Velho Mundo pare-
l)ara il humanidade", com a qual se fabricavam excelentes
( c tcr realmente descoberto as possibilidades curativas do cânha-
salicntava também que suas sementes, quando tonadas e consumi-
rrro. Dois estudos então lançados com espaço de meia década, um
clas cm grande quantidade, "diminuíam o esperma", mas que o suco
nl França, outro na lnglaterra, foram decisivos para tal inflexão.
dc suas partes verdes era "ótimo para a dor de ouvido".t5 Plínio, o
() cstudo pioneiro é assinado por William O'Shaughnessy, um
Vclho, em HislóÍia natural, dizta glue o suco reduzia o esperma, mas
ilhndês professor de química da Faculdadc de Medicina de Calcu-
que a pasta de suas sementes esmagadas "fazIia] sair dos ouvidos
tr1. Em r839, O'Shaughnessy publicou, em Átas da S ociedade Médica
os vermes e os insetos que entraram ali".'o O seu suco podia ser
sua raiz,
,t [:ísica de Bengala, rm pequeno ensaio intitulado "Caso dc tótano
usado também para regularizar as funções intestinais, ea
crrrado com preparação de cânhamo (Cannabís índica)". tsm 1843,
quando fervida na água, era excelente para atnenizar as dores nas
t'r:tre seus artigos cientíÍicos publicou "Notas sobre a preparação
articulações ea gota, destacava o mesmo Plínio.
rlo cânhamo indiano otsgunjah (Cannabis ináicc)", no qualse dedicava
Oito séculos mais tarde, mostrando a persistência do cânhamo
l ayaliar os impactos do cânhamo sobrc o organismo de animais -
nas receitas médicas do Velho Mundo, Hildegard von Bingen, uma
siio descritas experiências com cachorros - e homens, bem como as
religiosa beneditina alemã, que üveu entre 1o98 e 1179, registrava
possibilidades de aplicação médica da planta. O professor irlandês,
em Physica (n5r-8), em um capítulo intitulado "Do cânhamo", que â
scmpre amparado em relatos de casos, sugeria que a planta poderia
semente da planta era um excelente alimento e promoüa a limpe-
A planta, quando ingerida,
scr utilizada com sucesso no ratamento do reumatismo, da hidro-
za do estômago, retirando o seu muco.
tinha propriedade de lôbia, da cólera, do tétano e da convulsão (a infantil, inclusive); mais
segundo Hildegard, era de digestão suave e a
irnportante, porém, do que a lista de males que propunha curar
"diminuir os maus humores e aumentar os bons". Haüa, contudo,
era"ftaca da com a Cannabis foi o fato de O'Shaughnessy ter introduzido a erva
inconvenientes acarretados pelo seu uso: se a pessoa
c as suas possibilidades terapêuticâs no meio científico europeu.l8
cabeça e ftinha] a mente vazia", comer cânhamo causava dor de
cabeça e, naqueles que padeciam de doença grave, dorno estômago.
A comunidade médica ainda discutia as sugestôes de
O'Shaughnessy quando veio a público na França, em r845, o longo
A monja ensinava, ainda, que "o tecido de cânhamo cura [va] úlceras
c detalhado estudo do doutor ).-). Moreau, de Tours, intitulado Do
e feridas abertas, porque o calor do cânhamo [era] temperado".rT
lmxixe e àa alienação mental: estuÀospsicoÍógicos. O destacado alienista,
Receitas com cânhamo contra males do estômago, dores
tliscípulo de Esquirol-a quem dedica o liwo -, abre um campo todo
diversas, reumatismos, doenças dos nervos e outras pequenas
rrovo de possibilidades para o estudo dos usos médicos da Cannabis:
mazelas do corpo e do espírito persistiram entre médicos, cirur-
o da doença mental. O liwo dc Moreau - que já havia cscrito um
giões, boticários e práticos europeus por todo o longo período
que vai do século xIII ao xvlII; são referências modestas, incom- ensaio sobre o haxixe em r84r trazia aos interessados uma extensa
lr istória do uso inebriante e terapêutico da Csnnabis c comentava
paráveis com as informações disponíveis sobre, por exemplo, o
l()ngamente diversas experiências, próprias e alheias, com a droga,
uso médico do ópio no mesmo período. Foi somente a partir d-a

l5
14
que se podcriam retirar das alucina- rlirrrinuem as pesquisas científicas sobre a planta, que serão
, .lvirliilnrk, o\ cnsinamentos
para a comPreensào dos denominados lt'torladas somente a partir de r9ó4, dcpois de longo período
I r,n'. pr,',Jtrzidas por ela
"dclír'ios patológicos".re rk ostracismo. Âs razões da retomada são conhecidas: de um lado, os

Obras e artigos como os de O'shaughnessye Moreau puseram ,rvlnços técnico-científicos, que permitiram a identifrcação da cstru-

o cânhamo na pauta das discussões científicas do Ocidente - a r rrla química da Cannabis c criaram condições para que os pesqui-
s.rdores isolassem os seus componentes e detcrminassem com um
América aí incluída - e ampliaram muito o seu uso no meio far-
macêutico. Ao término do século xtx, a Cornabis constava na lista pouco mais de precisão as suas propriedadcs medicinais; de outro,

de componentes de um sem-número de medicamentos, muitos


rrs rrudanças comportamentais ocorridas ao longo da década de

produzidos por prósperas indústrias e disponíveis, sem prescri r,ríro, que relançaram a maconha, seu uso e sua proibição em deba-

das farmácias de diferentes tt nas sociedades ocidentais. Essa retomada médico-científica dos
ção médica, diretamente nos balcões
.rnos r96o ganhou, vale destacar, um impulso decisivo na década de
cidades do mundo, como os populares digestivos Chlorodyne e
r,r,)o, quando cientistas norte-americanos identificaram a presença
Corn Collodium, manufaturados pela Squibb Campany; o diges-
úvo Casadein e o Utroval, um remédio para cólicas, ambos pro- ,lt receptorcs de canabinoides no cérebro humano, isto é, receptores

duzidos pela Parke-Davis; os populares tâbletes sedativos Doctor lrloduzidos pelo próprio corpo humano capazes de reconhecer as
\ubstâncias psicoativas derivadas do cânhamo.22
Brown's; os xaropes compostos Tolu, Lobelia, Neurosine e Cura
Tosse em Um Dia, fabricados pela Eli Lilly; e os famosos cigarros de
O Brasil, evidentemente, não pâssou imune aos poderes
Canncbis ("cigarros índios", no Brasil), muito receitados parâ com-
cumtivos do cânhamo, mas, como revela a pouca documentação

bater a asma, vendidos pela Grimault e Cia e distribuídos por uma rlisponível, somente começou a se servir deles no século xrx. Os

centena de representantes espalhados pelo mundo, até mesmo no rmnuais médicos da Colônia não mencionam a planta. A abran-
Brasil.20 Em r898, o conhecido e respeitado manual médico Enci- r('nte Coleçâo de úríos receitas e segredos particularcs dos principais

franco-americano Charles lnticas da nossa Companhía, uma compilação de receitas médicas


clopédia Analítíca dc Medicína Pratica, do
qlue a Cannabís jcsuítas que circulava, em forma de manuscrito, pelas colônias
Eucharist dc Medicis Saious (r852-r929), assinalava
era então utilizada para a preparação de dezenas de medicamentos' lx)rtuguesas de além-mar, não traz uma única fórmula que conte
t orrr o cânhamo entre os seus ingredientes.2r A menção pioneira
os quais poderiam ser divididos em quatro categorias: os sedativos
e hipnóticos; os analgésicos; os destinados ao aparelho digestivo; is propriedades médicas da planta em solo brasileiro coube a um
recomendados para o aparelho reprodutor- sobretudo afro-
(.\r [angeiro, o naturalista austríaco carl Friedrich Ph. von Martiu§.
e os
() scu conhecido FloraBrasiliensis (t853) dedica um longo parâgrafo
disíacos e estimulantes.2l
Depois da segunda década do século xx, porém, à medida i { irnnabis que encontrou no Brasil, uma planta muito bem aclima-
t.rtla aqui e dotada, segundo o botânico, de excelentcs propriedades
' que a proibição de seu plantio e consumo avançam pelo mundo, o
uso médico da Cannabis no Ocidente diminui e, simultaneamente,
tlr lpôuticas (calmante, desintoxicante, antiespasmódica etc.).'za

t7
t6
legadas por Mar- rcraliva, culminou na proibiçâo definitiva de squpla4tio
Ao contrário, porém, de outras informações r e uso etr!

t ius cuia obra teve forte


inÍluência sobre a nascente intclectuali- r() t6. scnr que se tiyessem desenvolvido no país quaisquer estudos
aquelas referentes ao cânhamo parecem
não ter .r pltÍundados sobrc suas propriedades médicas, salvo uns poucos
dade nacional -,
Prova disso é a inexis- lt'srrrnos da bibliografia estrangeira a respeito do tema e breves
gerado grande interesse entre os brasileiros'
ou aos [árma-
tência de menções às suas propriedades curâtivas nrcnçõcs às propriedades da erya contidas em obras dedicadas à

cos dela derivados nas centenas de teses médicas


defendidas nas l.rr nracopeia local, como O que vendem os ervanários da cidade de São
ao longo
faculdades de medicina de Salvador e do Rio de laneiro l',rrrlo (r9zo), do botânico Frederico Carlos Hoehne, Not as sobre plan-
à (rgzr), de Mcira Penna, ou o Catalogo de extratos juidos
do século xtx. Embora o mercado abundasse de medicamentos t,rs lrrasileiras
cigarros Araijo (t93o).lsso não obstante, como men-
base de cânhamo - dos digestivos aos incontornáveis ,los Laboratórios Silva
nos jornais e
para asma, como indicam os anúncios publicados , ionado, a venda livre e regular, até as décadas iniciais do século
à planta e aos r. do cânhamo de diversos tármacos à base dessa planta, cigar-
revistas da época -, uma menção mais consistente
r. e

seus impactos sobre o corpo e a mente


humanos aparece somente r os inclusivc, em farmácias, ervanários e íeiras livres do país. Os

na edição de r9o8 do Formulário e Guia Médico' do méd\co polonês ,1,


'trt
ores brasileiros parecem ter optado por out ro caminho: con-

emigrado Pedro Luiz Napoleão Chernoviz' O


livro' um sucesso ( crtrar os seus esforços no combate - co.mbate moral, ainda que l

dezenove edições entre 1843 e 1927' traz


uma lon-
d. p-úbli.o, .o. tr avestido de rigorosa avaliação científica - a um hábito derivado

ga àescrição da planta e de suas propriedades'


com destaque parâ ,kr uso da planta que lhcs parecia extremamente danoso para o

ãs "Debaixo da sua influência"' adverte Chcrnoviz' lr rt rrro da civilizaçào brasileira, Q canabismo.


"mbriagantes. o
"o espírito tem uma tendência às ideias risonhas"' lnfelizmente' Eis, a propósito, a te_rcgir4=história que se pode contar das

,uto. é pou.o p.ódigo ao comentar seus usos médicos' interes- t lações que as sociedades humanas mantiveram com o cânha-
de preparação do nr(), uma história, se comparada às anteriores, extremamente
sandolhe muito mais dissertar sobre os modos
seus olhos' lllcfeita
haxixe e os impactos de seu consumo' o qual' aos
sobre e mal documentada: a do canqb_ismo, isto é, a do hábito
"marasmo e imbecilidade"'2t consumir - bebida, comida ou fumada - pelas suas
lançava os usuários em um estado de a Cannabis
r.lc
do
Chernoviz, a bem da verdade, não era um entusiasta plopriedades derivativas. É essa terceira história, especialmente
a planta e sobre parte sucedida no Brasil, que o leitor irá conhecer em detalhe
cânhamo; ao contrário, suas considerações sobre rr

inebriantes - vinham rros próximos capítulos.


os seus efeitos - terapêuticos e, sobretudo'
da
engrossar um coro que aumentou crescentemente ao longo
(médicos'
prlmeira metade do século xx: o daqueles estudiosos
botânicos e antropólogos) que viam o hábito
luristas, agrônomos,
da raça negra para
de consumir a Camobís como um legado nefasto
O gradativo crescimcnto dessa percepção'
marcadamente
o Brasil.

r9
r8
O vício dos
pretos?
() hábito de consumir a Cannabis como um derivativo nuncâ gozou
rlc muito prestígio e menos ainda de divulgação nas sociedades
rrcidentais modernas, dos dois lados do Atlântico, até pelo menos
,r início do século xrx. Isso não significa, nem de longe, que o cana-
lrisnro não seja um velho conhecido do Ocidente. Já o patriarca
tkrs historiadores, Heródoto (século v a.C.), comentava que os
, itas, pastores nômades vindos da região da Pérsia, apelavam com
I rcquência aos poderes inebriantes d a Cannabis, tomando as suas

\cnlcntes e lançando-as sobre "pedras aquecidas ao fogo". "Quan-


tlrr começam a queimar", conta Heródoto, "desprendem grande
,lu.rntidade de vapor 1...]. Os citas expôem-se a esses vapores e. sen-
t irrtlo-sc atordoados, soltam gritos e fazem imensa algazarra".r Oito
sóe ulos mais tarde, o médico romano de origem grega Cláudio
t ialcno (rr9-zr7), no seu tratado Sobre as propriedades dos alimentos,
nrt'rrcionava que muitos romanos ricos e requintados costumâvam
rcrvir doce de cânhamo aos seus convidados, de modo a promover
.r rrlcgria e o riso entre eles.2 O canabismo, no entanto,iamais des-
Ír rrtou de popularidade na cultura greco-romana, que parcce ter
sitkr, no que tange a derivativos, muito mais simpática e deyotada
,i crrrbriaguez do vinho.
 Europa moderna, depositária do gosto da Antiguidade pelo
vr rr lro c por outros fermentados, também não demonstrou grande
crrrlrrrlgação pelo hábito de consumir Cannabis. Há, sem dúvida,

27
de um gosto cânfora de Bornéu, outros âmbaÍ alguns ópio; e estes
nrcnçõcs à prática, mas são poucas c indicam tratar-se
e e almísca1 e

cle livros dcrivados são os Mouros que muito podem; e o pror,eito que disto tiram é
cxa)tico, estrangeiro. Duas delas, ambas saídas
da expansão marítirna, são ilustrativas A mais
conhecida vem clc cstar íora de si, como enlevados sem nenhum cuidado e prazen-
Pantagruel \r53 z) ' escri - teiros, e alguns a rir um riso parvo; e já ouvi a muitas mulheres
um a viagcm imaginária, aquela de Garg futtua e
parte das aventuras que, quando iam veralgum homem, pera estar com chocarreiras e
ta por Frânçois t{abelais (l+q+-rss;) Â tcrceira
inteiramente dcdi- graciosas, o tomavam. o que nisto se conta para que foi inventado,
clo herói PantagruelÍaz trôs pequcnos capítulos
E

sua preparação para éque os grandes capitães, antigamente, acostumavam embebedar-se


caclos ao cânhamo, sua aparôncia, seu cultivo,
de pan tagruelíofi' com vinho, com ópio ou com este bangue para se esquecerem de
o consumo e suâs virturles. Batizacla pelo narrador
a "apesar do seu cheiro forte e pouco agradável aos narizes
planta,
seus trabalhos, e não cuidarem, e poderem dormir; porque a estas
pois - destaca
dclicados", era indispensável nas viagcns do herói'
pessoas as vigílias atormentavam. E o grão Sultão Badur dízia a
"efeitos adnriráveis' Martim Afonsode Sousa, quem ele muitogrande bem queria elhe
o narrador possuía muitas virtudes e tantos
a

que, se tivesse sido cm suas qualidades conhecida'


quando as árvo- descobria seus segredos, que quando de noite queria ir a Portugal,

res fizeram cleição de um rei dos bosques


para regêJas e dominá- ao Brasil, à Turquia, àÂrábiae à Pérsia, não íazia mais do que comer
r
dos votos e sufrágios" um pouco debangue; este fazem eles em eletuário, com açúcares e
-las, cla sem dúvicla tcria tido a pluralidadc
por Car-
A outra menção vem de uma obra publicada em r563 com as cousas acima ditas, a que chamam maju.a
pessoal de Mar-
cia da Orta hsor-68), iudeu português e médico
dos simples e drogns [e colsas A situação nào mudaria muito dois séculos mais tardc: o cana-
tim Afonso de Sousa. O scu Colóquío
em quc morou l,isrro mantinha-se presente no Velho Mundo, mas como um hábito
medicinaisl áa índia' escrito durante as três décadas
um
e nedicou em Goa, traz um longo diálogo sobre o bangue' , xritico, cultivado com frcquência somente por gentes de lugares
indianos (listantes ou por alguns ocidentais mais excêntricos (como mari-
eletuário à basc de cânhamo c outras especiarias' que os
Llsavam para lelaxar e sonhar' Trata-sc de uma
das rrlrt ilos c aventureiros). Daí, por certo, a famosa Encidopl dia 17y-8o)
comumcnte
legadas por rlt l)iderot e DAlembert consaglar dois verbetcs à Cannabís: um
mais cletalhaclas c curiosas descrições do canabismo
um europcu até, pelo mcnos, o início do século
xlx: rr r,rior, com cerca de onze páginas, intitulado "cânhamo" lchant're,
, rr Ír-ancês), dedicado a descrever o seu cultivo para a produção de
dizei-me como se faz este bangue' para que o I rlr r:rs c o seu uso em alguns mcdicamcntos; e outro, com menos de
nu,tNo: Pois assim é,

tomameaqueleva?
rrrci:r página, intitulado "banguc ou cânhamo da Índia", no qual o
destas folhas pisadas e às vezes da semente; e rr rtor clcstaca quc a planta, cultivada no Oriente, é muito semelhan-
onrx: Fazem do pó
,

e faz estar fora tc rro cânhamo cultivado na Europa, mas utilizada para outros pro-
alguns lhe lançam areca verde, porque embebeda
e maçã' que tem rsitos: "Os inilianos comem as suas sementes e folhas pala excitar
de si; e para o mesmo the misturam noz-moscada 1,r

cravo' e outros ,rl() vc[éreo; tomado com areca, ópio açúcar,lcva ao sono; com
o mesmo efeito de embebedar, e outros the lançam
( e
'

13
))
crcrrrpkr, todos participantes da conhecida tentativa írancesa de ins-
agradáveis;
canfora, maçã, cravo e noz-moscada, produz sonhos
t.rllrl rrrna colônia na região da baía de Guanabara, a França Antár-
nristurado ao âmbar, ao almíscar e ao açúcar, desperta"'5
rit a (rs55-67), referem-se ao peÍi, amplamente utilizado pelos índios,
na
O canabismo segue por caminhos ligeiramente diversos ( llr razão de suas ürtudes medicinais, nutritivas e inebriantes. Léry
o hábito
América Portuguesa, no Brasil. Poraqui, desde muito cedo' (,r)t
( que os nativos colhiam a planta em pequenas quantidades e a
o que não
aclimatou-se e deixou de scr exótico, de ser estrangeiro' srr ;rvarr em casa. Depois de secas, pegavam quatro ou cinco folhâs
e menos ainda
significa que tenha gozado degrande prestígio social
, t rrrolavam "em uma palma como se fosse um cartucho de especia-
de vasta dilrrlgação. O sociólogo pernambucano Gilberto Freyre'
r irr"; acendiam a ponta mais fina e punham "a outra na bocâ para tirar
que' outrora' a
em Norleste,livro publicado nos idos de 1937, dizia
.r ltrrnaça que, apesar de solta de novo pelas ventas e pela boca, os
porno
culura da cana-cle-açúcar, por ser sazonal e ocuparo colono srrstcnta a ponto de passarem três ou quatro dias sem se alimentar"./
para outro
máximo duas estações, deixava um imenso tempo livre
Ao longo dos séculos xvn e xvut, quando a vida nas cidades
passou pela
cultivo, o do ócio. Curiosamente, pondera Freyre' não
rl,, litoral ganhou corpo, raro foi o visitante estrangeiro que, de
cabeça da maior parte rios empenhados colonos
que o tempo não
um pouco l)ir\sagem por um dos grandes portos brasilciros (Rio de )aneiro,
consumido com a cana poderia ser utilizado de maneira s.rlvador, Recife ou Santos), não teceu um comentário qualquer
mais "produtiva", plantando arroz, feijão ou quaisquer artigos de .'r,hrc o tabaco local, um tabaco de boa qualidade, fácil de ser
o colono
subsistência. Ao contrário, em paralelo ao plantio da cana'
t rrcontrado nâs casas comerciais, barato e muitíssimo consumido
para o
resolveu dedicar-se a produções voltadas para o devaneio'
agrado de todos; a lrclos habitantes, que o apreciavam, como salientou o inglôs)ames
escape: a indústria da aguardente, produto do
Iirckcy, em l8ol, "na forma de charutos e de rapé".8 Antes dele, um
cultura do tabaco, artigo indispensável para preencher as infindá-
\rculo antes, em 17I, AndréJoão Ant onil, em Cultura e opulência no
e a cultura
veis tardes de calor e enfado dos senhores de engenho;
iiriisil, abria os seus comentários sobre a cultura do tabaco no país
erva supos-
do cânhamo, da maconha (um anagrama de cânhamo)' ()rl uma nota reveladora da importância que tinha então o pro-
r
mmcnte apreciada pelos "pÍetos"6 e pela gente pobre' que precisava'
tlulo no mundo: "O tabaco tem feito [o Brasil] muito afamado em
digamos, relaxar, pois, a6nal, eram "os pés e as mãos do senhor dc
r(xlas as quatro partes do mundo, nas quais hoje tanto se deseja e
engenho". onr tantas diligências,
t e por qualquer via se procura".e
colo-
Da tradicional cachaça e do apreciado tabaco o passado
Da aguardente de cana - que conta com centenas de designa-
o preparo'
nial legou-nos muitas informações, não somente sobre
1r,r's na língua portuguesa - e do hábito de consumi-la restarâm
sobre
interesse e valor comercial de tais produtos' mas tâmbém
.rincla rnais notícias. Há descrições de seu preparo, de seu consumo
os usos recreativos que os colonos faziam dcles'
Do tabaco ou
potum' l,r'las tripulações dos navios, da facilidade com que era encontra-
petume (betum, pe tema, peÍi, petigma' petimo, pitima' pítuma'
,lrr rro comércio local, dos lucros que propiciava e, sobretudo, dos
prtur;, por.*".plo, há notícias constantes, que remontam ao iní-
( \( essos a que eram levados os seus apreciadores mais extrema-
cio da colonização. André Thévet, )ean de Léry e Nicolas Barré' por

25
24
dos, que não eram poucos. Há noticias de tais excessos por todos ,r, r rprc tudo indica desconheciam a Cannabis e o canabismo até os i

os lados: dos célebres pileques do poeta Gregório de Matos à his- stlcu los xvt e xvlr. Já os africanos
ao menos alguns daqreles qu. /
-
tória picante - contada pelo padre Cepeda, emy64- de um jesuíta r it,r.rrrr para o Brasil- eram conhecedores da Cannabis e devotados,

teólogo do colégio da Bahia que, todas as noites, "vestido de mari- ,ro r anabismo. O gosto por consumir a planta em busca de seus]

nheiro", saía para beber cachaça, armar confusão e se encontrar t Ícitos inebriantes era bastante antigo entre eles, em especial no
com "mulheres perdidas".'o r r(,rlc do continente africano,
Não por acaso, muitos daqueles visitantes quc notaram quão O canabismo, ao que parece, penetrou na África por volta do

apreciado era o tabaco no país observavam também que os brasilei- ',r ulo l, provavelmente através da Península Arábica, levado por
ros consumiam copiosamente "uma aguardente forte e nociva para , rrlavanas de comerciantes árabes. A região do Magreb, sobretudo
a saúde que, em razão de seu preço, estava ao alcance dos indiví- o lrl:ito, aderiu ao consumo do haxixe - um modo de preparar a

duos de fortunas modestas"rr - como explicou, em r8o3, o mencio- ( . lnírbis para ser consumida como iguaria -, âs regiões central e

nado )ames Tuckey. Perceberam, ainda, que era comum a briga de \u l do continente, ao contrário, optaram por consumir a erva res-

embriagados nas cidades brasileiras, onde todos andavam armados scc ada, curtida e fumada em cachimbos.l2 Ao sul, a propósito, a

de adaga e espada. Apesar de tais problemas, contudo, o sucesso , rilcsão ao canabismo foi mais lenta e târdia, entre os séculos xrrr e

que a "pinga" alcançou na Colônia foi tanto que, nas primeiras déca- r v r. As caravanas comerciais que, saídas do Magreb e da Península

das do século xlx, época de intenso nacionalismo, o üajante francês ,\riihica, atravessando o Sudão ou a Etiópia, alcançavam aZâmbia
Saint-Hilaire registrou que abebidajá havia se tornado uma espécie r' ;rs regiões vizinhas sem dúvida ajudaram a propagáJo. Mas não

de "patrimônio nacional" e que os patriotas a tinham como um st' dcve negligenciar também o papel dos marinheiros portugueses
símbolo do espírito de independência que arrebatava o país. r rt ssa propagação, pois trouxeram o hábito do canabismo da Índia \

Ao contrário do que ocorreu com o gosto pela cachaça e pelo co difundiram nos portos de Moçambique, de lá atravessando o l

tabaco-os dois "primos ricos" do cânhamo por aqui -, o canabismo, , irbo da Boa Esperança, pelos portos de Angola e de outras regiões

apesarde serum hábito precocemente consolidado no Brasil, deixou l,;rrrhadas pelo Atlântico Sul, onde a cultura do cânhamo se adap-
' por.o. ..rt.or. É di{icil dcterminar ao certo quem o intlo{ugr11na t;rva maravilhosamente.

cultura local. Os portugueses, como atesta o citado Garcia da Orta, A "autorial da intro útção da Cannabk e do canabismo na Amé-
o conheciam, por meio do contato tanto com a Índia como com r ir rr Portuguesa
é, pois, incerta: os africanos, para cá trazidos como

os mouros povo consumidor de haxixe - instalados na Península csclavos a partir da metade do século xvl, conheciam a planta e
-
Ibérica. O mesmo Orta informa, também, que muitos homens do .rl)r'cciavam seus efeitos inebriantes; mas muitos marinheiros por-

mar portugueses eram adeptos do hábito, homens que transitavam IuÍtucsesJ em particular aqueles frequentadores das carreiras da

entre a índia, a África, o Brasil e Portugal. os indígenas da América lrrtlia, também eram adeptos do canabismo e conheciam a cultura

do Sul, ao contrário, usuários do tabaco e da aguardente de milho, ,l,r ( irnnabis. Isso, contudo, importa pouco, já que foram sem dúüda

26 17
os africanos e seus descendentes que consolidaram o hábito
do t.rvrr llgrmr cânhamo destinado à indústria de cordas e velas -, para
, rpliclr'-sc sobre um caso comprometedor, em que o acusaram de
canabismo na sociedade local. Foi a eles que os brasileiros grada-
\r.rI n]ctido.
tiyamente associaram o gosto pela "diamba" (bangue' maconha' Pesava sobre o músico português a acusação de que
(

''( \r.rvl chumbado de aguardente


fumo de Angola, pito de pango, riamba, liamba etc') e seu consu- e depitar e se deitou na cama com

mo regular, recreativo e relaxante; eforam eles que os "doutores" r'.rr i, rs rapazes músicos, por muitas vezes". Em tais ocasiões, sur-

