1. ESPAÇO
Conclusão: os diferentes espaços em que a acção da peça decorre vão diminuindo gradativamente,
anunciando, assim, o desenlace trágico.
Segundo alguns críticos literários há uma aproximação entre o drama narrado e a vida do autor, uma
vez que também ele tivera uma filha ilegítima. Haveria assim uma vontade intencional de criticar a sociedade
da época deste escritor que, à semelhança da do século XVII, continuava carregada de preconceitos em
relação aos filhos nascidos fora do casamento que estavam condenados a uma discriminação social, cujo
sofrimento seria indescritível, condenando-os a uma vergonha desmedida.
2. TEMPO
A acção de Frei Luís de Sousa, não só a representada como os seus antecedentes, situa-se no
final do século XVI e início do século XVII.
Em Frei Luís de Sousa, o tempo dos principais momentos da acção sugerem o dia aziago: sexta-feira,
fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, alta noite (Acto III); foi a uma sexta-feira que D. Madalena casou
pela primeira vez; à sexta-feira, viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de
Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos atrás.
A numerologia parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou sete anos depois de D. João ter
desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, há catorze que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça,
com o aparecimento do romeiro, sucede vinte e um anos depois da batalha.
3. AS PERSONAGENS
3.4 Telmo
Personagem de incontornável importância ao longo da obra.
Escudeiro, amigo e confidente de D. Madalena que vê nele um pai, um símbolo de protecção.
Alimenta os receios de D. Madalena e as fantasias de Maria por quem sente um afecto imenso.
Personagem sebastianista, simboliza o passado, mostrando permanentemente uma desconfiança
pela morte do seu amo.
Assume a função do coro na tragédia grega ao comentar criticamente o comportamento de D.
Madalena.
Não é uma personagem estática uma vez que a sua perspectiva pessoal se vai modelando em
função dos acontecimentos (muda de atitude em relação a Manuel de Sousa Coutinho passando a
admirá-lo.
3.5 D. Madalena
Casada pela primeira vez com D. João de Portugal, a quem respeita como um pai, casa, pela segunda
vez, com D. Manuel de Sousa Coutinho a quem ama perdidamente, após o desaparecimento do seu
primeiro Marido na Batalha de Alcácer Quibir.
Vive aterrorizada, dilacerada pelo remorso de ter começado a amar o segundo marido ainda casada
com o primeiro receando o seu regresso, uma vez que a morte deste nunca fora confirmada.
Vive permanentemente dominada pelas emoções que a inibem de ser feliz.
Dotada de grande humanidade enquanto mulher e mãe.
Pressente o seu destino, mostra-se receptiva aos agouros e outros sinais.
3.6 Maria
Filha de D. Madalena e D. Manuel de Sousa Coutinho.
Personagem jovem, mas com grande maturidade psicológica.
Marcada pela presença constante da Morte: doença, crença em agouros e profecias, adesão ao mito
Sebastianista.
NOTA:
Nesta obra, torna-se difícil a definição da personagem principal, uma vez que a
totalidade das personagens que evoluem em cena, à excepção de Frei Jorge, está
votada à ruína, à perda, à morte, ao esquecimento, à divisão, não se podendo afirmar
com razão qual delas é a mais desafortunada e olvidada pelo destino.
4. Tragédia? Drama?
Almeida Garrett, no seu texto de apresentação da obra Frei Luís de Sousa, não escondeu a sua
intenção de afirmar o carácter inovador (drama romântico) da sua peça, embora reconheça as influências do
mais nobre dos géneros (tragédia clássica). Assim, é importante um olhar atento às principais características
de cada um destes subgéneros literários de modo a que se possa encetar uma reflexão mais profunda nesta
área.