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Em busca de urn novo mundo, povos do leste partiram
rurno ao desconhecido. No caminho, encontraram unr;r gente
atrasada que comia com as mãos e mal dominava a agricultura Ao
L19* que descobriram, hoje chemamos Europa
Por BETO GOMES Design BERNARDO BORGES llustrações ÉgfR fVnNCeUStR
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uma terra praticamente virgem, ho-
Os conquistadores
da Europa criavam
po;cos e cavalos
e plantavam -*d-:,*4t*l | 1: 4
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TESE E POLEMICA ) mérios desenvolvem leis e códigos para orientar a vida em so-
ciedade. No norte da África, o Baixo e o Alto Egito se unem
Ainda há muito a ser descoberto para formar um dos maiores impérios do mundo antigo,
Já faz mais de 200 anos que o lingüÍsta inglês William Jones capaz de erguer colossos, como a enorme esfinge de pe-
descobriu a surpreendente afinidade entre o gregq o latim dra a espiar a planície de Gizé. Eles constróem canais e
e o sânscrito. Na época, observou que muitas palavras destas dominam os ciclos de cheia do rio Nilo. No Extremo
línguas tinham o mesmo radical q por conseqüência, poderiam Oriente, pequenos reinos vivem sob um só signo: o dra-
ser derivadas de um mesmo idioma, Alguns anos mais tardq gão. A China está prestes a despertar, mas já domina a
no início do século 18, outro inglêq chamadoThomasYoung, matemática e a agricultura. Nos três cantos, a pré-histó-
batizou esta língua comum de indo-europeu.Assim, nasciam ria ficou para trás. Eles inventaram a escrita. E com ela
as primeiras teses sobre a origem e a expansão destes povos. preenchem notas fiscais, escrevem livros sagrados, assi-
Ainda hojq a unidade lingüística é um dos principais nam recibos, contratam serviços, registram casamentos e
fundamentos das teorias sobre os ancestrais dos europeus. filhos. Fazem cálculos e poesia. Inauguram a história.
Mas muita coisa mudou nas últimas décadas. E no sul de onde hoje fica a França e ao longo do rio
0 primeiro grande salto ocorreu no século passadq com Danúbio, na região que agora chamamos Alemanha, ainda
a teoria da antropóloga lituana Marjia Gimbutas, segundo há gente morando em cayernas, Mas esse mundo está pres-
a qual a origem dos indo-europeus seria a atual Ucrânia, entre tes a mudar. O agente dessa transformação ainda é um mis-
o Cáucaso e o mar Negro. Baseada em achados arqueológicoq tério, alvo de muita polêmica entre especialisas (ueja qua-
ela afirmou que estes povos já haviam domesticado o cavalo dro nesta página), mas definitivamente algo grande aconte-
e possuÍam armas de bronze, um grande avanço para a época, ceu entre 3500 e 3000 a.C. que transformou a vida na Eu-
Eles teriam começado a migrar para a Europa por volta ropa. Algo que causou um salto tecnológico sem preceden-
de 3000 a.C., assimilando as comunidades locais e dando tes e do qual as marcas se percebem em povos táo diferen-
origem a vários povos qug séculos depois, formariam tes quanto celtas e aqueus, irlandeses e gregos. Segundo o
as grandes civilizações do mundo antigo. Ainda hoje a teoria arqueólogo Dinc Sarac, da Universidade de Bilkent, naTLr-
de Gimbutas é a mais aceita entre os estudiosot mas com quia, esse algo mais foi a chegada de um povo vindo do les-
algumas mudanças importantes. 0 americano James Mallory, te (de uma região entre a atual Ucrânia e o sul da Rússia),
professor da Universidade da CaliÍórnia, acredita que as em levas migratórias que durou séculos. "Essa teria sido a
migrações começaram em 4000 a.C. - ou seja, antes da época 'descoberta da Europa, uma viagem épica só comparável à
apontada pela antropóloga lituana. Já o arqueólogo inglês chegada dos europeus na América, 4 500 mil anos depois",
Colin Renfrew professor da Universidade de Cambridge afirma Sarac, que pesquisa as migrações transcaucasianas e
e um dos maiores especialistas no assunto. sugere suas influências sobre o povoamento europeu.