(psiquiatras ejuristas) do início do século xx, ao promoverem um l,r , r'rrtlcram-no "com brancos desonestos, fazendo pulsões com as

combate feroz ao canabismo, resolveram culpar por proPagar


o n r. r( )s c outras yezes entre as pernas dos ditos rapazes, e foi no peca-

"nefando vício" pela sociedade brasileira' ,1,, tlc sodomia agente e paciente com o pardo Valentim Pereira".lr

Por certo, é também em razão de se ter consolidado na


Amó- I rr r r7ZZ, o mesmo Santo Ofício, dessa vez em Lisboa, recebeu uma

rica Portuguesa com um hábito de escravos e de gente pobre'


par- ,k rnincia proveniente de ltapecerica da Serra, lugarejo próximo à

celas da sociedade com pouco acesso às leras e a outros


modos , ir lrrrlc de São Paulo - uma região em que também se tentou plan-

registro de suas práticas, que restaram, malgrado sua coti- r,rl o cânhamo comercialmente até pelo menos a metade do século

diana presença no meio dos colonos, pouquíssimos rastros


do r rr , acerca dc uma parda, de nome Brígida Maria, que, em com-

canabismo na cultura local. Os culturalmente brancos e letrados l,.rrrhia de seu amante, natural de Angola, andava pelas imediações

poderiam, sem dúvida, ter dedicado maior atenção a uma prática ,l,r t idade promovendo festanças, durantes as quais dava uma erva
rir os participantes aspirarem o cânhamo em forma de rapé,
tão populâr, mas tudo leva a crer que o hábito ou vício do cana- t,.r -
tornou um problema social digno de atenção e rr r rito provavelmente - que os deixava "absortos e fora de si".ra
bismo somente se

menção a partir das décadas iniciais do século xlx, quando' sob Uma nota mais indicativa de que o canabismo há tempo se

alegação de que a C annabis afeÍava o comportamento do escravo'


,
'rrsolidara na sociedade brasileira e começava a tornar-se
, um
tornava-o por vezes violento e comprometiâ o desenvolvimento l,lrhlcma social digno de atenção irá aparecer, como referido,
as primeiras ,,i,n)cntc na terceira década do século xrx. Em outubro de r83o, a
de suas atividades produtivas' começaram a aparccer
proibições municipais à venda e ao consumo do "pito de pan-
t .rrrrl|a Municipal do Rio de )aneiro, em uma atitude inédita no

go". Proibições ainda tênues, que permaneceram, em larga medida' llr.r\il. cstabelece no sétimo parágrafo das suas posturas a seguinte
rrrrt ldição: "É proibida do pito do pa_ngo, bem como
letra morta até as décadas iniciais do século seguinte' a venda_e-uso

Portanto, até pelo menos r83o, há somente referências espo- .r r , rnscrvação dele em casas públicas; os contraventores serão

rádicas ao canabismo na Colônia, sempre relacionadas a delitos rr rr rllrrrlos, a sabcr: o vendedor em zo mil réis, e os escravos e mais

morais ou religiosos. Em 1749, porexemplo, um tal Antônio do Car- 1,, que dele usarem, em oito dias de cadeia".rt A atitude dos
's,,rrs
mo, natural da [lhaTerceira, no arquipélago português dos Açores'
r ,UIirri'rrios cariocas, que resolveram pôr limites ao canabismo

compareccu diante do comissário do Santo Ofício da Comarca da


, I scr r licado da população escrava e de outÍos grupos, não foi iso-

atual cidade de Mariana, em Minas Gerais - lugar em que se plan- l,r,l.r. l'rrlu ficarmos em poucos exemplos, a Câmara de Santos, nas

29
z8
187o, também proibiu a "venda e uso \\ rr(Íícias propagadas pelos orientalistas vindos do Egito dcram iní-
suls posturas municipais de
, lo construção de um repertór'io intelectual, literário e popular sobre
rlo pito de pango e outrâs substâncias venenosas para cachinrbar
.r

mil róis e tlroqa que teve vida longa na cultura ocidental e enome impacto na
c lumar". Aos transgrcssores, irr]punha uma multa dc ro
. r

lrt r slrcctir.a que os brasileiros construniam da Cannobis: uma planta


quatro dias de Íeclusão. Câmpinas, um pouco mais tarde' em 1876'
lrrc r rrriosamcntc lhcs cra muito mais familiar que aos europeus.
seguiu o mesmo caminho, e como cla dezenas de outras cicladcs
r

Iim linhâs gerais, as notícias vindas do Egito, espccialmcntc as


Rrasil afora tomariam, ou já tinham tomado, mcdida semclhante'r6
,,pagadas pelo orientalista Silvestre de Sacy em r8o9, no polô-
ALlmentara o canabismo ou aumentala a percepção sttcial de uma 1,r

população? n ri( ( ) e posteriormente criticado artigo intitulado "Sobre a clinastia


prática há tcmpo disseminada em meio à
,1,,s Âssassinos e a origem de seu nome",r8 difundiram na Europa
o século xrx. no hemisfério norte, não se pode esquccer' é
rrr r rrr clupla tradição sobre o uso da Cannabis: de um lado, o canabis-
marcado por uma súbita e intensa descoberta do canabismo'
o promovia sonhos deliciosos e conduzia o praticante a cstados
conhecicla. Em r8oo, as tropas napoleÔnicas instaladas
rrr
 história é
,ll t or.rsciência inusitados, afaentes e úteis para os "homens de
no Câiro e em outras regiões do Egito, impossibilitadas de consu-
, rpilito"; de outro, induzia a comportamentos antissociais, a con-
rnir álcool em un.ta área muçulmana, mergulharam no consumo
A situação ,lrrtls imprevisíveis, por vezes extremamente impudicas e violen-
de haxixe, droga popularíssima entre a população local'
chegou a tal ponto que Napoleão, em outubro daquele ano'
viu se r. r\ como rezaya a história da dinastia dos temidos Assassins, cujo
rc Sacy, de modo torto equivocado, segundo os orientalistas,
baixar a seguinte proibição: "Está proibido' em todo o
rr,,r e
obrigado a
llrvcntâ, a partir de uma história narrada por Marco Polo e de uma
Egito, usar certas bebidas n.ruçuJmanas feitas com haxixe' assim
fumaça de semcntes do haxixe"'1/ Poucos efcitos teve
, I r ivaçào de haschischin (comedor de haxixe).
como inalar a
que À dupla linhagem inaugurada na França, no início do século
a rcstriçào cm um país em quc, de nrodo muito mais intenso
\ r\, prosperou rapidamente. Aqucla quc associava o canabismo
no Brasil onde o canabismo competia com o gosto pelo álcool
.r, , i,r io, à violência, à luxúria, enfim, aos comportamentos antis-
e pelo tabaco , o hábito de consumir haxixe estâva arraigado no
',, r irris fêz carreira entre médicos, psiquiatras, políticos e juristas,
cotidiano da poPulação.
(lrâ. não somente os soldados continuaram a consut.nir haxi- .rrr ntilrdo, em todo o Ocidente, o seu momento de maior impacto
do ', l irrl nas primeiras quatro ou cinco décadas do século xx, quando
xe. como também o hzeram muitos franceses cultos, estudiosos
dc proibição do cultivo da Cannobis e do uso
OÍiente, que acompanhavam Napoleão Tais homens
as tropas de I,r, '\l)oou a campanha
,l,.tLrsdcrivados.
rcmeteram levas da droga para a França e,llo seu retorno' trataram
outra, a que enfatizava os estados novos de percepção e
de divulgáJa entre sábios e literatos. Da França, a droga espalhou-
^
,ll r onsciência propiciaclos pelo uso da erva, prosperou, sobre-
que a puse-
-se pcla Europa e suscitou dezenas de estudos médicos,
rr{lt, ( u1r'e os homens de letras, e produziu uma longa, contínua
ram na pauta das discussões científicas clo sóculo xtx e na reccita
isso' , llrIo[lilnte série de escritos voltados para a descrição e análise
de inúmeros remódios vendidos no período Mas não somente

l1
,o
rrrrr pálido e artificial conto de Olavo Bilac, "Haxixe" (r89a), publi-
rlos seus cfeitos "nlentais": das cartas do jovem Gocthe' nalrando
planta em companhia do amigo Johânn
t tkt na Gazeta d,e Notícias do Rio áe Janeiro e reproduzido em liwo de
r sua expcriência com a
Walter llt rrlriz Resende.2o O conto, que abre com uma menção a Baude-
Schiller, ao curioso "Haxixc cm Marsclha" (rq,1z)' do filósoÍo
l,r irc. narra a história de )acques, um trintão viajado e aventureiro
Beniamin, passanclo, sem clúvida, pelos poemas e notas de Samuel
pelo Clu- rt', clurante uma crise de insônia e indisposição, tomou uma dose
Taylor Coleridge, pelos escritos sobre o tema produzidos
r
1t

t xccssiva das pílulas de haxixe recomendadas pelo seu médico. Os


be tlo Haxixeiros de Parisre - especialmcnte pela obra
Os poraísos

O comedor de haxi:ce (r8+o)' clcitos descritos pelo incauto Jacques não são nada convidatiyos:
(1860), de Baudelaire
arliÍ.iais 'por
clássico do norte-americano Fitz Hugh Ludlow, e
por umâs taÍItas
importantes Iroi uma coisa horúvel, sobre-humana, inenarrável, prolongada por
obras cle autores mcnos conhecidos, mas igualmente
toda a noite. Eu não dormia, mas não estaya acordado. Dentro do
para consolidar uma consistente linhagem literária
como Fran-
meu corpo havia uma alma que sentia, que pensava: mas como hei
Bayard Taylor (As tÜÍos sarracenas'
çois Lallemand (O haxixe, r8+;),
ile explicar isto? Não era a minha verdadeira alma, porque essa eu
r854), Louisa May Alcott (/ogo perigoso, r869), William
Butler Yeats
de outros' a sentia fora de mim, divorciada do meu corpo, pairando sobre elc,
\Autoblografts, t9z6) e um punha'1o
querendo reentrar ne1e, não podendo.2r
Ora, o Brasil, ao longo clo século xlx, t.tão viveu um súbito
e

iniciais
interesse pela Cannabís. Por aqui, pelo menos até as décadas
em A desagradár,el experiência desse haxixeiro acidental - que
do século xx, nào houve médicos e íarmacêuticos interessados
r( rrina a sua narrativa recomendando aos convivas que não
isolar suas propriedacles terapêuticas ou alienistas explorando
as r

aquelcs pro- , \ l)( rirnentem a droga é a ítnica a figurârnâ literatura brasileira


semelhanças entrc os delírios provocados pcla droga e
, ,, sfç1116 ;çya. Os homens de letras daqui, que não viam o cana-
vcnientes da alienação mentalainda que rcmédios importados
-
e as fciras e boti- l,rrrro como um exotismo irnportado do Oriente, pleno de misté-
à base de cânhamo abunclassem nas farmácias
, r,,s. rlas como hábito casciro e vulgar, comum entre os escravos
cas vendesscm montes da erva para combater
um sem-númcro
tampouco , ,, qcrrtc dita de máúda, jtigaram-no indigno de menção literária,
de males (de soluços a impotôr.rcia)' Por estas plagas'
novos rrl lrqno dc scr relacionado entre as práticas de um intelectual ou de
disseminou-sc o intercsse literário pela Cannabís' pelos tais
suPos- llrr ,rrtista de respeito.
estados de perccpção e consciência que o consumo da erva
() quc, pois, parece ter gradativamentc ocorrido na sociedade
tamente desPertava. Os poetas e romancistas nacionais' tendo-se
regis- l,r rrilcira do século xtx foi uma crcsccnte percepção - em pârte,
cm conta o que deixaram registrado ou o que sobrc eles se
,

pouco r. Llr cz, tlcvido à influência das discussões que, desde 18oo, passa-
trou, foram mais amigos do álcool, do éter, do tabaco c' um
, rrrr circular pclo Velho Mundo - de que o canabismo não era
depois, ao longo da primeira metade do século xx' da cocaína
e' ,r

o haxixc rrl lr,llril o desprovido de perigos para a sociedade e que, no Brasil,


em muito menor escala, do ópio A diamba, ou melhor'
r

, r r( r)r)lfava demasiaclo clissen]inado, especialmente em meio à


-pouquissimo consumido no Brasil, r'tn.l estÍangciÍismo meÍeceu

33
32
As marcas de tal disserninação
l);tlccla mais pobre da população Tschudi, ciente de que se trataya de uma planta e de um hábito
cstavam por todos os lados. Dizia-se qr'rc a própria Carlotâ]oaqui- rrro nativos, aclimatados no país, especula ainda sobre quem teria
na, em tSio, cliante da morte, utilizara a diamba Reza a lcnda quc trrrotluzrdo a Csnnabis e o canabismo no Brasil. Certamente atento
a rainha, agonizante, chamou o seu Íidclíssimo criado'
o "criott-
.ro Íirto de que os consumidores de cânhamo que via peia rua eram
Io lelisbino", e thc disse: "C) n.reu mal é dc mortc Vell.ra'
doente
r rlqnrs e de que a maioria das palawas utilizadas pela população (se
e pobre, eu quero sucumbir com o orgulho da
minha raça' Não
rrrr,, todas) para designar a erva remetiam ao continente africano
quero morrer cleitada. Unla rainha deve apresentar-se diante

(1rrrnlo, diamba, liamba, fumo de Angola etc.), Tschudi concluiu
arrematotl:
morte com digniclade de soberana" Feito o desabaío' ,1r rc cra quase impossível saber ao certo como a planta chegara ao
"Traga-me aquele pacotinho de fibras de diamba con.r que man- llr rrsil: "Suponho que as sementes foram câsualmente trazidas por
jrlimigos"' Lançando mão' entào' de
iJamos para o inferno tântos r( ,lr'()s maometanos de Mina ou por escravos vindos do Congo".z'
"a rainha morreu sel)l
um chá que misturava diamba e arsênico, () suíço, ao que tudo indica, desconhecia os esforços da Coroa
clor nenhuma, porque a fibra dc diamba anestcsiava o organis- l',r ir introduzir o cultivo do cânhamo no século xvnt - quando o
rno".'?2 Tais boatos apârccem, porém, em um romance
histórico
r,, ,vt rnador moveu mundos e fundos para conseguir sementes que
Cintra -'
cscrito cm 1934 Os escândalos de CatlotaJoaquina, dc Assis l,rrrlcssem ser semeadas no sul da Colônia - e também os constan-
momento em qlle nern a rainha cle sangue cspanhol nem a diamba tr s t scmpre infrutíferos incentivos do governo joanino e imperial
de origem supostamente africana gozavam de muita
simpatia na
lr,rrr que os agricultores mineiros, cariocas e paulistas plantassem
societlade brasilcira; para mais, havia, então, um cnorme
empelho ( .ürlrilmo em suas propriedades, de modo a atender minimamen-

de rnédicos, psiquiatras e juristas cm associaro canabl§lt1o ê com- tl is rrccessidades da indústria naval. Mas não culpemos o suíço.
portamentos excessivos, como o suicídio, por exemplo' ( ) ( .inrbismo, por essa época,
iá estava associado ao negro, a quem,
l)e 186o. no entânto, \'ôm notíciâs mais seguras' O naturalis- 1,,
,r t onsequência, também era atribuída a responsabilidade de ter
Rio de Janei-
ta suíço Johann Jakob von Tschudi, dc passagcm pelo rr rt l rlrrzido a planta e seu cultivo no país.
há anos cm
ro, soube pela boca dc um botânico alcmào instalatlo Ilr l, allnal, o que trânsparecia nas ruas das pequenas e grandes
Cantagalo, o doutor Theoclor Peckolt que escreveria' mais tarde' , r,l.r,.lcs brasileiras; ao menos é o que reitera o renomado orienta-
importalÍes His tória das plantas alímenÍares c de gozo do Brasil (r87r-
as lr ,r.r, cscritor e diplomata britânico Richard Burton, tradutor das
lantos medicinais e itteis do Brasil (r888-rqr4) -' que "o
-84) e História das p I lrl, ullríi ÍloiÍes repleto de referências âo consumo de haxixe.
-livro
cânhamo da Índja de quc se extrai o haxixc, de efeito entorpccente"' IIrr r t r rr r dcdicou duas passagens de Viagem do Rio de ) aneiro a Morro
"espontâneo em vários pontos nos arredores de Cantaga-
vcgetava \ , lirrr (r369) ao canabismo no Brasil, ambas associadas ao cotidiano
lo'lt'O mesmo farmacêutico informou ainda ao suíço qu e a Csnnabis ,1, r r .rlivo. Ao descrever uma "revista dos escravos" a que assistiu
sob o nome de
era vendida livrementc nas feiras "em pequenos rolos' , rr Nl()rro Velho, o inglês comenta: "Depois disso, os diligentes
pango" e quc os negros costumavam fumála misturada ao tabaco' \ r,' ( ui(lar das casas e das hortas, dos porcos e das gâlinhas; vão

14 t5
,,.lut.o vício crrxo.qanr nclc trnr pcri.r3o capaz_
lavar roupa e costurar, ou carregar água, lenha ou capim para ven- dc pnrvocar a dcgc_
n( r.r\ii() nlctltal, a ponto dc fazcr do viciado um louco e até
der". No entanto, ressalta: "Os preguiçosos e dissolutos vào gozar um
,,u
1r.ito pcrigoso à sociedade.2T
a santidade do dia à moda africana, deitados ao sol e, se puderem,
M;rs voltcmos à oferta do
produto. Outro recurso do cana-
bebendo e fumando haxixe, como os semisselvagens de Serra
I'rrt,r, llóm das feiras e eryanários, era recorrer a uma plantação
Leoa".zt Mais adiante, dissertando sobre os cuidados que se deveria
1rr r
rPIiu ou aos muitos traficantes espalhados pelas cidades
ter com a escravaria e sobre quanto esta apreciava uma aguardente bra_
.,rL.ir.rs. homens que
senhores, Burton salienta cultivavam ou sabiam quem cultivava uma
-gosto que tantos transtornos trazia aos
que o escravo também se mostrava muito amigo do pito de pango, lrlrlrrora plantação e distribuíam o excedente entre os mais e
nr{,n()s conhecidos. Entre as décadas de r92o e 1950, quando as
"aqui chamado ariri, o conhecido bhafig (bangue), Cannabis sativa da
,rut,rr itlades crescente e sistematicamente passaram a combater
Índia e da costa ocidcntal e oriental da África. Mostra-se prontamen-
, , 1,l.rrrt io e o uso do cânhamo, descobriu-se que
te disposto a pagar até mil réis por um punhado desse veneno".26 essas pequenas

E, como sugeriu Tschudi, não era difícil obter o "veneno" nas I'l,rrrtrrl'ires eram uma verdadeira infestação país afora e que não
, ..r.rv,un localizadas somente nos
cidades brasileiras. Para dar uma ideia do tamanho da oferta, o arredores das cidades, antes se
, .1,.r ll ravam por dezenas e centenas de quintais de casas particula-
pequeno guia prático O que vend,em os ervanários da cidade de Sõo

Paulo, de Frederico Carlos Hoehne, botânico do Instituto Butantã,


r, \ .rr ó mesmo de respeitáveis idosos, como se descobriu durante
rrrrr.r "lratida", emry24,na cidade de Igreja Nova, no interior
livro publicado em r9zo, quando já ia alta a campanha contra o de
\ l.r1loirs. As autoridades receberam uma denúncia e se
canabismo, dedica um verbete inteiro ao cânhamo, írequentador encami_
r rlr.u irrrr, "em companhia do prefeito,,, à casa de um septuagená-
assíduo das casas dc ervas e feiras da cidade. Esboçando preocupa-
r r( ). '(lrrc declarou fumar diamba desde menino, encontrando
ção com a enorme disponibilidade do produto, Hoehne, que esta-
no
, rlirl de sua casa uma pequena plantação e a maconha já pre_
;rr rr
va encarregado de mapear os ervanários do estado de São Paulo
1,.r r .rrlir c seca, em pequenos sacos, na sua residência, que foi por
justamente para que o Serviço Sanitário tivesse algum conheci-
,,,,. rrpreendida".2s Arthur Ramos conta uma história parecida,
mento e controle sobre o que neles se vendia ao público, adverte
,,,,,r rirla em 1935, que bem atesta quanto a droga estava disponi
o seu leitor de que "nas semcntes e flores femininas desta plan-
,l r rr r cotidiano do brasileiro. Narra o anropólogo que, em agosto
ta se acha encerrado um ólco resinoso volátil que é narcótico e '
,l.r(lr r(,lc ano, a polícia do Rio de laneiro, depois de uma denúncia
estimulante; razão por que estas partes são fumadas há séculos
l.rl,r lx )r um usuário que passara mal e fora parar no hospital, cap-
pelos árabes e africanos". O zeloso botânico não tem dúvida de
r r rou unr pequeno üaficante
que foram os últimos "que trouxeram o vício da diamba ou maco- de maconha. Interrogado, o rapaz,
rrrr r .rlrrqoano morador de um cortiço, revelou que pegara, no por_
nha para o Brasil" e de que, "ainda hoje, não são raros os que a ele
l, ,, r r r rls sementes provenientes de um carregamento
se entregam". O mais alarmante, porém, eram os sabidos efeitos da droga que
rr r[, nrrvio para os Estados Unidos e dera para um amigo plantar
do canabismo. Adverte Hoehne que vários estudos publicados

36 l7
em um sítio em Realengo. Desde então, passava pequenas quanti- parte da máxima - tornada axioma - de que os negros erarn os
dades da erva para alguns viciados do morro da Favela.2e qmndes, talvez únicos, responsáveis pela introdução do .nefando
Os canabistas mais abastados e discretos, indiferentes aos aler- vício" do canabismo entre os brasileiros.
tas de estudiosos como Hoehne, mas desgostosos de recorrer às O médico e político josé Rodrigues da Costa Dória (rg57-
populares casas e bancas de ervas ou a esses pequenos tra6cantes -r938), um dos paladinos do combate ao',vício', no Brasil,
estu-
para consumir a diamba, podiam ainda apelar aos mundialmente tlioso cujos artigos foram lidos, comentados e repetidos por mais
conhecidos "cigarros índios", vendidos a preço mais salgado, sem tlc meio século, é taxativo nesse sentido. Explica-nos Dória que os
receita médica pelo menos até r9zó, nas boas farmácias do país' !rrasileiros de outrora, "ávidos de lucro, fizeram o baixo trá6co da
Fabricados pela Grimault e Cia., os ci garros de Cannabis eram reco- t rrrne humana". Felizmente, prossegue o médico,,.em 13 de
maio
mendados para combater a asma, mas os seus anúncios, veicu- tle r888, por entre alegrias e festas, foi promulgada a lei que aboliu
lados fartamente em.jornais e revistas, sugeriam que os benefícios .r cscravidão no Brasil"; entretanto, "no país já estavam inocula_
do medicamento iam um pouco além disso. Um deles, estampado ,krs vários prejuízos e males da execrável instituição, difíceis de
no Almanach Parísierue, em t9os, dizia: ( \terminar". Entre os males legaclos
ao país pelos tais homens que
tivcram a sua liberdade usurpada "nos ficou o vício pernicioso e
A dificuldade de respirat a roncadura, os flatos, a aspiração sibilante
,lcscnerativo de fumar as sumidades floridas da planta aqui deno_
acabam quase logo, produz-se uma expectoração abundantíssima rrinada fumo de Angola, maconha e diamba, e ainda, por corrup_
quase semPre em Pouco tempo, torna-se mais fácil a respiração, ç,r,r, liamba ou riamba".il
mais branda a tosse e um dormir reparatório afastâ todos os sinto- Depois do incisivo doutor Dória, até pelo menos a década
mas assustadores que se tinham manifestado.r0 ,l( rg6o, raro foi o médico, o jurista, o jornalista, o literato, o
,rqlr^rnomo, o botânico ou o político interessado no tema que
Outro, publicado na revista O Molho, em t929, anunciava: "Os rr.ro tenha lançado mão de tal associação. A origem negra da
cigarros índios de Grimault e Cia. fazem desaparecer asma, opres- ,lr.rrnba e do diambismo, já na década de r9zo, incorporara-se
são, insônia c catarro. À venda em todas as farmácias".'r .r,, scnso comum do brasileiro, a ideia naturalizara-se, tornara_
Tão
Quem, no entanto, comprava e plantava tanto cânhamo? \( ( vidente e deixara de cobrar explicação ou demonstrâção.
somente os negros, seus descendentes e os asmáticos discretos e I lrrrr isso que Hoehne, em O que vendem os ervaná.rios da cidade de
abastados? Aolongodo século xlx,a se leYar em contâ os Poucostes- \,to I'aulo, não hesita em atribuir a origem do vício aos africa_
temunhos disponíveis sobre o canabismo, tudo leva a crer que sim' r r, rr. Meira Penna, em Notas sobre plantas
brasileiras fgzl _ um dos
A partir de 1910, no entanto, os dados se avolumam - não muito,
l'( )uc()s livros brasileiros do período a fazer menção aos usos
consumidores diversifrcam-se um pouco. É fato
é verdade - e os rr r.r;ri.111i665 d,a Cannabis
-, escreve, como se de uma certeza
que tudo, ou quase tudo, que então se escreveu sobre o canabismo '.( r I .rt irsse: 'A cultura da Cannabís é feita comumente no Brasil

t8
l9
da África' ([rase restrito que era às regiões setentrionais do país".16 Arthur
pelos negros, hábito trazido pelos seus antepassados
É conhecida por Pango".rr l{rmos, na edição ampliada do seu livro O negro brasileiro $g4o),

Há até mesmo quem revista a constatação de


laivos poéticos e tllz informações ainda mais precisas acerca da propagação da
fatalistas, como os eminentes psiquiatras Pedro Pernambuco
Filho ,lilrlba pelos estados do sul. Narra o estudioso da cultura negra

e Adauto Botelho, que arrematam um pequeno ensaio também (luc, nos "últimos tempos, a polícia carioca vem descobrindo no

da década de r920, intitulado "vício da diamba"'


com o seguinte l,i io uns antros de fumadores de maconha e até plantações da
cativa'
lamento: "Dir-se-ia, dada sua origem, que a raça' outrora , r'va em alguns morros e pontos afastados da cidade".rT Perplexo

trouxera bem guardado consigo, para ulterior vingan ça'


o algoz , , rnr a frequência com que a polícia, em suas incursões pelas
rcqiões mais pobres da capital, fazia tais descobertas, o ântropó-
que deveria mais tardc escravizar a raça opressora"']a
porém, que esses mesmos doutores que atribuíam
Ocorre, 1,,!o salienta que a cidade estava de fato sendo tomada por "uma

ao negro a introdução e propagação no Brasil


do diambismo - um lcldadeira orgia de entorpecentes, o vício se generalizando de

africanismo muito mais usado, então, do que canabismo -


tam- r.rl Íbrma que até nas camadas inferiores a toxicomania" vinha
propagava de dia '( \tabelecendo bases". Antigamente, prossegue Ramos, em
bém eram unânimes em admitir que o vício se
pioneiros no rrn alarmado,
para dia, tanto Seográfica como socialmente' Para t,

seu estudo (e combate), como Rodrigues Dória'


