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A descoberta de Exu pelos portugueses

Desde a idade antiga, as rotas de comercio do oriente circulam de Calecute na Índia


até o noroeste da África, gerando uma rede comercial imensa por onde passavam mercadorias
como seda, pimenta, escravos, junco etc., e isso se consolidou com a invasão árabe nas
penínsulas ibérica e itálica. Discordando disso as famílias da casa Bourbon organizaram
exércitos e expulsaram os árabes da Europa. Surgem os países Gália, Galícia, Portugal, o País
Basco e a Andaluzia. Posteriormente a Galícia, o país Basco e a Andaluzia formarão o reino de
Espanha.

Já no ano de 1412, quase 700 anos depois, João I, rei de Portugal, planeja uma cruzada
contra os mulçumanos, obtém do Papa Martinho V a autorização da guerra santa e a
permissão do uso da Cruz dos Cruzados, levanta fundos com banqueiros italianos, com a igreja
e com os nobres portugueses vendendo títulos e terras e assim se prepara para o confronto.

Em 1415, toma dos mulçumanos a cidade africana de Ceuta, no lado oposto de


Gibraltar e dá início a era das grandes navegações.

Dom João I na rendição de Ceuta.

Dessa forma as comunidades: científica, religiosa, náutica, militar e comercial da


Europa passam a ter contato com um mundo totalmente novo e desconhecido. A principal
contribuição da batalha de Ceuta para a comunidade científica foi a conclusão de que os
cachorros da África falam a mesma língua dos cachorros da Europa(!). Mas os conquistadores
portugueses encontraram na cidade de Ceuta muito ouro e muitas joias, esse fato despertou o
interesse e a cobiça portuguesa, que, por meios hoje considerados desumanos, descobriram
que o ouro era fruto de negociações ao sul de Ceuta, onde os povos negros do Tombucto,

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Gana e Oadem compravam seda e outros produtos pagando com ouro numa negociação que
ficou conhecida como comércio mudo, pois não havia intérpretes para os idiomas falados.

Em posse dessa informação os soldados portugueses foram para o sul em busca da


conquista do ouro pagão e se defrontaram com as primeiras cidades negras conhecidas por
um europeu. Os portugueses encontraram sociedades organizadas e urbanizadas. Com “lindas
mulheres e nobreza ricamente vestida”.

Mulheres da etnia Fula.

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Foi então que as expedições encontraram as primeiras imagens do orixá Exu. No início
Exu foi confundido com o deus grego Priapo, devido ao tamanho do pênis representado nas
imagens. Até se pensou que os gregos haviam colonizado aquelas terras na antiguidade, mas
logo em seguida Exu foi identificado como o demônio pelos representantes da igreja devido à
representação da força animal que ele leva na cabeça, os chifres, e assim, todo aquele povo
deveria ser cristianizado e o inimigo do Senhor ser destruído e banido das novas terras de Sua
Majestade Dom João I.

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O Grego Priapo e o Africano Exu

A confusão se deu devido às oferendas com sangue, vísceras, os chifres e ao tamanho


do pênis. O orixá Exu é o orixá das coisas da terra, a comida, a bebida, o sangue, tudo o que
representa e é fundamental para a vida e também é responsável pela fecundação, a geração
da vida, seja ela humana, animal ou vegetal (não confundir com fertilidade), e assim, a
representação religiosa da fecundação foi confundida com pecados e promiscuidade. As festas
de fecundação das lavouras e das criações também ocorriam na Europa antes da
cristianização, portanto tal prática já era de conhecimento da igreja.

Posteriormente os portugueses dominaram as terras das minas de ouro na chamada


Costa da Mina, hoje Golfo da Nigéria. É dessa região que vem o “pano da costa” da
indumentária feminina do candomblé.

O caminho marítimo para as minas foi descoberto por Fernão do Pó, também
descobridor das ilhas de São Tomé e Príncipe e que acreditava ter feito a volta no continente
africano e ali construiu a fortaleza de São Jorge da Mina abrindo caminho para Diogo Cão, que
tentando dar a volta ao continente africano descobriu Moçambique.

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Fernão do Pó e Diogo Cão

Dessa forma, o orixá Exu foi confundido erroneamente com um demônio, lembrando
aqui que as religiões africanas não possuem a figura do demônio em seus credos, o demônio
faz parte da crença cristã e não da africana.

Assim como o orixá Exu sofreu a sincretização com o demônio cristão, outras
interferências ocorreram entre o candomblé nativo e o cristianismo, como o conceito do
pecado, por exemplo, que é inexistente no candomblé. Deu-se a partir daí uma catequização
com muita pólvora e muito chumbo, argumentos portugueses para forçar uma conversão
religiosa com nítidos interesses econômicos no continente africano.

Saravá.

Omoaie, Campinas 05 de abril de 2022

Bibliografia

Bueno, Eduardo – A Viagem do Descobrimento, A Verdadeira História da Expedição de Cabral;


Editora Objetiva Ltda, 1998

Crowley, Roger – Conquistadores, Como Portugal Forjou o Primeiro Império Global; Editora
Crítica, 2016

Imagens: Wikipédia

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