que os primeiros indo-europeus começaram a migrar para Especialistas como Sarac chamam esses descobridores
a Europa a paftir da atual Turquia por volta de 7000 a.C. de indo-europeus primitivos e acreditam que, em algum
Para Renfrew, eles eram agricultores em busca de novas terras. momento entre o quarto e o terceiro milênio antes de Cris-
As teorias, aparentemente contraditóriat podem se to, eles deram início a sucessivas ondas migratórias que os
completar. "Como não temos provas escritas, dificilmente fragmentou em diversos grupos lingüísticos. Uns toma-
chegaremos a uma verdade absoluta. Mas existe um consenso ram o rumo da Índia, influenciando e formando novos
entre parte dos estudiosos acerca das teorias de Gimbutas povos como os armênios, indo-iranianos, tocarianos e hi-
e Renfrew", diz o antropólogo americano Roger Pearson, titas. Outros seguiram para a Europa, onde mais tarde da-
fundador do fhe Journal of lndo-European Studies. riam origem aos eslavos, celtas, itálicos, aqueus, jônios,
0utros, porém, crêem numa terceira via: a Teoria da eólios e germânicos. "Eles náo formavam uma única so-
Continuidade do Paleolítico, que diz que os europeus ciedade, sólida e organizada, tampouco uma civilização
evoluíram de comunidades neolíticas. A príncipal evidência comum. Cada grupo evoluiu de maneira independente,
seriam estudos que mostram que 80% dos genes dos atuais em diferentes épocas e para diferentes lugares, num mo-
europeus conferem com as análises de DNA dos povos locais vimento que chegou a levar séculos", diz Sarac.
no Paleolítico. Mas isso nâo convence os que acreditam Na verdade, os indo-europeus náo tinham sequer um
nas ondas migratórias. "Uma pandemia acabou com diversos nome para designáJos. O único que receberam surgiu ape-
povoados do neolítico e não podemos afirmar que nâs em meados do século 20, quando a antropóloga e ar-
eles são nossos ancestrais diretos", diz o antropólogo queólogoa lituana Marjia Gimbutas elaborou uma teoria
italiano Brunetto Chiarelli, da Universidade de Fírenze. que deu nova luz à origem dos povos da Europa. Aiém de
0s indo-europeus partiram
da região do Cáucaso por volta
do ano 4000 a.C., em direção
à Europa e à índia. Foi a primeira
As migrações eram muito lentas.
Podiam demorar séculos e até
milênios. Por volta do ano
3000 a.C., os indo-europeus
0s povos das estepes russas
chegaram à Europa Setentrional
por volta de 2500 a.C. Depois
de assimilar e influenciar
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os indo-europeus continuaram
migrando de maneira
independente, em diferentes
de uma série de ondas estavam próximos aos Bálcãs. as culturas locais, acredita-se épocas e para diferentes lugares.
migratórias, que mudaram Mas chegaram de vez à região que deram origem aos eslavos, Eles nunca formaram uma
a história dos povos antigos apenas 500 anos depois germânicos e celtas sociedade sólida e organizada
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algumas hipóteses ainda hoje questionadas pelo meio cien- forte ligação com o dos germânicos", diz o antropólogo ame-
tífico (mas amada pelo neopaganismo new age religiões - ricano Roger Pearson, ediror e fundador do The Journal of
que na virada do milênio praticam rituais xamãnicos e ado- Indo -European Studies.
ram entidades da natureza), como a idéia de que se trarava Segundo o antropólogo Jos Stepúnek, checo de nasci-
de uma sociedade matriarcal, Gimbutas batizou os primei- mento, mas radicado na Universidade deAtenas, na Grécia,
ros indo-europeus de Cultura Kurgan. Eram assim chama- essas coincidências lingüísticas são, ainda, um forte indício
dos porque enterravam seus mortos em covas profundas, da presença de um elemento noyo, que se impôs e se espa-
um método náo muito convencional para a época e que ca- lhou por todo o continente.
racÍeriza, segunda ela, esse período e seria um rraço comum
aos povos que migraram para a Europa nesbe período. INVASOR
Outra coisa em comum é alíngua. Em turco, a palavra Mas afinal, quem eram os kurgans? Stepúnek diz que eles
"kurgan" quer dizer túmulo, sepultura. O mesmo significa- eram politeístas que acreditavam num deus principal e
do que ela tem em eslavo. "De fato, a língua é a chave mais cultuavam divindades da natureza, como a Lua e a auro-
importante nesse tipo de pesquisa que procura revelar a ori- ra. Náo eram táo avançados quanto as civilizaçóes que co-
gem tão distante de civilizaçóes táo díspares. Ela mostra que meçavam a se formar nos vales dos rios Nilo, Tigre e Eu-
povos que hoje são separados por milhares de quilômetros frates. Náo chegavam nem perro disso. Mas esravam à
têm ancestrais comuns. O idioma dos tocarianos (que vive- frente dos povoados que já existiam na Europa. Tinham
ram numa regiáo próxima à China), por exemplo, tem uma domesticado o cavalo, usavam carroças de duas ou qua-
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ra lugares mais distantes, levando sua cultura às populaçóes
tro rodas feitas de madeira maciça, produziam objetos de
,r..,à, "Eles conheciam o bronze e produziam
cobre (facas, adagas e punhais) e possuíam utensílios de ",rr,-rç"das.
armas. Foi assim que resistiram aos conflitos entre vizinhos
ouro e prata, como vasos, contâs de colares e anéis.