Botelho' Pernam-
de outros'
buco Filho, Francisco de Assis Iglésias e um punhado só os que podiam pagar caro se entregavam ao uso e abuso dos alca-
crescera nas cidades muitos outros, na maior
o diambismo era uma praga que se iniciara e loides como a cocaína, morfina, heroína e

regiões importadoras de escravos -' penetrara


o parte derivados do ópio. Hoie, com a utilização de plantas nativas
do litoral norte -
interior, entre índios, ncgros e caboclos - "gentes sempre prontas do Brasil, até no morro da Favela é vulgar o uso de entorpecentes.r8

a abraçarum vício", como gostavâm de dizer os homens daque-


com a vinda
la época - e se espalhara, ao longo do século xtx' Ccrca de uma década depois da preocupante observação de
regiões meridio- o Serviço Nacionalde Educação Sanitária constatava que o
-..iç" d. escravos do norte para o sul, pelas
li.rr rros,

r9r8 um ensaio rhlcma se nacionalizara, melhor, se internacionalizara: "Não


nais do país. O doutor Iglésias, que escreve cm 1,r, é um

intitulado "Sobre o vício da diamba", acredita ser marcadamente 1'r ,


,hlcrna nacional, é um problema mundial. Não é um problema
em r924'
um hábito do norte do Brasil- Botelho e Pernambuco'
,r, nr,, clc se perde no horizonte do tempo. Mas aí está ele desafiando
que o hábito se alas- todos quecuidamosda eugenia da raça".re  nenhum dos auto-
concordam com lglésias, mas acrescentam rrr'rs
r

a região
trava pelo interior dos estados do Nordeste e ganhava r, . t[ r pcríodo ocorreu que havia tempo, desde o século xvIII, que o
em artiSo de ,lr.rrrbisrno era conhecido nas cidades
amazônica.,t O também psiquiatrâ Heitor Péres' e roças do sul do país e que
do o scu consumo poderiam ter se aproveitado não somen-
r9l9 incluído no I ivro Maconha: coletãnea de trabalhosbrasileiros' , t,l.rr rl;r c

"se difunde' r,
Ministério da Saúde, vai além e adverte que o vício ,1,, rlcslocamento dos escravos, mas também da propagação

4O
4t
cstado de coma, em completa prostração; outros dão para cantar,
do cultivo da planta, i4centivada pelos poderes públicos Para aten-
torrer, gritar; outros ficam furiosos, querem agredir, tornam_se
der à indúsrria de velas e cordas, como vimos.
pcrigosos".a2 Entre uma baforada e outra, porém, a maioria dos
Os atingidos pelo flagelo, segundo os convictos doutores que
'iliâmbistas entoam uns versos toscos, com termos africanos',:
estavam escrevendo os estudos e as leis sobre o diambismo na pr!
meira metade do século xx, cresceram na mesma proporção da
O diamba, sarabanda!
sua expansão geográfica. Os ex-escravos c os seus descendentes
Quando eu fumo a diamba,
ocuparam, sem dúvida, por muito tempo, um lugar de destaque.
Fico com a cabeça tonta,
O pioneiro emuito citado )osé Rodrigues Dória, por exemplo, em
E com as minhas pernas zamba
r9r5 esclarecia aos seus leitores que, no Brasil, o cânhamo era con-
sumido principalmente
Fica zamba, mano?
Dizôl Dizô!
em certas beberagens empregadas pelos feiticeiros, em geralpretos
africanos ou velhos caboclos; nos candomblés, onde era empregado
Diamba mato Jacinto,
para produzir alucinações e excitar os movimentos nas danças sel-
Por ser um bão íumadô:
vagens dessas reuniões barulhentas; nos catimbós [...],lugares onde
Sentença de mão cortada,
se fazem os feitiços, e são frequentados pelos que vão ali procurar
P'ra quem racinto matô.
a sorte e a felicidade; [...] e nos sambas e batuques, que são danças

aprendidas dos pretos africanos [...].{


Matô, mano, matô?
Dizõ, dizô!
Em seu duro e influente artigo de rqrS sobre os perigos do
diambismo, Iglesias fala da amplitude do vício entre os meios
I dizô turututu
sociais mais pobres e rústicos do país, sobretudo dos estados do
llicho íeio é caititu
norte, mas também dá especial destaque aos negros, descrevendo
l:ui na mata de Recursos
a reunião de diambistas a que assistiu no interior do Maranhão:
I saí no Quiçandu.
"Os fumantes reúnem-se, de preferência, na casa do mais velho, ou
Muié brigo cum marido
do que, por qualquer circunstância, exerce influência sobre eles,
Mricle um pôco de biju-
formando uma espécie de clube, onde, geralmente, aos sábados,
celebram as suas sessões".ar Os diambistas, muitos deles negros e
lllirt'r, raano, brigô?
mulatos, salienta o doutor, formam uma roda e, depois de algumas
l)izrl. dizô!
baforadas em uma espécie de cachimbo com a erva, "uns ficam em

4)
42
Dizô, cabra ou cabrito
pclo desfecho trágico da trama, ilustrando
Na casa da tia Chica. quão perigosa a diam_
l,a poderia ser. O neó6to Ignácio,
Tem carne não tem farinha, depots de muità fuiru, .un*.
ainda aturdido e alucinado"
.rnrargar horas de Ietargia, levantou_se
Quando não é tia Chica
pcla erva, tirou uma facâ da
EntãoéatiaRosa. cintura e atentou contra a própria vida:

Quanto mais véia sebosa,


A lâmina da arma branca riscou
Quanto mais nova mais cheirosa.
çados,numaexpresrrrr.r..r.J;;:::;.tffi :::ffi :'.:;
a última palavra: RRRoosa!
Cheirosa, mano, cheirosa? [...] pelos buracos do telhado, a lua cis_
cava uma poeira de luz fria sobre
Dizô, dizô!4] o cenário, onde uma yoz ainda
longínqua cochichava; Bicho danado
é maconha...a5

Iglésias, bem ao gosto de seu tempo, conclui a sua descrição


Malgrado, no entanto, as muitas rodas
com uma nota acerca do quão marcado por africanismos era o de diambistas espalhadas
;,, lo país, os batuques e candomblés repf"o,
quadro que presenciara: "lnteressante notarcomo, apesarde tantos a. rn"..nlrr, o, p."-
r, sexagenários ,,pitadores de pango,,
anos que nos separam da escravatuÍa, ainda acompanham o vício '\ e tantos outros traços i;di_
,.rtivos de que o diambismo era
da diamba termos vindos com ela das costâs africanas".4 uma prática ainda marcadamente
,1, ,s
cx-escravos e de seus descendentes,
os ,doutores,, d,
A "roda de fumadores" descrita pelo eminente doutor foi citada
rrr(rade do século xx, gradativamenre, ;;,;;
em diversos artigos condenatórios do diambismo publicados ao constataram que a prática
,,' rlisseminava por ouÍos
longo da primeira meÍade do século xx, todos reafirmando grupos. Em ry37, o psiquiatral..ú", p"._
a estrei-
rrl'rrcano, fi lho de oulro renomado
ta relação entre o vício e os descendentes de escravos africanos. 'r.,r priq,,ir,*.
Uiyr.", e*rnr*br_
, .r r)(,, cm artigo
intitulado.Á maconha em pernambuco,,,
A cena mereceu até mesmo uma abordagem literária em Canaviais, escrevia:
\ rrrrconha é muito pouco conhecida entre
dojurista sergipano Alberto Deodato, obra ganhadora do Prêmio da a classe mais elevada,
., r{io, no entanto, mais dilulgada
r
Academia de Letras de rgzz. O pequeno livro traz um conto, "Som- do qu" .. .n,.. u poprlr_
.upO"
, ,r,, haixa do Recife
e de Maceió,,_a6 O meai.o Or... n*Uor", p.t,
bras agrestes", quase inteiramente dedicado a uma roda de diambis-
rr, .rra época, salientava que a droga,
tas, formada por três participantes: Néo, um viciado de longa data comum entre os negros, se
,l.r \rrlm por quartéis,
prisões, portos, bordéis e outros
e líder do grupo; Chico, que encontrara na diamba consolo para a loái. fr.-
, nr;r(los porgente de ,,balxa extração
l( r(
fuga de uma filha com um palhaço de circo; e Ignácio, um iniciante social,,.ai Em r936, o psiquia_
r,r ,r llllrr
Rosado, diretor do Hospital,fuliano
desorientado e acabrunhado, que tinha acabâdo de serabandonado Moreira, em Salvador,
, lr ,..,, r rc o vício se espalhara pelos subúrbios
na calada da noite por Rosa, sua esposa e grande amor. A cena cria-
1r

, ,lrr, , scrundo o depoimento


das cidades poprl;;;
da por Deodato em pouco difere daquela descrita por lglésias, salvo insuspeito dos nossos oúr".r"do.-
r,',rr, rpi.rlval a invadirosquarréis. as fábricas.a cadeia
eatémesmo

44
15
l

sc tornando uma verdadeira epidemia na sociedade


brasileira e
entre os infelizes leprosos".48 O psiquiatra sergipano roão Batista
erâ crescente o número de "indivíduos, via de regra esnobes,,,
que,
P Garcia Moreno, por volta de r94o, escrevia que o problema, até
. ansados dos prazeres habituais, procuravam incessantementc..a
então, se circunscreüa à "classe baixa do povo, aos desarnparados
volúpia e as sensações estranhas,,, tornando-se viciados. Diantc de
sociais e aos maloqueiros";ae sob a categoria "maloqueiro" os psi-
tllquadro, concluem : "Desgraçadamente parece que, como se não
quiaras incluíam os gatunos, malandros, boêmios, larápios e as
l)astassem.,á os outros tóxicos, a diamba tende a enrar para rol
o
mulheres da üda. A tal "classe baixa do povo", por sua vez, abarca-
rkrs vícios elegantes".tr
va um leque enorme de tipos, que iam de vendedores ambulantes a
Lúcida ponderação a dos psiquiatras, dois dos arautos do
pedreiros, passando porbarbeiros, gentes do mar, militares de baixa
..,rmbate ao diambismo da primeira metade do século
xx. Real-
patente, roceiros, carroceiros, estivadores, enfim, aqueles indiúduos
nrcnte, cerca de meio século mais tarde, o diambismo, ou melhor,
das então denominadas - a expressão é de Arthur Ramos - "franjas
, r vício em maconha
incultas da sociedade brasileira".
-o termo,,diambismo,,, a essa altur a, jáhavia
r,. perdido, do mesmo modo que o conhecimento
acerca do quão
Por sorte, ponderam esses mesmos juristas, médicos e psi-
l,opular havia sido o hábito na sociedade local - propagar-se_ia
quiatras, o diambismo, contrariamente ao que ocorrera na Europa,
crrl re as camadas mais abastadas da população brasileira e tornar-
sobretudo na França - exemplo recorrente entre os doutores brasi-
rt'-ia um "vício elegante", ainda que sempre tenha conservado
leiros -, não havia ainda penetrado nas camadas mais ricas e cultas
rrrrr forte apelo popular. Todavia, até que isso ocorresse,
entre â
da sociedade, nem se propagado entre intelectuais ou artistas de
qLrnda metade da década de 196o e o início
st
da década de rg7o, o
renome. É verdade que, como explica Jarbas Pernambucano, em
, .rnabismo seria forte e, a se levar cm conta os resultados,
cficiente_
r932, Gilberto Freyre e uns tântos outros amigos fumaram, "por
rr( nte reprimido: o cultivo da planta, comum até pelomenos l9lo,
experiência, cigarros de maconha"; segundo o psiquiatra, o soció-
t, ri lançado na ilegalidade; os produtos farmacôuticos
derivados
logo, que observara em alguns de seus livros quão popular era a
,1, , c;jnhamo foram banidos das farmácias
e ervanários; o consu_
diamba entre as classes populares do Nordeste, "teve a impressão
r r da slyx p355su a ser coibido e punido sevcramente por leis
rr
de um 6m de festa, a pessoa já muito fatigada pela dança, um can-
, r,l:r vez mais rigorosas; e, acima de tudo, criou-se
,
uma poderosa
saço estranho, mâs não desagradável" -tu Em ryz4,porénr, antes do
rrrrtologia negativa em torno da diamba e do diambismo, que
"experimento" de Freyre, em livro intitulado se
Vícios sociais elegantes,
,r i\tirlizou no senso comum do brasileiro
c somente comcçaria a
os psiquiatras Pernambuco Filho e Adauto Botelho-homens preo-
',r' rlissolver nas três últimas décadas do século xx. Tal mitologia,
cupados com o avanço da diamba, do éter, do ópio, da cocaína e ( ,
'nro sc verá, tratou dc conectar o gosto pela erva aos estropiados
de outras drogas entre as gentes abastadas - são categóricos em
,, ,r i.ris (os "maloquciros) ã o hábitó de consumiJa, à yadiagem, à
dizer que a diamba era um vício das "classes pobres e incultas", que
l, ,rr, rrr .t c ao crimc.
ainda não seduzira os mais cultivados, nem mesmo os tipos excên-
tricos. Todavia, advertiam os doutores, a "toxicomania" estava

47
46
Diambismo,
um flagelo social
Em r953, a Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecen-
tes, com o apoio do Serviço Nacional de Educação Sanitária, do
Ministério da Saúde, publicou uma reunião de artigos intitulada
Maconha: coletônea de trabalhos brasileiros. Em um duplo prefácio, os
organizadores, os médicos Roberval Cordeiro de Farias e Irabussu
Rocha, esclarecem aos seus leitores o objetivo de reeditar, àquela
altura, praticamente todos os estudos brasileiros conhecidos sobre
a diamba e o diambismo publicados desde o início do século xx.
Tratava-se, explicam os doutores, de reforçar uma campanha que
"as forças eugênicas do país" vinham mantendo
havia décadas con-
tra a expansão do "nefando vício,,, àquela altura internacionalmen-
te combatido porautoridades policiais, sanitárias e psiquiátricas.r
O livro tinha, pois, a função de dar a conhecer- de pontos
de vista variados (médico, farmacológico, jurídico, psiquiátrico,
sociológico etc.)e em uma linguagem com ares cientíj,cos - osteÍti_
veis e devastadores males produzidos pelo consumo da erva:

A publicaçào destc liwo leyará ao conhecimento público a degra-


dação a que se destina a humanidade. Cada leitor tenha em mente
a seriedade da situação e colabore pela persuasão e pela
inteligên_
cia em beneÍicio dos prisioneiros do vício. É uma obra de mérito
universal.2

49
É verdade que as pesquisas laboratoriais rigorosas, os estudos
o diambismo, prática que, apesar de habitar, havia séculos, a socie-
e socioló-
de campo amplos e controlados, as análises históricas
clade brasileira, passara despercebida e não suscitara a atenção dos
gicas exaustivas não eram as grandes virtudes dos 3r pequenos
e
políticos, dos médicos, dosjuristas, em suma, não se tinha consti-
engajados ensaios de ocasião ali reunidos, todos marcadamente tuído, até o início do século xx, em um problema social relevante.
psi-
impressionistas, sustentados em pesquisas lâboratoriais e A tal "campanha" cuidara, pois - certamente sob forte influência
quiátricas copiadas de bibliografia estrangeira ou em observações Ja agressiva empreitada contra a Cannabis dssencadeada no Egito,
apressadas de poucos casos, escolhidos sem critério
definido' lsso'
rros Estados Unidos e, posteriormente, no resto do mundo -, de
contudo, importava pouco àquela altura, quando.já se consolida- ionstruir, "identificar" diriam os doutores da época, um novo pro-
não
ra entre as parcelas mais alfabetizadas da população' mas lrlcma social em toda a sua extensão: isolar o mal e seus agentes
somente entre elas, uma série de ideias acerca do diambismo e do ,. ausadores; mapear e descreveros danos sociais que supostamente
diambista, entre as quais a de que as autoridades policiais deveriam
i.lcravam; e propor os meios para extirpáJo ou, no mínimo, res-
reprimir com rigor aqueles incapazes de compreender- em razão tlingir o seu avanço às "franjas da sociedade".
da insanidade, da ignorância ou do banditismo - os males sociais
O passo inicial havia sido dado no século xtx. As inúmeras
até ali'
do terrível vício. Um longo caminho havia sido percorrido irriciativas camarárias contra o "pito de pango" não somente identi-
e a coletânea, reunindo artigos publicados desde
r9t5' de certo
liearam os grandes responsáveis pelo problema, os escravos e seus
modo contava um pouco a história dessa árdua e exitosa batalha: ,lt scendentes, como ainda alertaram a sociedade para os perigos
"Felizmente", explicavam os doutores, "foi focalizado' ainda em
.Ir diambismo: em particular a vadiagem ea desordem. O esforço,
a sua
tempo, o vício da maconha, de modo a ser evitada entre nós r ro cntanto, ainda era demasiado modesto. Os médicos, psiquiatras
as clas-
disseminação, não tendo o seu uso conseguido ultrapassar , jrrristas que se debruçaram sobre a questão no início do século
seus malefícios"'
ses sociais mais desprotegidas e ignorântes dos r r, um distúrbio médico-psiquiátrico de grande alcance social
diziam-
Exultantes com resultados tão auspiciosos, os psiquiatras ,,,1rrcla altura, foram muito além: reiteraram as origens negras
-se convencidos "de que o feliz resultado das medidas de
repressão
,1,, vício, mas cuidaram também de destacar que havia muito ele
da
tomadas. sobre o uso da maconha, decorreu principalmente ,lcirara de ser privilégio de ex-escravos e seus descendentes e se
campanha educativa empreendida em torno do problema"'r , r pirndira por entre as camadas pobres da sociedade brasileira, as
Esse processo, pois, que Cordeiro de Farias c Irabussu
Rocha'
r.ris 'Ír'anjas". A expansão social dera-se. aos seus olhos, em para-
aplicados combatentes da toxicomania no Brasil' denominavam 1, 1,, i.geográfica: a princípio seguindo a rota dos escravos (do nor-
larga
modestamente de "campanha educativa" - conduzida em r( l),rÍa o sul), mais tarde espalhando-se do litoral para o interior.
medida por aqueles "bravos patriotas que assinavam os artigos li,.rrltado: a droga não era mais restrita aos então denominados
construir peça a Peça, em menos de meio
da coletânea -, ajudou a
, :t.rtlos do Norte", tendo-se propagado pelo Brasil, pelas roças e
e para
século, uma imagem social para a diamba, para o diambista , r,l, rtlcs, grandes e pequenas, do litoral e do interior.

5o 5r
l

Tão importante, porém, quanto mapear o avanço social e l)oucos registros sobre tais práticas, mas devcriam ser bastante
eorriqueiras, especialmente entre os denominados
geográ6co da diamba e do diambismo, era criar uma tipologia negros deganho,
tJue perambulavam livremente pelas ruas
prática e eficiente que permitisse às autoridades (em especialpoli- das cidades durante vas_
tos períodos do dia, oferecendo os seus serviços
ciais, médicos e psiquiatras) e à "população de bem", em geral - à população.
Iglésias, no seu artigo de r9rg, dizia que, segundo
que deveria se precavercontra o mal -, detectar os comportamentos o que obser_
vrrra no Maranhão, os usuários, passada
derivados do vício e conhecer os seus devastadores efeitos sobre o a excitação inicial provo-
t ada pela droga, ,,em
viciado e sobre a sociedade que o abriga. E foi o que fizeram os dou- caíam
completa prostração,,e tornavam_se
irnprestáveis para as atividades produtivas.5 [sso
tores da primeira metade do século xx. Lançando mão de relatos no tocante aos
rrsuários esporádicos, pois, como procurou demonstrar
pessoais, de comentários de amigos, de depoimentos colhidos em o médico
t )scar Barbosa, "os inveterados no vício têm
manicômios, Íábricas e prisões e de observações pouco sistemá- as funções nervosas
rlcprimidas e, como o emagrecimento rápido, entram cm caque_
ticas de um ou outro caso (por vezes, de serviçais da própria casa é
sobrevindo-lhe a morte,'.6 O mesmo Barbosa, mais
r ia,
do pesquisador), esses homens de saber, esforçados, mas pouco adiante,
r )mplementa: 'A diamba exerce
(
rigorosos, ligados à administração pública e preocupados com os ação deprimente sobre as funções

"devastadores impactos" do diambismo sobre a sanidade


ncrvosas, modificando profundamente a personalidade
ea moral moral.
t) indivíduo perde o brio, o sentimenro do dever e é
das famílias, traçaram uma tipologia do vício e do viciado que - tomado de
além de fomentar e legitimar uma série de leis relativas à proibi- l,ronunciada estupidez,,.7 O doutor pedro Rosado vai mais longe e
\intetiza o porquê da incompatibilidade
ção do cultivo e consumo da Cannabís no país, leis cada vez mais entre diambismo e arivi_
tlldes produtivas. Explica-nos o psiquiara, em ,,O
restritivas - teve enorme impacto e vida longa no senso comum vício da diamba
rro cstado do Pará", que ..os intoxicâtlos
do brasileiro, de6nindo, até muito recentemente, os parâmetros crônicos [...] apresentam
rrrrr quadro clínico bem diverso do apresentado
da relação que a sociedade local manteve com a planta e com o pelo intoxicado
.,,1udo". A persistência e a frequência
gosto de consumi-la. A preguiça -e seu derivado imediato, avadia- com que consomem a erva
rl,rDa-or."6" r", -âis ,,apáticos, tristonhos, indiferentes
gem - foi o primeiro pecado a colar-se ao diambista. Â relação era ao meio
antiga. Havia tempo reclamava-se da pouca diligência com que os
l ircapazes de um trabalho ativo e regular.
[...] Os doentes per_
rrirlecem horas parados e são morosos no que fazem
escravos apreciadores da diamba se aplicavam ao trabalho. Burton e no que
,hze rn".8 O psiquiatra Luiz Ciulla, autor
notara que, nos domingos e dias santos, os escravos consciencio- do ensaio..lntoxicados pela
rrr,rconha em Porto Alegre,,, considera que,
sos iam "cuidar das casas e das hortas, dos porcos e das galinhas", em geral, o dlambista,
"rrrrr psicopata
perverso e instintivo, procura no tóxico felicidade
iam "lavar roupa e costurar, ou carregar água, lenha ou capim para a
rc nào encontra no trabalho regular
[...]. procura, assim,
,1r
vender"; os diambistas, ao contrário, sempre "preguiçosos e dis- fugir da
r , , r lidâde áspera através da excitação intelcctual,
solutos", sentavam em rodas, esparramados sob o sol, para beber da vibração sensi_
trr.r c do devaneio". O embotamento
cachaça e "pitar o pango".a Há, salvo uma ou outra nota policial, do senso ético decorrente da

5a 53
r

constante excitação, segundo Ciulla,leva os diambistas a "abando-


A familiaridade com a diamba era tanta que, surpreendia-se o psi_
nar a família e as ocupações para cair na vagabundagem, incidindo,
quiatra, "sabem dela mil coisas: os feitos, os nomes, as superstições,
nesta condiçâo, numa maior criminalidade".e
o folclore. Ouvi a comissários que os chefes dos bandos de ratos
A preguiça, melhor, certa boçalidade era, porém, o menor e
cinzentos apelam para a diamba como meio de eliminar o escúpulo
somente o primeiro dos males causados pela diamba. A droga,
ea indecisão dos novatos à prática criminosa,,.ra Apesar das pon_
como lembrava Dória, produzia "esragos individuais", mas, por
tlcrações dos colegas, o psiquiatra sergipano Eleyson Cardoso,
vezes, dava lugar a "graves consequências criminosas".r0)arbas Per- no
radical "Diambismo ou maconhismo, vício assassino,', era
nambucano, um pouco mais tarde, em r93o, não acreditava que a bem mais
categórico, advogando que ',o maconhismo aparece como causa
maconha conduzisse propriamente ao crime. mas nào negava o seu na
L riminalidade tanto contra a pessoa como contra a propriedade,,.rt
vínculo com aquilo que denominaríamos pequena delinquência:
Arthur Ramos, no citado O negro braíleiro, vai um pouco mais
"Em pesquisa que fizemos nas penitenciárias do Recife, verifica-
I rnge quando se rata de analisara associação da diamba e do
mos que a porcentagem de criminosos fumantes é pequena, sendo, diam-
lrismo com a malandragem e a criminalidade miúda, o pequeno rá_
no entanto, grande entre os correcionais, isto é, malandros e yaga-
lrco inclusive. Seu lilr.o traz um punhado de historietas
retiradas de
bundos".rr O psiquiatra sergipano ]oão Batista Garcia Moreno con- ,,vício
1ornais, ilustrativas do quanto o de tão terrível veneno social,,,
cordava com seu colega e, no ensaio'âspectos do maconheiro em
, rrtcs restrito às macumbas, aos catimbós, às prisões ea outros luga-
Sergipe", acrescentava que era frequentc a polícia sergipana "sur-
r ts próprios da gente de mala vita, alastrara-se pelas regiões de resi_
preender em furtos e roubos a maloqueiros, sob intoxicação aguda
,lt'ncia da gente modesta e estava em via de se tornar uma ,.grande
pela maconha, toados, como dizem na gíria policial". Comentavam
,rrrrcaça para a vida da própria cidade',. O antropólogo
se preocu_
as autoridades, explicou Moreno, que "o sentimento de coragem e
l,rrva, sobretudo, com os apregoados efeitos violentos do,,veneno
de exaltação física fornecido pelo tóxico explica que os malandros
rtlde" para a sociedade carioca, pois o uso desse..tóxico terrível,,,
recorram a dois on três baseados antes da aventura".r2
,l( \sâ "erva infernal que mata lentamente", não somente
propiciava a
Ainda no mesmo ensaio, debruçando-se sobre umas tantas
, , rmgcm necessária aos maloqueiros para realizarem
os seus peque_
informações de "ouvir dizer" que recolhera em Aracaju sobre um
,r,,s roubos, como criava um grupo próprio de criminosos
grupo de delinqucntes juvenis que se autointitulavâ "ratos cinzen- ligados à
, rrltura e à venda da erva;gente que vivia de propagar
"a réplica se Ígipana dos capitães de areía, daBahia" o vício _ tam-
tos" -_
-, Moreno
l,r'rrr cntre adolescentes pobres
explicou que o grupo, "formando um bando liderado porum malan- - e lucrar com a perdição alheia.16
O médico Cordeiro de Farias, em ,,Uso da maconha (Cannabis
dro experierrte na criminalidade, que lhes traça o programa da vida
'.,rtirrr L.)
no Brasil", também da década de r94o, defende que nem
miserável, cheia de aventuras e incidentes policiais",rr promove um
t, rrIr aquele que "se intoxica com cigarros
de cânhamo 6ca com
verdadeiro culto à maconha, a ponto de ostentarem como slogon
r r rl)ctos criminosos", mas admite que há grande possibilidade
a máxima "rato cinzento que não fuma maconha nasceu morto". de
,, rr r.r.'onhista converter-se "num indiúduo perigoso',, pois,
segundo

5,+

5t
terminavam "tomados peJa loucura".2r Meira Pennaj em 191o, no
o dedicado psiquiatra, era "inegável que o uso excessivo desta droga
vcrbete dedicado ao cânhamo em No tas sobre plantasbrasileiras, não
levava certos indMduos a cometercrimes". Para Cordeiro de Farias,
cleixou de salicntar aos leitores, entre os quais muitos curiosos
o viciado "tinha ímpetos de se livrar de um perigo imaginário" e,
por plantas dcsconhecedores dos males causados pela diamba,
dependendo do seu "temperamento e constituição psíquica", era
quc os sintomâs mais proeminentes do diambisnto erant mcntais,
levado a praticar agÍessões e crimes, "caindo por fim num estado de
lcvando o viciado a sensaçôes exageradas, "minutos parcccm anos,
decadência física e moral".17 Tal possibilidade - a influência do
itlguns passos parecem milhas", as ideias são "amontoadas e confu-
uso da maconha sobre a criminalidade , segundo o psiquiatra,
sas", acompanhadas do "constantc mcdo de ficar louco"; seguem,
era muito concreta, como atestaYam os inúmeros depoimentos
.rinda, o "ranger dos dcntcs durante o sono, [...] ernbotamento de
que recolhera, Brasil afora, de diversos chefes de polícia.
cspírito e dificuJdadc dc coordenar as ideias".z2
Daí o médico )osé Lucena, autor de pelo menos três respeita-
A "cocaína do caboclo" era, pois, sem dúvida, urn potenciali-
dos artigos sobre os impactos sociais da diamba e do diambismo,
zudor da pequena criminalidade e, talvez, uma indutora da loucu-
ter destacado que a erva "era capaz de uma perturbação psíquica
r rr. Rcstava, no tocante a este último aspecto, determinar com mais
global muito ampla".r8 E o também psiquiatra roão Mendonça, que
rrccisão se os doentes mentais tinham a tendência a abraçar o vício
tratava a maconha por "planta assassina", em tom de denúncia,
( )U se os viciados eram levados à doença mental pelos constantes
ter escrito: "Por uns minutos ilusórios de milagres celestiais para
,lclírios causados pelo consumo da droga. É por isso que Dócio
alguns, surgirá para a coletividade, e por muitos anos, o inferno
l'.rrreiras, no ensaio "Canabismo ou maconhismo", recomenda:
dantesco das catástrofes morais que só não enluta a Humanidade,
I Ilge assim o estudo da vida pré-psicótica do fumador de maco
porque vai a1ém, a aniquila".re
,rln, quando se pretendc nrcdir c cstabelecer a taxa de responsabi-
A propósito das ligações da maconha com as perturbações
li,llde do derivado canábico no desencadeamento clo caso clínico".
psíquicas, o problema era antigo.lá em r9zo, o botânico Hoehne,
N l,ris adiantc, Parrciras avança uma hipótese: "Se o uso da maconha
autor do guia dos ervanários de São Paulo, afirmava que, de acor-
rr, r, r conduz à alienação pura e definitiva, cria e gera a instabilidadc
do com "vários trabalhos compilados e feitos por pessoas que,
rrrL'ntal, o que é enormemente grave". E arremata: "O diambista
estudando o vício, nele enxergam um perigo iminente para o
r, ,r,1c esquizofrenicamente e mata esquizofrenicamcntc", tcndo
nosso povo", o usuário da diamba "degenera mentalmente a
'rra espera o cárcere, o manicônio ou o hospital", isso quando
.,
ponto de se tornar louco e mesmo perigoso à sociedade"'20 Cer-
,,,rrr "bala ou o punhal não Ihe intcrrompcm a lraietória infeliz
ca de uma década mais tarde, o influente Rodrigues Dória, um
,r,''sl vida que ele mcsmo tornou intolerável".rr
nome então consagrado quando o tema em pauta era diambismo,
\ .rq.rhundagern. r rime e louiura. ris as consequéncias sociais
comentou, em uma passagem do seu livro Responsabilidade çími-
, l, , ,liar.nbismo, um mal capaz de, cot.no adverte Décio Parreiras,
nal: seus modíjcadorcs igz.g\, que a diamba causavâ o "estrago do
rr , cm breve, um estado de calamidade pública"." É verdade que
organismo nos fumadores inveterados" e que não raro os úciados ' ',

t7
56
a
jável, construíram uma imagem social extremamente negativa da
o antropólogo paulista Alceu Maynard Araujo, em r959, advoga-
maconha e do maconheiro que duraria, com diminuta contestação,
va, em livro intitulado Medicínarístíc4, que o efeito estupefaciente
até pelo mcnos a pcnúltima década do século xx.
da maconha era quase inexistente - salvo naquelas poucas mentes
A construção de uma imagem negativa {a rqAco4ha e do
mais propensas a fantasmagorias -e que o que-se dizia da eÍ-v-a 94e
rraconheiro, porém, de nada valeria sem "normas preventivas
seus impactos sociais (violência, crime, insanidade...) era gl!-ei!o
c repressivas" que dessem aos agentes da lei os meios de coibir
que precisava ser combatido, arrematando: "E esse mito ainda nãq
os que insistissem no cultivo e no consumo do "veneno ver-
se acabou porque a polícia é a maior interessada nele".25
cle", mesmo depois de cientes dos seus devastadoÍes impactos
Opiniões como a de Maynard, no entanto, por muito tempo
sociais. Daí, scm dúvida, os nresmos médicos, juristas e psiquia-
serão vozes completamente isoladâs na sociedade brasileira, vozes
tras envolvidos nos cstudos do canabismo, uma pârte substan-
excêntricas. Pelo menos até a década de r98o, o tom predominante
tiva deles funcionários de instituições esiatais ou ocupantes de
dos discursos acerca da maconha e do maconheiro, que se conso-
irrportantes cargos públicos, terem, desde muito cedo, pressio-
lidou entre médicos, psiquiatras, autoridades policiais e mesmo
nado as autoridades para que o país desenvolvesse uma rigo-
entre os leigos, derivou maioritariâmente dos estudos r-eunidos na
rosa legislação punitiva contra o plantio, a venda e o consumo
coletânea da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes,
,l;r maconha.
em 1953, e em uma dezena de outros ensaios dispersos poriornais,
revistas e livros ensaios geralmente assinados pelos mesmos
- .\ luta, ainda que de maneira tateante, começara no século xlx,
autores ou por seus discípulos e parceiros. Foram esses lromens,
r rrm a muito citada proibição ao "pito de pango", baixada pela
em larga medida, que promoveram intensas campanhas educati-
t irnara Municipal do Rio de Janeiro em outubro de r83o, medida
vas contra o uso e o plantio da maconha, povoando, por meio de
r opiada por diversas outras municipalidades ao longo do século
palestras, panfletos e reportagens de jornal - que muito colabo-
\ r\. Depois de tal movimento, no entanto, nada mais se passou:
raram para a popularização das discussões acadêmicas sobre a
,, tliambismo, um pequeno delito de escravos e gente pobre, ficou
diamba -, o imaginário de pais zelosos e colegiais curiosos com
, , rnlinado à sua insignificância social. A situação começaria a
tantas histórias terríveis sobre a degradação humana causada pelo
rrrrrdar no alvorecer do século xx, quando começam a pipocar
diambismo; foram eles que se debruçaram sistematicâmente sobre
.rr;tri c ali restrições pontuais à compra e ao consumo d a Cannabis
aquilo que denominavam o "veneno verde", o "ópio do pobre", , \urge um cÍescente clamorpor parte dos ditos especialistas por
descrevendo as suas vítimas, mapeando os seus efeitos sobre os
l, rs tlue reprimissem com rigor o cultivo, a venda e o consumo
usuários (eventuais e crônicos), avaliando os estragos sociais que
,l,r planta.
causava e propondo meios para bani-lo da sociedade brasileira ou,
f r'r em r9r5, o incansável Rodrigues Dória, ao mesmo tempo
ao menos, de restringiJo às suas "franjas"; foram eles, em suma,
,
;r r, clogiava iniciativas como a da penitenciária de Aracaju, que
que ao longo de cerca de cinco décadas, com uma eficiência inve-

,9
58
t.oihiu a entrada de cânhâmo nas suas depcndências, destacavâ que no início do século. O doutor Dória, pois, não falava sozinho; ao
somcnte "a proibição do con.rércio da planta, preparada para ser contrário, encontrava apoio e eco nos doutores e nas autoridadcs
fun.rada", pocleria rle fato "restringir a sua disseminação progrcssi- norte-americanas, âs quais, por suâ vez, não poupavam esforços
do médico
va" pela sociecladc brasileira26 recordemos quc, na visão para levar as suas inquietações aos países produtores das drogas que
e de seus seguiclorcs, o vício avanç;rva a passos
largos gcográfica e
rrbasteciam o seu mercado consumidor, que rapidamente se torna-
socialmentc pelo país. A essa altura, o cx-deputado, ex-presidente va o maior e o mais atrativo do mundo.
dc proúncia e méclico catedrático Dória cstava longe de serumavoz No Brasil, Dória também não estavade modo algum isolado. Ao
de
isolada, clentro e fora do Brasil; seu artigo pioneiro cÍa resultado contrário, na sua esteira úeram dezenas de outros colegas médicos,
uma bem acolhida palestra que pronunciara no tl Congresso
Cicntí- jrrristas ejornalistas alarmados, sempre dispostos a relatar à popula-
Êco Pan-Americano, reah zado em Washington, e vinha totalmcnte
\.iio os enormes perigos do diambismo e a salientar a necessidade de
qtte se pro-
ao encontro da enorme preocupação com a toxicomania lcis que permitissem aos agentes da ordem extirpar o mal. Iglésias,
pagava pclo Brasil sobretudo entre médicos e psiquiatras'
muitos
1,or exemplo, em "Sobre o vício da diamba", depois de enumerar as
discípulos do próprio Dória - c pelos Estados Unidos' ,.lczenas de males que o diambismo causava ao üciado eà sociedade
Nesse país, clesdc o ir.rício do século xx, movidas por razões l,msileira, arremata pedindo que "medidas enérgicas de profilaxia fos-
econômicas os produtos do cânhamo concorriam corn a lndús-
't rr adotadas pelos poderes competentes a fim de eütar as grayes
tria de <lerivailos químicos sintéticos c de celulose , médico-psi- , orrsequências da extensão do perigoso vício".27 Apesar dos apelos de
quiátricas, morais e de ordem pública, as ar'ltoridades sanitárias e
[,]ósias, de Dória e de outros seus colegas, a lei no 4.294, de r9u r, que
poJiciais descncadearan uma verdadeil a cruzada contr a t Cannabís It,lislava sobre as "drogas venenosas", embom aderisse à política proi-
e o canabisrno, hábito tarnbém lá relacionado aos
negros' assim l,ir'ionista que se espalhava pelo mundo tendo os Estados Unidos
como aos imigrantes dc língua hispânica daí a designação morí- (r )nro epicentro e tratasse a toxicodependência como um problema
jucna, mormentc utilizada pelas autoridades policiais' A partir de ,I polícia e de saúde pública, não fazia ainda nenhuma menção à
r9l1 e em um cresccndo, cidades e estados foram criando legisla- r ,rrrnabis, propondo somente estabelecer penalidades "para os con-
venda ao consurno da planta Pelos
ções restritivas em relação
à e rr.rvcntores na venda de cocaína, ópio, morfina e seus derivados" e
joÍnais, impressos enr papel dc celulosc, a populaçào tomava ciên- , r iirr "um estabelecimento especial para internação dos intoxicados
cia dos inítmcros crimcs que supostamente praticavam os
viciados
1r'l,r álcool ou substânciâs venenosas".
"escolales"
e, o que era ainda mais grave, inteirava-sc de como os A situação continuaya, pois, incerta, dependente de esforços
clesamparados das classcs desfavorecidas cran.r, dia após
dia' arre-
r , rtir rrais e mesmo municipais dispersos pelo país. Em tgz4,Per-
do
batados pelo "vício", compromelendo a ordcrn social c o futuro rr, rnr lruco Filho e Adauto Botelho, no livro Vícios sociais elegantes,
país. Uma proibição definitiva vilia somente cm 1917' com
a Lei de
r,llt lt iam que a situação, em alguns estados do norte, era alarman-
Taxação da Marijuana, mas a batalha começara bem antes' logo r, ( ( \igiam a "imediata intervenção das autoridades".2s

óo 6t
o uso de cânhamo indiano e dos preparados dele derivados só pode
que
A advertôncia, no entanto, foi a mcnor das contribuições serautorizado pârâ Êns médicos e científicos. Resinas não tratadas
no Brasil'
Pernambuco Filho cleu para o combatc ao diambisn'ro (charas), no entanto, extraídas das Ílores das plantas do sexo femini-
É conhecida e realçada a sua participação na
ConfgrQ4ciâ lnterna-
no da Cannabis sativa, do mesmo modo que as diversas preparações
cional do Ópio, promovida pela l-iga das Nações et.n r9z5'tm
Gene-
de que constitui a base (haxixe, chira, esror, diamba etc.), não sendo
bra.Diante das dclegaçõcs de n'rais de cem países' que a princípio atualmente utilizadas para fins médicos e só sendo suscetíveis de
sobre
cstavam ali reunidas para cstabeleccr tratados Ploibicionistas utilização para fins nocivos [...], não podem, em hipótese alguma,
o ópio e a cocaína - tratados que vinham scndo discuticlos
desde
ser produzidas, vendidas, comercializadas etc.2e

rgoq .r,\egípciu\.quefaziu tneitrtecttloJenttnciavlmaexirtÔncia


de uma vercladeira epiclen.ria dc Ccnnabis no scr'r
país' solicitaram a
Graças, pois, aos reiterados apelos do delegado egípcio, respal-
inclusão da erva na lista das substâncias proibidas O inesperado ,lrrdo pclos dclcgados gÍcgo, chinês, norte-americano e brasileiro,
âpÍesen-
pedido, que vinha acompanhado de um minucioso estudo , rlórn de tantos outros. o cânhamo cntrou no rol das substâncias tóxi-
sociais
tado pelo delegado egípcio El Guindy, relatando os pcrigos , ,rs ilícitas e os argumentos proibicionistas dos médicos brasileiros,
internacio-
da Connabis e a necessidade de controlar a sua circulação , ,Lpitar.reados por Rodrigues Dória, ganharam apoio internacional,
(chinesa' indiana'
nal. recebeu imediato apoio de diversas delegações , ( rrsequentemente, ampliando sua importância e alcance no país.
norte-americana, francesa, inglesa, entre outras) e deu origem a \s leis restritivas e as ações mais enérgicas do Estado, no entanto,
de
uma subcomissão encan egada de cliscutil' o pleito' composta ,lt nroravam a surgir. Em r932, enfim, o governo proúsório do Brasil,
e Brasil'
especialistas tla Grã-Bretanha, Índia, França, Grécia' Egito rr.r sua missão de "reorganização constitr-rcional do país", promulgou
Entre os doutores (médicos, químicos e farmacôuticos) , , (lccreto nq 20.9lo, de u de janeiro, destinado a fiscalizar "o empre-
- c liderados pelo
convocados para debater os clamorcs egípcios r,( ) c o comércio das substâncias tóxicas entorpecentes" e regular
representante francês, o farmacêutico Perot -' encontrava-se ,r stra entrada no país de acordo com a solicitação do Comitê CentraI
Per,.,an.rbuco filho, discípulo Rodrigues Dória e unr
implacáveJ
ll rnrancntc do Ópio da Liga das Nações". O decreto, o primeiro a
inimigo clo diambismo Logo na abertura da reunião cla subco- seu attigo de abertura:
conr a 'r, ltrir a diamba, prescrevia no
missão da Clonnabis, Pcrnambuco Filho, talvez empolgado
na Cirécia
posiçào do delcgado grcgo, quc dissera ser a maconha São consideradas substâncias tóxicas de natureza analgésica ou
;tão perigosa qua,rto o ópio", acrcscentou: "No Brasil' a maconha
cntorpecente, para os efeitos deste decreto e mais leis aplicáveis,
ó nrais pcrigosa do qqe o ópio" Os argumentos vindos do Egito c
as seguintes substâncias e seus sais, congêneres, compostos e deri-
por
rlo llrasil, países nos quais, a se tcr em conta o relatado
ser'1s
vados, inclusive especialidades farmacêuticas correlatas: , O ópio
em larga escala e o
delcgarJos, as populações consumiam a Cr;nnabis bruto e medicinal; rr) A morfina; rrr) A diacetilmorÊna ou heroína;
vício cobrava elevadíssimos custos sociais, pcsaram cnormemente rv) A benzilmorfina; v) A dilaudid; vD A dicodide; vt| A eucodal;
na deliberaçào linal da subcomissão, que dizia:

63

6z
l

vl ) As folhas de coca; Ix) A cocaína bruta; x)


A cocaina; xt) utiva L.) no Brasil", reclamava, por exemplo, que, no interior do país,

A ecgonina; xl| A C onnabis indica. l rrande maioria dos plantadores não tinha noção da infração quc
lrraticavam, pois ignorava "ser proibida porlei a plantação de maco-
I

A quem fosse cncontrado portando ou armazenando alguma l


rrha, cultivada para o uso pessoalou para o comércio, que até pouco
l
tcmpo era feito livrementc nas feiras, pelos raizeiros, que a vendiam
das substâncias constantes nessa longa lista, "em dose superior
à
sob o nome de fumo bravo".rr Décio parreiras, também na década
teÍapêutica deterÍninada pelo Departamento Nacional de Saúde
expressa prescrição médica ou de cirurgião-dentis- ,lc r94o, dizia que a legislação brasileira era,,farta e sábia no assunto"
Pública e sem
do c que trazia "segurança e punição adequada aos toxicômanos que
ta", ou quem concorresse "para disseminação ou alimentação
uso de alguma dessas substâncias" incorreria em penas de três a l,crturbam a evolução natural da vida em comum,,, mas que o seu
, onhecimento por parte da população ainda era pequeno, e a fis-
nove meses de prisão celular e multa de mil a cinco mil réis'
Mal a lei de rq3z entrou em ügor, o médico Leonardo Perei- r llização de seu cumprimento por parte das autoridades, lacunar.r2

ra, ciente das difrculdades que se aüzinhavam, escreveu no ensaio


A "Íarta lcgislação a que se referia parreiras tinha,
e sábia"

"O cânhamo ou cliamba e seu poder intoxicante": "É difícil a proi- ,lt'sde r932, se aprimorado signi6cativamente. De saída, o decre-
ro na 2o.93o havia sido
bição do uso da diamba, por mais severas que sejam as leis" Daí a -
considerada a necessidade de dotar o

necessidade, prossegue Pereira, de as arttoridades tomarem proüdên-


prrís de uma legislação "capaz de regular eficientemente a fiscali-
jogo' 1.rção de entorpecentes" e se adequar às "mais recentes convenções
cias "extremas ecom uma firmeza inabalável"' O que estava em

destacava o preocupado doutor, era"a eugenia, a pureza da


raça":'âo 'obre a matéria" - substituído pela Lei de Fiscalização de Entorpe-

governo federal cabe a ingrata tarefa salvadora da coletiüdade, de não r crrtes, de 1938, na qual se regulava em detalhes a circulação e a ven-

deixar que caia a moral da nossagente". Pereira sugeria que as autori- , Lr de substâncias ilícitas. A noúdade do decreto na 89r, no referente

dades, principalmente o Ministério da Agricultura, empreendessem


,ro diambismo, é o tratamento que dispensa à toxicomania emgeral,
''r onsiderada doença de notificação compulsória,,, e ao toxicoma-
uma sistemática destruição de toda a cultura do canabiáceo' o pas-
so inicial e decisivo parâ, em pouco mais de um tÍiênio, segundo
as rirrco, um doente que ficava sujeito à "internação obrigatória ou

preúsões do otimista doutor, não mais "encontraruma planta entre l. rr ultativa por tempo determinado ou não". As medidas
atendiam
nós". Ainda segundo Pereira, era preciso também punir severamen-
,r, rs
anseios dos psiquiatras locais, que viam consolidada a ideia

te os infratorcs, viciados e traficantes, "promovendo a reclusão


por ,lc quc o úcio da diamba - e de outros derivativos era um tipo de
-
p.rtologia mental e o doente, passível de internamento
completo dos delinquentes, como crime de lesa-pátria"'r0 e de receber

A promulgação da lei de r93z não pôs termo às demandas dos .r r)rcsma terapia que, desde os tempos de pinel e Esquirol, se dis_

médicos higienistas e psiquiatras por um combate mais intenso e lx 0sava a outros doentes mentais: o ,tatamento moral.

sistemático das autoridadcs sanitárias e policiais à diamba e ao diam- O tema retornaria no Código Penal de r94o.O artigo z8r, que

bismo. O doutor Cordeiro de Farias, em "Uso da maconha (Cannabís


,, r sava sobre entorpecentes, proibia:

64 65
I

venda' fornecer' ainda muito, são encaminhados àAssistência a Psicopatas. Lucena, diante
Importar ou exportar, vender ou expor à

teÍ em dePósito' da pouca efetividade de tais medidas, todas incapazes de deter o


que a título gratuito, transPottar, trazer consiSo'
a consumo avanço do maconhismo, clama porumaação conjuntadas autorida-
guardar, ministrar ou, de qualquer maneira' entregâr
com rles sanitárias e policiais dos estados, sob coordenação da Diretoria
substância entorpecente, sem autorização ou em desacordo
dc Higiene Mental, de modo a intensificar a luta pela erradicação da
determinação legal ou regulamentar'
toxicomania.ra No entanto, tal erradicação - homens como Lucena
de um a cinco o sabiam - não era uma tarefa fácil, mesmo com as melhores leis e
A pena prevism para os infratores erade reclusão
anos e multa de dois a dez contos de réis' O
artigo z8r recebeu um intensa fiscalização das autoridades. A sensação de alguns envol-
r3 de mhrço' dis- vidos, como explica o desembargador Adelmar Tavares, em plena
complemento em 194r, com o decretoJei na 3'I4'de
os membros tlócada de rg4o, cra a de que as leis se repetiam, "úsando por todas
ponáo sobre a fiscalização de entorpecentes e indicando
Entorpecentes- Ambos' o rrs modalidades à defesa da sociedade no combate ao úcio dos entor-
àa Comissão Nacional de Fiscalização de
artigo e o decreto, tinham, segundo os combatentes
do diambismo' lrccentes que degradam os homens", mas não parava de "aumentar

uma duplavirtude: davam caráternacional à luta contra a toxicomâ- .r clientela dos manicômios e asilos de psicopatas".r5
e potencializar O pessimismo do jurista, no entanto, não era compartilha-
nia e criavam esse órgão, encarregado de coordenar
dispersas pelo Brasil' ,lrr por todos, ao contrário. A partir da metade da década de 94o
as diversas ações de combate às drogas

Todaüa, como destacava o médico higienista sergipano


Eley- r cm um crescendo, apesar das constantes e reiteradas críticas
somente uma luc continuavam a promover às supostas lacunas do combate ao
son Cardoso, as medidas repressivas constituíam
(

e difícil problema' o qual exigiria' para


que nraconhismo no Brasil - a essa altura, reduzira-se muito o uso dos
parte do complexo
"pessoal numeroso e a vocábulos "diamba" c "diambismo" -, a maioria dos "especialistas"
os resultados se mostrassem animâdores'
de grandes verbas"' Lamentava o médico'
em 1948' (i nrcordaria com Cordeiro de Farias quando este dizia que, com
intervenção
alcançado resulta- ,r ()rientação que vinha sendo dada à campanha contra o uso e o
que até então as medidas repressivas tivessem
"o aumento da produção , r,rnércio da maconha pelas comissões nacional e estaduais de fis-
dos ainda modestos e contrastassem com
ilícito''' Para mais' o aÍígo 281 não ,.rliz-ação, o uso da planta diminuía a olhos vistos, pois, outrora, a
livre da diamba e seu comércio
rrrrconha era cultivada e usada com total liberdade e os seus "male-
, oenalizava o viciado, o consumidor, o que estimul4vaa çqll§q4o
do combate que as âutoridades empreendiam lr, ios eram ignorados pela nossa gente, mesmo por parte das auto-
' Leduria o,
"f"itos rrlltlcs às quais cabia sua liscalização".b Àquela altura, r943, muitos
contra o cultivo e a vcnda da erva'
r

)osé Lucena, autor,


enre outros' de "Maconhismo crônico e , sL,r'ços tinham sido empreendidos no sentido tanto de esclarecer

psicoses", lamenta que, até aquela dâta'


"aos contraventores a po1í- .r lroPulação acerca dos perigos do vício, quanto de punir e tratar
dias' detendo-os r rr i,rtkrs e traficantes. Daí Cordeiro de Farias estar seguro de que,
cia se contente em privar da liberdade por alguns
quando rr,rrtidas as iniciativas em curso, a Cannabis e o canabismo logo
no xadrcz da Segurança Pública"; quanto aos diambistas'

67
66

I
r-

deixariam de ser um problema social no Brasil. Entre as tais inicia- Brasil". O con6ante doutor, certo de que as forças despcndidas

tivas em curso, o empenhado doutor Cordeiro de Farias destaca- no país pelos anticanabistas tinham alcançado bom termo, infor-

va: "Uma campanha educativa contra o uso intensivo e plantio de rna ainda que mesmo o uso terapêutico d,a Cannabis estavâ em

maconha", demonstrando "os seus efeitos malignos", explicando "as constante declínio no Brasil, pois os médicos não consideravam
a planta suficientemente segura e "os fabricantes de preparações
razões pelas quais o seu cultivo é proibido no Brasil" e informando
"as sanções aplicáveis às violações da legislação que regem o comér- contendo Cannabk estavam mudando suas formulas".re

cio e uso de drogas entorpccentes"; a produção de regisros rigorosos Cordeiro de Farias, como procedera no artigo de 1943, termina

vendedores"; a troca de informações entre as autori- o seu ensaio adiantando algumas sugestões para que a situação
sobre "üciados e
prosseguisse alvissareira, cntre as quais as sempre exaltadas e reto-
dades responsáveis pelo combate aos entorpecentes; [...] e o incentivo
nradas campanhas educativas contra o uso e cultivo de maconh4
à produção de "estudos médicos sobre os efeitos sociais da maconha".,7
''inclusive cursos práticos
Em artigo publicado no Boletim dos Narcóticos, editado pelas [...] para ensinar as autoridades policiais
Nações Unidas, em 1955, o mesmo Cordeiro de Farias voltava à c de saúde como identificar a maconha por suas características
carga e promovia um longo balanço do que havia sido empreen-
lrotânicas e informá-las sobre os seus efeitos maléficos,'; o incen-
tivo aos estudos médicos sobre os efeitos "sociais da maconha,'
dido até então pelo exército de combatentes do canabismo que ea

se constituíra no Brasil.rs De saída, o psiquiatra explicava que as l,r'omoção de congressos psiquiátricos sobre a erva e seus impac-
o crime ainda não eram totalmente cla- tos; a centralização dos esforços regionais de combate ao tráfico e
ligações entre a maconha e

embora reconhecidamente um fumante de maconha pudes- .rr consumo de entorpecentes; a destruição sistemática das plan-
ras -
t.rções de maconha; a criação de uma agência .,com as funções
se "tornar-se uma pessoa perigosa, não se deve inferir que cada
pessoa que fuma e se intoxica com cigarros de cânhamo torna- cspeciais de supressão de toxicodependência"; e, ainda, para que

demonsra- r,i1) se esquecesse das origens negras do vício, a ',preparação de um


-se sujeita a impulsos criminosos" -, mas que estaYa r

do que a erva "tem efeitos físicos e mentais que definitivamente rcqistro de scitas afro-brasileiras [...] que pode se revelar de grande
v.rlor médico e sociológico".ao
levam à degeneração mental e moral". Cordeiro de Farias adianta
também que, felizmente, "o uso de maconha não é atualmente Retornando às leis, o arrigo z8r, do Código penal, que tantas

um grave problema social no Brasil", que ele nurlca se tornou su6- .rlrtrias trouxera a anticanabistas como Cordeiro de Farias, ainda /
r,,lrcria duas alterações redacionais na década seguinte, uma em
cientemente generalizado para ser classificado como um proble-
r,.,t,+ (lei no 4.45r, de 4 de novembro) e outra em r968 (decretoJei
ma social, embora fosse o maior problema relacionado a drogas
i1ícitas no país, já que â "utilização de morfina e de cocaína estava
n lli5), quando passou a contâr com a seguinte enunciação:

totalmente controlada". O médico atribui tal virtude à vigilância


constante das âutoridades sanitárias e policiais, que "não poupa- Irrrportar ou exportar, preparar, produzir, vender, expor a venda,
Íôrnecer, ainda que gratuitamente, teÍ em depósito, ransportar,
ram esforços para evitar a disseminação do uso da maconha no