Diversos animais faziam parte de seu dia-a-dia. Cria- em seu próprio território, coisa que era muito comum e
momento, pode até ter contribuído
vam porcos, ovelhas e cabras, mas o cavalo era o mais im- que, em-determinado
portante de todos. Além de servirem como meio de trans- p".* qr.r. migrassem rumo à Europa", diz Sarac. "Porém,
porte, ,lgu.,s especialistas sugerem que os kurgans sacrifi- rrao fói encontrado nada que indique que a ocupaçáo da
cavam cavalos em rituais de sepultamento. Nos sítios ar- Er-rropa tenha sido feita à força. Na-
queológicos da Rússia e da Ucrânia, os os§os dos eqüinos
eram os mais numerosos. Mas também foram achados os- slcres da América. Parece que, $ em-
sos de cervos, alguns dentro dos túmulos de crianças. So- bom eles não fossem essencialmen- !
bras de caças? Não exatamente. É ..tto que os primeiros te guerreiros - ao contrário, o Pas-
indo-europeus não foram caçadores e nem grandes agricul- toreio era a principal atividade - sa-
tores. Entáo, o que os ossos faziam na tumba dos peque- bian-r se defender muito bem."
nos kurgans? Provavelmente, não passavam de simples re- Alérn dos vizinhos, eles tinham
galos da vida terrena, pois funcionavâm como uma espécie outro inimigo no Cáucaso: as baixís-
lidores, por exemplo). Suas armas já estavam em outro es- zero grau já era lucro. Por isso, suas ::,
tágio de evoluçáo, embora o tipo e o grau de desenvolvi- casas tinham fundações de pedra e
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mento também dividem os pesquisadores. E certo que eles eram semi-subterrâneas - ou seja, ,.., ,
possuíam objetos de cobre e conheciam o estanho, mas ain- metade embaixo da terra, metade ,
=.
áa não dominavam as técnicas de fundiçáo do bronze, o em cima. Nada muito diferente i,t,' do
armênias t,
que só viria a acontecer alguns séculos mais tarde, quando que acontecia em terras
já estavam na Europa. "Os primeiros indo-europeus náo até pouco tempo atrás e que ainda a
eram guerreiros. Além disso, poucos povos dominavâm a hoje existe no deserto de Gobi. Os =i"--
metalurgia do bronze no terceiro milênio antes de Cristo", kurgans moravaÍl em dois tipos de : '
diz o antropólogo italiano Brunetto Chiarelli, professor da
Universidade de Firenze. i*,"- d. pequenos vilarejos, sem- ,fj-
Para Stepahnek, no entanto, os povos da cultura kur- pre ao lado de rios ou córregos' e
gan já possuíam espadas quando começaram a migrar pa- tinham de dez a 20 casas retan-
PASSADO EUROPEU
Vestígios de pedra e de barro. De ferro e cerâmica
8000 - 3500 aC. 3000 - 1100 a.C" 5000 - 3000 aC.
NEOLíTICO TDADE DO BRONZE KURGAN
As comunidades iniciam O uso cada vez mais Foram os primeiros indo-
um períodode^ / comum de utensílios de cobre europeus. Moravam
desenvolvimento muda as formas de organização nas estepes das atuais
econômico, social e i econômica e social em algumas RússiaeUcrâniaeeram
tecnológico. Surgem regiões da Ásia ocidental. pastoÍes nômades
os indo-europeus em Estas técnicas de metalurgia que deram origem
5 000 a.C., no Cáucaso, ".I logo chegam à Europa, às principais civilizaçôes
pela Peninsula Balcânica. $-*" . clássicas. Eram mais
anos depois,começam No início dessa época, avançados que os
as migrações. as ondas migratórias povoados europeut
A estatueta ao ladq indo-européias mas estavam distantes
encontrada no Líbano, estavam em pleno dos mesopotâmios
data dessa época funcionamento e egípcios
terra de orisem seja a regiáo onde hoje ficam a Suí- Mas e preciso pagar para ter acesso aos textos
www.continuitas.com
ça, Áustria e .{lemar-rha, rnas eles chegaram até a É o site oficial dos deÍensores da Paleolithic Continuity Theory o principal
Grá-Bretanl-ra e a Península Ibérica. contraponto às hipóteses mais aceitas pelo meio ctentífico atualmente
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indo-europeus
chamados
aqueus. Eles
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oi a região dos
3000 aC. Bálcãs no século
15 a.C., após
EGíPCIOS invadirem
Na época em que os indo-europeus estavam e assimilarem Ârtefato
engatinhando, os egípcios davam os primeiros a cultura da ilha rnirêniro
passos para a formação de uma civilização de Creta, uma datado de
organizada. Já dominavam técnicas avançadas das civilizações '!400 a"{.
de irrigação e construção de canais e haviam mais avançadas encontradc
criado a escrita hieroglifica da época êm Creta