68 69
forma' a onde menos se esperava: pelas mãos dos jovens bem-nascidos.
hazerconsigo, guardâr, ministrar ou entÍegar' de qualqueÍ
dependência Havia ternpo, é verdade, os doutores encarregados de cor.nbater o
consumo substância entorpecente, ou que determine
com determi- vclho diambismo tcmiam que cstc sc tornasse úm ''ücio social ele-
física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo
ou facilitação des- sanLe", como diziam Pcrnambuco Filho c Adauto Botclho em r92.1.
nação legal ou regulamentar: comércio, posse
dependência I)écio Parreiras, na década de r94o, advertia que o cânhamo cra
tinadas a entorpecentes ou substância que determine
linda o "ópio dos pobres", mas que em breve não seria mais, "tal sua
física ou psíquica.
crescente valorização".ar O tarnbém psiquiatra Mauício Campos de
Mcdcitos, quc scria ministro da Saúde do governo Juscelino Kubits-
 pena para os infratores era a reclusão' de um a cinco
anos'
maior salário mínimo chek, seguia na mesma direção e asseverava quc a maconha, muito
e uma mutta de dcz a cinquenta vezes o
a seguil quc lcntamente, "estâva penetrando, por intermédio de umajuventudc
vigcnte no país. O dccreto PÍosseguia apontando' 1ogo
o ctútivo rnoralmente desorientada, em classes mais abastaclas",a2 Premoni-
incorliâ nas mesmas penâs aqucle que "Íàz ou n.rantém
ou de subs- r(irios? Em parte, na medida em que a conquista de aficionados nos
rle plantas destinadas à preparação de entorpecentes
psíquica"' ou' ainda' .stratos médios e abastados da população não se deu exatarlcnte
tâncias que determinem dependência física ou
"quem traz consigo, para uso próprio, substância entorpe:ente o]t ,lo modo como alertavam os psiquiatras no início do século.

que determine dePcndência íísica ou psíquica"'


O decreto-lei n" l8l A "juventrrde clesorientada" dos anos r96o e r97o não promo-
i clia uma redescoberta do outrora popular hábito do dian.rbismo,
nào somente resolvia um problema que havia muito
preocupava

as médicas e policiais a clara penahzação do usuário


autoriclâdes
,lr não seria, como tinham vaticinado os psiquiatras discípulos
as orientações internacio- ,lc Rodrigues Dória, uma espécie de vítima tardia da expansão
-, como ainda equiparava, contratiando
nais, a srta pena:iqrrela prcvista par'â o traÍlcante' atendcndo
aos ,l rquele flaqelo'Irrzido da Átrica pelo. esLr.rvo\. or canabictas,
que' apesar das ,ll nrd('ônlreiro\ Je enlào náo rnais diambist.rs Iinham der-
clamorcs pot mais rigol na puniçào dos indivíduos
o tráfico' . , ,l,crto o h.ibito no cst rr ngciro c ,rt ribrria m ,r clc out ro. sign ifi-
muitas advertências, insistiam no vício e alimentavanl
corn a ( .r(los. Pelas mãos de jovens universitários, artistas e intelcctuais,
Alteraçõcs rnais sttbstantivâs viriam somcnte etrl 1976'
quc dispunha detalhaclanrente "sobrc pularizava-se agora no Brasil - como, de resto, um pouco por
lei n! 6.368, cle zr cle outr.rbro, 1,o

e uso indevido toilo o mundo ocidental a ue la tradição estranha aos brasi-


mediclas de prevcnçào e rcpressão ao tráfico ilícito
no cntanto' o lugar e l, ilos cultos do século xrx. mas tào cara a certos intelectuais do
cle substâncias entorpecentes". A cssa altura' :P
em ( ). i.lcntc. como aquclcs pcrtcrrccntcs ao Clu be dos Haxixeiros de
o impacto social da toxicomania, cm geral' e do canabismo'
l',uis, tradição quc via o canabismo como um hábito libertador
particular, já eram outros. A maconha, que' graças à vjrtuosa
encon- , ('annabis como uma porta de entrada para cstados rclrey-ados c
carrpanha descncacleada na primeira nletade do século'
se ,r

perdera visi- , r r\ilaJtr\ J( ( un\( iÉn\ id.


trava circunscrita às populações pobres e n.rarginais e

voltanclo por
bilidade no cotidiano da sociedade brasileira, estava

71
7O
O canabismo
dos hippies e dos
excluídos
Em g7o, a arrojada revista Realídade, voltada para a discussão
de temas pungentes do cotidiano brasileiro e mundial, trazia na
capa a chamada "Maconha nas escolas" e publicava a reportagem
'A fuga perigosa", assinada pelojornalista e escritor Cados Soulié
do Amaral. A matéria nada traz de original ou de excepcional,
ao contrário, seu interesse vem exatamentc da sua vulgaridade.
O escrito assemelha-se a diversos outros, publicados entre a

metade dos anos r9óo e início dos r98o, voltados para a denúncia
da alârmante expansão do consumo de Cannabis entre as parcelas
rlais educadas e abastadas da população brasileira. Ao longo de
rneia dezena de páginas repetem-se, com mais ou menos colo-
rido, mais ou menos ares de certeza cicntífica, mais ou menos
lecorrôncias às incontornáveis "opiniões de especialistas", as
rnesmas estruturas, os mesmos argumentos e as mesmas con-
clusões que encontramos em dezenas de matérias sobre o tema
publicadas na época, até pela própria revista. Dito em ouÍas
palavras, a reportagem de Amaral ilustra magistralmente certo
lcpcrtório de ideias sobre a maconha, o maconheiro e o maco-
rrhismo que a mídia, os médicos, os educadores e as autoridades
tkr período construíram no Brasil a partir da metade da década
rlc r96o - praticamente sem nenhuma oposição ou concorrência,
( orÍro ocorrera na primeira metade do século - e que rapidamente
\ lornou moeda corrente nO paíS,

7,
I

À primeira vista, o ilustrativo escrito de Amaral não se distan- As semelhanças entre os ârgumentos veiculados na reporta-
cia nem mesmo daqueles estudos produzidos porRodrigues Dória gem e o universo anticanabista dos psiquiatras do início do século,

e seus discípulos partir de rqr5. Amaral, do mesmo


psiquiaras a porém, acabam aí. Amaral, do mesmo modo que os seus contern-
modo que os doutores de outrora, enuncia o problema em tom porâneos que escreveram sobre o tema, herdou, sem dúvida, o

sombrio: "É a maconha. Devagar, ela seduz iovens, intelectuais, tom alarmista e sombrio do tempo inicial de combate à Cannabis
artistas. Agora entra nas escolas, e até crianças de doze anos estão e ao canabismo no Brasil; no entanto, o vício e o viciado a que se

fumando".' Os números de que lança mão, tal como o dos médicos refere são outros. A reportagem não se destina mais, como osarti-
anticanabistas, não escondem do leitor que o problema crescia de gos de outrora, a convencer as autoridades e a tal "população de

dia para dia e atingia dimensões alarmantes. "Só em São Pau[o", bem" dos enormes perigos da diamba e da necessidade de serem
registra o atônito iornalista, "foram apreendidas quase nove tone- criados os instrumentos legâis para combater um vício de escra-
ladas nestes onze anos: quantidade suficiente para abastecer cada vos que se alastrava e ameaçava a tranquilidade e a ordem públ!
cidadão brasileiro com dez cigarrinhos". E isso, adverte, apesar de cas. Âs leis.já existiam e as autoridades, do mesmo modo que a

o Código Penal, no artigo 281, castigar, com penas de um a cinco "população de bem", em geral, já tinham tomado consciência dos

anos de cadeia, "quem for apanhado com um cigarro de maconha perigos do canabismo. Quanto aos grandes viciados de outrora,

entre os dedos, a fumar. O código pune a todos indistintamente: os escravos, Amaral faz uma única e insignificante referência a eles -

üciados, tra6cantes, consumidores eventuais".2 'b fumo de Angola dos escravos hrasileiros"a-e nem sequermencio-

Ainda seguindo a linha de raciocínio dos psiquiatras do início na que a erva tivcra grande proenrinência no cotidiano dos brasileiros

do século - os quais certamente eram desconhecidos do iornalista, pobres dos séculos xvrt, xvlt, xtx e xx. A reportagem tampouco
que se limitava a reproduzir opiniões consolidadas há tempo no sc refere à yiva campanha anticanabista desencadcada no início do

senso comum do brasileiro, inclusive da classe médica -, Amaral século, optando por apresentar o problema como uma novidade

tece algumas considerações impressionistas e vagas sobre os efei- lccém-aportada no país, ao lado de outras modas provenientes da

tos da maconha, mas acaba por concluirque, embora as alterações liio comentada, cultuada e temida "revolução dos costumes" por que

provocadas pela erva dependam da personalidade do fumante, o passavam as sociedades ociderrtais dcsenvolvidas.

seu consumo tem mesmo impactos nefastos sobre o indivíduo: O canabismo problematizado pela reportagem era, pois,
"Certas pessoas podem entrar em profunda ansiedade e ter aluci- trm vício ou hábito recente, de pessoas com posses e geralmente

nações similares às de uma viagem lisérgica. Outros padecem de cscolarizadas: sobretudo.jovens colegiais e universitários, artistas
(' intelectuais. O conhecimento e o gosto pela Cannabis não thes
taquicardia, falta de ar, ânsia de vômito ou dor de cabeça", salienta
o jornalista. E conclui em tom de advertência: "Os prontos-socor- viera de uma nostálgica e nacionalista apropriação de uma prática
ros registraram muitos casos degente que quis apenas 'experimen- rlos negros oprimidos pela escravidão - essa perspectiva, veremos

tar' maconha e quase morre".l rrtliante, tornar-se-á comum somente nas décadas de rg8o e r99o -,

74 75
viera, sim, conta-nos a reportagem, do estrangeiro, nomeadamcn- e alíüo; da mesma maneira que se descontrai e pensa âfirmar sua
te da Europa e dos Estados Unidos, h-rgares onde as drogas são "um indiüdualidade ao fumarmaconha". A tais motivos, Amaral acres-
símbolo da nova geração". "Os estupeíacientes", observa Amaral, centa mais um: "A maconha é proibida". Ao acender o seu cigarro
transformaram-se "em vício nos países ricos, altamente indus- de maconha, o rapaz ou a moçâ que fumam estão não somente
trializados, cuja população tcnr clcvados índices dc renda". Alérn "gozando o prazer da erva, como também, incapazes de adaptar-
disso, informa o lornalista, algumas "figuras do cinema, da tele- -se, gozam a delícia de ter violado uma ordem". A estreita ligação
visào, médicos, advogados, jornalistas, engenheiros, profcssores entre o canâbismo contestação iuvenil da ordem social dava, a
ea

universitários e publicitários, economistas e conrerciantes fumam propósito, margem a interpretações extremadas, como a do então
regularmente maconha".i A moda, em sur.na, nada devia aos hábi- diretor do Colégio Bandeirantes que assegurava ao repórter existir
tos legados pelos escravos e seus descendentes, ela era proveniente uma conspiração de caráter mundial, no sentido de perverter e
do mundo dcscnvoh,ido e tornara-se conhecida no país por meio desmorahzar a mocidade ocidental; tratava-se, acreditava o preo-
de artistas c intclcctuais famosos c cultuados. cupado educadol "de mais um episódio da guerra ideológica entre
Os motivos quc lcvavam os jor..cr.rs a adotâr o yício tâmbém o totâlitarismo comunista e as democracias ocidentais".6
passavam longe da ignorância, da pobreza e da boçalidadc quc se Absurdo ou não, o argumento, tal como as novas conÍigu-
atribuíam aos viciados de outrora. Amaral, recolher.rdo opiniões rações do vício e do viciado, vinha dos países desenvolvidos do
aqu i e a li, dá dlsunrrr pista,' das rrzôcs quc cntào arra.tatam l.rnlos norte, principalmente dos Estados Unidos. Lá como aqui, a toxi-
"jovens de bem" a consumir o oLltrora denomir.rado "ópio do pobre". comania voltava à cena e, ao seu lado, a histeria das autoridades e
Para além dc screm vítimas da moda - vítimas dos tais artisLas c dos ditos especialistas. Lá como aqui, a maconha se viu associada,
intelectuais de renome mundial que declaravam abertamente ou tanto por combatentes de seu uso como por usuários, à liberda-
insinuavam consumir a droga , os jovens, explica um docente de política e à desobediência civil. Os usuários louYavam o seu
dc filosofia ouvido pelo repórter, "não se sentem bem em casa, eventual poder libertador: 'Assim que dá o primeiro trago, você se
não se enLrosam com os parcntcs, rcbclam-sc contra tudo o que transforma em inimigo da sociedade", dizia o atMstalerry Rubin,
representa autoridade: pais, mcstrcs c, dc modo gcral, o governo". em rg7o.7 Os anticanabistas, por sua vez, supondo que tal potencial
Os psicólogos e psicanalistas por ele ouvidos r,ão mais lon- realmente existisse, acusavam a droga de flertar com a "subversão
ge e apontam certa "aÍinidade entre a maconha e a masturbaçào comunista". O lendário diretor do rel Edgar Hoover, atento a essa
na adolescência". A relação é complexa. "lnconÍbrmado com as associação, expediu em 19ó8 o seguinte memorando para os seus
regras, horários e frusrações inevitáveis da vida social", explicam subordinados: "Como o uso da maconha e de outros narcóticos
os cspccialistas cm saúdc mental, o adolescente menos preparado cstá disseminado enre os membros da nova esquerda, vocês deve-
psicologicamente tcnde a dcscarrcgar as "tcnsõcs qr-rc o afligem riâm estâÍ atentos para a oportunidade de fazê-los ser detidos por
praticando o ato solitário da mastr:rbaçào. Com isso obtém prazer ilutoridades locais sob a acusação de uso de drogas".

76 77
O alvoroço era tanto que o presidente conservador Richard ciso combatêlo incansavelmente, informando a socíedade sobre
seus perigos (as tais campanhas educativas), mas também repri-
Nixon, reagindo ao abrandamento das penas impostas aos consu-
midores de Cannabis,emryTt resolveu declarar guerra às drogas e mindo com a força da lei aqueles que incidissem no seu consumo c

comprometeu-se pessoalmente a lutar contra qualquer tentatiya comércio. Daí, porcerto, a aprovação, em outubro de r97ó, da lei n,,
ó.168, que distinguia traficante de usuário, ainda que continuasse a
de legalizá-la nos euA. O a_ntfo_comissário do Serviço dgN-41có-
ticos dos Estados Unidos Ea1ryJ,qç-9! Â-nslingcr, um dos pioneiros
punir ambos com extremo rigor. Diz a lei no seu artigo rz:
da luta contra a Cannabis naquele país, em sua ânsia de combater
o temíyel vício, foi mais longe e chegou mesmo a contradizer- Importar ou exportar, rcmeter, preparar, produzir, labricar, adquirir,
vender, expor à venda ou ofereccr, fornecer, ainda que gratuitamen-
-se ao tentar apontar o porquê de a planta ser uma "assassina da
juventude": ele, que desde os anos rg3o condenava te, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
a maconha por
seu potencial de gerar violência e crime entre os usuários
ministrarouentregar,dequalquerforma,aconsumosubstânciaentor-
- àquela
pecenrc ou que determine dependência física ou psíquica, sem auto-
altura, os usuários eram negros, imigrantes hispânicos ou indi-
rização ou em desacordo com detenninação legalou regulamentar
víduos egressos das "franjas da sociedade" -, agora, três décadas
mais tarde, via-se obrigado a condenar a erva por gerar nos usuá-
rios da vez atiüstas, universitários, artistas etc- -um "paci6smo A pena era de reclusão de três a quinze anos e pagamento de
-
5o a 36o dias-multa. Mais adiante, no artigo 16, lê-se: .âdquirir,
insano", que os tornava "presa fácil de çe,EtuÍug11ro".E
O Brasil nào teve bizarrias de tal gênero.'pois os ex-com- guardar ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpe-
cente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autor!
batentes de outrora nào estavam mais na ativa e, por sorte. nào
zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,,.
foram requisitados a aiustar o seu discurso aos novos viciados
e aos nor,os significados sociais atribuídos à maconha. É verda-
A pena prescrita era de detenção de seis meses a dois anos e o
de que ficaram como herança daquele tempo muitas das ideias
pagamento, de vinte a cinquenta dias-multa.

sobre o potencial destruidor da Cannabis, em especial aquelas As linhas gerais do combate ao canabismo, em resumo, esta-
vam prontas quando a droga reapareceu como uma das grandes
que apregoavam sua estreita ligação com a vagabundagem -
.'strelas da dita contracultura, incluindo no preparo os argumentos
melhor, com a falta de motivação e de pro.ietos futuros, como
agora se dizia, afinal, a maior partc dos usuários era formada por médico-psiquiátricos que respaldavam a repulsa ao vício; tudo o
jovens que desfrutavam de boas condições socioeconômicas mais, no entanto, teve de ser construído: o perfil do novo usuário,
-,
os custos sociais da expansão do vício - não eram mais os pobres
com a delinquência, com o pequeno tráfico e com a gradativa
deterioração mental e moral dos consumidores. Herdou-se, e marginalizados os atingidos -, as razões que levavam esses
igualmente, a certeza de que se tratava de um tóxico perigoso, trsuários escolarizados à toxicomania e, ainda, a melhor maneira

que comprometia a ordem social e o futuro do país e que era pre- dc prevenir e combater o que continuava a ser um flagelo social.

t8 79

I
I

A mídia, sobretudo jornais e revistas, teve papel importante nessa universitários para viciá-los e fornecerJhes a erva; makrquciros
invenção de uma diamba, de um diambista e dc um diambismo que viciavam colegiais de doze anos,
dandoJhes cigarros da ,r,r.,,_
"renovados". Não tivemos nenhum Rodrigues Dória nesse peío- nha; casas suspeitas de onde, noite
e dia, saíam e entravam jovens;
do,.já lá se ia o tempo em que psiquiatras, partidários da tal euge- enfim. os traficantes, informava
nia da raça, dominavam o debate anticanabista. A palavra estava .r." . jL::::
"-r::?j ;"ilil:l':ffiT
os lados, fosse qu a,
agora com uma chusma de especialistas, convocados para auxiliar lê, não era lá dos maiores.
as famílias a bem criarem os seus 6lhos e a eútar que fossem cap- Tornando o problema ainda mais agudo, os mesmos
jor_
turados pelo úcio: médicos e psiquiatras, sem dúvida, mas tam- nais e revistas traziam também grande
número de notícias do
bém juristas, pedagogos, sociólogos, psicólogos e um punhado exterior dando conta, quase semanalmente,
de ídolos da juven-
de outros. Foi a eles que a mídia recorreu e deu voz para compor a tude (músicos, atores, intelectuais, dançarinos,
artistas plásticos,
nova tipologia do vício e do viciado em Cannabis. dramaturgos, romancistss etc.) surpreendidos
com maconha
Em 9 de maio de r9 66, ojornalFolha de S.Paulo, em uma peque- ou declarando-se consumidores frequentes
da droga, muitos
na reportagem sobre o I Congresso de Segurança Pública, comen- deles afirmando publicamente o seu
vício e exaltando os tais
tava que o grande tema do encontro era, sem dúvida, o combate poderes criarivos, místicos e liberrad
ores da Cannabis.O despu_
ao cultivo e ao tráfico de maconha, "um mal que se alastra âssus- dor - retratava a mídia atingia níveis
- inimaginávei, . ."d"
tadoramente por todo o país, vitimando principalmente milhares vez mais tolerado, sobretudo nos ".,
ditos países desenvolvidos. Cor-
de adolescentes". A matéÍia destacava que o tema não era exclu- riam o mundo, desde a segunda metade
dos anos r9óo, as diver_
sivamente policial, "tinha implicações sociais e econômicas, além sas prisões, decorrentes do porte e do consumo de maconha. dos
de depender da educaçào, em sentido amplo", mas preocupava membros dos Rolling Stones. do atorTony
Curtis, do pocta Âllen
seriamente os responsáveis pela ordem pública.e Ginsberg e de dezenas de outros ídolos
de então. A essa altura já
Quem habitualmente passasse os olhos pelos jornais e revis- se tornara célebre a ironia do beatle
John Lennon, que di.r"." t..
tas do período por certo daria razão aos preocupados agentes de fumado maconha no banheiro do palácio
de Buckin;ham duranre
segurança. Os periódicos estavam abarrotados de notícias sobre Llma visita para conhecer a rainha
e receber a medalha da Ordem
prisões de traficantes e apreensões de quilos e quilos de maconha, a do Império Britânico em r9ó5: ,,Ríamos
feito loucos porque tínha_
droga da moda. Mais que isso, os órgãos de imprensa davam conta rnos acabado de fumar um baseado
nos banheirosào palácio de
também da facilidade com que os jovens, com algum dinheiro na lluckingham... Estávamos tão nervosos!,,.
Igualmente se tornaram
mão, conseguiam a droga: eram cinemas suspeitos que vendiam célebres, nos circuitos jovens e informados
do país, a vida regada
porções de maconha nos intervalos dos 6lmes; falsos pipoqueiros l maconha que se Ievava no mítico bairro de Greenwich
vilLge,
e sorveteiros que sorrateiramente comerciavam a erva na porta das cm Nova York, ou na ousada e hippie
São Francisco, os libeú_
escolas; .jovens de aparência insuspeita que se imiscuíam entre os lios festivais de rock, um território I ivre
para a Cannabis, e deze_

8o
llr
I

nas de filmcs,livros e peças que exaltavâm a denominada "cultura


ou de músicos, como os Beatles e )anis i oplin". Daí, concluíarrr corrr
alternativa" ou "contracultura", na qual a Cannabis e suas supostas certa ironia, os "cariocas de Ipanema ou paulistas da ruâ Au!ustir,
potencialidades criativas, contestatárias e libertárias gozavam de pasmos diantc dessas novidades", terem aderido,,à nova onda pralir
enorme destaque-10 não se sentirem superados". Outros, no entanto, como o cnti.r{)
Toda essa ambiência, malgrado a censura e a vigilância poli- coordenador do Serviço de Repressão a Tóxicos e Entorpecct.t-
cial - potencializadas pelos governos militares -, desembarcou tes do Departamento de Polícia Federal, não eram tão rigorosos
pesadamente no Brasil e em sua esteira a maconha, droga de elei- com os países capitalistas
e diziam que a moda vinha, na surdina,
ção do "mundo novo" que vinha do norte. Ao menos é desse modo do "proselitismo inescrupuloso de Moscou", que disseminava a
que a revista semanalYeja, em r97o, entende o processo, descrito toxicodependência como um meio de sedução: .,Enfraquecendo
na matéria'A perigosa moda dos tóxicos". Logo de saída a reporta- edesmoralizando os jovens, 6ca mais Íácil conquistáJos para o
gem anuncia que a maconha haüa definitivamente ganhado adep- comunismo ateu".rz
tos nas parcelas mais ricas da sociedade: "O uso de tóxicos, que já Em reportagem do mesmo ano, intitulada ,,O vício juvenil",
tinha deixado de ser restrito às zonas de marginais ou do baixo a revista volta à carga: 'Á maconha e os entorpecentes em geral,
merctrício, também deixou de ser considerado, fora delas, como depois de penetrarem em certas camadas das classes média e
I
uma extravagância ocasional".r alta, começam a exercer um irresistível fascínio entre estudantes
O ponto alto da reportagem, no entanto, não são as repisadas secundários".rl Em tom alarmista, a matéria também denuncia-
colocações que faz sobre a falta de estudos analisando os e[eitos da va que, tal como ocorrera na Europa e nos Estados Unidos, a
Canrabis ou sobre os seus nefastos impactos sobre os.iovcns, são, erva estava invadindo as escolas e as universidades brasileiras;
sim, as conclusões que avança acerca dos porquês, àquela altura, segundo o médico Osvaldo Morais de Andrade, então diretor do
de "o vício atacar mais as classes altas do que as baixas". Adian- lnstituto Pinel, no Rio de )aneiro, a situação poderia ser conside-
ta duas possíveis razões, ambas lapidares, isto é, extremamente rada calamitosa: "Mais da metade dos dezessete leitos do pron-
ilustrativas de um senso comum renovado diverso daquele da to-socorro do Pinel é ocupada permanentemente por viciados,
primeira metade do século sobre a maconha eo maconheiro que a maioria com menos de z5 anos", lamentava. Assim como na
se Íormava no Brasil. reportagem anterior, afirmava-se que a epidemia de Ca nnabís que
Diziamatéria que muita gente atribuía a epidemia da dro-
a arrebatava ajuventude nacional vinha de fora, vinha do hábito de
ga no Brasil à "mania dos brasileiros de imitar tudo o que vem "macaquear o estrangg:1o". Ia

dos países avançados (nos Estados Unidos, zo milhões de pessoas Macaqueação ou não, a percepção que se tinha era a de que,
já experimentaram a maconha)". Tais críticos salientavam que
tal como na Europa e nos Estados Unidos, o canabismo tomava
a maconha e o lso faziam "parte da civilização hippie e teriam conta de grande parte da juvcntude brasileira, de artistas e inte-
aumentado a criatividade de poetas ilustres, como Allen Ginsberg, lcctuais de destaque, e viera para ficar. Em dezembro de ry73,

8z
Si
I

I
lugar em Florianópolis e dividira opiniões: o cantor Cilbcrto t,rl
em uma pequena nota Policial que envolvia um
traficante' iovens' -
Folha de S Paulo oferecia um e o baterista Francisco Edmundo Azevedo tinham sido dct iri,s
artistas e o universo hippie, o iornal
viver no em um hotel da cidade, durante a excursão do grupo Doccs llar
quadro ilustrativo da situação que se acreditava então
do Rio de )anei- baros (Gil, Caetano, Bethânia e Gal Costa), consumindo maco
país. Narra a reportagem que a polícia da cidade
da nha; depois de breve revista no quarto em que estavam, foranr
ro, depois de muito espreitar, prendera, em um apartamento
Nobre' encontrados cerca de trinta cigarros de Canfiabis entÍe os perten-
rua das Laranjeiras, o meliante.João Eduardo Barbosa
elite musical do ces do cantor. A Folha de S.Paulo comentou rapidamente a prisão
traficante que fornecia droga para um ramo da
Barbo- no dia 8 de julho - o caso ocorrera no dia anterior -, colhendo
Rio de laneiro: Maria Bethânia, Tim Maia' entre outros'
para artistas' entre- a declaração do delegado responsável pela apreensão. O grupo,
sa Nobre, que declarou no 9o oe só traficar
"artistas explicou a autoridade policial, estava sob vigilância desde a noite
gou uma lista de seus clientes à polícia, onde figuravam
anterior, quando havia sido denunciado por consumo de "cigar-
Roberto Carlos e Gilberto Gil"' o próprio Gil
"deveria
lig"do,
" surge como ros estranhos e comportamentos anormais", e os dois músicos,
oitocentos cruzeiros ao seu fornecedor' Tim Maia
que a ao serem capturados, "riam muito e pronunciavam palavras
o segundo da relação". A reportagem destacava ainda
pois o trafi- runcadas".tó O jornal voltaria ao tema mais duas vezes naquele
única dúvida pairava em torno "de Maria Betânia'
impli- mês: a primeira, no dia ro, para detalhar a captura e explicar que
cantenão colocara seu débito na lista" e que havia "outros
do con'unto RC-7 o cantor, depois de laudo médico-psiquiátrico, seria transferido
cados: o baterista Wilson das Neves, o Ando
por apelido Rubão"' para um manicômio, pâra se tratar do vício - a toxicodepen-
e o contrabaixista Rubens Sabino da Silva'
observavam dência de um artista era um problema de saúde pública, não
,lnformava lambém que dois agentes da polícia
"vestido de polícia; na segunda, no dia 16, cm manchete de capa, para
\o havia algum lempo e que um deles'
"prr,rr"n,o uma calça Lee florida ' tentou anunciar a condenação do cantor a um ano de rcclusão (conver-
\a. t ippi.. com Peruca e trajando do tida em internação em clínica psiquiátrica) e multa de cinquenta
'
.r,ab"l"a". aon,"to com os traflcantes: 'Apertou a campainha
disse a um dos envolvidos que tra-
sa1ários mínimos.
aparmmento e,
Posteriormente,
r5 O caso, assim como o de Rita Lee, ocorrido em agosto daquele
balhava na televisão do Rio"
Em r976, um caso similar, registrado por diversos
jornais e rnesmo ano e - porte de maconha e con-
com desfecho semelhantelT

à cena: o cresci- denação a um ano de reclusão, convertida em prisão domiciliar-,


revistas da época, traz um ingrediente inusitado
ao canabismo' indicava a tolerância dimi4uta das autoridades para com o vício
mento da tolerância da opinião pública em relação
mundo ocidental iuvenil -importadoe, talvez, até mesmo subversivo, como se dizia-
tolerância que se espalhava rapidamente pelo
maconha e cle consumir Cannabis. Se deveriam servir de advertência aosjovens
-a Holanda acabava de descriminalizar o consumo de
para a ven- c desmotivar o pernicioso consumo do outrora "vencno verde",
iniciava a abertura dos históricos cofee shops voltados
()s castigos, no entanto, não cumpriram inteiramente o seu papel.
O ocorrido tivera
da livre do produto, inclusive para estrangeiros'

84
I

intelectuais - Caeta- tica ea sua eventual tolerância não se colocava. As duas lin llrgt.rrs
Ao contrário, suscitaram críticas de artistas e
elogiado pelaFolha de iriam se encontrar somente na década de r98o, quando partidiir.ios
no Veloso, meses mais tarde, era até mesmo
para propor da maior tolerância com o uso da Cannabis e mesmo da legalizl-
S.Paulopor ter aproveitado o desagradável ocorrido
ção do seu cultivo e consumo lançaram mão das origens negras c
"u-a dis.rssão madura sobre o problema das drogas no país"r8 '
"moda da maconha" e trouxe- populares da diamba com propósitos inversos aos dos psiquiatras
deram enorme visibilidade para a
da opiry{o do início do século.
ram à tona uma inesperada e incomodativa tolerância
revista Manchete' Naqucle momento, metade da década de r97o, ainda sob o
pública para com o canabismo' Como exemplo'
a

a prisão de Gil' uma governo militar, a toler4lcia possível limitava-se àquele c4n4bisglo
ediçào de ,+ de iulho de 1926, trazia' sobre
"m Amim' então pre- importado dos países desenvolvidos, àquele praticado por.iovens
opinião no mínimo curiosa, dada por Esperidião
vamos chegar cabeludos, com calças boca de sino, por artistas e intelectuais,
felto de florianópolis: "Se fizermos uma pcsquisa'
da cidade não receberam alguns deles, dizia o senso comum da época, simpáticos ao comu-
à conclusão de que 8o% dos habitantes
nismo
muito bem cantor"' Os restântes 2o%' ironiza Amim'
a prisão do
outras excentricidades que vinham de além-mar - um
ea
amontoado de comportamentos (sexo liwe, comunidades hippies,
"não tomaram conhecimento ou não vão querer dar sua opinião"'
declarava' com roupas e cabelos então tidos como espalhafatosos, afronta às hie-
Mais adiante, o delegado cnvolvido na captura
muita gente famosa' rarquias sociais estabelecidas, conflito com os valores paternos
um tom de quase naturalidade, que "sabia de
crime' Ainda etc.), por vezes agrupado sob o rótulo "vida alternativa"-
dentro e fora do estado", quc incorrerâ no mesmo
simpático' declarava Era a eles que se destinavam as dezenas de matérias veiculadas
na mesma matéria, o juiz do caso, de modo
do cantor"' que' na mídia da época- a maioria delas traduções de reportagens saídas
que ficara muito sensibilizado "com a humildade
reconheceu a sua no exterior ou breves sínteses de pesquisas e matórias tâmbém vin-
quando se apresentou para prestar depoimento'
"publicanrente' o erro praticado' Não só das do hemisfério norte, sobretudo dos Estados Unidos
t."nrg..rrãà - insinuan-
" "d.itiu, do discretamente que talvez a maconha não tivesse consequências
I isso, como o vício de fumar maconha"'re
erâ uma per- sanitárias e sociais tão deletérias como haüa décadas se apregoava.
Ora, pode-se sem dúvida advogar que o cantor
dos iornais e revistas I'or vezes, chegava-se até a aplacar o desespero dos pais, informan-
sonagem conhecida e que as seções policiais
usuários e traficantes do que pesquisas norte-americanas reccntes concluíram que alunos
estaãm .epletrs de notícias sobre â prisão de
a simpatia do dele- colegiais usuários de maconha não eram os que tinham os piores
pobres, que certamente não contavam com
opinião pública e' desempenhos escolares, ou que estudiosos europeus da ârea da
g"do, u.àlidr.i"dade do prefeito, o apoio da
saúde minimizavam a dependência c ausada pela Cannabis ou, ain-
I.,enos uinda,.om a possibilidade de verem suas penas convertidas
remânescen- tla, que não havia evidências científicas de que seu consumo levasse
em tratamento médico e prisão domiciliar' Para esses

existiâm nos arquivos da rrccessariamente a ações üolentas ou mesmo a problemas mentais


I tes do antiSo diambismo, que somente
' polícia nus reportagens policiais, o caráter estrangeiro da prá- raves. Aplacava-se, do mesmo modo, â inquietação dos cidadãos de
q

"

87
86
que ram na imprensa, por certo, mas rapidamente os participalltcs (l( )
bem e das autoridades, salientando que a epidemia de Cannobis
e glo- debate se multiplicaram, os veículos de discussão variâranr aos
se vMa não era peculiaridade local e que, diante do crescente
jornais e revisÍas vieram somar-se as publicações cientí6cas, os
bal avanço do úcio, haüa países que investiam pesado no combate
adotar livros autorais e coletivos, as coletâneas resultantes de encontros
ao tráfico e ao consumo da erva, e outros que começavâm a
e congressos etc. -, os defensores mais ou menos explícitos do
políticas mais tolerantes, ao menos em relaçâo aos consumidores'
uso recreativo da Connabis começaram a ter voz e os argumentos
À medida que se aproxima a década de r98o, a causa da
favoráveis e contrários ao seu uso alteraram-se substantivamente.
maconha ganha um aliado inusitado: a cocaína' A adoção cres-
Inaugurava-se, depois do diambismo criado pelos psiquiatras e do
cente dessa droga por pessoas abastadas, o tráfico internacional
glo- maconhismo hippie da mídia, um canabismo mais plural, cons-
e a criminalidade graúda que ela envolve - quc movimentava
truído pelas vozes mais variadas, inclusive por aquelas interessadas
balmente capitais volumosos -, sem falar em seu potencial viciante
em dotar a Cannabis, o canablsmo e o canabista de uma imagem
e, acima de tudo, na capacidade destrutiva que the era atribuída'
socialmente positiva ou, no mínimo, aceitável.
transformaram-na em um inimigo social mais perigoso que a Can-
Um excelente ponto de partida para conhccer tal deslocamen-
nabis, que começava a perder seus encantos, ao menos em certos
to é o posfácio que escreveu, em 1986, o médico, farmacêutico e
meios sociais. Em outubro de 1977, nào por âcaso, a reüstaYeja'em
então deputadorosé Elias Murad - um anticanabista ferrenho que
matéria intitulada'A ascensão da cocaína", advertia seus leitores de
"absoluta na lista das gâstou muita tinta e bastante tempo escrevendo contra o consu-
que, até aquele momento, a maconha reinava
mo da droga no Brasil - para a versão brasileira do livro norte-
drogas mais consumidas" e ainda predominava nas "camadas mais
-antericano A maconho ou ayída.Murad, no seu ilustrativo posfácio,
jovens da classe média e nas classes mais pobres da sociedade"'
recorda ao leitor que, na década de r97o, a maconha era a segunda
Mas que, "logo a seguir, crescendo de forma avassaladora"' vinha
cristalizar' então' droga mais utilizada porjovens, atrás somente das anfetaminas;
a "mania do pó".'7o É verdade que começou a se
todavia, na década de r98o, "a coisa começou a mudar de figura e
a ideia, ainda hoje muito popular, de que a maconha atua como
a maconha passou a ocupal folgadamente, o primeiro lugar entre
uma espécie de porta de entrada do toxicodependente ao universo
eo as drogas utilizadas pelos usuários brasileiros".2' Em seguida, reto-
das drogas; todavia, não obstante a suspeita, as cores lúgubres
ma a tese da macaqueação do estrangeiro, atribuindo a moda da
tom alarmante com que se pintava a "epidemia do pó" ajudaram a
maconha à mania local de imitar o que se passa nos paíscs desen-
suavizar as cores do canabismo.
volvidos: "lmitação muito mais em relação às coisas más do que
O clima adverso em relação à maconha começava, lenta e
irs boas"./2 O clímax de sua argumenlaçào, porém. encontra-se na
discretamente, a se alterar, também em decorrência da redemo-
crítica que promove àqueles que denomina "liberais avançados",
I cratização do país; afinal, tratava-se de um vício, desde a metade
"subversão política intelectuais quc, "após a abertura política realizada em nosso país
I da década de rqóo, curiosamente conectado à
c, particularmcnte, após o advento da Nova República, começa-
e moral", como então se dizia. Os índices de tal mudança começa-

Iiq
E8

I
I

maconha "amplamente generalizado no mundo", da polêmica plarrtir. " ( )


ram a dar sinais sobre a possibilidade da liberação da
livro, pequeno e de intenções modestas, que não queria dc ntrxlo
no Brasil".2r
meio de algum "estimular o uso ou o trâfico da Catnabis",2e não sontctt-
Murad acusa csses liberais avançados de querer' por
de um te era o primeiro, em quase três décadas, inteiramente dedicaclo
uma "propaganda quase nazista", convencer a sociedade
quando não de suas ao problema da maconha, como ainda razia uma visão, se nã()
absurdo: a "pretensa inocuidade da maconha'
uma tes: inteiramente simpática os tempos ainda não eram para isso na
propaladas virtudes".2n Acusa-os também' invertendo
levava à ótica do respeitável médico , ao menos tolerante em relação à
, característica dos anos r97o - a de que o uso da Cannabis
de quere- droga. Bontempo, sempre apelando ao mito da neutralidade do
' subversão ao questionamento das hierarquias sociais -'
e
pois' segundo discurso cientí6co - que se prestou, desde o início do século xx, a
rcm "alienar o povo, particularmente a juventude"'
pela droga' legitimar argumentos favoráveis e contrários ao uso da Cannabis ,
o incisivo médico-deputado, "uma juventude alienada
que não pertur- advoga, entre outros pontos, que não existe evidência de que
sem estímulos ou motivâções, é uma mocidade
"quaisquer das alterações da personalidade provocadas pelo uso
ba, não contesta, não combate, não luta, não
reiündica nada"'2t
da Cannabís sejam devidas a lesões cerebrais orgânicas"; que seu
O mais preocupante de toda essa situação' avalia Murad' é que
uso não gerava comportamentos criminosos e agressivos, que tâl
havia indícios de que a sociedade brasileira se tornava mais e mais
a ponto de iá ideia era antes um "tabu criado pela sociedade do que uma verdade
porosa a esses apelos pela legaliz ação da Cannabís'
de intelectuais científica"; ou, ainda, que o propagado mito de que o ato sexual,
serem publlcados livros e se organizarem encontros
quais livros e even- sob efeito da Canrabis, produzia um "prazer inigualável" não con-
e jovens para debaterem seu uso, muitos dos
tava com nenhum respaldo nas pesquisas médicas.r0
tos "pregando clara e abertamente a legalização ou a liberação
-
afinal' Em 198r, o também médico Elisaldo Carlini publica um peque-
da maconha".26 Mas qucm eÍam e o que argumentavam'
para o zeloso Murad' no artigo intitulado "Maconha \Cannabis satíva): mito e realidade,
esses iovens e intelectuais avançados, que'
"plantar maconha no quin- fatos e fantasia", ao longo do qual destaca que, desde os idos de r964,
I iam ao extremo de advogar algo como
"mais de z mil trabalhos científicos sobre química, farmacologia,
da liberalização
tal de casa e mobilizar a opinião pública em prol
"funcionava rnetabolismo e cfeitos clínicos de o9-rHC foram publicados",r' que
do consumo da erva" ou de apregoar que a maconha
e não várias dezenas de novas substâncias foram identificadas na planta
como afrodisíaco", nào era tóxica, não causava dependência
c que, seguramente, a Canntbis não possuía efeitos alucinogênicos,
implicava baixo rendimcnto escolar do usuário?27
lançava "mas parecia dotada de ações terapêuticas". Carlini destacavâ tam-
Em r98o' o médico naturopata Márcio Bontempo
sativa (moconha)' bém que, em países como os Estados Unidos e o Canadá, "pairava
seu livro Estudos a tuaís sobre os eJeitosda Cannabis
luz dos "conhe- uma grande celeuma sobre a descriminalização da maconha".r2
cuio objetivo era trazer alguns esclarecimentos' à
físicos e Mesmo assim, não nos enganemos: o módico não era nem de lon-
cimentos científicos mais modernos", sobre os impactos
ge um entusiasta do uso recreativo da maconha; ao contrário, seus
as sequelas psíquicas, sociais, econômicas e políticas do consumo'

9l
9o
elogios são às possibilidades terapêuticas da planta, o que já não lnglaterra, Frânça e tantos outros, desde pelo menos a:nctaclc da
era pouco; quanto ao seu uso recreativo, â sua perspectiva era década de r96o. Por aqui, no entanto, tiveram vída longa na boca
outra: Carlini, retomando a seu modo as cantadas ligações enÍe dos ativistas em prol da maconha, adentrando, naqueles mcios
Cannabis, política e alienação, adverte que, "nos sistemas ou regimes mais nostálgicos da tal vida alternativa dos anos 196o, o século
de governo onde o jovem é marginalizado e colocado na posição de xxt. Um dos argumentos, o mais ostensivo e francamente ligado
um robô alienado, [...] ele se atira às drogas como uma fuga fácil à herança hippie - saído das experiências lisérgicas do controver-
a sua frustração, como forma ingênua e ineficiente de protesto".rl so neurocientisra Timothy Leary -, é aquele que promovia uma
No fim dos anos r97o e início dos tg8o, pelo menos dois outros releitura do culto literário do haxixe (das drogas em geral) inicia-
acontecimentos justificavam mais diretamente os temores exPrcssos do no século xlx. Dizia-se, nessa linha, tal como em certos círcu-
pelo anticanabista Murad. Em junho ry79,oiu\z carioca Álvaro
d e Ios literários europeus do Oitocento s, que a Cannabis abria canais
Mayrink da Costa absolveu um menor detido por porte da droga novos e inusitados da percepção humana e que, por isso e eis
-
alcgando que a maconha fazia "parte dos usos e costumes da socie- talvez o ingrediente ligeiramente novo que os anos r9óo acrescen-
dade" de então: "oitenta por cento dos jovens entre 19 e 2.1 arlos iâ tavam à linhagem -, o uso da erva levava à contestação do st4lus
a experimentaram- Considerar como crime esta prática atenta con- 4uo, dos valores tradicionais da sociedade burguesa. Entre os ati-
tra os direitos humanos e âs garântias individuais. É uma herança vistas brasileiros dos anos r98o, havia quem levasse muito a sério
nefasta do Estado totalitário".t'Meses mais tarde, em.)unho de r98o, esse potencialmítico e libertador da maconha, como o palestrante
cerca de 35o pessoas se reuniram na Faculdade de Filosofia da Uni- Jorge Mautner, que, na sua intervenção no debate da usr, afirmou
versidade de São Paulo (usr) para debater a descriminalização da "que a questão da maconha era uma questão
crucial de civilização,
maconha. Discursaram, então, entre outros, o psiquiatra e deputado uma experiência do ser humano com a química e com a atitude do
)oão Batista Breda-que, com o citado Mayrink da Costa, elaboraria mundo moderno, talvez o admirável mundo novo,'.ró O cantor foi
pouco depois um projeto de lei pela descriminalização da Canna' mais longe, e, em um arroubo pacifista com ares 6losóficos, bem
-, o músico )orge Mautner, o poeta Jamil
bis que não prosperaria ao gosto das audiências jovens de outrora, sentenciou: .,O quc eu
Almansur Haddad e um cstudante de nome José Sadec; o médico queria dizer sobre a maconha é que ela serviria para serenar os
Márcio Bontempo e o jornalista Fausto Macedo, convidados para atritos, o ódio que anda por aí, o acirramento dos conflitos inúteis
o evento, não compareceram - "as duas pessoas que imaginamos c neuróticos, suicidas e homicidas, de ideologias ególatras!',. Mais
que dcfenderiam a posição contra a liberação se desinteressaram ao adiante, no mesmo tom, Mâutner arremata: ..O principal fator da
saber que a liberação seria discutida".rs maconha, a meu ver, é que ela reduz o ego agressivo, e qualquer
Os argumentos que aí circularam de modo bastante confu- agressividade militarisra".rT
so não eram originais, nem mcsmo recentes; ao contrário, eram Um pouco mais claro mas igualmente devedor da crença
velhos conhecidos de países como Estados Unidos, Holanda, rras propriedades subversivas do canabismo e na conspiração do

92 ()t

I
I

poderdominante para que os dominados não descobrissem a "erva circularam, sobretudo pelos Estados Unidos e porpaíses da Europ;r
libertadora" foi o poeta Jamil Haddad, que não cansou de repetir ocidental, na boca da denominada new le;ft, ao longo das d(,cadas
ideias como "a droga libera a personalidade, essa liberação da per- d,e ry6o e 97o.

sonalidade em termos políticos leva ao anarquismo, enquanto o Uma fértil linha argumentativa originada de tal caldo _ aindl
sistema, que tem outra visão da coisa, que é uma üsão nazista, quer ausente no debateuspiano, mas quc logo se faria presente
no Brasil-
controlar a personalidade".rs adaptar-se-ia bem à sociedade brasileira e teria larga aceitação
c
Grandes esperanças depositavam Mautner e Haddad na Ccn- lastro por aqui, adentrando também o século xxr: aqucla
que sc
nabis e no canabismo, talvez proporcionais e correspondentes aos propôs a resgatar as origens populares d4Ç4nn4bis _ no Brasil, as
medos que a erva e o seu consumo despertavam em conservadores suas cantadas origens africanas e escravas _ e conectá_la
a uma
como Murad; todos, cada um a seu modo, crentes nos propaga- espécie de Iuta dos grupos oprimidos
-
as tâis minorios, nascidas
dos e desmedidos "poderes da maconha". Tal percepção esvaziou- das denominadas "teorias da difercnça,'que proliferavam,
desde
-se crescentemente ao longo das décadas seguintes, persistindo as décadas de ry7o e 1980, em especial na França
e nos Estados
somente naqueles meios mais juvenis ou mais marcadamente ana- Unidos contra a ordem burguesa universalista, branca, falocráti-
crônicos. A chusma de especialistas e ativistas querendo discutir ca, eurocêntrica etc. Estamos aqui ligeiramente distantes
do velho
o lugar social do canabista e da Cannabis - seus usos recreativos pensamento de esquerda, aquele herdeiro da moral higienista
do
e médicos e sua possível liberação ou descriminalização - optou tcmpo de Marx, que se dirigia ao trabalhadorsem vícios, conscien_
poroutros caminhos, retirando da outrora erva maldita tanto seus te de si mesmo e de seu lugar social. Tal posição _
essa sim _ está
poderes libertadoÍes como antissociais e investindo em aspectos cxemplarmente representada no debate de rggo na usr pelas
inter_
mais objetivos e pragmáticos da discussão: nas incontáveis pesqui venções de um participante anônimo, proveniente da agremiação
sas médicas e químicas interessadas em avaliar as potencialidades de esquerda Libelu lLiberdade e Luta). denominado..Bicho,,.
Suas
curativas ou tóxic as da Cannabis; nas aná1ises dos seus impactos reiteradas falas no debate são lapidares e poderiam estar
na boca de
sobre o indivíduo e sobre a ordem social quando comparados um médico higienista do século xrx. Disse o rapaz, em
uma de suas
aos dc outras drogas (legais e ilegais); no balanço dos gastos com intervenções: "Eu acho que o fenômeno da maconha
ó bastante
seu combate e dos ganhos com sua eventual liberação; na men- complicado, [...] que a maconha não é um elemento de liberação
ou
suração do custo do seu uso para os sistemas públicos de saúde; algo assim, acho que o homem tem potencialidade
para conseguir
, na proposição de mecanismos possíveis para diminuir os víncu- ir muito além do que a gente vai hoje,,. Bicho prossegue recorren_
los entre o usuário e a criminalidade decorrente do tráfico, sem tlo ao psicanalista Wilhelm Reich, ao,.prazer genuíno',,
desalienado,
estimular o consumo etc. Isso tudo, no entanto, somente viria à liberto das amanas capitalistas, contrário, pois, ao proporcionado
tona mais tarde. Àquela altura, nos anos r98o, os argumentos pró pela maconha, instrumento utilizâdo pela burguesia
para ,,alienar o
e contra ainda eram outros, muito mais próximos daqueles que lovem da realidade"-da rcalidade revolucionária, bem entendido. r,)

91
I
Mesmo para o seu tempo e para o lugar onde pronunciava questão médica ou jurídica, mas um problema
social estritamente
o seu discurso - o ambiente universitário das humanidades -, os vinculado ao secular processo de exclusão social que
carac teizaÍia a
argumentos de Bicho soavam anacrônicos. A esqucrda que se que- sociedade brasileira. O raciocínio é mais ou menos
o seguinte:
ria renovada, uma esquerda cultural, já distante do proletariado a maconha é um derivatiyo com raízes
populares e vem ,"rdo ha
higienizado de Marx e mais atenta à importância das mudanças séculos reprimida justamente por esses vínculos,
tudo o mais são
comportamentais e ao papel das tais minorias nas sociedades argumentos falaciosos, ideológicos. Lutar, pois, pela
liberação da
de seu tempo, estará mais bem representada cm duas coletâneas de maconha seria lutar pela cidadania, lutar pelos direitos
dr, .l"rr",
ensaios, publicadas em r983 e 1986, respectivamente. A primeira, menos abastadas ao seu lazer tradicional, pelo
direito à expres_
Maconha em debate. resultou de um encontro ocorrido no Rio de são de valores e comportamentos diferentes
daqueles dos grupos
Ianeiro que reuniu filósofos, sociólogos, educadorcs, médicos e dominantes; como exemplarmente argumentou yurista
o Àlvaro
iuristas. A intenção do encontro era clara: "Tirar o debate das salas Mayrink da Costa, as classes pobres, em razão do
preço e de suas
fechadas dos institutos módicos e das entidades iurídicas, enfocar tradições, são as grandes consumidoras da maconha.
Além dis-
o tema amplamente, sem nos restringir a considerações de fun- so, explicou Costa , a erva traz o,,Íanço
da desquali6cação social.
do cientí6co".{ As posições ali defendidas afastavam-se tanto da A maconha historicamente é desqualificante e a
cocaína propor-
neutralidade e do cantado "bom senso cicntífico" de Bontempo e ciona st4Íus ao seu usuário,,.a2 Daí o advogado
Oswaldo lúnior, em
Carlini, como do romântico misticismo hippie visto no pioneiro intervenção intitulada.A luta pela descriminalização,,,
concluir que,
encontro da usR A Cannabís, o canabrsmo e o canabista ganharam ''aqui, no Brasil,
a luta pela tolerância ou pela descrimin alização
é
lastro sociológico. A erva vinculou-se mais uma vez às "classes [rasicamente ideológica. Temos que mobilizara
opinião pública,,..,
menos favorecidas", agora não mais para reforçar seu carâter bâr- Os vínculos sociaís da Cannabis com os estratos
pobres da
baro, ústico e marginal ou reafirmar a necessidade de reprimir seu população, especialmente com a sua parcela
descendente de
consumo. Ao contrário, a maconha - argumentavam os debate- aíricanos, também constituíram o eixo de outro
importante
dores - realmente tinha raízes populares c negras. Tal ligação, no livro, Diamba, sarub-amba: coletônea de textos brasíleiros
sobrc o
entanto, reforçava que a aversão ao canabismo era um preconceito nha, organizado ^oro'
porAnthony Henman e Osvaldo pessoaJúnior e
de classe, que aparecia sob o disfarce de proibição médica ou de esta- publicado em t986. Dividido em duas partes (o
discurso médico
tísticas criminais. A desmedida reação moral à maconha, explicou c os argumentos libertários), teve um enorme
impacto entre os
um debatedor, foi durante muito tempo uma reação caracteústica irtiyistas da liberação da Cannabis. Como
sugere o título, a obra
da classe média brasileira:'â maconha erâ estigmatizada geralmen- ( cntra-se em uma retomada
da conexão do hábito de consumir
te pelos grupos em mobilidade social ascendente, para os quais rr Cannaáis com a sua suposta origem negra, conexão agora
cons-
vinha constituir certamente um estigma dc seleção social".ar Liberar truída de um ponto de vista positivo e, em
tempos d e valoriza_
ou não a maconha, tolerar ou não o maconheiro, não era, pois, uma r iio das "diferenças" e das minorias, um
poderoso argumento a

96
97
I I
favor da legalização do seu plantio e consumo. "O seu uso, no dizer O tempo, sem dúüda, era radicalmente outro. Dizo. tluc .r
dos sociólogos, encontra-se profundamente arraigado nas cama- maconha era um "elemento cultural trazido pelos negroidcs" orr
das populares. Como, então, explicar a total ausência de um debate que ela "atravessava a nossa história" e estâva "profundânlur t(.
político sobre a su alegalização, atérecentemente? Será antidemo- arraigada nas camadas populares"aó não constituía mais, conro n()
crático defender a sabedoria de um povo diambista?", pergunta um tcmpo das campanhas eugênicas, um modo de denegrir o usuá-
dos organizadores da obra.a rio e condenar a planta; ao contrário, agora, em meio ao entu-
Acoletânea, em seu empenho de dararcs de cidadania à diamba siasmo do processo de abertura política, tais falas punham a nu
e ao diambista, promove, antes de mais nada, uma crítica às cam- o aspecto racista e classista que semprc envolvera a perseguição
panhas contra a Cannabis - "tão distorcidas e desproporcionais a ao secular hábito do diambismo no Brasil, perseguição caracte-
qualquer eventual perigo encerrado nessa planta"as -, responsáveis rística da sociedade econômica e culturalmente excludente que
por espalhara desinformação e fomentar o medo na população' Criti- aqui se formou e que começava a dar sinais de enfraquecimen-
cava-se, também, a dilulgação propositadamente pârciâl e limitada to com a Nova República. Tal vínculo prestava-se, também, a
das pesquisas médicas sobre a planta - muitas das quais omitiam unir a luta pela legalização da maconha a ourras Iutas pontuais
suas amplas e comprovadas virtudes terapêuticas - e o alinhamen- da época; à da valorização das raízes negras da cultura brasilei-
to do Brasil com a politica proibicionista norle-americana, a famo- ra, sem dúvida, mas igualmente à luta pelos direitos das mino-
sa "guerra às drogas". rias raciais e culturais, dos economicamente desfavorecidos,
O livro fazia, ainda, um dos mais poderosos e duradouros dos defensores da medicina alternativa etc. Dito em outras pala-
argumcntos em favor da Cannabis e do canabismo produzidos vras, a luta pela lcgalização
d a Cannabis era, aos olhos daqueles

no Brasil entre a década de r98o e a década inicial do século ativistas, "um exemplo minúsculo de movimento social, que se ,

,
xxr: aquele que defendia o caráter negro, tradicional e popular caracteriza por ser um confronto ideológico de costumes entre a i

da diamba e do diambismo no Brasil. Os intelectuais e ativis- juventude e uma sociedade conservadora, entre uma atitude
tas que colaboraram parâ a construção de tal perspectiva, que antiautoritária e outra policialesca". O papel dos movimentos I

rapidamente se fez hegemônica entre os partidários da liheração de jovens era, pois, o de aproveitar o ambiente tolerante criado

do consumo da Cannabis pot aqui, promoveram qm3.,!gye.199o pela defesa do canabismo e "acelerar esse e outros processos de
curiosa da tradição anticanabistá brasileira, utilizando os mes- direitos civis, desmascarando as estruturas de ilegalidad elegal".aT
mos dados colctados pelos psiquiatras do início do século xx Os anticânabistas, ainda que um pouco perplexos com o
para desquali6car socialmente a maconha, demonstrar os peri- despudor daqueles que abertamente defendiam a maconha, seu
gos que um vício disseminado entre negros e pobres rcpresen- cultivo e seu uso, não permaneceram impassíveis diante de tan-
tava para a ordem social e, sobretudo, apontar a necessidade de tos avanços. O seu íoco, no entanto, também mudou. Ao longo
reprimiJo com rigor. das décadas de r98o e r99o prosperou, no Brasil, uma linhagem

q8
í

psicopedagógica do anticanabismo. O vício nessa época foi tolerância, auxiliando o jovem no que fosse possívcl, ..t.sclirrct
t,r r

tratado como um problema decorrente da críaçdo inadequada do do, dialogando, ajudando e nunca esquecendo que
o anr<».sir.rrrilic;r
jovem, de pequenas falhas no scu proccsso de socialização, que muito nessa transação. portanto, nada de broncas e nem dc cnlriu
poderiam e deveriam ser corrigidas com o auxílio dos incon- numa de donos da verdade, porque isso não vai resolver nada,,.',,
tornáveis especialistas: os pedagogos, o orientador educacional, Antes da educadora e de seu apelo à tolerância e ao amor,
o psicólogo e, em casos mais extremos, o psiquiatra de confiança. o psiquiatra Mauro Weintraub, em rqgt, defendia, em Sonfios
O tom, no entanto, é ligeiramente menos alarmista que outrora; e sombras: a realidade áa maconha, o diálogo geracional
e a educa-
o canabismo é tratado quasc como uma fase da vida dojovem con- ção, ou melhor, a adequada formação intelectual e moral como
temporâneo, o mesmo iovem que, mais tarde, passada a rebeldia os melhores meios para prevenir e combater o vício entre jovens.
juvenil, com mais ou menos turbulência, será um estável pai de O psiquiatra, tal como Maria é cético em relação a políticas
Juana,
família. Daí, antes de tudo, a necessidade de dar orientações âos repressivas (iudiciaispoliciais):,,O fracasso desse tipo de atuação
e

desorientados pais: explicarlhes a importância de conversar com não poderia ser mais bem ilustrado do que pelo constante
aumen_
os filhos, ensináJos a reconhecer o canabismo da sua cria desgar- to do número de pessoas que, âno â ano, passam a consumir
algu_
rada e instruí-los a trazer, sem pânico ou alarde, os mais renitentcs ma droga".5r Tais medidas, segundo o psiquiatra, pareciam
üáveis,
de volta ao bom caminho. ou melhor, aceitáveis, quando se acreditava que a maconha..era
O leque de opções é grande. Há, por excmplo, posições como coisa de gente pobre, e a delegacia policial o local mais adequa_
a da "educadora, advogada e mãe" Maria ruana, autora de Nós e do para tratar do assunto,,. Agora, esclarece o psiquiatra, diante
a maconha, publicado cm rg86.a8 Seu opúsculo, de uma pieguice da disseminação da erva entre a juventude bem-nascida, ,,único
o
a toda prova, mas bastante ilustrativo das produções do gênero rnodo que parece üável para reverter a tendência [...] é uma radical
-educadores contra as drogas -, é destinado aos jovens e a seus rnudança na ideologia educacional de nossa sociedade,,.rz

I pais. Maria ,uana dirige a ambos algumas "pérolas": "Fico aqui Mais de meia década depois, o também psiquiatra e psico_
matutando: meu Deus, seria tão bom se eles [os jovens] pudes- dramatista Içami Tiba, no seu didático Saibamais sobre maconha e

sem contar com todos os adultos como aliados. Com as autori- jovens ,.o
$g8gl, reafirmava que uso de drogas não se combate por
dades. Com ôs pais. Com o governo". No entanto, não era isso decretos, mas sim pela educação, pela prevenção, e que
o diálogo
que costumava ocorrer: "Mas não. Esses estão sempre do outro ['a oporrunidade de tanto os pais quanto os filhos falarem dos
lado. A condcnar, a proibir, a pressionar. Sem procurar entendê- scus pontos de vista e ouvirem os dos outros,',, mostrando que o
Jos e ajudar".oe A advogada, uma mãe zelosa que culpa a "educa- diálogo familiar e a educação preventiva ainda eram írits na
boca
ção liberal" pelo consumo da CaÍnírbis entre os jovens, julga que tlos anticanabistas brasileiros. Uma familia renovada,
segundo
pouco podiam -os pais, os educadores e mesmo â policia - fazer lçami, aquela em que os membros dialogam, em que pai
e mãe têm
a respeito. Restava às almas preocupadas uma política de amor e tcmpo para os filhos, em que o casal se mostra integrado
e firme

1()C)
l()l
c as, "dificilmente fabrica um psicótico' ou um legitimidade social do discurso científico para avançar restriça)cs
na educação de suas

drogado'l os desarranios familiares, porém, "fragilizam


os egos das marcadamente morais - legítimas, por certo, mas morais - ao
consumo eà descriminalização da maconha. Frequentam o scu
c.iiças, tornando-as lulneráveis aos vícios de qualquer origem"'54
inves- discurso, do mesmo modo que o de seu antecessor, advertências
Por esse tempo, no entânto, nem todos os anticanabistas
na prevenção')osé Elias sobrc o preocupante aumento do número de usuários e dependen-
dam tanto na compreensão, na educação e

rqqo' persistia tes da Cannabis (mâis potcnte que a do passado), a tese (ainda que
Murad, o Ilodrigues Dória das décadas de rgSo e
que pro- mítrgada) da Cannabis como porta de entrada pâra outras drogas, a
na sua luta proibicionista contra os "liberais avançados"
"descriminalização constante menção à falta dc estudos sérios que comprovem as vir-
punham, segundo o seu olhar desconfiado' a
legalização"'5t O médico-deputado' tudes terapêuticas da planta, o combate à ideia de que a maconha
como o primeiro passo para a
talvez um dos seja uma droga leve e não viciante, o destaque ao caráter incerto
francarnente hostila qualquer política de tolerância -
ampla aceitação e multicausal do vício entre jovens (todos estão sujeitos a ele) e,
últimos representantes do gênero no Brasil com
que a "penalização ainda é a melhor maneira de
como não poderia dcixar de ser, a denúncia de uma suposta maciça
social -, advogava
cometer atos ilícitos e obrigáJo a pautar a sua e mentirosâ propaganda em prol da libcração do plantio e uso da
coibir o indivíduo de
as regras que a sociedade lhe impõe" e
que os erva, propaganda que esconde da sociedade o potencial destru-
üda de acordo com
humano (sobretu- tivo - cientificamente ainda não demonstrado (a secular falta de
estragos que a Cdnnabis causava sobre o corpo
irrefutavelmente cstudos conclusivos), mas empiricamente constatável- que tem
do o corpo lot em) e sobre o corpo social' como
científrcas"' a maconha sobre o usuário e, em longo prazo, sobre o meio que
comprovavam as "últimas e mais completas pesquisas
do seu consumo' Tais pesquisas' em sín- o abriga.57
lustificavam a proibição
afeia Desde meados da década de 1990, no entanto, os discursos
tese, e"plicava o doutor Murad, provavam que a "maconha
a simples célula' cstritamente proibicionistas entraram em rápido declínio -saíram
a capacidade de funcionamento de tudo' desde
o fumante de maconha pode de moda -, e o canabismo, se não passou a gozar de completa tole-
até ; indivíduo como um todo. ["']
geraÇões"' Mais ráncia no país - também jurídica, como em alguns países europeus
estar iogando roleta-russa genética com as futuras
celular provocado c estados nortc-americanos -, deixou de suscitar reações histéricas
adiante, em tom dramático, arrematava: "O dano
pode ser denomi- t alarmistas. salvo uma ou ou(ra exceçào. mas mesmo estas passa-
no fumante regularde maconha nos vários anos
ram a soar aos ouvidos do público como excessivas e mesmo cari-
nado: a erosào lenta da vida ou toxicidade silenciosa!"''6
modo que caturais. Daí, por certo, a absoluta ineficácia das tais campanhas
O anticanabismo combativo de Murad' do mesmo
e psiquiatras' encon- educativas antidrogas veiculadas pelos poderes públicos na mídia
as soluções psicopedagógicas de educadores
nos dias tcleüsiva impressa nas últimas duas décadas. Mais uma vez, em
trou sucessores atê o século xxt, o mais conhecido deles'
e e

Ramos Laranjei- curto espaço de tempo, a diamba e o diambismo ganhavam con-


que correm, é sem dúvida o psiquiatra ttonaldo
fortemente na tornos sociais renovados,ligeiramente renovados, ó yerdade, mas,
ra, que, tal como o seu ilustre antecessor' ampara-se

l()i
102
?
de qualquer modo, depurados tanto daqueles apelos míticos pro-
venientes da cultura hippie como dos argumentos de m atrz"eúge-
nista" ou demasiadamente moralizantes que caracterizavam o
discurso anticanabista de linhagens como a dos médicos Rodrigues
Dória, Murad e Laranjeira, porexemplo. Restaram, é verdade, como
mencionado, setores juvenis - e não sô - pro-Cannabis que ainda
apelam aos tais poderes iluminadores e subversivos da erva, ou
setores mais partidariamente engajados, que destacam os seus vín-
culos com as minorias e as ditas classes oprimidas. Esses argumen-
tos, no entanto, do mesmo modo que aqueles mais sobressaltados
e destemperados de certos setores anticanabistas, gradativamente
têm deixado de ter expressão no debate global ou nacional pela
descriminalização ou não da Cannabís e pela mudança do lugar
social do canabista. Em larga medida, ambas as linhas argumen-
tativas tornaram-se, cada uma a seu modo, um discurso identitá-
rio de grupo, discurso para consumo interno do próprio grupo:
canabistas e simpatizantes dirigindo-se a outros tantos canabis-
tas e simpatizantes; ou anticânabistâs alarmistas escrevendo para
anticanabistas alarmados. Ambas perderam sua contundência
social e viram subitamente seu espaço ser ocupado por aquelas
aproximações da Cannabis, do canabísmo e do canabista designa-
das como "pragmáticas".

1()4
Canabismo,
um hábito
a

economicamente
Em 1995 a Íe:,ista Veja, em reportagem intitulada'A estrató.qiir

viáve1 número z contra a droga", constatava, em tom fatalista e

melancólico, quc, "depois de muitos sacrifícios em dinheiro e crrr


levcnrcntr.

vidas, a política de reprimir as drogas pela força policial e judiciri-


ria" só tinha "fracassos a contabilizar". Todos os dados pareciarrr
sugerir "a necessidade de mudar a estratégia de combate ao uso ('
ao tráfico de entorpecentes".r A matéria anunciava um sentimeDt()
que se alastrava rapidamente pela opiniào pública mundial e, r'nais
r ecentemente, pela brasileira: a de que a "guerra às drogas ", lançada
mundialmente por Richard Nixon e reforçada na década de rgllo
por Ronald Reagan, atingira o seu limite e que fortunas haviant
sido dcspendidas com resultados pífios e mcsmo negativos para
as sociedades que se engajaram na inglória batalha - como a vcr-
tiginosa ünculação, deconente da repressão sistemática ao tráfic«r
ilegal, entre drogas, violência e crime. Para mais, a tolerância social
com as drogas, sobretudo com a maconha, crescera enormementc
no país.
Já cstavam distantes aqueles dias cm que a imagem deum jovenr
"maconheiro"gerava pânico nas famílias, alerta nas escolas e repúdio
das autoridades; como explicava a matéria, os juristas ouüdos pcla
reüstâ eram unânimes em dizer que a "]ustiça condena aquilo quc ó
reprovado pela sociedade" e que o consumo da maconha não era mais
tão "recriminado pelas pessoas", o que estava levando os magistrâdos

l( )7
I

a serem razoavelmente tolerantes com os usuários.2 Diante de tamanha tabaco? Talvez - e as experiências pelo mundo indicavam essa tlircçiio
tolerância, porumlado, ede não menor derrocada da política proibicio- *a política mais adequada passasse
não pelas campanhas irrcalisras
nista, pol'outro, os "ventos mudaram"e, informa a rcportagem, embo- contra o canabista- que tântas piadas geravam entre os usuários
ra a "opinião pública ainda scia majoritariamente contra a legalização, mas pelo esforço de convencer a opinião pública ,,a
não achar quc
armou-se um debate com vários países e personalidades inesperadas, a maconha é uma coisa diabólica,',4 como dizia
o médico Elisalclo
pessoas degrande projeção, pularam para o outro lado da cerca".] Carlini, e a rever as suas ideias cristalizadas acerca
do maconhciro
As "personalidades inesperadas, pessoas de grande projeção" típico- o marginal ou o jovem rebelde, contestador.
Não por acaso,
que mudaram de lado e gradativamente levavam consigo largas com a chamada de capa ,,Maconha quase liberada,,,
a mesma revista
parcelas da opinião pública partiam do que estava à üsta de todos: Veia explicava aos seus leitores que em
zooo não haúa mais, conro
a guerra contra as drogas estava perdida, e outra abordagem impu- outrora, "uma figura que sintetize o maconheiro
Existem cabc_
[...].
nha-se. Não era somente o aumento dos gastos com o combatc, sem ludos, carecas, atletas,sedentários, descolados, pobres,
ricos,iovens
a concomitante diminuição do consumo de drogas, que tornava a e velhos fumando maconha',. Além
disso, prosseguia a reportagem
derrocada evidente. A tal guerra criara grandes circuitos intcrnacio- intituladà 'Cada vez mais jovens,,, .,a
droga é consumida lloremãnt"
nais para a droga, tornara o seu mercado mais e mais atrativo, trans- em lugares como praias, universidades e shows
de rock,,.5
formara o tráfico emum negócio arriscado e extremamente úolento, Paralela e intimamente ligada à melhora da reputação
da
multiplicara exponencialmente a população carcerária de muitos pai maconha e à reconstrução da imagcm social dos
maconheiros
ses, ampliara a corrupção nos meios policiais e.jurídicos e lançara o - um grupo agora quase tão variado e descaracterizado quanto o
consumidor, o pequeno traficante e uma dezena de outros envolvidos dos consumidores de álcoolou de tabaco_,ganhou
corpo n, úlri-,
direta ou indiretamente com a droga no famigerado "mundo do cri- década a popularização, por meio da mídia impressa
e televisiva,
me". A droga, em suma, não era em si uma ameaça parâ a sociedade, de estudos cienríficos -
em sua maioria estrangeiros, diwlgados
constatayam os agora pârtidários da descriminalização. A ameaça originalmente em revistas europeias e norte-americana,
d" g.rn_
vinha da estreita convivência dos usuários, sobretudo os jovens, com de presúgio (Lancet, La Recherche, Nature, American
lournal of Uedicine,
o crime e da criação de "um submundo de marginais" ricos e podero- entre outras) ou em relatórios da Organização Mundial
Science,
de
sos que ameaçavam a estabilidade das instituições. Saúde (onrs) - que ora exalravam as propriedades
terapéuricas da
Tratando-se da Cannabis, que sentido havia, perguntavam auto- Cannabís, ora mrtigavam os seus impactos negativos
sobre a psiquc
ridades, educadores, médicos, psicólogos, sociólogos etc., expor e o físico dos canabistas. Desde o início
do século xxr, sao dez"-
milhares de jovens à üolência e ao crime para combater uma droga nas de documentários, livros e reyistas dedicados
a propagar essa
sabidamente com baixo poder viciante, de efeitos modestos sobre o visada cientificista dapopular Cannabis.
Há, por certo, nr. ."nr"n.,
comportamento do usuário e produtora de impactos Íisicos e sociais de imagens gravadas e páginas imprcssas
sobre o tema, pesquisas c
muito inferiores àqueles gerados pordrogas legais, como o álcool e o resultados para todos os gostos e dados científicos
inconclr.iu.r:;

ro8
I

argumentos de mati A scgunda reportagem, de 1998, sob impacto de urr r,r plr,lrrr ,
ou parcialmente conclusivos para sustentar os
da ous intitulada " Cannabis: uma perspectiva de saúdc c irgr.rr,l,r
zes os mais diversos. Todavia, é notáYel a crescente
predominância - ,1,

que' de certo pesquisa", é mais cautelosa sobre as virtudes medicinais rlir rrr,r, ,,
de informações positivas sobre a droga, informações
estimulam a sua aceitação social: são notícias nha e incisiva quanto aos seus eventuais danos à saúde dos us ,I tr r.,
modo, legitimam e
pouco exploradas' É verdade que a matéria não deixa de destacar que a pesquisa tlt.srr rr.,
sobre as suas inúmeras, muitas das quais ainda
que o seu consumo tillcara uma série de lugares{omuns sobre a droga: "Não, a nraeorrlt,r
potencialidades terapêuticas, sobre o conforto
não reduz o número de espermatozoides nos homens, não irrtlrrr
,.", de dores crônicas, sobre a sua capacidade de
po.t"doaes
"o, dcmasiado invasi- à violência nem tira a disposição para o trabalho e para o estud(i'.'
aliviar os incômodos de doenças e tratamentos
indivíduos Mas destaca, também, que a dita pesquisa comprovara - ou estavit
vos, sobre os benefícios de seu consumo para aqucles
no perto disso - que a maconha, se consumida com regularidade, diÍi-
demasiado ansiosos e até mesmo sobre seu importante papel
mais destrutivas cultava "sutilmente" o desempenho de atiüdades intelectuais com-
tratamento de viciadÔs em dÍogas potencialmente
público de saúde' plexas, viciava, potencializava o consumo de outras drogas, alteraya
para o usuário e mais dispendiosas para o sistema
por exemplo' publicou pelo menos ligeiramente as funçõ€s motoras, afetava o aparelho respiratório e o
A revista Superinteressante,
duas décadas' )á na equilíbrio hormonaldo corpo, tinha impactos nocivos sobre o feto e,
três longas reportagens com esse teÔr nas últimas
ou a Aids' o que era mais preocupante, parecia indicar associações com a esqui-
primeira delas, de r ggs,lê-se"A Cannabis não cura o câncer
decorrente dessas zofrenia - "as pcsquisas revelam que a ligação existe".e
O que ela faz com efrciência é aliüar o sofrimento
norte-ameri- A última reportagcm, de zor4, sugestivamente intitulada
doençs". Afirmava também que 7o% dos cancerologistas
'â revolu$o da maconha", retornou ao tom simpático de 1995 e abriu
canos entrevistadoscm uma abrangente pesquisa sobre o temateriam
natural se esta fosselega- salientando que a erva era uma espécie de nova penicilina: "Relati
declarado que "rccomcndariam o uso da erva
mesmo sendo ile- vamente segura, barata e com diversas aplicações. Algumas têm eÊ-
lizada. Quase mctade (4o%) disse que o aconselhava
no alíúo dos sintomas ciência comprovada por estudos clínicos, como no caso de dores
gal".óA matéria destacava, ainda, o papel da erva
de uvenocombate à dor' sobretudo crônicas, esclerosc múltipla, anorexia e náusea causada por quimio-
lastrointestinais dos portadores
que nem todos os doentes se terapia".10 A lista de males quc poderiam ser potencialmente com-
às dores crÔnicas; advertia, no entanto,
no batidos pela Ccnnabis, contudo, não parava aí.Hayta aínda indícios
adaptavam bem ao trahmcnto, pois "os acessos de riso' a moleza
deles' e que a qualidade cienti6camente consistentes, informava a reüsta, de que a erva tinha
.o.po o, u bo."..ca" incomodavam muitos
da maconha disponível em razão da ilegalidade de seu comércio
- - uma ação importante no combate efetiyo a diferentes tipos de câncer

E assim arrematava: e na redução das conlulsões causadas pela epilepsia. Um entrevista-


não permitia que ela íosse usada como remédio'
a noSo do tempo do afirmou: "Há dois meses, minha filha tinha sessenta conlulsões
"O usuário ganha uma hipersensibilidade, mas perde
mais de quatro cigarros' pode por semana, semana pâssada teve três; é uma coisa milagrosa".rl
e tem falhas de memória" e, se consumir
aPatia e indolência"'7 O destaque das muitas ürtudes medicinais da maconha, no entânto,
ter "alucinações, provocar confusão mental'

Ill
110

I
I
interessa- de dados sobre a história do diambismo no país, pela exaltação dos
não paÍece ser o da matérla' que está muito mais
le itmotív
ou vínculos entre a diamba, o diambismo ea cultura popular brasilei-
daqueles indivíduos que querem'
da em pôr em cena os dramas ra e por uma miríade de outros temas correlatos. Em linhas muito
dos beneficios da Cannabis medi-
usufruir de alguns
rn"tttor, .r"."rri
". ao pro<luto em razão da legislação
gerais, o que esses sites pârecem úazer de singular e impactante para
cinal e são impedidos de ter acesso
o debate sobre o canabismo além, é claro, de potencializarem os
ilusram muito bem o tom
proiUi.ionirt"U."rileira' Dois depoimentos antigos argumentos favoráveis à maconha e ampliarem o público
favorávelàdcscriminaliza$oquepercorreafepoltagem.oprimeiroé simpático à causa canabista sistemática do plantio não
um profissional angustiado por
não - é a defesa
do neurologista Eduardo Faveret' comercial da maconha criação de uma verdadeira rede de troca
ea
com epilepsia: "lsso me cau-
poder prescrever a C atnatnsparapacientes de informações e produtos relacionados ao seu cultivo doméstico.
de que iá estaria
I"...o s" fosse meu frlho' não tenho dúvida
"ngr*i". o outro' Articula-se nesses sites dedicados ao cultivo uma série de
maconha foi legalizado"'
no Cotor"ão, ond. o consumo da elementos indicativos do ponto em que se encontram as discus-
maiscontundente,édeumamãequeimportailegalmenteoextrato sões sobre o canabismo no país. Mantidos, em geral, por consu-
da planta para tratar as crises
conwlsivas da frlha: "Nem me preocupel
t:':t"Yt midores mais e menos Íecentes da Cannabís, a maior parte deles
a questão legal. Se tivesse
que responder processo para
com compartilha a ideia de que o grande problema da maconha é o
''12 Em janeiro de u or5 o derivado
., ..f",
a" -irfr-u nlha, responderia '
tráfico e investe pesadamente na sugestão de que o cultivo pes-
(cso)' utilizado para minorar crises convulsi-
a" rnr."nfr"."."Uidiol soal, tal como foi aventado no Uruguai, ó um mecanismo eficien-
vas,foiretiradodalistadesubstânciasproibidasdaÂgênciaNacional te para promover o afastamento do consumidor em relação ao
o que facilitou a sua importaçao'
de Vigilância Sanitária (Anüsa)' traficante c, consequentemente, de expurgar do mundo da Conna-
e de grande importância
nessa onda con-
i"ç, .o-pl".entar bis e do canabista o componente de violência que há pelo menos
canabista e de simpatia pela des-
temporâneâ de tolerância com o um século lhe é reiteradamente associado por seus deratores.
e recreativa) são as centenas
criminalização da Camabis (medicinal
quiçá os milhares -de sites, blogs e grupos de discussão q'::"-:- Muitos deles estão afinados com as políticas de legalização ado-
- a dê.cada tadas na Holanda e no Uruguai, e nos estados do Colorado e de
."i-, á" ..de mundial de computadores na últim
"rr"l,o " Washington (EUÀ) - e com as de descrimrnalização, assumidas
e vão desde apologias
Os conteúdos veiculados são variadíssimos por Portugal, Espanha, Itália, Suíça e Áusria. Também advogam
no velho
libertários e iluminadores da maconha'
,o, pod.r"s
f*nt ao plantio e con-
que o cultivo promove melhorias na qualidade da erva consu-
u.nda de produtos relacionados
hippie, à
"rtilo sobre o estado das leis
rrida (menos agrotóxicos, menos impurezas etc.), diminuindo
,urno du àrrnabi,, passando por discussões os riscos, melhor, "reduzindo os danos", como se costuma dizcr,
policiais cometidas sob o
no f"ir, po. a.n,intias de arbitrariedades
de livros' enlios'
causados ao consumidor - danos inferiores, como é sistemati-
f.oo,o do ".o.bate à drogas"' pela diwlgação
à des- camente destacado, àqueles causados por derivativos legais c
artigos científicos, debates e manifestações de rua favoráveis
rmplamente consumidos pela população.
Cntnabis' pelo compartilhamento
criãinalização ou legalizaçáo da

lrl
1I2

I
I I

saúde pública, redução de danos, redução dos impactos gcnttl rr


de se restringir ao Brasil'
Diante de tal quadro, que está longe por mercados ilícitos e expansão do acesso a medicamentos esscrr
das Nações Unidas (oNU)' em
não causa espanto que a Organização ciais".raA inusitada posição das Nações Unidas e o pormenorizatkr
das Nações
urn p.q*ro r"tu,Orio elaborado em zor4 pelo Escritório
estudo econômico da mE vêm na esteira de uma série de iniciativas
proga e o Crime' assevere que a descriminalização
U.,iàa, cont.a u mundiais dcscnvolvidas ao longo da última década, que criaram
de "desconges-
io .on.u*o d" drogas pode ser um modo eficaz
usúrio e o sentimento de que a descriminalização das drogas no Ocidente,
tionar as prisões", dirigir recursos para o tratamento do
ditt:'o:t- nomeadamente d a Cannabis - a dropa ilícita mais consumida no
urnpli", o, *"."nismos de reabilitação' Toma a mesma
of mundo, segundo o último balanço da oNu (zor4) -, é uma questão
pela London School
ã.,.ft g"t".itado estudo publicado
"ao " de tempo, de pouco tempo.
guerra contra as drogas" (zor4)'
Economics (ise), 'âcabando com a Éverdade que, no Brasil, aúltima mudança legislativa relativa às
Economia das Políticas sobre
.."lir"do p-p.rq,isadores do grupo drogas é de agosto de zoo6 e não aponta exatamente nessa direção.
de cinco Prêmios Nobel de Economia
;;;".
"6.í.tf,";r";.Jeu respaldo
*'ll'1T^ Trata-se da lei no rr.343, que institui o Sistema Nacional de Políticas
oliver
A..olv, v"tnon Srnith' Thornas Schelling'
nações eut:ptlu.t Públicas sobre Drogas (Sisnad) e prescreve medidas para a preven-
de presidentes de "
son e Christopher Pissarides),
o prefácio não deixa ção de seu uso indevido e para o tratamento e reinserção social dos
ã".r*. t tr-"ntes autoridades mundiais'
usuários e dependentes. Malgrado a sua retórica humanista, educa-
dúvidas sobre as conclusões do
grupo:
tiva e supostamente tolerante com a celebrada diversidade cultural

-bem ao gosto da década politicamente correta que se vivia -, a lei,


guerra às drogas e redirecionar recu rsos maciça-
É hora de acabar com a
por bastante voltada para a prevenção da drogadição e para a repres-
evidências eficazes' sustentadas
mente para políticas baseadas em
de são da produção não autorizada e do trálico, reedita a desgastada
análises econômicas rigorosas
A implementação de uma estratégia
conduzida por políticas
abordagem médico-jurídica das drogas e de seus consumidores,
guerra à drogas de ações globais' miliarizada e
ainda que aplique modelos de descriminalização para o usuário
negativos e enormes danos cola-
ãe.onttol" t"m p'oduzido resultados
- as penas a eles prescritas se restringem à "adveltência sobre os
terais.EssesefeitosincluemaprisãoemmassanosEu,r,aspolíticasalta-
instabilidade política
efcitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida
rn.t]t" r"pr",.iu" du Ásia' a extensa corrupção e
na América educativa de comparecimento a programa ou curso educativo" - e
no Afeganistão e na ÁÍrica ocidental' uma imensaüolência
penas mais altas para as condutas identificadas como tráfico. A letra
pelo u I v na Rússia' uma aguda escas-
Latina, uma epidemia de infecção
de da lei, contudo, não ó um termômetro preciso do atual estado em
controlar a dor e a dissemina@o
sez mundial de medicamentos para
rr que se encontram as discussões sobre a Cannabk e o canabismo no
em todo o mundo
abusos sistemáticos aos direitos humanos
Brasil; elas são, no máximo, em razão davelocidade com que tradi-
cionalmente absorvem as mudanças sociais, um indicativo daqui-
do estudo' requer uma
A situação, segundo os organizadores
princípios de lo que já se consolidou no senso comum. Um quadro mais fiel do
"baseada
nova estratágia m;ndial das átogas' "m

;
1r4
,

ponto em que se encontra a situação é, sem dúüda, o documentário de raízes populares e expressão
dos oprimidos,,da década
Quebrando o tabu (zorr), dirigido por Fernando Grostein Andrade, O discurso em prol da descriminalizaçao
de r99o.
que conta, entre os seus argumentistas e personagens centrais, com ,"rn ,..UC_ o*.-*
fornos e outro colorido. Em -r-
o presidente Fernando Henrique Cardoso (199t-2003).
O texto "Comissão Global sobre Drogas", veiculado no site
,. r."r,rr;.
-se
;;:;:;ff ,ilffi :i:fi;1ffi1.:$:::i;I
apúblicos amplos variados, .,os
e jovens, os pais, os p-r.*.*r,
do filme, demonstra que o ponto de partida de Andrade é o mes- os médicos e a sociedade
como um todo,,.
mo que a Vef anunciava havia quase duas décadas: n Guerra às Em segundo lugar, nào cai
na armadilh. Á^ (._^- ^_ -r
Drogas lançada pelos ru,t quarenta anos atrás fracassou- Políticas
proibicionistas baseadas na erradicação, interdição e criminali-
d" -,.onri, _ po..;;
populares e minoritárias,
;;;i::illff I,ffi .tff:'#:I1:
ne
zação do consumo simplesmente não funcionaram". É a mesma,
também, a percepção de que a guerra estava perdida desde o ini o'f.il:Hffâ,1Tfl:h1l:
terapêuticas. ao .on,.a.io,
cimento,,: lançar uma discuss
cio - "estamos mâis distantes que nunca do objetivo de erradicar
conceiro,ajudenaprevençã"::;1T jff
as drogas" - e de que a sua teimosa e irreflctida persistência por informações com base científi<
.:#i:f :ll"#:
quatro décadas tivera efeitos colateÍais perversos e bem mais cor- b,.."u,-,"hu,n,ni;;;;;J.':::",1::H,iIJ.:il:l::::
rosivos para a sociedade do que o próprio consumo de drogas: drogas pesadas
- o canabista: a esmagador;
e vulgarizar
'A violência e corrupção associadas ao tráfico de drogas ea polí- era formada por profi
_;;;;"
ssionais liberais, ardstas,
ticas ineficazes de combate estão corroendo a cultura cívica e as intefect;, ;;;;,
escolares e universitários,
operários, or.r,"O"r";;;'.'ü;::";
instituições democráticas".lt suma, gente de todâs as
cores, estratos econômicos
Todavia, diferentemente do tempo da reportagem veicula- e nír,eis cuhu_
rais, gente comum, socialmente
da pelaYeja em r995, as personalidades inesperadas, pessoas de fim, o âncora do filme, o
funcio.rrf
"
p.o;:;;
a" ., a,

grande projeção, que agora defendem a descriminalização das


presidente a".."rd. n;;or" àr;i"-
so, no seu périplo ,,em busca
de
drogas, particularmente da Cannabis, têm rosto, nome e posições rus,.", ao -uido ;;;.. :f,ffi ::Til:::n:I
claras: são antigos presidentes (Fernando Henrique Cardoso, do fissionais que se dedicam "-
a trat:
ff :
Brasil, César Gaviria, da Colômbia, Ernesto Zedillo, do México,
Bill Clinton Jimmy Carter, dos Estados Unidos), ex-policiais,
e
mais humana e efi .",;;; ;.;;;:::::ft,*:1i'.::ff
cm vez de dar destaque
às supostas virtudes
médicos, ativistas, autoridades de países com políticas liberais de um even,ua-.*_
sumo descriminal izado da
Cannabis,..p.rt
em relação à droga, intelectuais e uma gama variada de consu- "-r"..
descriminalização das drogas,
em paralelo com a adoção "p.J;;;;;
midores de drogas, enfim, personagens que, aos olhos da socie- de uma
série de medidas educativas
e au ia res - a política
dade, nem de longe lembravam os tradicionais defensores da de "reduçào
rle danos" inclusive
"Cannabisllbertâria" das décadas de 19óo a r98o, ou da "Cannabis
-, como a resr racional que as socie-
,,ra* ..'a"r,ro ."r;;;:;:T""'mais
rcontrar para um problema
que

lr6
I tl
I I

de Notas
as civilizações - o do consumo
há milênios se apresenta parâ
"Pensar em um mundo livre
derivativos mais ou menos potentes
Henrique Cardoso' "é uma
ã" à-g"s', pona"ra Fernando :oisa
é possível reduzir
r,*"i, .r" *rt" até hoje na história' Agora' es uts'róntes or uMA Pt-ANTA
sociedade"'
o d"no qu" d,oga causa às pessoas e à própria r Mais informações sobre o uso das frbras do cânhamo em diferentes culturas
" uma peçâ
o film" quJrond o o tobu não é' bem entendido' em; Rowan, Robinson.O gandeliwo daCannabis, pp. 64-77; Abel, Ernest L.

que' súbita e deslocadamente' Maijwna: The FirstTwelwThousoná Years, especialmente o capítul o " Cannabis
discursiva .*.un,.it" e singular in the Ancient World"; Escohotado, Antor,io. Hktoria elemental de las drogas;
a um ântigo presidente liberal'
começou a circular no país graças Goodman, )ordan; Lovejoy, Paul; Sherratt, Andrew (orgs.). Con sumíng Habits:
sim' uma excelente
,*pi,.o .o ."n"Uismo e bem relacionado' É' Inglis, Brian. The Forbidden Game.
está construindo para a Can-
,irr*r" du rou" laagem social que se 2 Rowan, Robinson, op. cit., p.65.

e o canabisÉ no Brasil e no mundo' imagem que 7ldem,pp.7r-6.


nabis, o canabismo
no senso comum do brasileiro 4 Laguna, Andres. Pe dacio Dioscoides Anazorbeo, p. r53.
está em via de se tornar hegemônica
das políticas públicas relativas
à
," ,rnpo. ."'o norteadora 5 Plínio, o Velho. Th e Naturul History of Pliny, p. tg8.
"i. que os discursos proibicionistas'
aqueles ó Rowan, Robinson, op. cit., pp.88-roz. Acerca do incentivo dado pelo
-".o"h" n. p"ir. É certo
uma imagem monolítica do-cana!:t" -,"
governo norte-americano ao cultivo do cânhamo durante a Segunda Guerra

lu" ainda p."se.vam Mundial, ver Henp;6r Vicfory, documentário produzido pelo Departamento
ou o iovem com problemas de
socialização
-"rgirr"l, o .*.êntrico de Agricultura dos Estados Unidos em r942.
I jutgu-*,o marcadamente moral e pouco pragmático.do Z Sobre o cultivo do cânhamo na América Espanhola, ver: Contreras, Ramón
"Í. marcam presença e ainda são hegemônicos
em melo a l\4aria Serrera. Linoy r áiomo en Nueva Lspoio.
canabismo,
que tudo indica' no entanto' embo- 8
larga parcela da população' Ao
Graça, Celestino. A cuhura do cônhamo.
médio' tâis discursos
." irrúu.onr".u.* tal apclo para o brasileiro 9 Lavradio, marquês de, Luiz de Almeida Portugal. "Relatório do marquez
e excepcionais no Brâsil de LavÍadio" , p. 47 j.
estão prestes a se tornar tão estranhos
feito por ro Moraes, Carlos de Souza. Feitotía do Linho Câthamo, p. 6o.
o discurso em prol da tolerância
Ou"n,o "." .' t959 l
",,ru, o 'ópio do Idem, p. ór.
May.nard, em Med í.ínaítslico'ternpoem que a diamba'
de "veneno verde"' Para finalizar'
rz Sobre a embaixada de lorde Macartney à China, ver: França, fean Marcel
,"í.r, ,t.n" .. oaís o apeiido Carvalho. Visôes do Rio de Janeiro colonial, p. 295.
recentes' "há um mercado poten-
,"g.rndo r3 Rowan, Robinson, op. cit., pp. lr-z; Abel, Ernest L., op. cit., p. rór; Carlini,
"atudo, "conômicos
(no mundo) que pode chegar a uo
bilhões de
.-,""ü"." , -".onha E. A.; Rodrigues, E.; Galduró2, f. C. F (orgs.). Cannabis sativa L. e substôncias
gerada anualmente pela indústria canabinoides em medicinoi loy, )anet E.i Watson, Stanley J.; Benson, .lohn A.
dólares, quatro vezes a rcceita
palavras' o canabismo' ao- contrário (orgs.). Maijuano and Medicine; Mack, Alison; loy,Janet.Mariiuano AsMedlci-
do tabaco"'r6 Dito em ouras ne?;Mathre,Mary Lynn. Cannabis ir Medi calPractíce:Mikuriya,Tod H. (org.).
hábito - não mais um vtclo - eco-
do diambismo, parece ser um Marijuana: Medical Papers; Starks, Michael. M arijuona ChemLstry.
nomicamente viável'

ll9
u8
Ç

Cohen, Sidney; Stillman, Richard C'TheTlrenryaicPotntiolofMoihuana'p'16'


Comissário do Santo Ofício Felix Simões de páscoa. Cf. Mott, Luiz. .A nra_
r4
conha na história do Brasil", p. rz7.
r5 Laguna, Andres, oP. cit., P.lt3.
t4 ldem, p, tz4.
16 Plínio, o Velho, oP. cit., pp. 207-98.
r7 Hildegard von Bingen. Plysia, pp. t4-5. 5 üdigo de Posuros da llustríssíma Câmara Municipal, p.
9.
16 Fonseca, Guido. Crimes, crjminosos ciminalidade em Sõo poulo, p. 237.
O'Shaughnessy, William Brooke. "Case of Tetanus, Cured by a Prepa-
ea
r8
ration oí Hemp", pp. 462-9; "On the PreParaÍions of the Indian HemP"' 17 Cf. Rowan, Robinson, op. cit., p. 71.

pP.343-7,38-9, rs7-8. r8 Sacy, Silvestre de. "Chrestomathie arabe: Mémoire sur la dynastie
des
Moreau, )acques-.f oseph.DuHachisch et del'aliAútlon rnentole' Assassins".
r9
Rowan, Robinson, oP. cit., 19 O Clube dos Haxixeiros de paris tinha como membros
20 P.ll. Jacques_Joseph
Ptotical Medicitu' Moreau, Théophile Gautier, Charles Baudelaire, Gérard de Nerval, Eugêne
zr Sa.ious, Charles Euchadst de Medicis. A nalytic Cyclopedio of
Delacroix e Alexandre Dumas.
zz Mack, Alison; loy, ranet, op. cit.; Mathre, Mary L)'nn, oP' cit'
zo Resende, Beatriz lotg.). Cocafua: literotuÍc e outros corilpanheíros de ílusão-
z1 Companhia de )e sus. Coleçõo de'tárias t«eitas e segredos pattículates das
prin'
zr Idem, p. 3r.
cipois boticas da ncrso ComPanhia.
p' z:'' 22 Assis Cintra, Fran cisco de- Os escôndalos de Carlota p. z7o,
24 Martius, Carl Fdedrich Philipp von. Fl otaBrasiliersis, Joaquina,

GuioMédico,pp' +ls-6'
23 Tschudi, ,ohann Jakob von. Viagem às proúncias do Rio áz Íanejro e
z5 Chernoviz, Pedro Luiz Napoleão. Formulátio e SAo
Poulo.p.8o.
z4 Idem, ibidem.
o úCTO DOS PRETOS?
z5 Burton, Richard. Viagem do Rio delaneto aMonoVelho,p, zgz.
r Heródoto. Hisúio ,liv. tY,7'l-5.
z6 ldem, p. T6-
z Galeno, Cláudio. Gwres complêtes.
z7 Hoehne, Frederic o Carlos. O que vendem os enanános áa cidade de Sõo paulo,
1 Rabelais, François. Gargôntua e Paúogruel, pp. 56c e 566' p.68.
4 Garcia da orta. Co lóquios ios simples e Árogas do Ínáia, v' t, pp' 96-7 '
28 CoÍdeiro de Farias, Roberyal. "Relatório apresentado aos Srs. Membros
Dictionnabe raisonné des sciences, des arts et des méÍiers' t' u'
5 Enqclopédie ou da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes", p.
ru.
p. 59', t. llr, pp. 147 -57 .
z9 Ramos, Arthur. O negro brusíIeiro, pp. r7r-3.
6 Fre,'re, GilbeÍto. NoÍáeste, pp. 4o-r.
1o Cf. Fonseca, Guid o- Cimes, criminosos e a criminalidaáe em paulo, p. z3g.
São
7 Léry,Jear de.Yiagem à tena do Brosil, p. t7 g. 3r ldem, p. z4o.
8 França, )ean Marcel Carvalho. Outrrrs vi sões do Rio de Janeiro colonial' p ' z6z' 3z Dória, ]osé Rodrigues da Costa. .,Os
fumadores de maconha: efeitos e
9 Antonil, Àndré )oã o- Cukura e opulêuia do Brosilpot was drogos e minas'p' t89' males do vício", p. r.

ro Fazenda, José Vie ]r.a. Antiquolhas e memôrios do Rio de Joneiro, p' ].46 ' jl Meira Penna. Not as sobrc plantas brusileiras, p. 7o,
rr França, fean Marcel Carvalho. Outras vi sões d'o Rio de Jarciro colonial' p ' z6r' 34 Pernambuco Filho, Pedro; Botelho, Ad auto. Vkios sociais elegantes, p. 7...
Sobre a maçonha no continente africano, ver especialmente:
Toit' Brian
rz 35 lglésias, Francisco de Assis.
,.Sobre
o úcio da diamba,,, p. r5.
M. du. "Man and Cannabis in Africa", pp. t7-35' ló Péres, Heitor. "Diambismo-, p. 67.
rl Àrquivo Nacional da Torre do Tombo, tnquisição de Lisboa' zoo Caderno
3Z Ramos, Arthur, op. cit.,p.t7t.
clo Neiando, fl. 8q, Conf,ssão de Antônio do Carmo,
Vila Rica 2r-3-1719 ao
'

120 t,,t
I
r3 ldem, ibidem.
38 ldem, ibidem.
r+ Idem, ibidem.
39 Rocha, Irabussu. "Prefácio
(z ed'l" lrl: Maconha: coletônea de tobalhos
r5 Cardoso, Eleyson. "Diambismo ou maconhismo, vicio assassino", p. l8 j.
brasileiros.
de maconha: efeitos e r6 Ramos, Arthur, op. cit.,pp, 174-6.
40 Dória, José Rodrigues da Costa "Os fumadores
males do úcio", P. l, r7 Cordeiro de Farias, Roberval. "Uso da maconha (Canrabis s ativa L.) io
Brasil", pp. 297-8.
4r lglésias, FÉncisco de A§sis, op cit , p 18'
18 Lucena, ,osé. "Maconhismo e alucinações", p. 9ó.
4z ldem, ibidem.
rg Mendonça, .João. "Os perigos sociais da maconha", p. ro3.
43 ldem, p. t9.
zo Hoehne, Frederico Carlos, op. cit., p. 68.
++ Idem, ibidem.
Connovlqes,pP 63-4'
zr Dória, )osé Rodúgues da Costa. Rsspoflsobililade críruinal: sa» modijcodotes,p. tt8.
45 Deodato, Alberto.
p r89' 22 Meira Penna, op, cit., p.70.
46 Pernambucano, Jarbas. 'A macolrha em Pernambuco"'
p 2l Parreiras, Décio. "Canabismo ou maconhismo", p. 264.
47 Barbosa, Oscar' "O vicio da diamba", lz'
no estado do Pará"' p' 85' 24 Idem, p.385.
+8 Rosado, Pedro. "o vício da diamba
"Aspectos do maconheiro em Sergipe"' z5 Araújo, Alceu Mayr,ard. Medicina rustica, pp. 257-9.
49 Garcia Moreno, João Batista
zó Dória, José Rodrigues da Costa. "Os fumadores de maconha: efeitos e
P.r57'
cit,p males do úcio", p. rz.
to Pernambucano, Jarbas, op' r89
Adauto' op cit 72' z7 Iglésias, Francisco de Assis, op. cit., p. 21.
5r Pernambuco Filho, Pedro;Botelho, 'p
z8 Pernambuco Filho, Pedro; Botelho, Adauto, op. cit., p. 64.
29 Con ferência Internacional do Ópio. Re corás ofthe Second Opium Conference,
DIÂMBISMO, UM FL,{GELO SOCIAL
Y. 2, P. r2O.
r Cordeiro de Farias, Roberval. "Prefácio (t' ed )"'
op cit lo Pereira, Leonardo, "O cânhamo ou diambae seu poderintoxicante", p.6r.
z Rocha,Irabussu. "Prefácio (2. ed.)",
3r Cordeiro de Farias, Roberval. "Uso da maconha (Cannabis satiyaL.) no
"Prefácio (r' ed')"' op' cit'
I Cordeiro de Farias, Roberval' Brasil", p. 3or.
p z9z'
+ Burton, Richard. V iogem do Río de Janeiro o MorroYelho ' '
l2 Parreiras, Décio. "Canabismo ou maconhismo", p. 268.
p' 18'
5 Iglésias, Francisco de As§is, oP' cit', 31 Cardoso, Eleyson, op. cit., p. 186.
6 Barbosa, Oscar op. cit., p.4r. 14 Lucena, José. "Maconhismo crônico e psicoses", p. 238.
7 tdem, p.40. 35 Tavares, Adelmar. "Revisão Criminal no 767", p. 376.
8 Rosado, Pedro, oP. cit., P.87' l6 Cordeiro de Farias, Roberval. "Relatório apresentado aos Srs. Membros
Porto Alegre"' pp 377 e 38o'
9 Ciulla, Luiz. "lntoxicados pela maconha em da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes", p. l1r.
efeitos e
ro Dória, fosé Rodrigues da Costa "Os fumadores de maconha: 37 Idem, ibidem.
males do vício", P. 2. l8 Cordeiro de Farias, Roberval. "Use oí Maconha (Cannabis sati,to L.l in
u Pernambucano, farbas, op' cit', p' t9r' Brazil". Report to United Nations Office on Drugs and Crime.
em Sergipe" p' r57 '
rz Garcia Moreno,loão Batista' nspectos do maconheiro ' 39 Idem, "Uso da m aconha (Connabis saitn L.) no Brasil", pp. 3oo-r.

t,,l
t72
T f,
40 ldem, p.3o2. zo'â ascensão da c ocaina". yejo, 7 | g 1ry77, p. 32.
4r Parreiras, Décio. "Canabismo ou maconhismo", p. z5z. zr Murad,losé Elias. "posfácio. A maconha no Brasil:
ontem e hoje", p. 275
4z Medeiros, Maurício Campos de. "Maconha e seus efeitos", p. 184.
z.z ldem, p.277,
23 ldem, ibidem.
O CÀNÁBISMO DOS HIPPIES E DOS EXCLUíDOS
z4 ldem,p.278.
r Amaral, Carlos Soulié do.'A fuga perigosa", p. t8. 25 Idem, p. 28r.
z ldem, p. 4r.
z6 ldem, p.3oo.
I ldem, p.45. z7 ldem, p. zg3.
4 ldem, p.43.
28 Bontempo, Márcio, Estudos atuaís sobre os eJeitos da Cannabis sativa (fia_
5 ldem, p. so. conha), p. 5.

6 ldem,p.47. z9 ldem, ibidem.


z Rowan, Robinson, op. cit., p. roo. 3o [dem, p.53.
:
8 ldem, ibidem. 3r Carlini, Elisaldo Araújo. "M aconha (Connabis mfivd); mito e realidade,
9 "Entorpecentes". Folha de S.Paulo, gl511966, p. 4. fatos e íantasias',, p. 7u,

ro Rowan, Robinson, op. cit., pp. 88-roz. 3z ldem, ibidem.


rr'â perigosa moda dos tóxicos". ye1,a, rn/
4 l g7o, p. lz. 33 ldem, p. 84.
rz Idem, p.;8. 14 Pessoa ,A
rúnior, Osvaldo. liberação da maconha no Brasil,,, p. r53.
13 "O víciojuvenil". Yeja, zzl4lt97o,p.28. 35 Universidade de São paulo. ,,Debate: desc minalização
da maconha,,, fl. 3.
14 ldem, ibidem. 36 Idem, fl. 5.

.. 15 "Dos azares do oficio". Folha de S.Paulo, glrzlt973,p.1z. 17 Idem. ibidem-


r6 "Polícia catarinense prende Gilberto Gil".Folha de S.Paio,8l71976,p.ze. 38 ldem, fl. O.
rz "Rita Lee e mais rês do conjunto presos". Diário Popular, z5/8hqz6. "Na 39 Idem, fl.8.
Divisão de Entorpecentes do Deic, foram autuados ontem à tarde, em fla- 40 Maciel, Luiz Carlos; Centro de Debates Maria
Sabina (orgs.). Maconha
grante delito, por uso, porte e túfico de tóxico, a cantora de rock Rita Lee em d.ebate, p. z.

Jones (zó anos, desquitada, rua Pelotas, Vila Mariana), suas duas auxiliares 4r Misse, Michel. ,,sociologia e criminali zação",p-
Mônica de Melo Lisboa (38 anos), mais conhecida por Matraca, eJuly Spen- sg.
4z Costa, Álvaro Mayrink da. ,,Da necessidade de reÍormar
cer (29 anos), que tem o cognome deJararaca, assim como Antônio Carlos as leis,,, p. roo.
Fernandes da Conceição (zz anos), o Barba. Antônio Carlos é diwlgadordo 43 Oswaldo lún ior. 'A luta pela descrimi rralizaçào,, , p. r3o.
conjunto musicalTutti FÍutti, de Ritâ Lee." 44 Henman, Anthony; pessoa Júnior, Osvaldo (orgs.). Diomb a Sarabambo:
r8 'Aberta mais uma temporada de caça aos baianos". Folha àe S.Poulo, coletônea de textos brasileiros nbrc a maconha,
p. 7 .
zo lz lott , p. ts. 45 ldem, p. 8.
19 Batista, Tarlis. "Gilberto Gil:'Eu não sabia que era crime fumar maco- 46 Mott, Luiz, op. cit., p. r24.
nha'", p. 25. 47 Pessoa rúnior Osyaldo, op. cit., p. ró1.

t24
I
48 Maria Juana. Nós e lfiaconha,p ro4' Bibliografia
49 Idem, P. 19.

io ldem, P.1o4.
a tealídade da maconho' p' l '
5r Weintrâub, Mauro . Sothos e sombros:
"A ascensão da coc aioa".Yeja, SàoPaulo,7lgf977.
52 tdem, P. 15.
sobÍe moconho e iovens' p 8z' 'A estratégia número z contra droga".Veja,SàoPaulo, Plzlry95.
53 Tiba,lçami. Saiba mok a

ç+ Idem, p.9o. 'A perigosa moda dos tóxicos". Vei.a, Sã o Pallo, :Él4lg7o.
p 4z'
55 Murad,.fosé Elias.Maconha atoÀcidade silencioso' ÀBEL, Ernest L. M4rijuana: The First Twelve Thousand Years. Nova York:
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5ó Idem, p.48.
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